# Muito obrigada, Marl Paz e Mo de Aries pelos reviews, esse capitulo é pra vocês especialmente. :)
Destinados
04 - De hoje em diante…
As mãos dos dois meninos tinham texturas muito diferentes entre si. Um fato físico demonstrando as diferentes vidas que cada um havia levado até então. No entanto, foi da pureza infante daquelas duas almas que, sem conhecer mais que seus nomes, nasceu, quase que imediatamente, uma sutil cumplicidade. Uma promessa velada, implícita, naquele gesto simples e singelo. Uma promessa de que, ao menos, uma grande amizade estava destinada daquele dia em diante.
Shaka esforçou-se para acompanhar o passo da outra criança, mordendo inconscientemente o lábio inferior, tentando não mancar. O joelho ferido latejando em uma dor, até então, desconhecida. Mu, mesmo estando muito agitado e curioso, notou a mal disfarçada dificuldade de andar do outro e reduziu um pouco o passo, apesar da energia borbulhante em seu corpo pequeno.
- Está doendo muito? - Perguntou, apertando ligeiramente a mão macia, que estava úmida contra a sua, procurando algo para conversar durante o caminho pedregoso.
O loiro balançou a cabeça em negativa, fazendo Mu quase bufar, ligeiramente exasperado com aquele silêncio todo. Não conseguia entender como aquela criança podia ser tão quieta, uma vez que todos que conhecia eram bastante falantes. Mesmo Aldebaran quando chegara, no ano anterior, sem ninguém que falasse sua língua natal e havia demorado para aprender um pouco de Grego, havia se mostrado mais falante que o jovem loiro.
- Olha! - insistiu, mostrando o braço com seu próprio machucado no cotovelo, - Mas não se preocupe, Aioros vai cuidar disso pra gente. Ele é irmão mais velho do Aioria e é muito forte, já é um cavaleiro de ouro. Ele dá muitos treinos para a gente, e sabe fazer um montão de coisas com o cosmo. Acho que ele ainda não é tão forte como o mestre Shion, bem porque ele é o mestre, mas eu acho que ele é até mesmo mais forte que o Saga que é alguns meses mais velho...
Mu achou outro jeito de liberar sua energia: tagarelando sobre as coisas que borbulhavam em sua boca, cheio de vontade de compartilhar com o novo amigo. Ignorando o fato que Shaka não fazia ideia de quem eram aquelas pessoas, ou o que significava o cosmo e muito menos o que era um cavaleiro.
- Desculpe! - Shaka conseguiu falar, quando o outro parou por um breve momento para respirar, - seu machucado… não foi minha intenção… - completou, sentindo-se culpado por causar dor semelhante a que estava sentindo no outro.
- Ah, não foi nada! - Mu animou-se, por ter conseguido tirar algumas palavras do calado garoto loiro. - Uma vez eu e o Aioria estávamos brigan- brincando! e acabamos rolando de um barranco em meio a ruínas. Você precisava ver como ficamos cheio de ralados bem piores que esse. - riu um pouco e então voltou seu olhar para o outro fazendo uma careta - Aioros nos deu um sermão de duas horas sobre responsabilidade de sermos futuros cavaleiros de Athena, 'antes' de curar os nossos machucados! E estavam ardendo tanto… - Sentiu um leve apertão da mão que segurava a sua, e mesmo com a dificuldade de ler a expressão do outro, por conta dos olhos fechados, soube exatamente o que o preocupava. - Ah mas você não precisa se preocupar, você é 'novo' - ele disse a palavra quase como um sussurro, como se fosse algo muito especial. - Ele não vai brigar com você. Não ainda… mas ele é bonzinho mesmo quando dá sermão. A armadura dele tem asas! - Exclamou, com súbita empolgação e nem percebeu que apertava o passo novamente querendo chegar logo.
Não precisaram de muito tempo andando, e Shaka observou Mu falando com um homem adulto, que vestia roupas muito parecidas com as dele, não entendeu as palavras ditas, porém quando o homem apontou em uma direção percebeu que Mu devia ter pedido por indicações sobre o tal Aioros. Todos ali tinham energias muito agitadas e auras exacerbadas, o que o deixava desnorteado.
O jovem de cabelos lilases continuava contando-lhe muitas coisas sobre estudos, treinamentos e sobre as muitas coisas que 'não' deviam ser feitas, mas parecia-lhe que Mu e seus tão mencionados amigos, Aioria e Miro, haviam feito todas elas. Algumas, inclusive, mais de uma vez.
Shaka não sabia muito bem o que pensar e não tinha certeza do quanto precisava absorver daquela conversa. Confuso era pouco para definir seu estado de espírito.
Eles encontraram Aioros após passarem por várias as construções, em um local aberto, de grama verde e árvores frondosas, ele estava displicentemente recostado em uma delas lendo um livro. Shaka não soube dizer se Mu havia parado de falar ou se ele não estava mais ouvindo, pois de fato foi surpreendido por aquela pessoa ter uma aura tão grandiosa e dourada se estendendo muito longamente longe de seu corpo. Havia muita bondade e paz irradiando dele, e Shaka ficou mais surpreendido ainda ao notar que se tratava de um garoto. Era mais velho que eles, mas ainda sim um garoto e não um homem adulto como havia esperado.
Aioros percebeu as crianças vindo em sua direção, porém esperou que eles chegassem perto para baixar o livro. Olhando curiosamente para o menino novo e esboçando um leve sorriso ao notar a expressão de Mu, já imaginando o motivo deles o estarem procurando.
- O que você aprontou dessa vez Mu?
- Por que eu? - retrucou a criança de cabelos lavanda fazendo um biquinho desdenhoso.
Aioros descruzou os calcanhares e fechou definitivamente o livro, apoiando-o na grama a seu lado. Os olhos brilhando em divertimento ao passarem do espevitado pupilo de Shion para a nova e quieta criança de olhos fechados ao seu lado, analisando-o.
Shaka não entendeu as palavras, porém a troca de energia petulante e desconfiada o fez desconfiar de algum tipo de acusação, e ele murmurou desculpas muito quietamente.
Mu o olhou surpreso. Estava acostumado, juntamente com os amigos, a tentar esconder qualquer culpa, eles nunca assumiam ou se desculpavam assim tão facilmente. Sem saber explicar, uma parte de si sentiu-se feliz com a cumplicidade do, já considerado, novo amigo. Um sorriso sincero substituiu o biquinho em seus lábios, porém ele não traduziu as desculpas para Aioros.
- Esse é o Shaka. Mestre Shion o trouxe hoje e ele é o 'novo' aprendiz. - enfatizou a palavra novo na esperança de se livrar de qualquer possível sermão, especialmente se tivesse que traduzir tudo. Então lembrou-se de um detalhe muito importante e acrescentou, em um quase sussurro, - Ele consegue usar o cosmo para enxergar de olhos fechados.
- Oh! - Aioros exclamou, entendendo com certa estranheza o fato dos olhos dele estarem fechados - E pelo que vejo ele não fala Grego. Você ficou encarregado de cuidar dele? - o mais velho levantou-se colocando-se de cócoras mais próximo dos garotos, seus olhos verdes captando o filete de sangue escorrendo na perna que aparecia pela abertura do sari de Shaka.
O sorriso de Mu sumiu com o tom suavemente acusatório, ele começou imediatamente a explicar que fora um acidente. Tudo por causa de uma quase queda, e que quando Shaka abre os olhos, - bum - os braços pequenos fizeram um gesto largo para demonstrar a explosão. Com pesar, completou que fora graças a Crystal Wall do mestre que ele não se machucara, porque ele não conseguia fazer a sua própria ainda. E tratou de acrescentar, com exagerada ênfase, que fora tudo sem querer, que Shaka não tinha tido a intenção, ele só não estava acostumado com tanta agitação como dissera o mestre Shion.
Aioros tentou conter o riso em seus lábios, embora o brilho em seus olhos denunciasse que ele achava engraçado o jeito afoito e muito explicativo do pequeno Mu, provavelmente temendo algum tipo de sermão. Ouviu Shaka murmurando a mesma palavra, que mais uma vez não foi traduzida, entretanto, com o pequeno sorriso que Mu dirigiu ao loiro e o olhar de cumplicidade, o fez entender que se tratavam de desculpas.
- Sou Aioros, cavaleiro de ouro da casa de Sagitário. - ele disse se dirigindo ao jovem loiro estendendo a mão. E embora Mu tivesse traduzido as palavras, Shaka não compreendeu o que aquilo significava. Tão pouco, sabia o que significava a mão estendida daquela forma. Sem ter certeza do que fazer, segurou a mão do mais velho como havia feito com Mu antes.
Aioros riu, uma risada cristalina que fez sua aura ascender e faiscar, fascinando Shaka. Ele mostrou ao menor como era um aperto de mão, ensinando-lhe o gesto, e pediu que Mu lhe explicasse que aquele era o jeito que os homens se cumprimentavam. O loiro apenas assentiu, catalogando aquela informação como importante.
Em seguida, pediu que Mu lhe informasse que ia cuidar do ferimento, antes de afastar o sari e colocar sua mão espalmada sobre o joelho ralado. Aioros concentrou seu cosmo, sua energia dourada espiralando e formando um fino feixe, que liquidamente se espalhou sobre o ferimento, causando um aquecimento e ligeiro formigar, fazendo a cicatrização e fechando completamente o ferimento. Se não fosse pelo sangue escorrido manchando a pele extremamente clara, não se poderia dizer que houvera qualquer coisa ali.
- Pronto, novo em folha. - Disse o mais velho voltando seu olhar para o rosto do garoto loiro que tinha a boca aberta em surpresa. Riu de quando ele acenou concordando com alguma coisa que Mu lhe sussurrou, e riu ainda mais quando Mu lhe cutucou mostrando um ralado em seu próprio cotovelo.
- Por favor! - Mu bufou pedindo quando Aioros o olhou esperando por algo ao invés de simplesmente curar o machucado de uma vez.
Rindo, da mesma forma ele curou o ferimento de Mu, - Pronto, pronto, mais algum? - e quando Mu acenou negativamente ele acrescentou - Então leve-o para o alojamento para se limpar, não vá mete-lo em encrenca logo no primeiro dia Mu!
Mu rolou seus claros olhos verdes, já sabendo que não poderia encrencar o novato, pelo menos não aquele dia. Mais que tudo, ele queria provar ao seu mestre que era digno de confiança da tarefa que lhe tinha sido dada. Lembrou-se de estender novamente a mão em um convite, ao invés de simplesmente agarrar o loiro e sair puxando-o. Estava cheio de perguntas, e ainda mais cheio de coisas para contar.
Aioros viu a criança loira murmurar outra palavra não entendida em sua direção antes de ser praticamente arrastada ali, ao mesmo tempo que Mu gritava um agradecimento pela cura dos machucados. Ele ficou alguns momentos olhando a silhueta dos meninos desaparecer de sua visão, ponderando que sobre o novo e quieto aprendiz, antes de ouvir os passos vindos de trás da árvore em que se encontrava.
- Foi para buscar esse aprendiz que Shion deixou o Santuário? - a voz, ligeiramente mais grossa soou ao seu lado.
O cavaleiro de Sagitário simplesmente assentiu, voltando a se recostar tranquilamente na árvore. Sua mão procurou pelo livro deixado de lado, encontrando, ao invés disso, a mão do outro que se abaixou, sentando-se ao seu lado. Seus olhos verdes escuros encontraram olhos azuis esverdeados, efeito que parecia ser apenas questão de luz para quem não o conhecia, confundindo-o com o outro gêmeo, cujos olhos não tinham aquela pincelada de verde.[11] - Ele tem uma quietude intrigante…
- Não se deixe iludir, alguns dias com os terríveis[12] e ele vai deixar essa quietude de lado. - A mão do recém chegado segurou a de Aioros, o livro sendo deixado no chão - Estava te procurando... Saga está ocupado estudando alguma coisa chata e eu não tinha nada para fazer… - Seu corpo se apoiando contra o braço de Aioros, enquanto sua cabeça tombava sobre o ombro deste de forma muito íntima.
- Kanon, você podia muito bem estar estudando com ele ou estar treinando um pouco… Não tenho visto você treinar quase nada ultimamente. - Aioros deixou sua cabeça tombar sobre a do outro apoiando carinhosamente seus cabelos castanhos cacheados nos cabelos azuis escuros.
- Com que fim? A armadura escolheu Saga como cavaleiro de Gêmeos… não sobrou nada pra mim.
- Não fale dessa forma! - Aioros o cortou, levantando-se um pouco e virando seu rosto para encarar o do outro. Sua mão libertando-se da dele e subindo para lhe segurar o queixo, fazendo com que seus olhos se encontrassem seriamente - Você poderia muito bem procurar uma armadura de prata que combinasse com seus poderes, certamente há alguma.
- Eu tenho a força e o treinamento de um cavaleiro de ouro!
- O que lhe faria o cavaleiro de prata mais formidável de todos! - Insistiu sorrindo amigavelmente, já havia tido essa conversa com Kanon inúmeras vezes e ainda não entendia o porquê do outro ser tão avesso àquela sugestão, ele ficaria feliz em vê-lo motivado por alguma coisa. Desde que Saga, ao invés dele, havia sido escolhido pela armadura de gêmeos, havia uma sombra escura dentro daqueles olhos azuis esverdeados.
Kanon retribuiu o sorriso com os lábios, embora não tivesse o brilho dele em seus olhos e Aioros soube que eles não iriam adiante naquela linha de assunto. Foi com um suave beijo, apenas um roçar de lábios nos de Aioros que Kanon livrou-se da pegada em seu rosto. E, aproveitando da distração surpresa, se abaixou, aninhando-se no colo do outro. - Não é certo que você possa ter tempo à toa e eu tenha que ficar estudando e treinando… é muito melhor só relaxar aqui com você.
Aioros riu alto, enquanto uma das mãos do outro, já de olhos fechados, levantava o livro em sua direção. Assim que o pegou os braços de Kanon circularam sua cintura, encaixando-se ainda mais em uma posição confortável para um cochilo sobre si. Com um sorriso suave em seus lábios e tranquilidade em seu coração, o cavaleiro de Sagitário reabriu o livro na página onde havia parado, segurando-o com uma das mãos, enquanto a outra ocupava-se de alisar os longos cabelos da cabeça deitada em seu colo.
(...)
Shaka deixou-se ser guiado, na verdade quase puxado, pelo lugar, completamente perdido e incapaz de guardar os caminhos que faziam entre as construções até o lugar que Mu chamou de alojamento. Foi através de amplas portas duplas, em um corredor extenso onde no final ficava o refeitório e uma porta à esquerda era o banheiro comunitário, onde por fim adentraram um aposento à direita com várias camas estreitas dispostas uma ao lado da outra.
Havia grandes janelas de um lado e as camas formavam duas fileiras e um corredor central, separadas por pequenos e simples armários de madeira. Mu foi andando entre elas, apontando e nomeando qual era de quem, alguns nomes já familiares a Shaka e outros que ele nunca ouvira. Havia duas camas unidas, e Mu lhe explicou que era de Aldebaram porque ele era muito grande e seus pés ficavam para fora; uma outra cujo armário ao lado tinha um grande vaso cheio de rosas perfumadas, e Mu lhe dissera expressamente para não tocar, pois pareciam belas mas eram perigosas e pertenciam a Afrodite.
Por fim, Mu lhe indicou quais estavam vazias, dizendo que ele poderia escolher qual quisesse, danto, entretanto, muita ênfase a uma que estava bem ao lado da sua própria, que havia sido ocupada por Aioros no passado e que estava vazia desde que ele passara a ocupar seu posto na casa de Sagitário.
Shaka não tinha certeza do que queria. Estando acostumado a dormir sozinho desde que se lembrava, não sabia bem o que significava escolher uma cama no meio de tantas que lhe pareciam iguais. Ainda que visse um rastro fraco e antigo da energia dourada de Aioros, residindo naquela cama, foi a ansiedade de Mu que lhe fez aceitar aquela mesma, ao lado da dele, a única pessoa que conhecia em meio ao mar de nomes desconhecidos até então. E a exultante alegria de Mu, apenas lhe confirmou que aquela deveria ser a escolha mais acertada.
Mu lhe explicou que podia guardar suas coisas no armário que seria seu. Enquanto guardava seus poucos pertences, Mu saiu do aposento voltando com os braços carregados com lençóis e toalhas brancas que fora buscar. Ele explicou ao novato como fazer a cama, e que deveria fazê-la toda manhã ao acordar, e que as roupas sujas iam para um cesto perto da porta e as limpas eram colocadas na mesa em cima, e que ele deveria sempre checar, guardar e cuidar de suas próprias coisas.
Tudo era muito novo e Shaka não sabia se lembraria de todos os detalhes, muito acostumado a ser cuidado pelos monges mais velhos, sem ter aquelas responsabilidades todas que as crianças ali tinham com tão pouca idade. Esperava que Mu não se importasse se ele precisasse lhe perguntar mais de uma vez depois sobre aquelas regras todas. Foi com prazer que deixou-se ser levado para o banheiro comunitário, onde tomaram banho apenas os dois, Mu lhe garantindo que seria melhor irem antes de todos voltarem do treino e o lugar ficar abarrotado.
Tentou acompanhar com interesse confuso todas as histórias que Mu lhe contava, porém se descobrira ainda mais confuso e até mesmo assustado quando várias outras crianças adentraram o aposento, parecendo cansadas mas logo circundando sua cama enchendo-o de perguntas em uma língua que ele não entendia.
Ele foi apresentado finalmente aos tão comentados Aioria e Miro, também ao grande Aldebaran que tinham a mesma idade dele e de Mu. E depois aos mais velhos, Shura, Afrodite e Máscara da Morte, o último causando-lhe estranheza pelo nome, porém Mu lhe disse que seu nome era segredo e ele não dizia a ninguém. Foi informado que todos eram aprendizes para serem cavaleiros de ouro, e que os três mais velhos, logo receberiam a armadura como Aioros e Saga já tinham recebido.
Antes que pudesse perguntar o que era um cavaleiro de ouro, surpreso por ser incluído nessa mesma classe de aprendizes, foi inundado por perguntas sobre seus olhos, sobre onde vivia, e quem tinha lhe ensinado a usar o cosmo para enxergar e o por quê daquilo. Mu traduzia o melhor que podia, respondendo algumas coisas ele mesmo. Já que Shaka estava muito aturdido com o movimento de energia ao seu redor. Ele não pôde se dizer aliviado quando chegara a hora do jantar, sendo levado para um refeitório ainda mais cheio onde foi formalmente apresentado por Shion a todos, completamente alheio às palavras usadas para tal.
Seu real alívio somente veio, quando de volta ao dormitório, Aioros entrou mandando todos para suas respectivas camas e encerrando qualquer conversa, lhes dizendo que teriam um duro treino muito cedo no próximo dia.
Shaka deitou-se bem quieto em sua própria cama, quis respirar em alívio mas continuava se sentindo estranhamente agitado. Sua mente rodando no turbilhão de novas informações, sensações e emoções, sem conseguir se fixar em nenhuma. Não demorou muito até que houvesse um profundo silêncio, cortado apenas por diversos tipos de ressonar dos outros garotos.
Por fim sentou-se na cama, chutando os lençóis para o lado, vencido pela inquietação. Procurou encontrar a pose de meditar, tentando achar alguma coisa para fixar sua própria mente e encontrar alguma calma, alguma paz. Aquele ato de meditar lhe era tão familiar, porém naquela noite simplesmente não conseguia em meio a agitação interna de seu próprio ser, incapaz de se adequar a tantas mudanças repentinas. Passou algum tempo tentando acalmar seu coração, acalmar sua respiração, em vão. Até que sentiu, surpreendido, o colchão ao seu lado afundar. Forçou-se a não abrir os olhos perante a surpresa, notando imediatamente que era Mu quem subia em sua cama, esfregando os olhos pesados de sono. Uma das mãos cobrindo a sua suavemente sobre sua perna cruzada.
- O que houve? Não consegue dormir? - veio a voz muito baixa e sonolenta.
Shaka fez que não com a cabeça desfazendo-se da pose de meditação, sua mão agarrando-se a de Mu como buscando por alguma segurança. A energia da outra criança estava tranquila agora, muito calma e diferente daquela que ele presenciara durante o dia.
- Está com medo?
- Não… eu só… não sei bem… é tudo tão diferente, tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo… me sinto perdido… - confessou, sentindo um estranho formigamento na garganta, sua voz saindo embargada mesmo tentando manter o tom silencioso do sussurro.
Mu piscou algumas vezes entendendo mais com o coração do que com a mente o que o outro estava dizendo, lembrou-se de sentir-se assim muitas vezes, perdido em um mar de adultos diferentes dele. Pelo menos ele tinha Shion que era de sua mesma raça, o que criava um vínculo, qualquer que fosse, com o mestre. Shaka não tinha ninguém. Mu decidiu naquele momento que tinha ele. E lembrou-se das vezes, quando era ainda mais novo, que fora confortado pelo mestre com abraço quente e carícias suaves, que acalmaram seu coração e sua alma.
Empurrou Shaka para deitar-se na cama, deitando-se ao seu lado e puxando-o para deitar em seu peito, seus braços não compridos o suficiente para enlaçar a outra criança, mas suficientes para acariciar os macios cabelos loiros.
- Vai ficar tudo bem! Somos amigos agora e eu estou aqui com você.
Shaka deixou-se abraçar, as batidas tranquilas do coração do outro ressoando em seu ouvido acalmando-lhe. A mão pequena acariciando os cabelos, a própria energia tranquila e sonolenta do outro embalando-o. Dormiram assim, abraçados inocentemente, iniciando uma amizade que seria pelos anos vindouros sua âncora e segurança, para os bons e os incertos momentos.
(Continua…)
Diana Lua
Diana C. Figueiredo
Escrito em: 25/12/2017, 22/04/2018 e 08 e 13/01/2019 - Publicado: 28/01/2019
Última alteração: 23/02/20222
Notas:
[11] Segundo a enciclopédia dos cavaleiros, Kanon tem olhos verdes enquanto Saga tem olhos azuis. Como para mim eles são gêmeos idênticos essa diferença não seria possível, ademais esse fato não permitiria que um fosse confundido com o outro. Então, ao invés de usar literalmente a definição de cor dos olhos de cada um, eu preferi fazer esse detalhe, de forma que os dois tem os olhos azul, mas Kanon tem um sutil esverdeado, que poderia ser considerado só efeito da luz para quem não os conhecesse e que permite quem os conhece de distingui-los com maior facilidade.
[12] Terríveis é como chamo meus bebês peludos, eles são adoráveis mas terríveis quando fazem bagunça. Assim que imagino os cavaleiros nessa tenra idade.
# Demorou mais que o previsto... mas saiu. Muita falta de tempo e minha musa também não ajuda na maioria das vezes, e eu dependo muito dela...
Consegui fazer o Mu muito pestinha? Hehe...
E o que vocês acharam do Aioros e do Kanon? Tem uma surpresa pro próximo (ou próximos... hehehe)
