# Obrigada a DanizGemini pelo review.

Spoiler Alert: Saint Seiya Origin


Destinados

06 - É só não se esquecer: estarei aqui

Aioros estava cansado, ligeiramente irritado também; não era de sua natureza se sentir assim, mas não conseguia evitar. Ele havia passado o dia todo com os aprendizes, sozinho. Tinha sido praticamente impossível controlá-los para as aulas teóricas desde que Mu havia conseguido fazer a Crystal Wall. Entre os menores, ele fora o primeiro a controlar o cosmo e usá-lo em um golpe. Claro, Shaka tinha controle sobre seu cosmo também, mas ainda não o usava de forma que os outros pudessem entender. A novidade era o primeiro golpe de Mu, e todos os outros estavam ansiosos por conseguir realizar seus primeiros golpes também. Estavam histéricos. Aioros acabou por abortar as aulas teóricas naquele dia e o passara na arena, tentando, em vão, conter toda aquela energia e confusão.

Os mais velhos haviam se juntado a eles, no intuito de ajudar, já que já controlavam um pouco melhor seus cosmos, mas com suas idades girando em torno de apenas três anos a mais, ainda não sabiam lidar com crianças mais novas. Shura, que era sempre muito sério e atento a tudo que Aioros ensinava, - seu fiel discípulo e admirador número um, como zombada Kanon - havia perdido a paciência, e o caos fora instalado. Aioros não tinha como dar conta de nove crianças com tanta energia. E Shion havia ido buscar mais uma.

Era tarefa de Saga ajudá-lo com os aprendizes, porém nos últimos dias não tinha tido praticamente nenhuma ajuda. Estava em dúvida se Shion havia deixado tarefas para outro na sua ausência; ele nada sabia, mas não seria incomum. Se fosse o caso, Saga podia pelo menos tê-lo avisado. E também nesse caso, ele poderia ajudar a convencer Kanon de ajudar em seu lugar. Seria difícil, mas se alguém ainda conseguia convencer Kanon de algo, esse alguém era Saga, e se o próprio não conseguisse, ninguém mais o faria.

Subia vagarosamente os degraus e mais degraus de pedra cinzentas que levavam aos templos, entremeados por caminhos de terra batida e poeirenta, ladeados por ruínas tão antigas que ele nem se arriscaria palpitar as idades, que ligavam cada uma das casas zodiacais. Estava resoluto a encontrar Saga e obrigá-lo a ajudar, como era seu dever, nos próximos dias. Se ele tivesse tarefas deixadas por Shion, ele mesmo o ajudaria com elas depois. Mas não passaria nem mais um dia sozinho com aquele bando terrível.

Aioros já havia procurado pelo outro por todos os lugares, sendo o Templo de Gêmeos sua última opção, uma vez que a não ser para dormir, eles raramente ficavam em seus templos. Por isso, sentiu-se bastante surpreso em encontrá-lo ali, sentado em um canto das escadarias, cotovelos apoiados nas joelheiras de metal, os punhos enfaixados e cerrados segurando seu queixo; seu olhar estava distante, os olhos presos e perdidos no horizonte, quase vazios.

Parou por um momento observando o outro, ligeiramente preocupado com aquela expressão; esperava ser notado ali na base da escadaria, mas isso não aconteceu.

- Saga! - Aioros chamou, resumindo a subida dos degraus até ele. - Até que enfim te encontrei, você não apareceu pra me ajudar com os aprendizes, de novo! - Ainda tentou manter o tom de bronca e indignação, mas seu coração era terno demais para esconder que a expressão perdida, senão aflita, no rosto do outro o preocupavam.

- Me desculpe… - o geminiano murmurou, piscando lentamente, as mãos se abrindo e esfregando seu rosto morosamente.

- O que houve? - Aioros acabou com a voz suave, sentando-se ao lado do amigo, uma mão pousando sobre a ombreira do outro em sinal de apoio e preocupação.

- Shion voltou hoje…

O sagitariano estranhou, aquela deveria ser uma boa notícia. O mestre lhes era muito querido. Ainda mais especialmente para Saga, uma vez que ele e Kanon haviam chegado ainda bebês ao Santuário, Shion fora como um pai para os dois. Kanon torceria o nariz àquela afirmação, mas Saga não, ele tinha muito respeito pelo ancião. Deixou que sua mão escorregasse até a nuca do outro, por debaixo dos cabelos longos, massageando os músculos tensos ali.

- O que houve? - repetiu a pergunta, e esperou pacientemente.

Saga suspirou, as costas rígidas, relaxando apenas um pouco sob os dedos de Aioros. Finalmente levantou o rosto de suas mãos e mirou os verdes e intensos olhos do amigo: - Apenas uma bobagem…

- Para te deixar estressado desse jeito? Não acredito…- deu um sorriso encorajador, sua mão continuou com a massagem suave, descendo um pouco pela linha da espinha, até onde a camisa azul de treino lhe permitia.

- Estávamos conversando sobre a demora para encontrar esse último aprendiz, sobre as buscas dos aprendizes em geral… - suspirou novamente, seus olhos azuis se perdendo dos verdes e voltando-se para o horizonte. Era o fim do crepúsculo, os tons vermelhos escuros sendo cobertos pela escuridão da noite: era Héspera retirando-se, dando lugar a sua mãe, Nix, que vinha cobrir o céu com seu manto érebo e estrelado[15]. As primeiras estrelas ainda opacas, suavemente se fazendo aparecer. - Não sei como Shion faz; entre sonhos, presságios, sinais, ler as estrelas… como saber…? - se empertigou, fechando os olhos. - Eu perguntei e ele me disse que é preciso confiar no coração para entender as mensagens e mensageiros divinos…

- Me parece correto. Apesar de toda a sabedoria do Grande Mestre, seu coração puro é o último julgador para as conclusões das pistas que os deuses mandam para ele, porque os deuses nunca falam em linhas diretas. - Não que ele tivesse qualquer experiência em falar com deuses, mas já ouvira histórias suficientes em sua vida, e também estudara muito sobre os deuses, portanto lhe parecia sensato que seres superiores tivessem uma maneira diferente de se expressar uma vez que suas senciências estavam muito além das humanas.

- Eu tenho medo.

A confissão veio de súbito, séria e precisa. Aioros piscou algumas vezes; seus dedos parando momentaneamente de pressionar os músculos do outro, ele precisou de um instante para entender: - De confiar em seu coração?

Saga se virou para ele e balançou a cabeça em um aceno, confirmando. - Você não tem medo de confiar no seu coração, Oros?

Seus olhos muito azuis pareciam tristes e profundos como o alto mar. E embora Aioros estivesse genuinamente perplexo, pois conhecia muito bem a bondade e o coração de Saga, ele entendeu que o geminiano falava muito sério. Por isso, parou para pensar; sua vez de desviar o olhar para o horizonte, agora totalmente escuro, marcado pelas longínquas estrelas brilhantes. Ele tampouco fazia ideia de como ler aqueles pontos luminosos no céu.

Deixou alguns pensamentos dançarem por sua mente, por fim, ainda incerto das preocupações daquele que era considerado o mais puro entre os cavaleiros, a mais provável a futura escolha para ser o Mestre do Santuário quando Shion não pudesse mais carregar esse fardo, aproximou-se um pouco mais, sentando-se bem encostado, sua perna resvalando na do outro de forma reconfortante e íntima que também denunciava que eles não eram apenas amigos. Sua mão escorregou até o ombro oposto, agarrando na ombreira e puxando-o para um abraço:

- Tenho medos, principalmente de acabar com o coração partido. Nossas vidas são feitas para servir aos deuses e não a nós mesmos, mas, sobre as decisões importantes, acho que é o melhor guia que posso ter.

Saga olhou para o céu ligeiramente desolado por não encontrar a compreensão de Aioros. Também, como poderia? Embora fosse dito que eram igualmente bondosos, ele sabia que não havia páreo para a fidelidade e dignidade no coração do sagitariano, e exatamente por isso, e por mais que o amasse, não podia... Não podia contar que não confiava em si mesmo, que havia, dentro de si, algo muito escuro, algo escondido em um canto que ele se recusava até mesmo a olhar. Era disso que ele tinha medo, que esse algo algum dia saísse da caixa, deixasse aquele canto e se espalhasse pelo restante de seu ser. Não há como explicar uma coisa dessas, principalmente para aquele que era dono do seu coração.

- Hey… - Aioros o puxou pelo queixo, fazendo-o encarar, e por breve um momento, seus olhos verdes escuros perscrutaram dentro dos azuis. Ele não sabia exatamente o que fazer para confortar o outro, puxou-o pelo queixo depositando um beijo suave, um leve e carinhoso roçar de lábios. - Você não tem com o que se preocupar, eu te conheço - e pousou a outra mão no centro do peito forte do outro adolescente - sei o quão justo você é. Certamente esse seu coração sabe quais decisões tomar. E não se esqueça: eu sempre estarei aqui. A qualquer momento que você duvidar, estarei ao seu lado para te ajudar.

Saga o mirou por um momento, sobrancelhas franzidas em algum pensamento profundo que Aioros não conseguiu decifrar. Então segurou o rosto do cavaleiro de sagitário, prendendo-o antes dele se afastar. Beijou-o, com força, paixão e desespero. Procurando por algum conforto dentro do outro através de seus lábios. Sua língua empurrando, exigindo mais do que pedindo, para aprofundar o beijo. Aioros não negou, embora tenha estranhado, não hesitou. Entre eles três, era sempre Kanon o mais exigente e inovador, aparecendo com novas descobertas e experiências, ele e Saga apenas seguiam o fluxo. Por isso, a forma como Saga devorou sua boca naquele momento lhe preocupou mais do que a conversa que estavam tendo.

Ele acabou entre as pernas do geminiano, sendo agarrado e pressionado contra seu peito até que suas bocas se separaram em busca de ar. Aioros gemeu suavemente, arfando, sentiu sua face quente e vermelha, desacostumado com aquele aquele tipo de carícia tão profunda. Eles se beijavam sempre, sim, mas seus beijos, muito geralmente, eram mais suaves e breves, pois ainda estavam descobrindo, aprendendo, os limites daquela intimidade.

- Me diga o que fazer para te ajudar… - disse Aioros encostando sua testa na do outro; os lábios inchados do beijo quente roçando levemente.

- Já ajudou. - Saga disse simplesmente, antes de puxá-lo para um novo beijo, menos sedento e ainda mais denso e profundo.

(...)

Mu estremeceu e abriu os olhos para a escuridão do quarto conjunto. Respirou devagar, esforçando-se para ficar quieto e não acordar Shaka. Como havia se tornado costume, dormiam na mesma cama, abraçados ou embolados como acabavam no passar da noite. Shaka estava de costas para si, em um abraço frouxo. Teve vontade, mas não apertou seus braços em volta do outro, consciente do suor que se espalhava por seu tórax, umedecendo o tecido fino da camisa simples que usava. Enterrou o nariz nos cabelos loiros da nuca do amigo, aspirando o aroma suave de xampu e incenso, e tentou se concentrar para espantar as sensações ruins que o sonho lhe causava. Sempre que tinha esse sonho ficava com um enorme nó na garganta e um aperto no coração.

Sentiu uma pressão suave em sua mão; não tinha notado antes, mas estava com os dedos enlaçados aos de Shaka. Quase não ouviu o murmúrio sonolento e muito baixo do outro - Mu? Tudo bem?

- Foi só um sonho… - respondeu também em um murmúrio.

- "Aquele" sonho? - veio a pergunta ligeiramente mais alta, Shaka apertando mais sua mão. Era a primeira vez que Mu tinha o tal sonho desde que se conheceram, mas Mu já o havia mencionado antes, no dia em que tivera a visão de um grande mal ao meditar pela manhã.

- Uhum… - Foi mais um suspiro que uma resposta.

Shaka virou-se e ficando de frente para o amigo, precisou se concentrar um pouco para entreabrir seus olhos azuis, pálpebras carregadas de sono, mas mesmo com a pouca luz da madrugada, sabia que olhar nos olhos sempre reassegurava Mu. - Quer me contar?

O outro revirou os olhos e se virou de costas na cama estreita, um ombro para fora dela, seus olhos fixos no teto alto do enorme quarto. - É bobo… - suspirou, decidindo dessa vez compartilhar com o amigo, sabia que ele não lhe julgaria. - Na verdade, Mestre Shion disse que é uma lembrança de quando eu nasci…

- Uma lembrança da sua mãe? - Mu apenas balançou a cabeça assentindo, olhos ainda grudados no teto e dedos entrelaçados apertadamente com os seus - Me conta, como ela era?

- Eu… só vejo o rosto, mais os olhos que qualquer outra coisa… - suspirou, fechando os olhos por um momento, lembrando: - Ela tem um olho de cada cor: um verde como os meus e outro lilás. Vejo um pouco dos cabelos, são de uma cor parecida, mais escuros que os meus… Ela não tem as marcas na testa. Shion me disse que era assim mesmo, que minha descendência dos lemurianos veio do meu pai e não dela.

Shaka pegou uma mecha de cabelo cor de lavanda muito claro de Mu, alisando-o entre os dedos: - Gosto da cor do seu cabelo. E o que te chateia nesse sonho? - perguntou cauteloso.

Mu voltou-se ficando de frente para o loiro, seus olhos estavam marejados. - Ela só vira as costas e vai embora… - ele deu de ombros, tentando não se importar, mas uma lágrima escorreu de seus olhos verdes. Shaka a parou na bochecha com os lábios suavemente. - Ela nunca disse o nome dela, só me deixou e foi embora, simples assim. Nem deu meu próprio nome, foi o Mestre Shion que o escolheu.

- Você tem raiva? Por ela ter te abandonado? - Shaka continuava cauteloso, a voz muito cuidadosa, uma das mãos ainda enlaçada com a de Mu, quanto a outra alisava as mechas de seu cabelo. Ele estava curioso, pois não entendia bem como funcionavam esses sentimentos maternais.

Mu piscou com olhos muito abertos, ele nunca tinha pensado se o que sentia poderia ser raiva. Ainda sim, ela era sua mãe, como ele poderia sentir raiva? - Eu não sei… - suspirou confuso. - Mestre Shion é muito bom pra mim… - pensou em todas as outras coisas que tinha ali no Santuário. - Eu gosto daqui, de você e dos meninos… acho que só queria entender o porquê de alguém abandonar um filho assim. Às vezes eu esqueço… mas então tenho esses sonhos e fico pensando de novo… - ele suspirou de novo, fechando os olhos para continuar: - A mãe do Aioros sonhou com um anjo dourado quando estava grávida, e depois de tê-lo, ela veio para o Santuário e ficou aqui. Aioria não se lembra dela porque ela morreu quando ele era bebê, mas ela ficou aqui com eles...

- Você queria que a sua tivesse ficado também? - Shaka perguntou, a voz não mais que um sussurro ao vento.

Mu abriu os olhos, dando de ombros novamente, dizendo que talvez teria sido bom, mas seus olhos verdes brilharam com as lágrimas lhe traindo, dizendo que sim, era isso que ele queria.

- Talvez a sua tivesse algum motivo que não a permitia ficar, diferente da de Aioria… - Shaka queria apaziguar a tristeza do outro, os dedos pequenos pairando pela face de Mu recolhendo as lágrimas teimosas.

- Você não tem vontade de ter uma mãe? - Perguntou Mu, depois de alguns momentos em silêncio.

- Eu não saberia dizer, não sei bem o que significa isso…

- Você sabe o que houve com a sua?

- Ela morreu quando eu nasci. Ninguém sabia nada dela. Só fui encontrado porque o ancião do mosteiro teve um sonho, ela já estava morta quando me acharam à beira do rio. - Shaka disse isso com tamanha indiferença que surpreendeu o ariano.

- Sinto muito… - Foi a vez de Mu apertar a mão do outro. Ainda que Shaka não parecesse se perturbar com aquilo, Mu sentiu-se triste pelo amigo, ele pelo menos tinha uma lembrança de sua mãe.

- Nunca conheci ninguém que tivesse uma mãe, por isso não entendo esses sentimentos. - Shaka sorriu, verdadeiramente não se importando. Aquilo não o incomodava de forma alguma. Se algum dos monges tinha mãe, elas nunca estavam por perto, e ele não saberia definir esses sentimentos e Mu e os outros aprendizes eram as primeiras outras crianças que ele conhecera, e todos eram órfãos.

- Milo também teve, mas ela morreu e ele se lembra de como, é por isso que tem pesadelos e chora escondido a noite[16]. - Fez uma pausa, captando os pensamentos de Shaka, quase sem querer. - Mas é verdade que a maioria dos cavaleiros é órfã, parece que sempre foi assim…

- Escolhidos pelos deuses… talvez tenha um motivo para isso. - Shaka ponderou fechando os olhos, tentando por um instante achar uma resposta fora, ainda que dentro, de si.

Mu sorriu meio melancólico, se sentindo meio carente. Ainda era muito novo e impaciente para esperar pelas respostas divinas, interrompeu Shaka trazendo sua atenção de volta para o mundo visível, querendo a tranquilidade que aqueles olhos tão azuis sempre lhe passavam.

- Sabia que dizem que Saga e Kanon foram trazidos para o Santuário por uma estrela cadente?[17]

- Sério? - Os olhos azuis brilharam, maravilhados e curiosos. - Uma estrela de verdade?

- Siiiim! - a resposta empolgada saiu mais alta que o planejado, fazendo com que o ariano colocasse as mãos na boca. Ele esperou por um segundo e nenhum dos outros aprendizes pareceu acordar, então continuou o mais baixo que conseguiu; já estava mais animado, aquela história o fazendo se esquecer um pouco de sua própria dor: - Dizem que eles foram o sinal divino que as estrelas mandaram para o Mestre Shion de que era hora de refazer os Cavaleiros de Ouro do Santuário para uma nova batalha…

Shaka arregalou os olhos azuis muito claros, se lembrando do estudo sobre as batalhas Santas do passado. - Então seremos nós que lutaremos na próxima guerra santa… - ele murmurou, só então se dando conta daquela realidade verdadeiramente. Os dedos pequenos apertando os de Mu apreensivamente. Todos os aprendizes falavam muito de luta, e mesmo tendo começado a participar dos treinos físicos ainda não tinha certeza sobre aquelas habilidades.

- Temos tempo… - Mu disse reconfortante, sua mão livre afagando a franja loira do outro. - Isso só será depois que a deusa Athena nascer e crescer… Não se preocupe, até lá já teremos as armaduras e seremos muito fortes… os mais fortes de todos… Cavaleiros de Ouro.

O loiro se virou, deitando-se de costas na cama, com os olhos pregados no teto. As mãos do amigo afagando suavemente sua franja. Era como Saga tinha lhe falado, eles teriam que proteger o Santuário… não, o mundo inteiro do mal. Teriam que proteger essa deusa Athena que ele nem conhecia ainda. Ela o tinha escolhido para lutar por ela, e ele lhe devia a fidelidade, mas como podia ser fiel a alguém com quem nem ainda falara? Suspirou.

- Será que Athena terá uma mãe? - perguntou Mu, muito baixo, refletindo consigo mesmo e interrompendo os pensamentos do outro.

Shaka deu de ombros lembrando-se que na história que lera: Athena tinha nascido da cabeça de seu pai, Zeus, pois ele devorara sua mãe ainda grávida. - Talvez ela venha em uma estrela cadente como Saga…

Mu assentiu, fazia mesmo mais sentido para uma deusa vir em uma estrela, do que nascer nesse mundo. E na verdade ele nem tinha muita certeza de como os bebês nasciam ao certo, só sabia que ficavam na barriga das mães por nove meses antes de nascer. Será que Saga seria um deus também? Alguns diziam que sim, mas talvez ele só tivesse sido trazido pela estrela até ali.

Eles ficaram quietos por alguns instantes, perdidos, cada um em seus próprios pensamentos. Foram só alguns instantes, pois o pequeno ariano, estando acordado nunca conseguia passar muito tempo quieto. Ele repentinamente se lembrou de algo. Moveu-se devagar saindo da cama e indo até seu armarinho de madeira, Shaka o acompanhou com os olhos curiosos. Retirou um embrulho de papel amarrotado e voltou para a cama, sentando-se, pronto para mostrar a Shaka seu mais precioso tesouro.

A luz pálida da Lua entrava por uma das janelas do outro lado que estava com a cortina entreaberta. Com muito cuidado ele abriu o embrulho, colocando-o na cama entre suas pernas, Shaka sentou-se também, olhando intrigado para as cordinhas vermelhas, emaranhadas em um padrão intrincado e bonito. Um círculo trançado, decorado com várias voltas mais soltas e alguns cordões mais compridos, tendo contas de água marinha enfeitando as pontas.[3]

- Ela me deixou isso, entretanto… - Mu murmurou, o olhar brilhando cheio de adoração.

- O que é? - Shaka perguntou. Queria tocar, pois estava sentindo uma energia diferente; ainda que fosse só o resquício, era forte para chamar sua atenção mesmo com olhos abertos, mas não sabia se podia.

- É um enfeite. Para prender os cabelos. Mestre Shion me disse que ela tirou dos cabelos dela e deixou para mim.

- É bonito… - foi tudo que Shaka conseguiu falar, ainda intrigado pela energia que estava sentindo, queria fechar os olhos para analisá-la com mais cuidado, mas pensou se Mu ficaria chateado com isso, o outro sempre falava que gostava mais dele com os olhos abertos, embora entendesse um pouco do porquê ele passar a maior parte do tempo com eles fechados.

- Sim, mas é grande e não pára no meu cabelo... - havia uma pontada de desapontamento na voz do jovem de cabelos lavanda, quando ele moveu os dedos, segurando uma mecha que pouco passava de seu queixo.

As mãos de Shaka se juntaram às suas, dedos deslizando pelo cabelo muito fino e delicado. - Seu cabelo é fino, mais fino que o meu… mas talvez se você deixar crescer bem comprido consiga usar…

Os olhos de Mu se iluminaram como se não tivesse pensado nisso antes, era verdade que eram as servas do Santuário que cortavam seus cabelos, mas havia todos os tipos de corte e ele nunca pensara antes que podia exigir algo diferente. Miro e Afrodite tinham cabelos longos, mas já tinham vindo assim, o mesmo para Shura, que tinha os cabelos curtos… ele sempre vivera ali e nunca pensara em opinar sobre isso.

- Vamos deixar nosso cabelo crescer bem longo então! - falou triunfante, estendendo o mindinho para uma promessa.

Shaka não entendeu o gesto e ele teve que explicar que era aquilo que se fazia para prometer algo, o loiro ficou na dúvida do por que ele também precisava deixar seu cabelo crescer, uma vez que isso não mudaria nada no uso do objeto pelo outro, mas vendo a expectativa do amigo decidiu que não faria mal. Não haveria nada demais em ter cabelos mais longos.

- Se ela deixou pra você, significa que se importava de alguma forma… - disse Shaka suavemente enquanto pegava em uma das pontas compridas da cordinha vermelha, ligeiramente confuso com a sutil energia residual que emanava do prendedor.

Os olhos de Mu brilharam de alegria com aquele pensamento. Sim, talvez ela se importasse, talvez ela não pudesse ficar, talvez ela quisera deixar uma lembrança, talvez ele um dia poderia usá-lo para encontrá-la. Foi com um sorriso que voltou a dormir logo e confortavelmente; uma mão entrelaçada a de Shaka e a outra segurando o enfeite vermelho.

(Continua…)


Diana Lua
Diana C. Figueiredo

Escrito em: 14/01/2019 e 28/06/2020
Última Revisão: 19/03/2022
Revisado por: Illy-chan Himura Wakai (02 e 18/03/2022)


Notas:

[3] Referência do capítulo 1. Inspirado na imagem do A de copas da Sacred Saga, onde o Mu usa um arranjo tipo esse prendendo o cabelo.

[15] Héspera, deusa do crepúsculo vespertino, filha de Nix, deusa da noite, e Érebo, a Escuridão. Ambas são deusas primordiais muito antigas na mitologia grega. A inspiração para o 'manto estrelado cobrindo o céu', veio da animação Fantasia, 1940, The Pastoral Symphony, que tem uma cena desse tipo.

[16] Referências a fanfic Tempestade da Srta. Mizuki. Vão lá pra ver a história do Camus e Miro.

[17] Referência ao Saint Seiya Origin, que mostra a chegada dos gêmeos ao Santuário.


# Um único review no capitulo anterior! Mais de 50 views e um único review! Não é a toa que minha musa ficou out tanto tempo... sem combustível a coitada.

# Eu adicionei dois comentários iniciais que estão junto com o capitulo 1. Um deles, sobre o trio SagaxAiorosxKanon que eu já tinha adicionado quando postei o capítulo 5, só esqueci de avisar. E outro sobre as 'marcas de nascença' do Mu que descobri recentemente. Também atualizei o Timeline lá.

# Talvez para o próximo capitulo eu vá subir a classificação, ainda não sei, estou em um conflito interno aqui. Mas só avisando, caso suba...

# Gente... temos revisora! Quando comecei postar, achei que ia dar conta de com capítulos curtinhos levar sem revisora, mas toda vez que releio acho erros. Ai achei que era melhor pedir ajuda. A linda Illy-chan, apesar do pouco tempo conseguiu me salvar. Obrigada sua linda!

E ai gostaram do beijo do Saga no Aioros... uhuuuuuuuuuu
E dos bebês orfãos fofinhos falando de mães? Próximo vamos dar um pulinho de tempo... e a coisa vai esquentar um pouco...