Update: Essa história está em processo de atualização, os capítulos serão todos revistos, os erros e incoerências mais graves corrigidos e, principalmente, a escrita suavizada; dito isso, esse capitulo já passou pela revisão.
Um sininho tocou em algum lugar ao fundo da pequena loja. Era um espaço abafado e, basicamente, vazio; exceto por uma única cadeira alta e estreita. O pouco domínio que Harry aprendeu a exercer sobre sua magia ao longo de sua vida entre os trouxas, pareceu sumir por completo ao entrar no ambiente claustrofóbico. Os seus sentidos ficaram confusos, ele não gostou e tampouco entendeu a sensação.
"Boa tarde, jovem." De repente havia um velho parado diante de si. Os olhos grandes e excessivamente claros brilhando como duas luas na penumbra da loja empoeirada.
"Olá." Falou Harry sem saber ao certo como agir diante do surgimento inesperado do lojista excêntrico.
"Sim, sim." Ponderou o homem com ar de mistério "Pensei que nos encontraríamos em algum momento, Harry Potter." Harry não conseguiu evitar sentir-se desconfortável diante do olhar analítico do velho à sua frente. "Você tem os olhos de sua mãe." Deixou escapar o homem estranho. "Lembro como se fosse ontem." Por um instante, o olhar do velho tornou-se ainda mais distante que o normal. "Seu pai também é claro, ambos comprando suas primeiras varinhas."
O velho aproximou-se mais. Harry desejou que ele piscasse. Aqueles olhos prateados o incomodavam.
"Sua mãe optou por uma de vinte e seis centímetros de comprimento, farfalhante e feita de salgueiro" O homem sorriu com a lembrança de uma de suas criações "Particularmente adequada para encantamentos." Uma breve pausa deu lugar ao silencia, que tomou conta do ambiente como um véu, antes que o velho voltasse a falar. "O seu pai era um pouco diferente, deu preferência a uma varinha de mogno. Vinte e oito centímetros e flexível. Um pouco mais de poder e excelente para transformações. Bom, digo que ambos escolheram, mas na realidade é a varinha que escolhe o bruxo, é claro."
O olhar do homem voltou a tornar-se distante e melancólico como se tivesse, novamente, lembrado de algo importante.
Harry teve a impressão que sabia sobre o que o velho pensava quando o viu observando atentamente a cicatriz em sua testa.
"Eu vim em busca de uma varinha, senhor." Comentou o jovem com o máximo de resolução que foi capaz de reunir. "Assim como eles.".
"Sim, é claro que veio." O homem não perdeu tempo em apontar a sua própria varinha para o que parecia uma fita métrica jogada ao balcão. O objeto subitamente ganhou vida e passou a circular Harry ansiosamente, aguardando pelas instruções do seu dono. "Agora, qual é o braço da varinha?"
"Sou ambidestro na verdade."
O homem pareceu surpreso, mas recuperou-se rapidamente abrindo um pequeno sorriso.
"Habilidade notável se me permite dizer, estique ambos os braços."
Harry não tardou a fazer o que lhe foi mandado e foi imediatamente atacado pela fita que antes flutuava calmamente ao seu redor.
O Garoto observou estupefato, as várias caixas ornamentadas espalhados pelas prateleiras, alguns com cores brilhantes e outras voando em direção a pequena mesa no centro do estabelecimento.
"Toda varinha Olivaras tem o núcleo feito de uma poderosa substância mágica, Sr. Potter." Olivaras acenava entusiasmado em direção as diferentes tipos de varinhas espalhadas pela sala. "No entanto, tudo começa pela madeira! Uma boa varinha deve sempre começar a ser projetada à partir de uma boa madeira. É uma regra essência, jovem!" Discursou o homem em tom de palestra.
Ao mesmo tempo que seus palavras soavam como um sermão, também possuíam a suavidade de um afago. Sua retórica era como a de um sábio professor: sem dúvidas rigorosa; todavia, amável!
O homem finalmente terminou de reunir o que buscava e espalhou diversas caixas de madeira pela mesa, abrindo a que caiu mais próxima de seus dedos ossudos.
"Aqui, pode segurá-la." Disse o homem velho oferecendo o pequeno bastão de maneira que jazia pacificamente na caixa de aparência simples. "Você absolutamente vai saber quando encontrar a certa."
Harry fez como lhe foi pedido.
A primeira varinha, aquela da caixa ofertada pelo velho, possuía um aspecto poroso e uma cor clara; não parecia diferente de qualquer outro pedaço de madeira visto ao longo de sua, até então, curta vida. A próxima varinha não foi diferente, exceto pelo fato de ser levemente mais escura e intrincada que a anterior.
A terceira, no entanto, pareceu ligeiramente diferente das duas anteriores.
"Azevinho, muitas vezes associado a proteção e sacrifício." Explicou o velho. "Você acha que é ela?" Concluiu perguntando curioso.
"Eu não tenho certeza" Respondeu o jovem.
"Sendo assim, não serve!" A resposta do velho foi resoluta e veio acompanhada de mais instruções. "Continue você vai saber quando encontrá-la."
O lojista não deixou, em momento algum, de observar atentamente as reações do garoto.
A próxima varinha a causar alguma mudança na expressão do jovem era feita de mogno e infelizmente foi descartada segundos depois.
E assim foi, com um número obsceno de outros pedaços de madeira; alguns mais inertes, outros menos, mas nenhum deles acolhedor. Isto é, até a penúltima varinha do último dos muitos lotes reunidos pelo, aparentemente, inabalável lojista.
Por alguma razão, Harry procurou, durante toda a visita, pela sensação de calor e pertencimento, tão rara em sua vida até o momento. E, portanto, quando já havia perdido às esperanças e se contentado em reconsiderar alguma das outras varinhas, em sua visão, menos adequadas, foi uma surpresa sentir a aquela única estranhamente acolhedora. Especialmente, considerando a aparência hostil da varinha em questão; que, apesar de perfeitamente reta, tinha um aspecto antigo e retorcido, causando-lhe, apesar disto, uma sensação boa.
"Essa é feita de um pinheiro muito especial, Sr. Potter." Comentou o homem com uma calma quase antinatural. "Muito difícil de cultivar, não se adapta bem em ambientes que favorecem a vida, mas é notavelmente resistente a situações adversas e terrenos hostis."
O Velho parou, brevemente, para contemplar a varinha nas mãos do garoto, antes de recomeçar seu monólogo.
"Resistência e perseverança diante de situações difíceis é o que essa árvore representa." Revelou com certo distanciamento, por alguma razão, Harry pensou que não se tratava apenas disto "Além de longevidade, é claro. Alguns dizem que os poucos portadores de varinhas feitas com essa madeira atingem seu verdadeiro potencial diante de situações que a maioria não poderia suportar."
As palavras não vinham carregadas com um tom de voz particularmente ruim; mas, inevitavelmente, caíram sobre os ouvidos atentos e curiosos do jovem como um agouro.
"Peculiar, Sr. Potter..."Continuou o velho em sua ponderação. "No entanto, tenho para mim que o senhor ainda não está segurando sua varinha." Especulou o homem com conhecimento de causa, tomando a liberdade de retirar a varinha das mãos mais jovens, a depositando, novamente, na caixa a qual pertencia.
O homem acenou com a varinha, sua própria, displicentemente e sem olhar para o adolescente que contemplava as últimas palavras com um olhar pensativo. Logo todas as varinhas experimentadas foram substituídas por outras, todas semelhantes a última.
"O núcleo estava errado, penso eu." Esclareceu o lojista. "Vamos tentar de novo."
Ao contrário das outras varinhas, que em sua maioria pareciam inertes contra os seus dedos, Harry podia sentir coisas emanando dessas. Da maioria delas o jovem captava sentimentos positivos, com exceção de uma que causou-lhe um distinto sentimento de aversão.
"Núcleo de veneno de basilisco." Explicou o homem ao ver o rosto surpreso do jovem. "Muito raro, mais raro ainda aqueles que têm alguma afinidade, mesmo que pífia, com tal substância vil. Continue, não deixe que isso o perturbe."
Duas varinhas, que por mero acaso, senão destino, estavam lado a lado provocaram reações a Harry. Eram praticamente idênticas, ambas de uma cor clara, quase branca, e no comprimento das duas havia entalhes parecidos com veias que iam desde um marrom escuro a um vermelho vivo.
"Qual é o problema, Sr. Potter?"
O velho lojista claramente tinha muito experiência em captar o desconforto em seus clientes.
Harry hesitou por um momento antes de responder com um flagrante ar de derrota.
"Eu estou indeciso, Senhor."
O velho analisou a expressão do garoto com cuidado, antes de começar a falar lentamente.
"Eu vejo." Iniciou ele como prenuncio "Pena de fênix ou de hipogrifo, ambas envoltas em pinheiro." O homem encarou o jovem a sua frente com um olhar analítico antes de voltar a falar. "A fênix representa o renascimento, a reinvenção e a criatividade. É um núcleo que faz muito sentido com essa madeira em especial."
O jovem sorriu, sentindo-se inexplicavelmente contente ao escutar a explicação do velho.
"O núcleo de pena de hipogrifo por outro lado, representa nobreza, bravura e força."
O rosto do velho que antes tinha um aspecto ilegível agora parecia sério.
"Ambas tem 35 centímetros e são flexíveis." Começou o homem pelas semelhanças. "A primeira, com núcleo de pena de fênix, é uma ótima combinação e funcionará particularmente bem para magia defensiva e feitiços, de modo geral. A segunda, por outro lado, desempenhará em sua melhor capacidade quando utilizada para magia ofensiva e transfiguração" Explicou o velho, terminando de expor as características das duas varinhas.
Harry pensou por um momento antes de encarar as duas varinhas à sua frente.
"A escolha é sua, senhor Potter." Incentivou o velho lojista. "O senhor já decidiu?"
A expressão séria e curiosa no rosto de Garrick Olivaras deu lugar a uma mais serena quando Harry sorriu de forma melancólica.
"Sim!"
Afirmou o garoto apontando para sua escolha.
"Escolha interessante, senhor Potter." Sorriu o velho, finalmente. "Muito interessante, de fato."
Harry encarou seu entorno com confusão evidente. Havia uma barreira de tijolos à sua frente. Largando o seu carrinho por um momento, o garoto caminhou lentamente em direção à parede.
Claramente, havia algo de estranho sobre ela.
Harry nunca teve dúvidas sobre o fato de ser diferente. Isso se devia em partes ao fato de seus parentes terem se esforçado, desde muito cedo, em deixa-lo bastante ciente deste fato elementar.
É claro, no início ele não entendia muito bem. Era algo inócuo, não mais que uma sensação, um sentimento, agravado apenas pelos constantes lembretes de seus parentes indiferentes.
Isso não tardou a mudar.
Foi apenas há alguns anos, quando ele acidentalmente se teletransportou para o telhado de sua escola, que ele descobriu que havia algo definitivamente estranho sobre ele.
E não era, como ele pensava inicialmente, algo subjetivo, vago e inconsistente. Não, definitivamente não!
Desde então, sua compreensão sobre o que ele pensava serem habilidades únicas apenas cresceu, mesmo que de forma insólita e subdimensionada.
Portanto, e apenas portanto, o garoto não estranhou que conseguisse sentir algo mágico emanando da barreira. Não surpreendentemente, suas suspeitas se provaram corretas quando seu braço atravessou, facilmente e sem resistência, o tijolo do que parecia, à primeira vista, uma parede sólida.
Por instinto, ele não perdeu tempo em atravessar a barreira carregando seus pertences e sua companheira Edwiges, a coruja das neves.
Do outro lado, uma locomotiva vermelha a vapor estava parada na plataforma e o local estava lotado de pessoas. Um letreiro no alto informava: Expresso de Hogwarts, saída as onze horas.
O garoto olhou para trás e viu um arco de ferro forjado no lugar onde estivera o coletor de bilhetes com os dizeres em tinta dourada de aparência envelhecida, embora bem cuidada: Plataforma nove e meia.
Não foi possível deixar de se perguntar o que seu tio teria pensado disso. Provavelmente morreria engasgado ou, em uma suposição mais estravagante, entraria em combustão espontânea.
A fumaça da locomotiva se dispersava sobre as cabeças das pessoas que conversavam, enquanto gatos de todas as cores trançavam por entre as pernas delas. Corujas piavam umas para as outras, descontentes, sobrepondo-se às vozes e ao barulho das malas pesadas que eram arrastadas pelo local abarrotado.
Os primeiros vagões já estavam cheios de estudantes, uns debruçados às janelas conversando com suas famílias, e outros brigando por causa dos lugares. Harry empurrou o carrinho pela plataforma procurando um lugar vago. Passou, ao longo de sua jornada, por algumas crianças esquisitas e alguém discutindo sobre um sapo perdido.
Andou a esmo pela multidão barulhenta até encontrar um compartimento vago no final do trem. Pôs a gaiola de sua coruja para dentro sem grandes dificuldades e após isso percebeu que não conseguiria empurrar sua mala, olhou pros lados e percebeu que as pessoas estavam muito ocupadas despedindo-se de suas famílias, provavelmente ninguém notaria o que ele estava prestes a fazer.
Harry sabia que não podia usar sua varinha aqui, e provavelmente não teria ajudado muito considerando seu absoluto desconhecimento sobre qualquer feitiço formal. Com mais uma olhada de relance para a multidão, Harry concentrou-se na mala enquanto reunia os sentimentos familiares de raiva, rejeição e, principalmente, necessidade. Com a voz entrecortada sussurrou sua intenção, clamando para que a mala pesada o ouvisse e respeitasse sua vontade.
E assim, o objeto pesado obedeceu.
Olhando por cima de seus ombros, Harry não teve dificuldades para erguer a grande mala, agora muito mais leve. Ele não se preocupou em tentar desfazer o que tinha feito; era um esforço inútil, segundo sua experiência. O garoto, de fato, não tinha ideia de como retornar o objeto para sua condição original e sabia, através de experimentação anterior, que ele voltaria automaticamente em poucos segundos.
Sentou-se no assento mais próximo da janela, observando uma família grande de ruivos realizando suas últimas despedidas. Logo perdeu o interesse, procurando coisas mais interessantes na multidão. Seus esforços mostraram-se inúteis quando o trem, finalmente, começou a andar.
Ele estava indo para a escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, tão lendária quando qualquer mito elaborado.
Para alguém como ele, um órfão sem qualquer tipo de conexão aprofundada com os pais, um lugar impossivelmente especial.
O lugar em que seus pais se conheceram, passaram a adolescência e se apaixonaram.
Era inevitável sentir-se feliz e ansioso como nunca antes. Ele não sabia o que esperar de Hogwarts, mas qualquer coisa era melhor do que a prisão domiciliar que, anteriormente, era obrigado a chamar de casa.
A porta se abriu tirando Harry de suas reflexões. Parado na porta havia um menino de aspecto gorducho e ar tímido. Ele segurava um sapo que parecia querer estar em qualquer lugar, menos ali.
"Eu posso sentar aqui? Perdi muito tempo procurando meu sapo e o trem acabou lotando."
"Sem problemas." Falou Harry sorrindo, ele reconheceu a voz que escutou na estação, discutindo com uma velha sobre um sapo chamado trevo.
"Eu sou Neville, a propósito. Neville Longbottom."
Harry apertou a mão estendida do garoto antes de revelar seu próprio nome.
"Harry, Harry Potter."
Os olhos do menino vagaram, brevemente, à sua cicatriz; antes que o garoto rechonchudo pudesse descartar o fato como pouco importante, com rapidez suficiente.
Passou pela cabeça de Harry que ele devia sentir-se incomodado, mas após todo o assédio no beco diagonal isso não o afetou tanto quando deveria.
O resto da viagem foi gasto em conversa fiada.
Neville era um garoto tímido, mas não perdeu tempo em tentar ajudar Harry a começar a construir seu conhecimento sobre o mundo mágico.
"Então, me fale sobre as casas de Hogwarts, eu li sobre elas em um livro grande e chato, mas confesso que não entendi muito bem o conceito por trás da coisa toda."
Neville pareceu ponderar por onde começar a falar, enquanto mastigava um ou dois feijõezinhos de todos os sabores, o garoto parecia ter uma técnica secreta para escolher aqueles com uma maior probabilidade de terem um gosto agradável.
"Certo, existem quatro delas: Grifinória, a casa de Godric; Lufa-Lufa, a casa de Helga; Corvinal, a casa de Rowena; e, por fim, Sonserina, a casa de Salazar." Revelou ele algumas das informações que Harry já sabia.
"Aparentemente há uma prova de seleção." Continuou o garoto após beliscar mais algumas guloseimas. "Ela se baseia em suas qualidades, eu acho. Os corajosos, vão para Grifinória; os leais, acabam na Lufa-Lufa; os inteligentes, supostamente, acabam em Corvinal; e, por fim, Sonserina, o lar dos ambiciosos." O garoto fez uma pausa antes de voltar a falar, dessa vez com um olhar de leve incerteza. "Eu gostaria de ser escolhido para Grifinória, a propósito. Como meus pais antes de mim, mas não tenho certeza se vou."
Essa definição não foi muito diferente da que Harry leu no seu livro chato, mas ele supôs que não podia esperar muito mais que aquilo, a seleção de Hogwarts era um segredo, aparentemente.
A porta foi novamente aberta, dessa vez três garotos com sorrisos zombeteiros se encontravam de pé no corredor. Harry reconheceu o jovem do meio de um breve encontro em uma das lojas de roupas do Beco Diagonal.
"Então é você! Estão dizendo por ai que Harry Potter está nessa cabine, mas eu não esperava que fosse você." O garoto loiro encarou o outro ocupante da cabine, que se encolhia em um canto, e voltou seu olhar para Harry sem tecer nenhum comentário. Harry apenas olhou curioso para a mão estendida à sua frente antes de balançá-la. "Sou Draco, Draco Malfoy."
"Harry Potter, mas você já sabe disso." Harry observou curioso o sorriso de Malfoy crescer.
"Naturalmente, acho que devia convidá-lo para minha cabine, meus companheiros estão ansiosos para conhecê-lo." Harry não teve tempo de responder antes de Draco voltar a falar. "Você pode levar Longbottom se quiser." Apesar disso Malfoy tinha um olhar perto de desprezo para o segundo ocupante da cabine. Era uma inflexão sutil, Harry não notaria se não tivesse sido submetido ao mesmo tipo de olhar muitas vezes em sua vida.
Ocorreu-lhe, de repente, que Neville devia conhecer essa pessoa e Harry, provavelmente, se encontrava preso em uma situação na qual não tinha a mínima ideia de como agir.
"Acho que eu devo agradecer, Malfoy. Mas tenho certeza que teremos outras oportunidades para nos conhecermos melhor."
Os olhos do garoto loiro se estreitaram brevemente. No entanto, ele deu de ombros com descompromisso.
"Você que sabe! Nós nos vemos por ai, Potter e Longbottom." O loiro fechou a cabine e foi embora com seus amigos que, aparentemente, eram menos interessados em conversar.
"Você o conhece?" Perguntou Harry curioso apontado para a porta.
"É, conheço. Estivemos em alguns eventos importantes, eu acompanhando minha avó e ele acompanhando o pai. Nossas famílias não se dão muito bem, para falar a verdade."
"Entendo." Respondeu Harry ainda tentando entender a dinâmica por trás de toda a situação.
O resto da viagem correu rápido, Harry sabia que havia mais a ser dito sobre Malfoy, mas resolveu deixar para lá, pelo menos por enquanto.
Chegar em Hogwarts pela primeira vez foi um espetáculo ainda maior do que pisar no Beco Diagonal.
A viagem de barco foi interessante, mas nada se comparava a visão do castelo em si. A boca escancarada de Harry era indicador o suficiente de que ele não estava nem mesmo remotamente preparado para a visão da escola em todo seu esplendor.
O enorme castelo medieval, com suas janelas iluminadas no início de noite, e a sensação absolutamente única e distinta ao pisar em suas terras.
Harry quase podia sentir o ar estalar a sua volta, sentiu seu corpo ser instantaneamente revigorado do cansaço da viagem.
Só havia uma única frase para descrever aquele momento com exatidão, gravando-o a fogo em sua memória, pelo resto de seus dias.
"Eu, absolutamente, amo magia."
A porta abriu-se de repente e por magia.
Por ela apareceu uma bruxa alta de cabelos negros e veste verde-esmeralda. Tinha o rosto muito severo e o primeiro pensamento de Harry foi que era uma pessoa a quem não se devia aborrecer.
"Alunos do primeiro ano, a Professora Minerva McGonagall." Apresentou Hagrid em uma tentativa, francamente pobre, de ser formal.
"Obrigada, Hagrid." Agradeceu a mulher em um tom de voz compreensivo. "Eu cuido deles daqui em diante."
Ela voltou a abrir a porta.
O saguão, agora visível, era tão grande que teria cabido a casa dos Dursley inteira dentro, com jardim e tudo. As paredes de pedra estavam iluminadas com luminárias flamejantes e o teto era alto demais para se ver com clareza.
Um a um, as crianças subiram a imponente escada de mármore em frente, que levava, quase que com certeza, aos andares superiores.
Eles acompanharam a Professora Minerva pelo piso de blocos de pedra perfeitamente encaixados entre si.
Harry, durante a breve caminhada, ouviu o murmúrio de centenas de vozes que vinham de uma porta à direita, o restante da escola já devia estar reunido para o banquete.
Mas a Professora os levou à uma sala vazia, ao lado do saguão. Eles se agruparam lá dentro, um pouco mais apertados do que o que seria considerado confortável, todos pareciam observar os arredores com nervosismo.
Houve um discurso breve ministrado pela professora, com instruções gerais sobre o que ocorreria à segui. Harry não poderia dizer que havia prestado atenção.
A sensação de tanta magia, ao seu redor, inebriava seus sentidos, como nunca havia acontecido antes. O jovem jamais sentiu nada parecido, mas pouco a pouco começava a recuperar sua capacidade de pensamento.
A sensação anterior ainda estava ali. Em algum lugar na parte de trás de sua mente, em sua pele e em seus ossos, na ponta de sua língua, mesmo em suas unhas e fios de cabelo.
Harry quase podia senti-la roçando em sua face, como em um afago. Bastava uma onça de concentração, aquele turbilhão de sensações voltaria, ele tinha certeza.
Saber disso deixava-o inexplicavelmente feliz.
O sorriso de Harry não diminuiu mesmo quando Minerva deixou a sala, abandonando as crianças nervosas à sua própria sorte e imaginação, deixando-as sussurrar e especular furiosamente entre si.
Felizmente, Neville parecia muito nervoso para conversar o que deixava Harry sozinho com suas impressões do castelo e da magia que permeava por ele.
Após algumas discussões entre fantasmas intrometidos a porta, Novamente, se abriu.
Eles foram instruídos à entrar por ela.
Harry sentiu a sensação distintamente mágica tomar conta dele outra vez quando entrou no salão, desta vez, preocupado com o que viria a seguir, não se entregou a ela, contente apenas em saber que poderia.
No entanto, nada faria o papel de prepará-lo para um chapéu de aspecto velho cantando uma canção.
O salão inteiro prorrompeu em aplausos quando o chapéu finalizou a canção.
O objeto preocupou-se em fazer uma reverência cuidadosa para cada uma das quatro mesas para, em seguida, ficar muito quieto, como se nunca tivesse, em sua existência de chapéu, se mexido de sua inércia inanimada.
A Professora Minerva enfim adiantou-se, segurando um longo rolo de pergaminho e tomando a frente de todos os presentes no salão.
"Quando eu chamar seus nomes, vocês colocarão o chapéu e se sentarão no banquinho para a seleção. Hannah Abbott!"
Um a um os alunos foram selecionados, nem um tomou a atenção de Harry de forma especial; às vezes o chapéu escolhia a casa de forma rápida, às vezes demorava alguns segundos.
Neville acabou na Grifinória, como queria, e logo foi a vez de Harry.
Ele não pode deixar de sentir-se ridículo com um chapéu cobrindo toda sua cabeça, mas estava mais concentrado na sensação única que o objeto, agora animado, causou quando fez contato com sua pele.
"Dom interessante você tem ai, rapaz." Harry surpreendeu-se com ao ouvir a voz desconhecida na sua cabeça.
"Do que você está falando?" Pensou Harry sem saber direito como estabelecer uma comunicação com o objeto dotado, aparentemente, de capacidades telepáticas.
"Você não sabe? Interessante, muito interessante. Não é minha função informá-lo."
Harry não conseguiu deixar de sentir-se levemente irritado com tal forma enigmática de falar.
"Vejamos, isso é um caso raro." Ponderou o objeto. "Há bastante coragem escondida por aqui, uma sede de se provar, bastante inteligência também." Harry não entendia muito bem onde o chapéu chegaria com aquilo, mas supôs que tratava-se sobre as qualidades prezadas por cada uma das casas. "Hum, uma dose razoável de lealdade, porém ofuscada pelos seus outros talentos, a casa de Helga, certamente, não é o lugar mais adequado para você." Harry não gostava particularmente de amarelo mesmo. "Se daria bem em Corvinal, mas talvez seus colegas não consigam entender seus outros… Impulsos. Por outro lado, você seria grande na Sonserina. Grande, sem dúvidas, mas isso traria um espectro totalmente diferente de problemas e desafios. Sim, a casa de Salazar o faria bem! Mas será que vale todo o risco?"
"Eu aguento, me coloque onde eu farei melhor!" Disse Harry corajosamente.
O chapéu riu.
"Aí está! O coração revela tudo que realmente importa! Corajoso ao ponto da imprudência! Godric estaria satisfeito!"
"Grifinória!" Gritou o chapéu para o salão inteiro ouvir.
Harry não prestou atenção nos aplausos e tampouco nos gritos advindos da mesa dos leões, enquanto sentava ao lado de Neville. Ele estava mais preocupado com as palavras enigmáticas do chapéu.
Alvo Dumbledore finalmente levantou-se, anunciando o fim da cerimônia de seleção. Sorria radiante para os estudantes, os braços bem abertos, como se nada no mundo pudesse ter-lhe agradado mais do que vê-los todos reunidos ali.
"Sejam bem-vindos!" Disse ele com alegria escorrendo em suas palavras. "Sejam bem-vindos para um novo ano em Hogwarts! Antes de começarmos nosso banquete, eu gostaria de dizer umas palavrinhas: Pateta! Chorão! Desbocado! Beliscão! Obrigado!"
Todos bateram palmas e deram vivas, rindo despreocupados e comentando despreocupadamente sobre a insensatez do diretor carismático.
Harry, por sua vez, não sabia exatamente se devia rir ou não.
"Ele é um pouco excêntrico, não?" perguntou à uma menina loira sentada ao seu lado.
A menina sorriu despreocupadamente.
Era bela, de cabelos loiros, feição amigável, alguns anos mais velha que ele próprio e absolutamente adorável.
"Alguns dizem que ele é maluco, eu não sei ao certo" Deu de ombros.
E então, Harry comeu.
Banqueteou-se como nunca antes teve a oportunidade em sua curta vida. E fora a interrupção nada oportuna de um fantasma, que parecia ter sido meio decapitado, Harry teve uma noite ótima.
No fim do jantar, uma olhada de relance para a mesa dos professores trouxe com ela uma sensação estranha. No começo, parecia familiar, como todos os outros sentimentos que a magia trazia. No entanto, a distinta e incomum, dor em sua cicatriz o convenceu rapidamente de que aquilo era algo diferente.
A sensação foi embora tão rápido quanto chegou e bem antes de Harry ser capaz de colocar um dedo sobre ela.
Após uma boa dose de conversa fiada e uma interpretação, francamente, horrenda do suposto hino da escola, Harry se encontrou em seu caminho para o dormitório.
Ao deitar-se em sua cama naquele fim de noite, com as cortinas fechadas em volta de si, Harry não pode evitar entregar-se mais uma vez as sensações que aquele lugar trazia.
Assim, o garoto inconsciente adormeceu cercado pela magia e envolto no desconhecido.
