Update: Essa história está em processo de atualização, os capítulos serão todos revistos e os erros e incoerências mais graves corrigidos e, principalmente, a escrita suavizada; dito isso, esse capitulo já passou pela revisão.

Harry sentiu-se solitário durante boa parte do verão.

Não é como se não houvesse uma abundância de oportunidades de socialização, ou contato com pessoas o tempo todo, essas eram, afinal, algumas das vantagens de ser expulso de casa.

Eram inúmeras as possibilidades de sociabilização oferecidas pelo Beco Diagonal. Logo na sua primeira semana em companhia de seus amados parentes um elfo doméstico percebeu que seria uma boa ideia criar confusão na casa de seus tios, desnecessário comentar que eles não gostaram da piada.

Então não, não se tratava de isolamento. Era mais como a estranha sensação de estar sozinho em meio a uma multidão, diversos rostos desconhecidos ou conhecidos apenas de forma casualmente. Sem grandes conversas, sorrisos de cumplicidade ou piadas internas.

Não houve nada do tipo naqueles poucos dias.

Entretanto, seria mentir pra si mesmo afirmar que os acontecimentos da fatídica noite que acabou com sua expulsão da casa dos Dursley o deixavam triste.

Na verdade, talvez fosse uma boa ideia agradecer Dobby na próxima vez em que se encontrassem.

Não que ele esperasse encontrar a criatura novamente, na verdade, o sentimento era exatamente o oposto, esperava nunca mais ver o pequeno diabinho em sua vida.

Apesar do seu não isolamento solitário, não ter uma casa o deu a oportunidade de viver seu verão com tranquilidade, um quarto no caldeirão furado e algumas refeições diárias era mais do que o suficiente para ele.

Na verdade, as condições de vida humildes eram bastante extravagantes quando comparadas ao que ele havia se acostumado em seu cotidiano na casa de seus tios.

Fazia duas semanas desde o ocorrido e ele nunca teve uma vida tão fácil quanto agora.

Seu aniversário, uma data até então bastante irrelevante, se aproximava rapidamente e via de regra seu dia era gasto sentado na sorveteria ou em seu quarto afundado em seus novos livros.

Muito embora fosse bastante lamentável não ter a biblioteca de Hogwarts a sua disposição no verão, especialmente a sessão restrita, suas crises de abstinência pareciam mais administráveis naqueles dias.

Passava pela sua cabeça, brevemente, teorias sobre o fato de estar longe de Hogwarts contribuísse para que suas crises progredissem até uma situação mais administrável.

Talvez tivesse alguma relação com a magia de Hogwarts; muito embora o Beco Diagonal fosse um lugar altamente mágico, não havia qualquer comparação com a escola.

Todos os fatores colocados, seus estudos estavam progredindo muito bem.

Harry tendia, cada vez mais, para hábitos de estudo autodidatas.

O novo ambiente, longe de Hogwarts, dos professores e, principalmente, do restante dos alunos, contribuiu para tal constatação na medida que o fez perceber o quão lento o estudo mágico normalmente progredia.

A verdade é que Harry já havia lido todo material do segundo e terceiro ano e estava a ponto de comprar os livros do currículo do quarto ano, talvez ele fosse um caso especial considerando todas as circunstâncias. Ele esperava chegar logo a Hogwarts para botar em prática todo o avanço que tinha feito em seus estudos.

Não que isso fosse parâmetro para pessoas normais, ele era um nerd absoluto.

Claro, isso não mudava, pelo menos não para melhor, a sua solitária miséria.

Ele havia concordado com Neville sobre passar uma ou duas semanas na propriedade Longbottom no fim do verão. Havia lido em algum livro velho e mal tratado que suas casas tinham algum tipo de relação ao longo do tempo.

Foi bastante surpreendente, especialmente por Augusta ter concordado com tal estadia sem resistência alguma, talvez a matriarca estivesse interessada em reestabelecer alguns laços.

Não que Harry tivesse qualquer objeção quanto a isso, era apenas uma curiosidade genuína.

O garoto de olhos verdes, que caminhava perdido em pensamentos enquanto olhava as vitrines do Beco, foi tirado de seus pensamentos abruptamente por um puxão em sua jaqueta e palavras em francês, ditas por uma voz de criança.

"Você é Harry Potter!"

A garotinha ao seu lado não parecia ter mais que sete anos, era loira e possuía brilhantes olhos azuis emocionados.

No geral, portava uma fofura infantil e inocente.

"Oui." Respondeu Harry incerto, seu francês era vacilante, mas seu questionamento foi simples. "Quem é você? Você fala inglês?"

"Eu sou Gabrielle e não entendi o que você acabou de dizer."

Isso definitivamente seria complicado.

Ele chegou a entender, mais pelo contexto do que por qualquer outra coisa, algumas das palavras da menina.

Incerto sobre como agir, olhou em volta procurando alguém que se assemelhasse a garotinha francesa à sua frente.

Não encontrou ninguém.

Com alguma dificuldade, Harry questionou Gabrielle sobre o paradeiro dos seus pais, ela não entendeu.

Ou, se entendeu, não soube responder.

O garoto avaliou suas opções por alguns instantes, antes de perceber o olhar desejoso da garota pelo sorvete em suas mãos.

Deu de ombros, ele não tinha nada melhor pra fazer, portanto, poderia tomar conta da garota até que alguém a procurasse.

"Vamos até a sorveteria, vou comprar algo para você."

Tentou dizer Harry com seu francês bastante carente.

Gabrielle não parecia se importar, considerando seu sorriso e comemoração.

O jovem de olhos verdes não pode deixar de acompanhar, com animação, o sorriso da francesinha, que imediatamente tomou sua mão e o puxou até a sorveteria.

O Potter, enquanto era guiado pela criança, perguntou-se, por um momento, como ela sabia onde o estabelecimento ficava, mas seu pensamento foi interrompido pela tentativa entusiasmada da garota em estabelecer uma conversa.

Ele mal conseguia acompanhar sua fala, impossivelmente acelerada e em outro idioma, quanto mais oferecer algo de interessante para a conversa, até então, unilateral.

A garota, seguindo o que parecia ser uma tendência, não parecia se importar com sua falta de resposta enquanto o puxava para dentro da sorveteria tagarelando sem parar.

"Gabrielle! Meu deus! Onde estava? Eu já procurar pelas autoridades!"

Quem falou foi uma garota bonita, parecia alguns anos mais velha que ele próprio e era extremamente parecida com a garotinha que há poucos segundos segurava sua mão.

Garotinha que agora estava esmagada entre os braços do que parecia ser sua irmã mais velha.

Harry não poderia deixar de notar que essa garota estonteantemente linda.

De uma forma quase antinatural.

A garota finalmente olhou para ele, possuía os mesmos olhos azuis que sua irmã mais nova, entretanto, os dela tinham um brilho de preocupação ausentes nos mais jovens.

"Obrigada por encontrá-la, eu estava desesperada."

Disse a loira com um sotaque pesado e bonito.

"Gabrielle não costuma fazer essas coisas, fui até o balcão fazer um pedido e quando me virei ela não estava mais lá."

Sua voz tinha um tom aliviado, ela parecia muito apegada com a irmãzinha.

O garoto deu de ombros tentando esconde rum pouco de sua confusão. A presença da loira mais velha provocava algumas sensações estranhas e pouco familiares ao seu corpo, sua mente organizada estava razoavelmente limpa, mas era difícil manter seus pensamentos em linha reta nos arredores da menina mais velha.

"Tudo bem!" Garantiu ele. "Não fui eu que a encontrei... Na verdade, ela veio até mim enquanto eu caminhava pelo Beco."

Explicou-se, ainda um pouco confuso.

Gabrielle sussurrou alguma coisa para sua irmã, que suspirou em cansaço enquanto um olhar de compreensão surgia, lentamente, em seu rosto.

"Entendo..." Ponderou a loira mais velha com cuidado e uma pitada de constrangimento. "Ela acha que você é Harry Potter."

Concluiu a garota um pouco incerta.

A pronuncia do seu nome estava ligeiramente errada, mas Harry gostou bastante.

"Desculpe pelo incomodo." Voltou a falar a garota mais velha. "Meu pai está tratando de alguns negócios neste país e trouxe toda a família com ele. Minha mãe permitiu que eu trouxesse Gabby para tomar um sorvete, mas eu não achei que algo assim iria ocorrer. Obrigada novamente!"

"Eu já disse, está tudo bem!" Reafirmou Harry com um sorriso. "Fico feliz que tudo tenha acabado da melhor forma."

Quanto mais Harry prestava atenção na garota, mais algo parecia estranho sobre ela.

Tentativamente, concentrou-se em relaxar sua mente por alguns momentos e focar em seu dom, a menina parecia muito interessada em procurar machucados em sua irmã mais nova para notar qualquer mudança na feição de Harry.

Assim que deixou seu dom tomar conta de seus pensamentos, pode perceber o que estava errado com a garota, ela parecia exalar um tipo de magia de forma passiva.

Seu dom percebeu antes de qualquer outro sentido, mas logo em seguida ele sentiu-se instantaneamente atraído pela garota mais velha. A magia que exalava de todo seu corpo era um tipo de atração, bastante poderosa. Era mais difícil resistir sem sua mente limpa, mas não impossível. O mais surpreendente era que, mesmo desconsiderando a magia envolvida no processo, suas características naturais pareciam oferecer mecanismos de sedução.

Isso era definitivamente perigoso.

Não querendo testar sua força de vontade mais do que o necessário, tratou logo de limpar sua mente e afastar os pensamentos de seu dom e da reação estranha que a garota à sua frente lhe causava.

A loira mais velha finalmente pareceu satisfeita com o rápido diagnóstico em sua irmã mais nova e voltou seu olhar para ele, desta vez curiosa.

Harry podia imaginar que, com um poder de atração tão forte, era estranho para ela que alguém pudesse ficar tanto tempo sem fazer um tolo de si mesmo em sua presença.

Na verdade, era uma sorte o Beco estar tão vazio hoje.

Segundo o dono do estabelecimento em que Harry estava hospedado, os negócios costumavam ser mais calmos em julho do que em agosto. Se mesmo ele, com sua mente minuciosamente limpa, estava tendo diversas dificuldades para manter-se pensando em linha reta, não queria nem imaginar o efeito que a garota teria em uma multidão de bruxos desavisados.

"Eu gostaria de me apresentar." Disse a loira, que Harry suspeitava ser uma Veela, agora um pouco mais calma. "Meu nome é Fleur Delacour, é um prazer!"

"Sou Harry! Como sua irmã disse..."

Falou o garoto oferecendo um cumprimento amigável enquanto se esforçava para esconder a tensão em seus músculos. A menina pareceu levemente curiosa com seu nome, ainda pensando que ele não era, de fato, Harry Potter, mas no fim, pareceu descartar a situação toda como uma estranha coincidência.

"Certo!" Concordou ela insegura. "Eu preciso ir, Harry. Minha mãe deve estar esperando por mim e por Gabby, é melhor não darmos outra chance para alguma tragédia." Brincou Fleur com altivez, abrindo um sorriso pequeno. "Foi bom conhecer você!"

"Foi bom conhecê-las também."

Respondeu Harry enquanto formulava sua próxima frase de forma quase esperançosa, talvez ele não estivesse tão no controle quanto pensou inicialmente.

"Talvez a gente se encontre por aí."

A garota mais velha sorriu com tristeza praticada.

"Eu acho que não em breve. Nossa família vai para Noruega amanhã."

Respondeu ela educadamente e com distanciamento.

Harry assentiu, tentando não deixar transparecer sua decepção.

"Até algum dia então!" Despediu-se ele que, para a diversão de Fleur, foi surpreendido pelo abraço inesperado da loira mais jovem.

Fiel a sua palavra, Fleur não apareceu no Beco Diagonal nos próximos dias.

Apesar de sua curiosidade em relação ao estranho poder de sedução da garota mais velha, ele estava bem com isso. Felizmente, o charme ridiculamente poderoso da garota parou de distrair sua mente assim que ela saiu de sua vista.

Harry viu Sarah no começo de agosto. Ela estava sentada em uma mesa com um garoto.

Ele pensou ter reconhecido o rapaz como um aluno recém-formado da Sonserina, mas não tinha certeza sobre isso.

A menina parecia feliz e não o notou observando de longe.

A verdade é que Harry escolheu não pensar sobre seus sentimentos confusos em relação à garota, sua despedida fria no ano passado provou algo que Harry já sabia.

As coisas entre eles nunca iriam pelo caminho que seu coração parecia querer que fossem.

Para seu desgosto interminável, ele era muito jovem.

No fim, escolheu permanecer mais tempo em seu quarto alugado. Seus estudos eram mais importantes que perder tempo pensando em Sarah, enxergá-la trouxe-o de volta aos problemas que ainda tinha, seu controle sobre a própria mente estava dando conta de seus impulsos por hora, mas, se sua teoria se provasse correta, seu dom reagiria de forma violenta quando ele pisasse, novamente, em Hogwarts.

Os dias voaram num borrão de livros e logo o dia combinado chegou.

Harry viu-se sendo balançado para todos os lados em uma viagem rápida e desconfortável para a casa de seu amigo.

"Bem-vindo, Harry!" Cumprimentou Neville, sorrindo largamente e segurando o riso, enquanto seu amigo jazia atirado ao chão, em frente à lareira. "Precisa de uma ajuda aí embaixo?"

Zombou ele.

"Cale a boca, Longbottom." Levantou-se resmungando. "Acho que quebrei alguma coisa."

Lamentou-se o garoto de olhos verdes.

Neville, por sua vez, limitou-se a rir.

"Venha! A minha avó quer conhecê-lo."

Disse Neville se dirigindo para outro cômodo.

"Esse lugar é enorme."

Constatou Harry enquanto caminhava pelos corredores da mansão, seguindo seu melhor amigo.

Inúmeros retratos sorriam apontando para eles, o teto era alto e os cômodos espaçosos, devia ser desorientador viver em um lugar tão grande e vazio.

Neville adentrou por uma porta alta, feita de carvalho maciço, a sala era espaçosa e iluminada.

Uma sala de chá, Harry pensou.

Madame Longbottom esperava-os lá dentro, era uma mulher alta e de feição severa.

Harry a cumprimentou com respeito e formalidade, que foram sumariamente ignorados pela bruxa idosa.

"Sr. Potter, é bom conhecê-lo finalmente!" Disse a mulher com voz impassível enquanto o avaliava. "Ouvi de Neville que aquele velho decrépito e senil já cravou suas garras firmemente em você."

O jovem não se surpreendeu com a aparente falta de respeito da matriarca com o seu mentor informal, já havia sido avisado sobre a estranha amizade cultivada entre os dois velhos.

Harry sorriu.

"Senhora Longbottom, tanto Neville quanto professor Dumbledore costumam falar muito bem da senhora, é uma honra finalmente conhecê-la!"

Garantiu Harry, olhando de canto para seu amigo que segurava o riso.

A velha zombou.

"Tenho certeza que tanto aquele bode velho decadente quanto meu neto ingrato espalharam mentiras horríveis sobre mim." Disse a velha tomando um gole longo do seu chá. "Espero que não leve os delírios de um homem louco e as birras de um pré-adolescente a sério."

"Sendo eu mesmo um pré-adolescente, devo dizer que nunca levaria a sério os argumentos destes, seria loucura, senhora."

Afirmou o menino de forma brincalhona. Podia jurar que viu o fantasma de um sorriso no rosto da velha.

"Bem-vindo à mansão Longbottom, senhor Potter, presumo que Neville lhe ofereceu um curso intensivo de como lidar comigo?"

Questionou sutilmente a velha.

Harry deu de ombros.

"Neville é um bom amigo, estou feliz em estar aqui."

Falou Harry sorrindo, sem revelar nada.

A conversa, após isso, foi breve e Harry logo viu-se, novamente, andando pelos corredores da mansão.

Neville lhe ofereceu um tour rápido que terminou no quarto em que ele ficaria hospedado, o cômodo ficava localizado no terceiro andar, em frente ao quarto de Neville.

"Como tem sido suas férias?"

Questionou seu amigo com os braços cruzados, enquanto se apoiava no parapeito da janela e observava Harry se atirar em sua nova cama.

"Tudo bem, eu acho." Falou o Potter pensativo. "Tive tempo para estudar, tomei quantidades industriais de sorvete. O que mais alguém poderia querer?"

Completou o garoto para Neville, que deu de ombros.

"E o seu verão? Como tem sido até agora?"

Questionou, desta vez, Harry.

"Melhor que o esperado, eu acho, tenho passado a maior parte do tempo na estufa e voando, mas fui a um ou dois eventos com a minha vó."

Respondeu ele caminhando até uma poltrona, perto da janela que ocupava até então.

"Parece legal."

Disse Harry não tão interessado.

"Você sabe que pode falar sobre o que aconteceu no fim do ano passado, Harry."

Disse Neville ainda olhando pela janela, tentando levar a conversa até o assunto que realmente importava.

Harry, entretanto, demorou a responder.

"Eu sei.." Garantiu. "Não tem nada que eu queira falar, particularmente." Suspirou. "Realmente, as coisas não saíram como o pretendido, mas acho que deu tudo certo no final."

Neville assentiu.

O olhar de Harry escureceu de repente.

"Dumbledore acha que ele ainda está por ai." Falou o garoto de forma sombria. "Tentando se fortalecer. O velho acha que talvez ele faça uma nova tentativa em breve." completou com seriedade. "Talvez seja uma boa ideia me preparar."

Neville finalmente virou-se encarando seu amigo.

"Eu estarei aqui." Falou Neville com firmeza. "Somos um time, não é?"

Questionou ele.

"Sim, somos um time, Maníaco das Plantas."

Sorriu Harry, zombando.

"Cara de Cicatriz."

Respondeu, à altura, Neville, em um resmungo.

"Ei!" Chamou atenção do menino de olhos verdes, levantando-se, subitamente da cama que ocupava. "Sobre aquela vassoura que você disse que comprou?"

O sorriso animado de Neville foi o suficiente para indicar que o assunto migraria para temas mais alegres, a partir dali.

O restante das férias passou rápido. Harry e Neville passaram horas voando ao redor da propriedade Longbottom.

Diariamente, após o jantar, Augusta insistia em longas conversas sobre a linhagem de ambas as famílias. A mulher era uma grande conhecedora de história e os fatos narrados por ela soavam interessantes aos ouvidos de Harry que, até aquele momento, não sabia quase nada sobre sua família.

Enfim, chegou o dia de voltar para Hogwarts.

Os garotos acordaram cedo, apesar de terem se preparado com antecedência.

Neville insistiu que chegar tarde a estação era um incômodo desnecessário.

Harry, por sua vez, achava que seu amigo apenas queria se livrar da vigilância rigorosa de sua avó o mais rápido possível.

"Acho que foi uma boa ideia ter chegado cedo, afinal." Disse Harry observando o pouco movimento na locomotiva. "Vamos reservar uma cabine de uma vez."

Sugeriu ele para a concordância de Neville.

A verdade é que Harry estava ansioso para o recomeço do ano letivo.

Não por suas classes, é claro, ele tinha certeza que já estava muito à frente da grande e absoluta maioria de seus colegas. Porém, estar em Hogwarts oferecia oportunidades, a sessão restrita era uma benção por si só. Além disso, o diretor havia mandado uma carta avisando que suas reuniões continuariam.

Isso sim era algo para se ficar ansioso.

"O que diabos você está fazendo com um livro de gramática francesa, Harry?"

Zombou Neville, apontando para o livro que seu amigo levava em suas mãos.

Harry, contudo, limitou-se a dar de ombros.

"Achei que seria interessante aprender outro idioma."

Respondeu ele com simplicidade.

"E porque francês?"

Continuou, seu amigo, o inquérito, ainda desconfiado.

"Por que não francês?" Brincou Harry. "Na verdade, meus tios obrigaram meu primo a ter aulas de francês há um tempo atrás. Aprendi uma coisa ou duas. Achei que seria melhor começar com um idioma que já conheço um pouco."

Completou o garoto dando de ombros.

Era um raciocínio sólido, embora não fosse completamente verdadeiro.

"Tudo bem, então!"

Aceitou Neville.

A conversa que se seguiu foi um misto de assuntos aleatórios com insultos amigáveis. Com a convivência, os dois amigos tinham adquirido o hábito de ridicularizar um ao outro em toda oportunidade.

Antes que os dois pudessem perceber, o corredores ao seu lado lotou de estudantes e logo o trem estava em movimento.

"Olá!" Cumprimentou, subitamente, uma vez feminina. "Eu fui expulsa do meu compartimento, vocês se importam se eu sentar aqui?"

Harry olhou curioso para a garota em pé na porta do seu compartimento.

Ela vestia vestes de Hogwarts sem nenhum brasão, o que indicava que ela era uma primeiranista. Era loira e possuía olhos azuis distraídos. Segurava nas mãos uma cópia de uma revista que Harry reconheceu como O Pasquim.

"Não nos importamos, sinta-se à vontade!"

Respondeu Neville com indiferença.

A garota mal havia terminado de sentar quando voltou a falar, dessa vez encarando Harry.

"Você tem uma aura estranha."

Afirmou a garota com um olhar sonhador.

Honestamente, Harry não sabia como responder a afirmação. Limitou-se a encarar Neville que portava um olhar perdido entre diversão pura e confusão chocada.

"O que quer dizer com isso?"

Perguntou Harry com incerteza.

A garota balançou a cabeça.

"Você não sabe? Desculpe, eu achei que você era como eu quando o vi." Lamentou a garota. "A propósito, sou Luna Lovegood."

Apresentou-se ela cm um sorriso pequeno.

"Harry Potter e Neville Longbottom."

Respondeu Neville, apontando, respectivamente, para ambos.

"Eu ainda não entendo, Luna."

Voltou a indagar Harry.

"Bem, você sabe… O sentimento."

Sussurrou ela, como se fosse um grande e sujo segredo.

Harry, por sua vez, tentou manter ao feição de confusão, enquanto seu sangue correu todo para fora de seu rosto.

Essa garota sabia sobre o seu dom.

"Eu ainda não sei do que você está falando."

Mentiu ele por entre seus dentes.

"É uma pena!"

Lamentou a menina como se não fosse importante, antes de ignorá-lo para ler sua revista de cabeça para baixo.

Harry, após isso, esforçou-se em tentar manter uma conversa com Neville, a garota parecia flutuar dentro e fora da interação por toda a viagem.

Na verdade, apesar da indiferença fingida, Harry não conseguia afastar a sensação de pavor.

Alguém sabia da sua habilidade.

Ainda que não fosse algo maléfico por natureza, Dumbledore havia o orientado a manter seu dom em segredo.

Ele teria que falar com seu professor sobre isso, em breve.

Harry e Neville acenaram para Hagrid, brevemente, ao chegarem à estação, mas logo foram guiados até a carruagem que os levaria para o castelo.

Harry surpreendeu-se ao notar, em frente as carruagens, criaturas esqueléticas que se pareciam, assustadoramente, com cavalos fantasmagóricos.

"O que diabos são essas coisas?"

Questionou Harry surpreso, apontando para a criatura desconhecida.

"Que coisas? Não há nada ai, Potter, perdeu a cabeça?"

Zombou Neville, com leve preocupação.

Harry teve seu insulto interrompido por Luna, que ainda os seguia.

"Não se preocupe, você não perdeu a cabeça, eu também os vejo."

Revelou a menina mais jovem com um olhar sonhador.

Harry não sabia se a informação o tranquilizava ou deixava-o ainda mais apavorado.

"São apenas testrálios."

Revelou ela.

O olhar de Neville se iluminou antes de voltar a escurecer.

"Então é por isso que eu não os vejo." Falou Neville com voz sombria. "Testrálios só podem ser vistos por aqueles que já viram a morte."

Explicou ele, vendo o olhar confuso de Harry que não tardou a endurecer.

"Entendo."

Falou secamente o jovem de olhos verdes, virando as costas para a criatura e adentrando na carruagem.

Não ouve tentativas de conversa após isso, o clima sombrio causado pela explicação de Neville persistiu até ele expressar uma dúvida em voz alta.

"Você não deveria estar nos barcos com os outros primeiranistas?"

Questionou Neville confuso, olhando para a garota que os acompanhava quase que de forma despercebida.

"Eu tenho uma autorização especial." Explicou ela sem tirar os olhos do seu livro. "Meu pai não acha que eu deva me aproximar do lago, nós suspeitamos que seja um ninho de narguilés."

Completou a garota, deixando os rapazes ainda mais confusos.

Neville limitou-se a balançar a cabeça enquanto Harry, por sua vez, riu diante do absurdo daquela situação.

A festa de boas-vindas passou sem intercorrências, assim como os dias posteriores. Harry logo viu-se de volta à sua rotina de estudos insana, passava os dias nas mais diversas classes e boa parte das noites na sessão restrita.

Logo chegou sábado, dia de seu encontro semanal com o diretor.

"Acidinhas."

Falou Harry para gárgula que guardava o escritório de seu mestre. Ouviu a voz o convidando para entrar antes mesmo de bater na porta.

"Harry, é bom vê-lo!"

Cumprimentou Dumbledore, acariciando as penas de seu pássaro mágico.

"É bom estar de volta, senhor." Sorriu o garoto satisfeito. "Senti falta de Hogwarts."

Completou.

"Tenho certeza que sim, esse castelo tem a incrível capacidade de encantar a todos que nele colocam os pés."

Falou o velho com carinho, ainda acariciando a fênix, que parecia satisfeita com os agrados de seu companheiro bruxo.

"Confio que teve um bom verão, fiquei sabendo da mudança em seus arranjos."

Questionou, sutilmente, o velho; agora se encaminhando para sua cadeira ornamentada.

A fênix envelhecida piou indignada.

Harry, entretanto, se encolheu brevemente.

"Não era um segredo, diretor."

Falou ele, tentando soar firme.

Dumbledore balançou a cabeça com pesar.

"Não se preocupe, Harry, o que aconteceu não foi sua culpa." Disse o homem se inclinando para trás. "Temo que não seja uma boa ideia voltar para a casa dos seus tios nas próximas férias."

A constatação em tom de lamento soava estranha para Harry, que portava um olhar de felicidade pura e irrestrita.

"As ações de seus parentes levaram a magia que estava vinculada a aquele lugar rejeitá-los como sua família." Falou o homem enquanto apontava para um recipiente que Harry sabia estar cheio de doces. "De qualquer forma, pensaremos em alguma coisa para o ano que vem. Acho melhor irmos ao que interessa."

Finalizou o homem em tom resoluto.

"Senhor, antes de começarmos, tenho algumas preocupações."

Disse Harry, mediante o olhar curioso do diretor.

"É sobre Luna Lovegood." O olhar do homem se iluminou em reconhecimento. "Ela falou algumas coisas no trem que me deixaram um pouco inquieto."

"Eu entendo, Harry!" Garantiu o homem. "Porém, peço que não perca seu sono por causa disso. Senhorita Lovegood, assim como você, tem um dom especial."

Revelou o diretor encarando o aluno de forma séria.

"Eu sei o que você está pensando, Harry, mas não, as habilidades dela não são iguais as suas. O dom de Luna é significativamente mais raro que o seu próprio, e bem menos útil, me atrevo a dizer."

Finalizou Dumbledore descartando os temores do garoto.

"O senhor vai fazer algo sobre isso?" Questionou o jovem. "Para ajudá-la, eu digo."

Esclareceu.

"Temo não ser necessário. Seu pai, um homem com quem mantenho estreito contato, já vem cuidando da situação. O caso de Luna é bastante delicado e eu não gostaria de me envolver, a não ser que seja absolutamente necessário."

Finalizou o homem.

Harry, diante de tudo, assentiu.

"Eu compreendo senhor."

Aceitou ele.

"Agora, vamos ao que importa." Falou o velho com um sorriso. "Não pense que não tenho notado suas atividades extracurriculares, Harry." Revelou ele, agora com mais severidade. "Não vou impedi-lo, pois considero importante para o aluno caminhar pela sua própria rota. No entanto, peço que seja extremamente cauteloso e tome muito cuidado."

Alertou o diretor com seriedade.

Harry não teve outra escolha, a não ser assentir docilmente.

"Agora, sua aptidão para as artes." Pontuou o velho homem. "Isso é algo que vem me preocupando, Harry." Abordou ele com cuidado especial. "Existem alguns poucos mais talentosos para esse ramo e existem aqueles que não têm o necessário para praticá-lo."

Explicou lenta e metodicamente antes de continuar.

"Eu diria que estou mais perto da segunda situação. Ainda que eu seja competente o suficiente, simplesmente não é uma área na qual eu consiga me destacar ou mesmo praticar confortavelmente, por diversas razões."

Harry estava tenso com o rumo da conversa, eles nunca haviam debatido abertamente sobre magia negra antes desta ocasião.

No entanto, o diretor continuou.

"No outro extremo, estão aqueles a quem a magia obscura vem naturalmente; e, já adianto, eu acredito que não seja o seu caso também."

O homem fez uma pausa antes de continuar.

Harry seguia escutando atentamente, bebendo avidamente da sabedoria do professor raramente tão disposto.

"Você certamente é mais talentoso do que eu jamais fui neste ramo em particular, mas acredito que nunca será tão bom quanto os melhores na área." A voz do homem assumiu, brevemente, um tom sombrio. "É preciso um certo tipo de homem, um bem específico, um que não é facilmente forjado, para trazer as artes ao seu verdadeiro potencial de poder e corrupção."

Harry estava confuso agora.

"Eu não entendo senhor, achei que com meu dom para a sensitividade mágica eu deveria me esforçar para me manter longe das artes, por que estamos discutindo sobre elas?"

Questionou o jovem, finalmente vencido pela confusão.

O mais velho suspirou.

"Não me entenda mal, Harry, manter-se longe seria o ideal. Pelo menos até você adquirir controle total do seu dom. Esse seria o curso que eu teria tomado, mas você e eu somos bem diferentes." Dumbledore parou para pensar em uma forma de explicar. "Veja bem, Harry, a sensibilidade se apresenta em intensidades diferentes. Pra mim, na sua idade, era muito forte e incontrolável, seria impraticável utilizar das artes antes de atingir o controle total."

Revelou o homem com calma.

Harry, no entanto, continuava confuso.

"O senhor quer dizer que o meu dom é mais fraco?"

Tentou compreender o garoto, em tom de incerteza.

O homem sábio ponderou por um instante antes de assentir.

"Precisamente, Harry, se sua capacidade fosse tão potente quanto a minha, você teria sofrido consequências mais graves sobre suas ações anteriores, se é que me entende."

Elaborou o velho com sutileza.

É claro que Harry entendia, o diretor se referia as suas recaídas recorrentes ao uso de magia negra.

O garoto finalmente assentiu, começando a compreender aonde o velho queria chegar.

"Sendo assim, não pense mal de seu dom, Harry, ele é mais forte do que qualquer um que eu tenha visto, com exceção do meu próprio, é claro. Você, em contrapartida, tem outras capacidades que podem compensar esse pequeno revés." Falou o diretor. "Começarei a lhe instruir nas artes durante este ano. Vamos dividir o nosso tempo para cobrir aspectos mais avançados do seu dom e vamos iniciar seus estudos das artes da maneira que deve ser feito. Até o fim do terceiro ano espero ter lhe ensinado tudo que posso neste ramo. Depois disso, se escolher continuar seus estudos, terá que fazer por conta própria."

Advertiu o velho.

Harry assentiu com firmeza.

"Vamos fazer isso!"

Já era bem depois da meia-noite quando Harry saiu cambaleante do escritório de seu mestre.

Quando Dumbledore falou que o ritmo seria aumentado ele não estava brincando. Naquelas circunstancias, ele podia agradecer por ainda conseguir andar sem ajuda.

Por sorte, os corredores desertos não ofereciam um obstáculo tão grande e, aos poucos, Harry viu-se ganhando terreno até seu dormitório.

Ele certamente não esperava ter seu caminho interrompido.

"Harry, o que faz fora da cama?"

Perguntou uma voz conhecida nas suas costas.

"Sarah."

Cumprimentou o garoto cansado virando-se, lentamente, em direção a voz.

"Eu poderia perguntar a mesma coisa, suponho."

Respondeu o menino com desinteresse fingido.

Sarah parecia ainda mais linda do que da última vez que conversaram. Foi inevitável lembrar-se de sua despedida fria no ano anterior e o horrível sentimento de ciúmes que havia tomado conta do seu ser durante aqueles dias.

A garota deu de ombros e apontou para o discreto distintivo preso na sua roupa.

"Monitora, lembra?" Respondeu simplesmente. "Você não respondeu minha pergunta. E o que aconteceu com você? Está horrível!"

Questionou a garota, preocupada com a aparência pálida e cansada do rapaz à sua frente.

"Detenção com Dumbledore." Mentiu o jovem cansado. "Realmente, que diferença faz o que aconteceu? Não é como se você se importasse, de qualquer forma."

Após sua explosão indigna, Harry virou-se constrangido, movimentando-se em direção à torre da Grifinória, deixando a garota mais velha para trás, com um rosto triste e confuso.

A conversa curta e cheia de mágoas havia reaberto a ferida que Harry havia lutado tanto para fechar durante o verão.

Bastou esse pequeno contato para o tempo que ficaram afastados parecer curto demais para ele.

A Cada vislumbre nos últimos dias, em que a garota parecia estar sempre acompanhada, era um pequeno passo em direção à loucura.

No fim das contas, Harry sabia que aquilo tudo não passava de uma queda infantil.

Nada aconteceria.

Honestamente, Sarah só havia se importado em falar com ele durante o ano passado porque ele a salvou, de modo bastante instintivo, diga-se de passagem, do troll invasor.

Apressou-se em limpar tais pensamentos de sua cabeça, sua mente estava desgastada pelo uso indiscriminado da oclumência em conjunto com doses imensas de magia negra em seu sistema.

Ele não tinha condições mentais para prolongar aquela pequena tortura naquele momento.

Encarou a escada em sua frente enquanto respirava fundo e se preparava para continuar a viagem dolorosa até o dormitório.

A torre estava, afinal, a uma distância considerável dali.

E as lágrimas formando-se, lentamente, em seus olhos, eram apenas reflexos da sua dor física e estresse mental, não havia nada com que se preocupar.

Após o término da emoção usual advinda do início de ano letivo, as coisas começaram a voltar a seu devido lugar.

Demorou apenas alguns dias para Harry perceber que Defesa Contra as Artes das Trevas seria um desperdício absoluto de seu tempo.

O professor não era mais competente que uma das criaturas imaginárias que Luna vivia citando.

Transfiguração continuava fácil, assim como todas as outras disciplinas.

A notável exceção sendo poções.

Snape parecia cada dia mais mal intencionado. Perder pontos já não era mais uma raridade para Harry, mas sim a norma.

Suas aulas com Dumbledore continuavam religiosamente aos sábados.

Devido a isso, Harry sentia sua compreensão sobre as artes das trevas e, em menor medida, seu dom crescendo aos trancos e barrancos. O diretor era um instrutor severo quando se tratava das artes e exigia uma firme compreensão da teoria e dos efeitos colaterais de cada feitiço antes de sequer cogitar praticá-los.

Não que ele ensinasse muitos feitiços, suas explicações sobre as artes focavam muito mais no aspecto acadêmico por trás delas e como praticá-las com segurança.

Por outro lado quando se tratava de seu dom o velho parecia bem mais compreensivo e permissivo, incentivando Harry a experimentar com sua magia e compartilhando todo seu conhecimento centenário sobre a rara forma de magia.

Mesmo assim, Harry tinha mais dificuldades em controlar a maldita coisa do que em compreender conceitos abstratos de magia negra.

Na verdade, o garoto ainda tinha sérias restrições quanto ao uso da habilidade estranha.

Relaxar o controle sobre sua mente era algo que ainda o amedrontava, nada de bom parecia acontecer quando ele o fazia longe do olhar atento de seu mestre.

A boa notícia era que seu domínio sobre a oclumência vinha se solidificando rapidamente e suas crises estavam ficando cada vez mais raras, limitando-se, basicamente, as noites após os encontros com Dumbledore.

Tais ocasiões continuavam sendo estressantes para o garoto, tanto magicamente quanto mentalmente. O diretor parecia propositalmente aumentar o ritmo sempre que o garoto parecia perto de se adaptar ao que eles vinham fazendo.

O sucesso acadêmico, entretanto, não refletia em seus relacionamentos.

Harry nunca parecia ter tempo para os poucos amigos que tinha, com o afastamento de Sarah, que vinha agindo de forma estranha perto dele, só lhe restava Neville.

O garoto, que há pouco tempo era uma bola de timidez, nos dias atuais parecia bastante confortável consigo mesmo. Harry sabia que seu amigo estava consistentemente firmando laços com várias pessoas, até mesmo fora de sua casa, era uma mudança drástica e, francamente, assustadora.

"O que ouve com você e Sarah?"

Questionou Neville, em um dia qualquer, tirando Harry dos seus pensamentos enquanto sentava em uma poltrona à sua frente.

Ele devia ter percebido que Neville notaria o clima estranho entre os dois.

"Eu não sei do que você está falando."

Mentiu Harry facilmente, com falsa indiferença.

Na verdade, ele se sentia muito desconfortável sobre o assunto.

Neville revirou os olhos.

"Ora, vamos lá!" Disse o garoto exasperado. "Acha que não tenho percebido você andando por ai como se alguém tivesse chutado sua coruja? Você sempre foi um pouco estranho, mas essa melancolia introspectiva me dá nos nervos!"

"Nós trocamos algumas palavras no corredor umas noites atrás." Revelou finalmente o garoto, em uma tentativa de tranquilizar seu amigo e evitar a discussão incomoda. "Ela tem me evitado, desde então."

Neville o encarou como e esperasse mais.

"Eu posso ou não ter dito algumas coisas rudes."

Admitiu Harry, agora um pouco envergonhado.

Neville suspirou e enquanto o jovem de olhos verdes voltava a falar.

"Eu não estava pensando direito certo? Estava cansado e além do mais quem se importa?" Falou com irritação. "Não é como se mudasse alguma coisa."

Neville encarou seu amigo antes de voltar a falar.

"Ela tem agido de forma estranha, ultimamente." Ponderou o garoto pensativo. "Os boatos dizem que ela tem se afastado dos amigos, nos últimos dias."

Concluiu Neville.

Isso despertou, mesmo que brevemente, a atenção de Harry.

"Estranho... Isso não soa como Sarah."

Para Harry, isso soava muito fora do personagem.

Sarah geralmente vivia muito cercada de pessoas e quase nunca desacompanhada.

"Isso é estranho, mas não é meu problema." Desconsiderou o garoto, levantando-se. "Vou para a biblioteca, não me espere acordado." Falou se virando. "E, por favor, deixe isso pra lá."

Concluiu antes de sair.

Neville limitou-se a suspirar, vendo seu amigo deixar a sala.

Seria um longo e cansativo ano.