Update: Essa história está em processo de atualização, os capítulos serão todos revistos e os erros e incoerências mais graves corrigidos e, principalmente, a escrita suavizada; dito isso, esse capitulo já passou pela revisão.
Harry esperava que transfiguração fosse mais emocionante que feitiços.
Não é que aula tenha sido desinteressante ou inútil, isso seria uma simplificação injusta. O garoto tinha certeza que flutuar uma pena alguns centímetros do nível do solo era uma atividade excitante para crianças dando seus primeiros passos na magia.
É exatamente desta dinâmica que decorria o problema principal.
Harry não era, de forma alguma, um grande mago, bem versado nas artes mágicas e amplamente conhecedor da teoria formal da magia; mas, por outro lado, ele já havia sentido a necessidade de usar magia na pratica, um punhado de vezes em sua vida e a usou!
Nem sempre de forma proposital, ele poderia admitir.
Mas o fato é que para Harry, levitar coisas não era exatamente uma novidade. Na verdade, ele se deu conta logo de cara que adaptar seu instinto natural de fazer objetos voarem sem uma varinha para fazer objetos levitarem com uma varinha era apenas uma questão técnica.
Ainda assim, era justo dizer que seu controle com a varinha era muito melhor que sem ela, porém a sútil diferença, por si só, não era tão entusiasmante quanto poderia ele poderia pensar que seria.
E outra vez, distraído por seus pensamentos errantes, Harry perdeu todo o discurso de abertura da classe.
McGonagall não demorou a distribuir palitos de fósforo para todos os presentes e bastou alguns segundos, e uma bem-vinda dica de Neville, para que Harry percebesse que ele deveria transformar o pequeno objeto inflamável em uma agulha pontuda.
Agora, isso era novidade para ele.
Harry nunca havia tentado usar magia para transformar uma coisa em outra e, pelas instruções no quadro, parecia se tratar mais de intenção e visualização do que poder bruto em si.
Harry precisou de cerca de sete tentativas para conseguir.
O que era muito, considerando que suas professoras das séries iniciais sempre o elogiavam pelo seu incrível poder de intenção e visualização. Isto é, quando elas não estavam repreendendo-o pelo seu, mais incrível ainda, absoluto descaso pelas atividades escolares.
Não que fosse, completamente, culpa dele.
É claro.
"Parabéns Sr. Potter." Elogiou a velha Professora satisfeita com seus esforços "Essa é uma excelente demonstração do feitiço básico de transfiguração." Elaborou ela antes de continuar. "Quinze pontos para a Grifinória. Considere-se liberado do restante da lição, apenas por hoje."
Harry permaneceu algum tempo a mais, praticando o feitiço e auxiliando Neville. Mas deixou a sala ao perceber que seu amigo já havia conseguido compreender o básico do feitiço e poderia muito bem se virar a partir dali.
O garoto ao deixar a sala de aula de transfiguração caminhava calmamente, pelo corredor em direção à biblioteca, quando ouviu algo estranho.
Eram sussurros e pareciam vir pelo corredor virando a esquerda em uma alcova discreta.
A curiosidade, quase sempre incontrolável, para ele, o convenceu a se esconder atrás de uma tapeçaria e escutar a conversa sussurrada do que pareciam ser alunos mais velhos de outra casa.
"Estou dizendo que é seguro, meu pai me ensinou durante o verão." A voz era confiante e sedutora. A natureza naturalmente desconfiada de Harry o faria ter dúvidas quanto qualquer coisa dita por essa pessoa.
Mas, é claro, ele não estava participando da conversa.
"Eu não sei, Connor." Falou uma voz mais baixa e, aparentemente, mais jovem e feminina, parecendo preocupada. "Eu não gosto desse tipo de coisa, eu pedi que me ensinasse a duelar, e estou pagando, mas isso..."
"Não seja um covarde." Repreendeu o outro, levemente aborrecido. "Você deseja ser um grande duelista, certo? Então precisa de um ás na manga." Argumentou.
A voz insegura hesitou por mais alguns segundos antes de suspirar em derrota.
"O que esse feitiço faz afinal?" Questionou com um tom de curiosidade mórbida.
"Ele tira o ar dos pulmões da vítima e a impede de respirar enquanto a maldição for mantida." Enquanto o garoto confiante falava a menina engasgou em horror, o que não abalou em nada aquele que parecia ser o mentor, na situação atual. "Vamos lá!" Zombou em um misto de provocação e encorajamento. "Você é uma trouxa... Não quer ser aceita pela sua casa? Faça o que eu estou dizendo e conversaremos mais tarde sobre o restante."
"Olha, eu pensarei sobre isso, certo?" Cedeu a menina após mais uma pausa prolongada. "Qual é o encantamento e o movimento da varinha?"
"Eu sabia que você tinha isso em você." Falou o garoto mais velho, voltando ao tom sedutor que usava no começo da conversa. "O encantamento é Sine Rege e o movimento da varinha não é importante." Explicou ele com calma metódica. "Você só precisa se concentrar na intenção." A pausa anunciava algo sinistro. "Sabe o que quero dizer não é? Você tem que querer isso... É sempre assim com magia desse tipo..."
A conversa pareceu chegar a um fim.
Harry não tinha certeza se compreendia completamente o que havia escutado. Mas tinha certeza que não devia ter escutado. Além do mais, parecia, sem dúvidas, importante.
Apressou-se a sair da fenda atrás da tapeçaria, assim que julgou ter se passado um tempo seguro desde a partida dos alunos mais velhos, e voltou ao seu caminho até a biblioteca, enquanto repassava a conversa em sua cabeça.
Seja lá o que significavam aquelas palavras, o feitiço desconhecido na ponta de sua língua soava cruel e, de uma forma estranha, até mesmo sedutor.
Mais alguns dias se passaram entre classes e deveres de casa.
Harry não sabia ao certo o que pensar de suas aulas até agora. Defesa Contra as Artes das Trevas era um tema interessante, mas o professor não parecia qualificado. Além do mais, a dor de cabeça constante que aquela sala causava ao garoto fez dela uma de suas matérias mais odiadas.
O jovem não conseguia evitar perder pontos em poções, apesar de suas tentativas diligentes. Ele não se considerava, nem de longe, tão ruim na matéria quanto seu professor parecia pensar que ele era. Entretanto, isso tinha pouco significado, considerando que o homem de aparência hostil parecia ter alguma mágoa séria em relação a ele.
A bem da verdade, Harry não entendia isso muito bem, mas resolveu deixar pra lá, pelo menos até que tivesse uma oportunidade melhor de descobrir mais sobre o comportamento estranho do professor de poções.
Malfoy foi um incômodo constante; mas, por algum motivo até então inexplicável, no fundo da mente de Harry havia a suposição constante de que poderia ser bem pior.
Quando o loiro notou que Harry não estava muito interessado em ser um dos seus cegos seguidores ele passou a agir de uma forma irritante, parecia se enxergar como um tipo de rival do Potter ou algo assim.
Inofensivo na maior parte do tempo, mas, ainda assim, um incômodo constante e persistente.
Harry havia recebido uma carta de Hagrid mais cedo, convidando-o para um chá no meio da tarde.
Resolveu, por conta própria e de forma levemente presunçosa, que não faria mal estender o convite a Neville. Afinal, os dois haviam se tornado amigos próximos com o passar dos primeiros dias na escola. Assim, os dois se encontraram batendo na maciça porta de madeira da humilde, porém enorme, cabana de Hagrid.
O meio gigante abriu a porta enquanto lutava com o que parecia ser um enorme cão, segurando a criatura pela coleira resistente e proferindo leves obscenidades enquanto se esforçava para manter seu mascote sobre controle.
"Olá, Hagrid!" Cumprimentou Harry com empolgação genuína. "Viemos para o chá." Explicou acenando amigavelmente, enquanto Neville encarava o enorme cão desconfiado.
"Olá, Harry!" Sorriu Hagrid de volta por trás da densa barba e obtendo, finalmente, sucesso em controlar seu cão. "E este rapazinho quem é?" Questionou com curiosidade olhando para Neville.
"Neville Longbottom!" Apresentou-se Neville, com uma confiança que, Harry tinha quase certeza, foi ensaiada em frente ao espelho em sua mansão. "Prazer, sou um amigo de Harry!"
O rosto de Hagrid se iluminou em reconhecimento.
"Ficou feliz que já esteja fazendo amigos, Harry!" Expressou seu genuíno contentamento o homem enorme. "Por favor, entrem e fiquem à vontade, o chá está pronto."
Depois de alguns goles generosos de chá e uma experiência francamente esquecível com alguns bolos feitos de, o que parecia ser, pedra maciça; Harry resolveu questionar sobre algo que o incomodava desde o início daquela manhã, quando sua coruja, Edwiges, deixou a mais nova edição do Profeta Diário cair em cima de seus ovos mexidos.
"Hagrid, ouviu falar da tentativa de assalto ao Gringotes?"
O homem assumiu, quase que imediatamente, um olhar sombrio em seu rosto e parecia não querer falar sobre assunto enquanto evitava o olhar de Harry e acariciava seu cão, quase tão enorme quanto ele.
"Sim, ouvi sobre isso." Respondeu ele com um cuidado incaracterístico. "Esses bandoleiros têm ficado atrevidos, nos últimos tempos."
A resposta dizia pouco sobre o que Harry realmente queria saber. Ambos sabiam disso, assim como ambos sabiam que dificilmente alguém cederia naquele impasse.
Infelizmente, para Harry, havia pouco que um garoto de doze anos podia fazer quando alguém como Hagrid não queria falar sobre algo.
Harry ainda pressionou o assunto mais um pouco, mas logo ficou claro que Hagrid não tinha nenhuma intenção de ceder naquele ponto.
Enquanto voltava para a escola, conversando aleatoriedades com Neville, Harry pensava que definitivamente havia algo de errado sobre o pequeno objeto misterioso retirado, por Hagrid, daquele cofre; justamente no dia em que lhe apresentaram ao mundo mágico pela primeira vez.
Pela décima oitava vez, apenas naquele dia, Harry Potter amaldiçoou a existência de Draco Malfoy.
"Oliver Wood, conheça Harry Potter, seu novo apanhador." Falou a professora McGonagall com um entusiasmo bastante incaracterístico.
Talvez Harry Potter não devesse ter se precipitado tanto em amaldiçoar a existência de Draco Malfoy, desta vez.
A expressão de Oliver, em um instante, mudou de confusão para prazer absoluto.
"Está falando sério, professora?" Perguntou ele empolgado, quase saltitando de alegria.
"Seríssimo!" resumiu a Professora Minerva. "O menino tem um talento natural. Eu acho que nunca vi nada parecido." Elogiou ela com desprendimento. "Foi a primeira vez que montou numa vassoura, Harry?"
Harry confirmou com a cabeça.
Não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, mas parecia que não estava sendo expulso.
O que, convenhamos, por si só já era uma ótima notícia!
"Ele pegou aquela coisa com a mão depois de um mergulho de mais de quinze metros!" Ele resolveu se abster de dizer que só queria resgatar o brinquedo de Neville. "Não sofreu um único arranhão! Tenho dúvidas se Charlie Weasley seria capaz de fazer igual! Mesmo em seu melhor dia!"
Harry não conhecia nenhum Charlie Weasley, mas isso soava como um exagero, se é que ele já tinha ouvido um.
Oliver, por sua vez, tinha a feição e a linguagem corporal de alguém cujos sonhos tinham virado realidade, todos ao mesmo tempo.
"Wood é o capitão do time da Grifinória." explicou a Professora Minerva, tendo alguma piedade de Harry.
"Ele tem o físico perfeito para um apanhador." Acrescentou Oliver agora andando a volta de Harry, examinando-o. "Leve, veloz, vamos ter de arranjar uma vassoura decente para ele, professora." Ponderou o garoto mais velho. "Talvez uma Nimbus 2000 ou uma Cleansweep 7, na minha opinião."
"Vou conversar com o professor Dumbledore e ver se podemos contornar o regulamento sobre o primeiro ano e as vassouras. Deus sabe que precisamos de um time melhor do que o do ano passado. Esmagado naquele último jogo contra os sonserinos. Mal consegui encarar Severus no rosto durante semanas."
Pra ser justo, a mulher parecia realmente irritada, senão um pouco desolada, com os fatos narrados.
Harry, se não estivesse com tanto medo de ser expulso, gostaria de dizer que se irritar Snape estava incluso no pacote, ele não precisava ser convencido, mas achou que isso não ajudaria sua situação.
Minerva sorriu.
"Seu pai teria ficado orgulhoso, Potter!" Falou ela sem qualquer aviso, chocando o garoto mais jovem, que não estava preparado para uma menção ao seu pai. "Ele era um excelente jogador de quadribol."
"Você está brincando?" Falou Harry surpreso.
Neville olhava para Harry impressionado, enquanto este comia.
"Isso é incrível, Harry!" Exclamou o amigo impressionado. "Alunos do primeiro ano não jogam nos times das casas."
Harry não parecia impressionado.
"É eu ouvi sobre isso, várias vezes, na verdade." Disse impassível. "Começo a treinar semana que vem, não conte a ninguém sobre isso, é um segredo por enquanto. Oliver parece querer me usar como sua arma secreta."
Neville parecia duvidoso sobre isso.
"Um segredo em Hogwarts? Nem mesmo o apanhador mais jovem do século conseguiria algo assim."
Neville foi interrompido pela chegada de Malfoy e dos seus dois amigos, a quem Harry havia se acostumado a referir, em sua mente, como gorilas de estimação.
"Olá, Potter." Surpreendentemente, o garoto loiro tinha uma feição um pouco culpada, Harry não conseguia dizer se era fingimento ou não. "É uma pena que as coisas tenham acabado desse jeito, não era minha intenção fazer você ser expulso, queria apenas te humilhar um pouco."
Harry estava surpreso, vindo de Draco era uma grande coisa.
"Não se preocupe Malfoy, eu não fui expulso." Falou Harry sem parar de comer.
O loiro, que no momento anterior carregava uma feição levemente culpada, passou a uma aparência de confusão, diretamente pra a sua habitual feição de ameaça.
"Não? Isso é estranho..." Ponderou ele, tentando superar a confusão "Bem, isso muda tudo! Eu retiro tudo que eu disse! Aproveite sua comida enquanto pode, Potter." Falou tentando soar ameaçador antes de se retirar.
Harry revirou os olhos.
"Malfoy está ficando mole." Disse Neville se divertindo com a situação. "Talvez você o tenha quebrado!"
Harry e Neville se entraram correndo desesperados pelo corredor do terceiro andar.
Algumas bifurcações atrás, um dos dois tinha escutado a voz de Filch, ou pelo menos poderia jurar que ouviu.
O fato é que, naturalmente atraído por alunos infratores, ou pela corrida desenfreada no meio da noite, o velho zelador parecia estar se aproximando e sua maldita gata era treinada para farejar estudantes fora da cama.
Não é como se fosse culpa deles estarem ali depois do toque de recolher, as escadas mudando e uma pequena distração resultaram naquela situação no contratempo em questão.
Não que qualquer um deles fosse admitir, mas eles estavam perdidos.
Harry parou e segurou Neville pela manga quando alcançaram uma porta solitária. A única a vista naquele corredor esquecido.
Bem, eles precisavam de um lugar para se esconder e, a não ser que um dos dois se transfigurasse em um vaso para o outro se esconder atrás, eles estavam com uma grave falta de opções, no momento.
"Está trancada, Harry!" Sussurrou Neville em desespero.
"Saia da frente!" Disse o outro com pressa. "Alohomora!"
As horas extras na biblioteca pareceram finalmente valer a pena quando os dois jovens conseguiram sair da vista do zelador bem a tempo. Nem um dos dois moveu um músculo ao escutar os passos passarem pelo corredor em direção as escadas do outro lado do castelo.
Neville parecia aliviado, com a testa suada encostada na porta que, à poucos instantes, jazia trancada por alguma razão insondável.
"Nós conseguimos! Estamos vivos, Harry! E não vamos ser expulsos nem pendurados na floresta proibida! Você tem que me ensinar esse maldito feitiço, hoje mesmo!." Sussurrava ele com alívio evidente.
"Neville, cale a boca e vire pra cá, em silêncio." Disse Harry com uma voz tensa encarando alguma coisa.
De fato, as horas extras na biblioteca deixaram de valer a pena bem rápido.
"Que diabos!" Neville não chegou a terminar a frase; pois, ao ver os olhos do monstruoso e enorme cão de três cabeças se abrirem de forma preguiçosa, sentiu-se sendo arrastado pela mesma porta que, há poucos segunso, eles lutaram tanto para abrir.
Nenhum dos dois garotos parou de correr até chegarem ao dormitório masculino da Grifinória.
No outro dia, após uma aula particularmente estressante de poções, os dois amigos descansavam em silêncio, embaixo de um pinheiro às margens do lago negro, contemplando a água à sua frente.
Neville quebrou o silêncio de aço.
"Nós vamos falar sobre aquela droga ou não?"
Harry, imediatamente, pareceu um pouco verde.
"Eu preferia não falar, mas já que insiste." Ele suspirou. "O que a merda de um Cérbero está fazendo em uma maldita escola?" Questionou indignado, perdendo a compostura e encarando Neville.
O garoto rechonchudo parecia tão incerto quanto ele.
"Eu não sei, você viu algo na sala que pode oferecer alguma pista." Questionou o garoto concentrado, tentando se lembrar de algo.
Francamente! Como ele conseguia estar tão calmo em um momento como aquele?
Harry fechou a cara e fez uma careta tentando lembrar sobre o que haviam visto na sala.
"Ele estava em cima de um alçapão." Falou de repente, como em uma epifania.
Neville contemplou por um segundo.
"Agora que você falou, eu me lembro de algo assim."
Harry assentiu antes de voltar a falar.
"Isso provavelmente significa que ele está guardando alguma coisa." Disse o jovem de olhos verdes com feição pensativa.
Ambos voltaram a encarar a água, incertos de como proceder.
A iluminação veio na forma de um homem grande saindo da escola em direção à sua cabana.
Os garotos se olharam brevemente e nada mais precisava ser dito. Ambos perceberam quase que imediatamente e por instinto sabiam onde o pacotinho enrolado em pano, retirado do cofre setecentos e treze, tinha ido parar.
As semanas seguintes foram um misto de alegria e dor, na opinião de Harry.
De alguma forma misteriosa, Snape descobriu sobre sua nova posição como apanhador da Grifinória e vinha transformando a sua vida, e a de Neville como dano colateral, em um absoluto inferno durante as aulas de poções.
Por outro lado, sua nova vassoura tinha chegado.
Harry abriu o pacote pouco discreto no dormitório, onde apenas ele e Neville podiam vê-la.
Ela era linda.
Um absoluto milagre da magia!
Mas ele era um pouco suspeito para falar.
Harry tinha visto no rosto de Neville, assim que ele tinha posto os olhos em cima da novíssima Nimbus 2000, que o seu amigo, muito em breve, assediaria sua avó em busca de uma vassoura nova.
Harry Potter podia apenas dar de ombros e sorrir quanto a isso.
Subitamente foi retirado dos seus pensamentos quando sentiu um ombro bater violentamente contra o seu próprio.
Harry fechou a cara em direção à garota que continuou andando sem nem mesmo olhar para trás ou cogitar desculpar-se. O corredor era largo e não havia gente o suficiente a essa hora do dia para que algo desse tipo fosse aceitável.
Neville se contentou em balançar a cabeça ao perceber o incômodo de seu amigo.
"É Granger." Respondeu à pergunta não feita. "Uma aluna da Grifinória no nosso ano."
Harry fechou a cara ainda mais.
"Eu sei quem é." Ele estava irritado. "Ela vem esbarrando em mim e me olhando feio pelos corredores há dias. O que diabos ela tem?"
Neville deu de ombros enquanto mastigava sua torrada.
"Ouvi dizer que ela está irritada com você." Outra mordida. "Ela parece pensar que você não tem o direito de ser melhor que ela em qualquer classe, mas isso sou eu especulando." Voltou atrás com relativa rapidez. "Bem, o certo é que ela está decepcionada; com exceção de poções, o que é provavelmente culpa de Snape, você tem se saído melhor que ela em basicamente tudo."
Harry olhou com irritação para a direção geral em que a garota foi.
"Sabe tudo arrogante." Resmungou ele incomodado.
Neville apenas riu.
Harry não sentiu-se mal ao deixar um Neville rindo para trás, enquanto se dirigia até o campo de quadribol.
Aguentar as criancices de Draco já era irritante o suficiente, mas vindo de sua própria casa...
Como as pessoas costumam dizer: a escola era realmente uma droga.
Os dias passaram a transcorrer mais rápido depois do começo dos treinos de quadribol.
As aulas e seu tempo crescente na biblioteca fizeram Harry nem notar o tempo passar. Mas, por outro lado, seu humor infelizmente foi piorando na medida em que o Halloween se aproximava.
Era perfeitamente compreensível, considerando o que esse dia representava para ele.
Neville não estranhou quando não encontrou Harry na cama ao amanhecer do dia trinta e um.
Não foi uma grande surpresa quando ele também não apareceu nas aulas, naquele dia.
Harry não tinha a intenção de passar o dia todo enfurnado na biblioteca, lendo o Livro Padrão de Feitiços Volume Três. No entanto, acabou acontecendo.
Já era noite lá fora quando ele se esgueirou para os corredores. Deixando, finalmente, a segurança fria e Insípida da biblioteca vazia. Usou um feitiço tempus rapidamente e concluiu que a festa ainda estava em plena atividade.
Era cedo demais para ir pra cama e ele não sentia fome, estava um pouco enjoado para falar a verdade. Considerou ir para enfermaria, mas percebeu que seria inútil.
Madame Pomfrey, assim como todos os outros, estava aproveitando as festividades no salão principal.
Em contrapartida, andar pelo castelo, em corredores vazios, não parecia uma má ideia. Recentemente ele havia ouvido rumores sobre algumas passagens secretas no terceiro andar.
Seguindo o plano elaborado às pressas, ele andou calmamente pelos corredores iluminados pela tênue luz de sua varinha; pelo menos até ouvir um grito de gelar o sangue.
Seu corpo moveu-se por instinto.
Virou o corredor correndo e adentrou a porta de onde pensou ter ouvido o som e o que ele viu foi assustador.
Tentou puxar na memória, às páginas de algum livro desgastado que leu por esporte ou distração, e logo percebeu que a criatura ele via diante de seus olhos era um Troll das Montanhas, adulto pelo tamanho e absolutamente furioso.
Todavia, o que seriamente o preocupava era a menina atirada ao chão perto do monstro, obviamente havia vindo dela o grito que ele escutou um corredor atrás.
Seu primeiro instinto ao perceber o quão desesperadora era a situação, foi bombardear o monstro com qualquer feitiço que ele conseguiu lembrar, mas rapidamente descartou essa ideia.
Os trolls, assim como a maioria das criaturas mágicas mais perigosas, eram resistentes a qualquer magia que um primeiro ano pudesse conjurar.
Esgotando seu escasso tempo, desesperou-se ao ver a criatura balançar seu enorme bastão no ar, enquanto se preparava para acabar com a vida da menina loira, que agora encolhia-se chorando semiconsciente no chão.
Quando restavam poucas esperanças ele teve uma ideia.
Provavelmente estúpida e, em razão disto, ele provavelmente estaria morto em poucos minutos.
Harry nunca pensou que teria uma vida muito longa, de qualquer forma.
"Ei, feioso! Olhe para cá!" O monstro parou o bastão em pleno ar e virou confuso para ver o que tinha chamado a sua atenção. "Você mesmo, sua bola de carne feia e suja!"
Harry precisava afastar o monstro da garota, seria irrelevante tentar qualquer coisa com ele tão próximo. Mesmo que qualquer plano frágil, que ele pudesse elaborar as pressas, desse certo; o risco do monstro cair em cima dela era muito alto.
Ele não apostaria sua vida em chances como essas.
Por sorte, ou azar, o monstro começou a se afastar de sua vítima inicial.
A criatura, afinal, era um trasgo: burro e facilmente alienável era, praticamente, o seu conceito científico.
Harry achava que duas pessoas, estúpidas e desapegadas com a própria vida o suficiente para tentar algo assim, talvez conseguissem sobreviver horas apenas chamando-o para um lado e para o outro.
Infelizmente, só havia uma pessoa estúpida e desapegada com a própria vida naquele banheiro.
Era um momento crucial.
O monstro estava vindo até ele. Harry apertou sua varinha e encarou a fera.
Lembrou-se inesperadamente, de forma súbita e fugaz, das palavras sussurradas por um desconhecido há alguns meses atrás. Palavras que ele não deveria ter escutado. Palavras que, inadvertidamente, o alertaram contra a sua própria ação.
Naquele momento, Harry quis salvar aquela garota.
Naquele momento, Harry, definitivamente, quis fazer mal para aquele troll.
Tão mal quanto ele era capaz de fazer.
"Sine Rege." a voz saiu rouca e com mais ódio que Harry pretendia inicialmente.
O feitiço que saiu de sua varinha era de um azul pálido e pouco familiar. Doentio de uma forma que o jovem de onze anos não havia visto antes.
Harry sentiu asco quando o viu.
Entretanto, tal sentimento foi embora em um segundo, como se nunca tivesse existido, dando lugar a algo novo e inesperado.
E então, subitamente, o garoto sentiu o mesmo afago e calor que havia sentindo no primeiro dia em que pôs os pés em Hogwarts.
Exceto que desta vez era diferente.
A sensação que havia tomado um lar na ponta de seus dedos, nos fios de seu cabelo, ao longo de suas unhas, roçando sua pele, na ponta de sua língua, habitando sutilmente seus sentidos mais fugazes e metafísicos tomou vida, mais forte do que nunca, inebriando-o de uma forma inexplicável.
Harry sentiu-se bem.
Ondas de prazer correram por seu corpo e ele teve certeza, pela primeira vez, que poderia fazer qualquer coisa que quisesse.
Ele não se sentia tão bem desde a primeira vez que pisou em Hogwarts.
Isso era verdade? Não... A magia que sentiu ao pisar em Hogwarts não se comparava com o que ele sentia nesse momento.
De jeito nenhum! Era ainda melhor!
Era disso que se tratava o poder de verdade?
Um sorriso abriu-se em seu rosto e o verde de seus olhos brilhou forte, antes de Harry fechá-los com força.
E então, assim como veio, o sentimento se foi.
Para Harry, foram segundos, fugazes instantes.
Mas quando ele abriu os olhos, decepcionado e ansiando por mais, ele se deparou com o trasgo inerte. Morto à sua frente como se nunca antes tivesse estado vivo.
Isso bastou para trazer de volta o asco.
Isso bastou para fazê-lo correr até a privada para vomitar.
Não havia comido hoje. Em razão disto, não havia nada em seu estômago, apenas o líquido esverdeado e vicioso que o lembrou do feitiço vil que acabara de lançar.
Da criatura mágica que acabara de matar.
Demorou alguns minutos para recuperar-se. Levantou-se ainda sentindo-se enojado e caminhou até a garota que, em algum momento em meio aos gritos, havia desmaiado.
Ele agradeceu por ela não ter visto o que ele tinha acabado de fazer, uma pequena misericórdia.
Com um aceno de sua varinha, Harry acordou a garota que olhou assustada para os todos os lados e, logo após ver o monstro atirado ao chão alguns metros longe de onde ela estava, se jogou nos braços de Harry, que não respondeu ao abraço.
Estava pensando no que tinha feito e nas consequências daquilo. Ninguém havia o dito, mas, no momento em que ele abriu os olhos após ter derrubado o monstro, Harry sabia que havia conjurado magia negra do pior tipo.
