Update: Essa história está em processo de atualização, os capítulos serão todos revistos e os erros e incoerências mais graves corrigidos e, principalmente, a escrita suavizada; dito isso, esse capitulo já passou pela revisão.

Noite mais uma vez.

Hogwarts estava em perturbador silêncio, um silêncio incomum e massivo, mesmo a magia que naturalmente emanava daquelas grossas paredes milenares parecia mais sutil que o normal em noites como aquela.

Nas profundezas do castelo, jazia um único e solitário homem, sentado em seu escritório diante de papéis e uma garrafa de uísque já pela metade.

Ele odiava aquele silêncio opressivo tanto quanto amava aquela escola. Uma quietude oca, ecos de vozes que não mais ali estavam e o vento soprando nas janelas.

A soma de todas aquelas coisas deprimentes davam ao castelo um aspecto ainda mais amedrontador do que o normal.

Vazio.

Solidão.

Perdido em seus pensamentos meio entorpecidos pelo álcool, uma indulgencia à qual só se dava o luxo em noites como aquela, o homem ponderava sobre os acontecimentos de mais um ano letivo terminado.

Muitas coisas haviam ocorrido, coisas ruins, coisas boas, em muitos momentos a situação fugiu de seu controle e ele poderia se considerar com sorte por tudo ter acabado com o mínimo de danos.

Repreendeu-se mentalmente por aquele pensamento.

Mínimo de danos para quem?

Voltou-se então a pensar sobre o garoto que havia quase imediatamente tomado sob sua asa.

A criança era incrível.

Dumbledore soube desde a primeira vez que o encontrou, naquela maldita noite há anos atrás, que o garoto seria grande.

Quando o viu adentrar o salão principal surpreendeu-se novamente, seus olhos espertos brilhavam de poder misturado ao prazer e ele soube imediatamente que o menino era especial.

Talvez ainda mais especial do que ele próprio.

Os dias passaram e, cada vez mais, o garoto parecia destacar-se dos seus pares.

Sua reunião periódica com o corpo docente, unida ao seu olhar atento sobre ele, o empolgava dia após dia.

Harry compreendia melhor que qualquer um de seus colegas a forma que a magia funcionava e o que era um sonho se transformou em um terrível pesadelo após os fatídicos acontecimentos ocorridos no dia das bruxas.

Aquela data novamente.

Parecia uma maldição.

Uma zombaria.

O garoto havia se voltado às artes das trevas muito mais cedo do que Albus previu.

Ele soube disso quase que imediatamente, os olhos do garoto estavam anormalmente poderosos naquela noite, seu rosto transparecia uma pitada de nojo de si próprio.

Magia poderosa deixava marcas.

Marcas no local, que permaneciam visíveis a qualquer um sagaz o suficiente para procurar por elas; e marcas na pessoa, tão, ou mais, destrutivas e óbvias.

Albus sentia-se culpado por não ter previsto que algo assim aconteceria e se apressou para corrigir suas ações.

Suas medidas, em conjunto com os próprios escrúpulos de Harry, deram resultados.

Ainda que o garoto tivesse acabado por aprofundar, e muito, os seus conhecimentos ao longo dos meses, não tinha voltado a utilizar das artes até o fim do ano, quando novamente se viu enredado em uma conspiração muito além do seu controlo ou compreensão.

O velho, mais uma vez naquela noite amaldiçoada, solitária, escura e silenciosa, suspirou.

Não havia razão para meias palavras.

Os acontecimentos que marcaram o fim do ano letivo foram um completo desastre.

O garoto provavelmente não sabia, mas Voldemort preparou uma armadilha especial em algum lugar nas masmorras.

Preocupado e focado com seu objetivo, Harry pisou cegamente em magia que ele não entendia e nem estava preparado para detectar.

Uma matriz rúnica de algum tipo, contendo um velho conhecido de Dumbledore.

Uma de suas criações em uma época de sua vida da qual ele não mais se orgulhava.

Um encantamento de compulsão que tinha a função de remover princípios.

Dumbledore conhecia o feitiço de forma aprofundada, portanto sabia que era uma artimanha escura e perigosa.

Era um feitiço de utilização rara, pois eram poucos seus conhecedores. Ele, certamente, levaria o segredo da magia amaldiçoada para o túmulo; seu antigo companheiro, um homem substancialmente mais quebrado que ele próprio, não parecia ter tido o mesmo cuidado.

Era o tipo de feitiço que interessaria qualquer mago das trevas astuto. E quando usado da forma correta costumava trazer grandes traumas.

Albus não tinha ilusões, Voldemort havia usado aquele feitiço em específico por uma razão. Como uma zombaria, talvez; ou como algo mais.

Foi, enfim, distraído de seus pensamentos pelo companheiro de todos os diretores, a maior invenção de Godric.

"Sobre o que está pensando, velho tolo?"

Perguntou o chapéu com curiosidade.

Havia poucas pessoas no mundo com coragem o suficiente para dirigir-se a ele daquela forma, em sua frente.

Mas o chapéu não era uma pessoa.

Ele era muito mais do que isso.

"Sobre Harry, meu caro."

Conversou Albus, mansamente, tomando outro gole de sua bebida.

"É claro." Concordou o objeto. "O garoto."

As palavras soavam de forma misteriosa.

"Grande mente, muita coragem, potencial para lealdade, apesar de seriamente atrofiado." Fez uma pausa antes de continuar. "E é claro, ambição, talvez nem ele saiba ainda, sua ambição é forte, terrivelmente forte, mas está escondida em baixo de muitos traumas e pensamentos confusos."

"De fato."

Concordou Albus distraído.

Não era nada que ele já não tivesse notado.

"Às vezes eu me pergunto." Começou novamente o chapéu. "Se o coloquei no lugar certo."

O velho para sua própria surpresa, ficou curioso com as palavras do chapéu seletor.

"Realmente? Acho que o tempo dirá não é mesmo?"

Falou levantando-se e caminhando em direção à sua fênix..

Fawkes começava a mostrar sinais de velhice, provavelmente passaria por um renascimento, em breve.

"Sim, sim…" Respondeu o chapéu. "O garoto tem um destino sombrio pela frente."

Dumbledore lembrou-se, naquele instante, de um dos muitos dons do chapéu, um dos que ele esforçava-se para não pensar sobre.

"Você vê alguma coisa?"

Perguntou o velho em tom hesitante.

Era sempre perigoso envolver-se com esse tipo de poder.

Com o incerto.

O chapéu, no entanto, não parecia muito incomodado, demorou a responder por mero capricho.

"Eu sempre vejo." Revelou de forma, após alguns instantes. "Mas não muito, devo admitir. Vejo dor, sofrimento, traições."

Dumbledore estremeceu.

Um futuro sombrio, de fato.

"Vejo uma visão interessante, porém. Subjetiva, encoberta, incerta, tênue." Listou a coisa, como se pudesse passar horas escolhendo palavras para definir o que via; e provavelmente podia. "Uma bela flor nascendo em uma montanha inóspita, deserta. Envolve coragem, envolve insensatez, orgulho e mudança. Algo bonito? Quem poderia dizer?"

Questionou, a si mesmo, o chapéu.

Dumbledore suspeitava que talvez soubesse de quem o chapéu estava falando, ele vira os olhares entre Harry e a garota que havia sido salva por ele.

"Talvez algo bom venha de tudo isso então." Disse o diretor com tristeza enquanto o sol surgia pela sua janela. "Faça companhia para Fawkes, seu começo de velhice costuma ser conturbado, tenho assuntos a tratar durante essas férias."

O chapéu grunhiu.

O primeiro ano de Harry em Hogwarts havia sido conturbado.

Mas, no fim, Albus não o considerou um desastre absoluto.

Além da grandeza florescente de Harry, seu relacionamento com Sarah e, principalmente, com Neville eram pontos de luz na escuridão.

O velho, é claro, não podia deixar de desejar um próximo ano mais tranquilo. No entanto, sabia que suas esperanças eram ingênuas, na melhor das hipóteses.