Update: Essa história está em processo de atualização, os capítulos serão todos revistos e os erros e incoerências mais graves corrigidos e, principalmente, a escrita suavizada; dito isso, esse capitulo já passou pela revisão.
O tempo parecia parado em seu entorno.
Em seu rosto, podia sentir gotículas do que esperançosamente era água e, em volta, além de um zumbido constante havia o murmúrio do que parecia ser centenas de vozes preocupadas.
O silvo de dor ao mexer o braço foi um reflexo, mas só agora o garoto havia se dado conta da agonia aguda que parecia pulsar em seu braço direito.
Abrir os olhos foi outra luta, mas, por sorte, o feitiço que usava para o bem de manter seus óculos no lugar ainda funcionava. Aos poucos, o mundo entrou em foco e junto com a ele a última pessoa que o menino confuso desejava ver.
"Deus! Não! Você não!"
Gemeu Harry tentando se afastar de seu professor de Defesa Contra as Artes das Trevas que, alheio a tudo, parecia concentrado em examinar o braço ferido.
"Relaxe, meu garoto, vou consertar o seu braço em um instante."
Os protestos de Harry caíram em ouvidos surdos e, em sua volta, o som de gritos animados e sussurros sobre quão incrível era o professor tomavam conta do ambiente.
Ao longe, o garoto ferido podia ver os seus colegas de time, ainda lutando para controlar a monstruosidade em forma de balaço que havia o colocado em tal situação. E assim, com o som de uma foto e algumas palavras incompreensíveis em latim, o jovem sentiu seu braço ficar mole.
"Bem." Começou Lockhart envergonhado. "Agora que a dor passou, você pode ir para ala hospitalar cuidar disso melhor." Falou o homem começando a levantar-se do chão enlameado. "Boa captura, Harry! Boa captura!"
Despediu-se o homem, despreocupado, com tapas amigáveis no ombro e uma saída apressada.
O garoto aborrecido se esforçava para manter a concentração. A varinha em sua mão esquerda parecia estranha, não por falta de domínio, mas sim por carência de prática. A mão direita, que ele usualmente utilizava para segurar a ferramenta, pendia firmemente enfaixada e presa a uma tala.
Ele não conseguiu evitar a surpresa ao ver, no início daquela noite, o diretor invadir a enfermaria e arrastá-lo para longe dos olhares curiosos, mesmo em face dos protestos da temida curandeira residente do castelo. Era raro ver Dumbledore desautorizar um de seus funcionários em frente aos seus alunos, o acontecimento só confirmava que o garoto já não era um estudante comum.
"Se concentre, Harry."
Repreendeu o velho, mantendo os olhos sobre o esquilo que, há pouco tempo, havia sido conjurado e em vão tentava se debater na mesa, preso pelo firme controle exercido pelo garoto de olhos verdes.
"Está permitindo que o sangue vaze pelos olhos e boca."
O alerta do velho estava certo.
Para a absoluta frustração de Harry o pequeno roedor tinha uma quantia considerável de fluidos vazando pelos seus orifícios. O esforço para conter a ação mais banal da maldição em questão parecia fútil e vazia, na melhor das hipóteses.
"Lembre-se do objetivo do exercício."
Comandou sutilmente o mestre.
"Eu estou concentrado."
Rebateu, finalmente, o mais jovem por entre os dentes.
"Não! Não está! Sua mente está vagando desde que entrou na sala."
"Escute." Disse o jovem frustrado. "É uma maldição de hemorragia. Uma maldição que eu já domino. Não consigo ver um propósito em lutar contra a natureza de um feitiço, ele está fazendo exatamente o que deveria fazer."
"Se realmente dominasse poderia conter seus efeitos sem problema algum." Disse Dumbledore com ar severo. "Além do mais, feitiços não são obras da natureza. É um uso altamente artificial da magia. Você já deveria saber disso, meu jovem."
Harry deixou o braço esquerdo que segurava a varinha cair ao seu lado e junto com ele sua determinação e a organização de sua mente. O roedor, que antes estava preso pelo controle que o bruxo exercia em seu sangue, caminhou em círculos antes de se tornar uma poça vermelha de sobras jogadas ao chão.
Uma cena patética e nojenta.
Dumbledore encostou-se na guarda de sua poltrona com um olhar analítico. O jovem à sua frente parecia exausto. O seu braço direito visivelmente ainda incomodava-o, apesar das piores horas do crescimento de ossos já terem sido superadas.
"Um resultado devastador é gerado ao conter os efeitos de uma maldição dessas com pura força bruta por tanto tempo."
Explicou o mestre em voz alta para seu aluno que observava a bagunça no chão do escritório em crescente frustração.
"O que eu estou fazendo aqui?" Perguntou Harry em voz baixa. "Que sentido faz aprender a parar uma maldição com pura força de vontade se quando eu virar para o lado a situação só vai ter piorado?"
Questionou ele, antes de finalmente encarar o mestre.
Dumbledore se permitiu olhar nos olhos de seu aluno por alguns segundos. A exposição prolongada ao uso das artes fazia as duas esmeraldas emitirem luz própria e, por um instante fugaz, veio-lhe a memória um antigo e familiar brilho vermelho.
"Você está aprendendo a conter maldições, um passo importante, essencial até mesmo, que o levará a, eventualmente, aprender a quebrar maldições." Falou Dumbledore voltando ao seu estado habitual, paciente e risonho. "Como tem dormido Harry? Você parece cansado..."
A constatação do velho veio acompanhada de um olhar prolongado.
Seu cansaço não era exatamente um segredo.
"Foi um jogo difícil."
Desconversou o garoto para um Dumbledore impassível.
"Não tem sido fácil desde o início dos ataques." Admitiu ele finalmente, desfazendo a conjuração que anteriormente era sua ferramenta de prática. "Além dos pesadelos, há a desconfiança. Os rumores já começaram, mesmo dentro da Grifinória. Granger é muito vocal sobre suas suspeitas."
Finalizou o jovem enquanto terminava de transformar as entranhas do esquilo na peça de porcelana em forma de roedor, que era anteriormente, e a levitar calmamente até a prateleira mais afastada.
"Peço que aguente. Garanto que tenho me esforçado para resolver a questão o mais rápido possível."
Garantiu o velho pesarosamente.
Harry, por sua vez, assentiu indiferente.
"Eu sei."
O garoto, por um momento, pareceu interessado em continuar falando, mas o olhar de seu professor foi desviado para a porta que, pouco depois, abriu-se, concedendo a visão da diretora da Grifinória visivelmente transtornada.
"Minerva." Reconheceu Dumbledore preocupado. "O que aconteceu? Você está pálida."
A contatação do diretor era verdadeira. Harry não lembrava-se de ter visto a mulher tão abalada.
"Senhor Potter." Falou a mulher reconhecendo a presença de seu jovem aluno. "Diretor, temos um problema."
Disse ela, indicando o garoto na sala com um olhar, para o aborrecimento deste que não deu sinal de querer deixar a sala.
O diretor, ao perceber a situação, rapidamente acenou autorizando sua vice-diretora a dar a notícia, não se importando com a presença de seu pupilo.
A professora não pareceu satisfeita, mas seguiu a indicação do superior.
"Ocorreu um novo ataque."
Harry preocupou-se imediatamente, a presença de Minerva, em vez de qualquer outro professor, indicava apenas uma coisa.
"É um dos meus desta vez, Albus." Revelou a velha mulher com voz aflita. "Hermione Granger."
O que seguiu foi uma caminhada tensa e acelerada em direção à enfermaria.
No início, Harry chegou a pensar que seria mandado de volta ao seu dormitório, mas ao fazer menção de sair pelo outro lado do corredor o diretor, para curiosidade do menina, sinalizou para que ele seguisse-o de perto.
As portas da enfermaria estavam fechadas, como seria de se esperar naquela hora da noite.
Dentro da sala, no leito mais distante, o único com as cortinas abertas, estava Granger. Madame Pomfrey pairava ao redor da cama lançando feitiços desconhecidos e examinando sua paciente petrificada.
Sentado ao lado da cama, estava Ronald Weasley. Sua postura estava desolada e seu rosto escondido nas mãos. Ao ouvir o barulho das portas fechando o ruivo percebeu a chegada dos novos ocupantes da sala e voltou seu olhar a eles.
Seu rosto parecia levemente aliviado ao ver Dumbledore e McGonagall, mas o breve alívio se tornou raiva quando sua visão caiu sobre Harry.
"Você!" Gritou ele apontando para o garoto de cabelos escuros. "Por que você fez isso? Ela não merecia!"
Harry ficou surpreso com a reação do garoto. Seu olhar foi para o mestre que observava a troca com uma expressão curiosa e levemente alarmada.
McGonagall, por sua vez, tomou a responsabilidade em dar fim a briga antes que ela começasse.
"Sr. Weasley!" Uivou ultrajada "Vinte pontos da Grifinória." Puniu a professora. "Entendo que a situação seja ruim e o senhor esteja abalado pelo que aconteceu com sua amiga. Mas acusar um colega de classe, sem qualquer prova, é simplesmente ultrajante!"
Terminou a mulher com voz severa.
"Você não entende, professora." Teimou o garoto enquanto balançava sua cabeça desolado. "Há alguns dias, Hermione o confrontou sobre os boatos e agora ela foi atacada, só pode ter sido ele."
Explicou ele sem tirar os olhos de Harry nem por um momento.
Harry tinha que admitir que Granger ser atacada pouco tempo depois de confrontá-lo era um desenvolvimento muito suspeito e conveniente.
"Agora, Sr. Weasley..." Manifestou-se, finalmente, Dumbledore. "É impossível que o jovem Harry tenha atacado a senhorita Granger." Esclareceu o velho. "Ele estava cumprindo detenção comigo a noite toda. Garanto que ele não ficou fora da minha vista por tempo o suficiente para atacar outro aluno."
O rapaz pareceu levemente envergonhado por ter suas suspeitas tão facilmente descartadas pelo diretor, mas ele não estava, de modo algum, satisfeito ou pacificado.
"Ele pode tê-la atacado antes, diretor." Insistiu o ruivo. "Eu a encontrei no banheiro, já tinha passado do toque de recolher. Notei que ela não havia voltado para a sala comunal e fiquei preocupado, pedi ajuda aos meus irmãos para encontrar ela. Sabe-se lá quanto tempo ela ficou lá."
Argumentou o garoto raivoso.
Harry finalmente cansou das acusações infundadas.
"Weasley, eu não ataquei Granger." Garantiu. "Eu fiquei o dia todo aqui, na ala hospitalar, antes que o Diretor viesse me chamar para cumprir minha detenção."
O Garoto ruivo olhou para os mais velhos na sala, ainda com um olhar irritado, em busca de confirmação. O diretor e a curandeira, que ainda estava firmemente plantada ao lado da cama de sua paciente, confirmaram.
"Você devia ir para seu dormitório agora, Sr. Weasley." Pediu a professora de transfiguração. "Cuidaremos das coisas a partir daqui."
Assegurou a mulher, em uma tentativa de tranquilizar o garoto abalado.
O ruivo ainda mantinha a feição irritada e contrariada, mas fez o que a mulher pediu. No entanto, antes de sair, parou ao lado de Harry para um último recado.
"Eu não acredito em você."
Afirmou o garoto por entre os dentes antes de deixar a sala com pressa.
"Minerva, garanta que o Sr. Weasley chegue em segurança."
Pediu Dumbledore para a mulher, que assentiu antes de seguir o rapaz.
"Que situação horrível."
Lamentou o diretor enquanto começava a examinar a garota.
"Sr. Potter." Falou madame Pomfrey depois de dar espaço para o diretor trabalhar. "Como está o braço."
Perguntou com preocupação, aproveitando-se da presença inesperada do garoto.
Honestamente, estava doendo.
Em razão de toda a confusão, Harry havia esquecido de seu ferimento, mas, agora que pensou sobre isso, estava realmente incomodando.
O garoto balançou os ombros antes de responder.
"Está melhorando, eu acho." Respondeu incerto. "Não está doendo tanto."
A curandeira reconheceu a resposta do garoto antes de apontar a varinha para o braço ferido e lançar algumas magias.
"Você vai ficar bem!" Assentiu ela. "Mas o braço vai ficar desconfortável por mais alguns dias. Se você tivesse ficado aqui teria sido mais rápido."
O começo do seu sermão foi cortado pelo diretor.
"Harry, venha até aqui, rápido." Pediu o diretor ao lado da cama da garota. O menino acatou. "Use seu dom, o que você sente?"
Instruiu e perguntou Dumbledore.
Harry relaxou seu controle e focou na garota deitada na cama. A primeira coisa que o garoto percebeu é que a magia permeava por ela de uma forma muito peculiar.
Sendo muito honesto, Harry nunca havia visto nada parecido.
"É estranho." Começou a explicar o garoto, diante do olhar atento de seu mestre. "Há um tipo de magia em volta dela."
"Em volta não." Corrigiu o homem em tom duro. "Por entre ela." Esclareceu para o garoto que assentiu curioso. "E o que mais?"
Seguiu questionando.
"É uma magia estranha. Diferente da que existe nas paredes da escola ou nos alunos." Ponderou ele. "Parece antinatural."
Dumbledore assentiu, concordando com a conclusão do aluno.
"Seu dom está se desenvolvendo bem, mas ainda lhe escapa a sutileza." Disse o velho voltando, novamente, seu exame para a menina petrificada. "Eu nunca vi nenhum tipo de magia exatamente igual a essa, mas já presenciei algo parecido em algumas criaturas mágicas e em ingredientes de poções."
Os olhos de Harry se arregalaram diante das implicações advindas da explicação de seu mestre.
"Poppy, onde exatamente a senhorita estava quando foi encontrada?"
Questionou o diretor curioso, após alguns momentos de consideração cuidadosa.
A curandeira, que observava o desenvolvimento com um rosto curioso e um pouco confuso, adiantou-se para responder.
"No banheiro, caída em frente ao espelho."
Revelou ela com a voz incerta.
O Diretor assentiu.
"Bom, não há nada que possamos fazer por ela além de mantê-la confortável até que as mandrágoras estejam maduras." Reconheceu o velho se afastando da cama. "Vamos, Harry, sua aula ainda não acabou."
Concluiu o homem com um sorriso melancólico.
Harry, por sua vez, gemeu de dor e frustração.
Nos dias que seguiram o ataque a Granger, a reputação de Harry se deteriorou significativamente. Por um lado, não houve muitas mudanças quando o assunto era as demais casas, entretanto, na torre da Grifinória, os boatos aumentaram de intensidade.
Weasley não mediu forças em espalhar suas suspeitas e contar para todos que, poucos dias antes do ataque, Granger havia confrontado Harry sobre suas supostas ações.
Com a chegada de dezembro, a habitual lista de quem ficaria nas dependências do castelo foi deixada na sala comunal e, sem surpresas, a maior parte dos alunos optou por voltar pra casa.
O baixo índice de permanência no castelo, naquele ano, claramente era consequência dos ataques e do medo generalizado que começava a se espalhar pela população de estudantes.
Até mesmo Neville estava indeciso se deveria ir ou ficar, mas decidiu permanecer, por puro despeito, quando Harry insinuou que ele precisava ir para casa.
Na opinião do garoto de óculos, Neville deveria manter um pouco de distância enquanto a situação não se resolvia. No entanto, o garoto Longbottom resolveu manter-se firme ao lado do seu amigo, contrariando a opinião deste.
Com a distância que o restante dos alunos mantinha dele, o humor de Harry, inevitavelmente, piorou naqueles dias.
A frustração proveniente de ser olhado com desconfiança e a falta de progresso em seus estudos noturnos uniram-se ao aumento de dificuldade em suas sessões com o diretor.
Contrariando o senso comum, Dumbledore não diminuiu o ritmo de suas lições para ajudar a confortar o seu aluno, pelo contrário, aumentou a dificuldade dos exercícios. Harry achava que era uma tentativa de mantê-lo ocupado para que não pensasse na sua situação, mas em vez de ocupar sua mente, as ações de seu mestre apenas estavam o deixando mais cansado.
Uma semana antes da pausa para o natal, um novo boato começou a correr pelos corredores da escola e isso pareceu desviar o foco das pessoas por um tempo. Alguns cartazes foram espalhados pelos murais do castelo, parecia que Lockhart havia conseguido uma autorização especial para reabrir o clube de duelos.
Harry permanecia cético quando o assunto era a competência do professor de defesa. Todavia, um clube de duelos poderia muito bem ser uma atividade interessante.
Mesmo com o interesse, era duvidoso que o garoto se sentisse à vontade para se colocar voluntariamente na frente de varinhas desconhecidas com os atuais boatos que corriam sobre ele.
"Eu acho que deveríamos ir." Expressou sua opinião Neville, durante o café da manhã. "Poderia ser útil um dia desses."
Esclareceu diante do olhar cético de seu amigo.
"Você pode muito bem ir sozinho, se quiser." Afirmou Harry. "Eu não vou me arriscar."
"Ora, vamos lá!" Exclamou o garoto Longbottom diante da negativa de seu amigo. "Lockhart estará lá! Ele não vai deixar nada de ruim acontecer."
Falou com confiança.
"Veja bem, é de Lockhart que estamos falando aqui."
Lembrou, chocado, o garoto de óculos.
Neville, por um momento, pareceu preocupado. No entanto, não pelas razões que Harry pensou.
"Você não deveria se isolar." Esclareceu ele. "Dumbledore acredita em você. Apareça no clube esta noite. Mostre a eles que você não tem nada a temer." Sugeriu. "Eventualmente eles vão perceber o quão idiota é toda essa perseguição."
Harry considerou as palavras do seu amigo com incerteza.
"Eu não sei." Disse confuso. "Eu vou pensar sobre isso, talvez eu apareça."
Cedeu desanimado, para a satisfação de Neville.
Foi essa conversa infeliz que o levou a adentrar o salão principal naquela noite.
As poucas pessoas que notaram sua chegada lançavam lhe expressões azedas e as vezes assustadas.
No outro lado da sala, Neville acenava animadamente chamando a atenção de Harry que, desanimadamente, dirigiu-se até ele.
"Eu sabia que você viria." Falou o garoto satisfeito. "Essa é Hannah, ela está no nosso ano." Neville apresentou a garota que estava sentada ao seu lado. "Ela está comigo porque sua amiga Susan não veio."
Explicou o garoto.
Harry lembrava de ter visto a menina loira algumas vezes. Ela usava as cores da Lufa-Lufa e olhava para ele levemente assustada. Harry limitou-se a acenar duramente antes de virar-se para o pódio e voltar a falar com seu amigo.
"Não acredito que você me convenceu."
Falou Harry com descrença.
Neville riu antes de apontar para a plataforma onde Lockhart apareceu, de forma pomposa, seguido por Snape que, por sua vez, ostentava uma feição muito mais fechada do que a de seu colega.
O professor de poções claramente não queria estar ali.
"Bem-vindos, aproximem-se os que estão ao fundo."
Começou o homem mais pomposo da sala, parecendo brilhar, antes de começar seu discurso.
Harry admitia que havia sido hilário e confuso ver Snape sendo apresentado como o assistente de Lockhart. Apesar de sua antipatia pelo homem vestido de negro, era inegável que o mesmo era muito mais qualificado para qualquer coisa que envolvesse defesa que seu professor atual.
Antes que Harry pudesse desviar-se de seus pensamentos e voltar a prestar atenção na cena à sua frente, os dois homens se envolveram em uma breve, mas significativa troca de feitiços.
Antes que Lockhart pudesse terminar de gritar a magia de sua escolha, Snape havia o atingido com um feitiço desarmante que parecia sobrecarregado. Ao passo em que um expelliarmus médio apenas alçava a varinha do adversário ao ar, o feitiço de Snape, além disso, tirou o próprio professor de defesa de seus pés. Lockhart foi jogado para trás e caiu pateticamente como um saco de pano esparramado na plataforma.
"Eu nem mesmo sabia que isso é possível."
Murmurou Harry para si mesmo enquanto os alunos ao seu redor soltavam risadas abafadas e sussurros preocupados.
"Bravo! Bravo!" Bradou o professor de defesa que levantava-se, lentamente, com uma careta, enquanto segurava o lado de sua barriga em dor óbvia. "Excelente demonstração, Professor Snape! Fico contente por ter deixado seu feitiço me atingir. Se eu tivesse desviado, como poderia, é claro, provavelmente esses jovens nunca veriam uma apresentação como essa."
Disse Lockhart controlando os danos enquanto criava um híbrido bizarro entre um sorriso e uma careta.
"Você acha que está tudo bem com ele?"
Perguntou Neville que, suspeitosamente, disfarçava sua risada com uma tosse nada sutil.
A resposta de Harry foi simplesmente dar de ombros sem se importar.
O outro apenas balançou a cabeça divertido.
Quando Lockhart parou de jorrar sobre sua humilhante derrota, ele não demorou muito a começar a falar sobre dividi-los em pares. Antes que Harry pudesse olhar para Neville, para confirmar a dupla, sentiu uma mão apertar seu ombro.
Atrás dele estava Weasley, com um olhar irritado e a varinha na mão. Neville, ao seu lado, parecia já ter sido reivindicado por Hannah e encarava Harry com um olhar de desculpas.
"Sr. Potter e Sr. Weasley!" Chamou Lockhart apontando para a plataforma e ainda segurando sua barriga. "Vamos começar com os senhores."
Sorriu o professor com confiança.
A sala toda parecia ter parada pra observar a troca e, conforme o esperado, a tensão era palpável.
"Eu não acho que seja uma boa ideia, professor." Começou Harry. "Eu vim apenas observar."
Argumentou o garoto, pouco inclinado a se submeter a seja lá o que fosse acontecer naquela plataforma.
"Bobagem!" Descartou, facilmente, o professor. "Às vezes, uma celebridade precisa se colocar em ação para seus fãs." Disse Lockhart com facilidade. "Subam na plataforma, os dois."
Demandou o homem com resoluta certeza.
Sem opção, Harry obedeceu e seguiu Weasley para cima da plataforma. Os murmúrios na sala pareceram aumentar.
Todas as duplas pararam para assistir o desenrolar da cena.
Lockhart explicou todas as regras e obrigou os dois garotos a se curvarem. Weasley parecia contrariado, mas, ainda assim, obedeceu o professor.
Quando o homem finalmente autorizou que o duelo iniciasse, o garoto ruivo não perdeu tempo. Lançou uma maldição inofensiva que transformaria as pernas de Harry em geleia por um curto período, seguida por um feitiço de cócegas que quase o pegou de surpresa.
Ele não esperava que o outro garoto fosse capaz de conjurar mais que uma magia tão rápido, parecia que o Weasley mais novo estava tendo algumas aulas com seus irmãos mais velhos.
Ainda assim, Harry conseguiu desviar os feitiços com facilidade, ação esta que pareceu tirar o foco do ruivo por alguns segundos. Ele parecia surpreso com o fato de Harry ter conseguido acompanhar seus feitiços com tamanha facilidade.
Os instantes de hesitação do ruivo foram o suficiente para Harry passar para a ofensiva.
"Everte Statium!" Lançou Harry mirando o sapato do garoto à sua frente. "Rictusempra."
Finalizou o atacante de olhos verdes.
Weasley foi pego de surpresa pelo feitiço que atingiu seu pé esquerdo. Sua falta de prevenção foi punida por ter sua perna puxada em direção a Harry. A ação mecânica o derrubou e a segunda magia, um feitiço de cócegas, o acertou em cheio.
O ruivo, imediatamente, antes mesmo de se recuperar da queda, começou a rolar pelo chão, rindo descontroladamente.
Para um observador desavisado, poderia parecer diversão. Entretanto, Harry podia facilmente escutar, no tom de voz do outro garoto, a raiva e, até mesmo, indícios de agonia.
O garoto vitorioso interrompeu a magia assim que Lockhart anunciou o fim do duelo e, mansamente, curvou-se para o seu adversário que, por sua vez, ainda convulsionava levemente no chão portando uma expressão de raiva cega e vergonha.
"Esplêndido, Harry!"
Enquanto Lockhart o elogiava Harry viu, com o canto dos olhos, Weasley descer da plataforma e correr para fora do salão.
"Demostração incrível!"
Continuou o professor de defesa despreocupado, antes de ser interrompido por Snape.
"Patético." Resmungou o professor de poções. "Weasley, claramente, não é páreo para nossa celebridade residente." Constatou o homem com claras segundas intenções. "Talvez devêssemos arranjar um adversário mais digno?"
A pergunta tinha, em seu âmago, uma sugestão de malicia, mas, antes que Harry pudesse protestar, a ideia tomou forma, enquanto o homem encarava um pequeno aglomerado de alunos de sua casa.
"Agora, professor Snape, não é necessário."
Interveio Lockhart com pouca força.
O homem não parecia realmente interessado em intervir.
"Eu insisto." Disse Snape simplesmente. "Sr. Nott, suba até aqui!"
Atendendo ao pedido de Snape, um garoto, bastante alto para idade, mas excessivamente magro, subiu na plataforma. Tinha cabelos marrons e uma feição aristocrática, assim como uma expressão neutra.
Lockhart cessou seus protestos e sinalizou para que os dois garotos fizessem os cumprimentos. Harry se curvou e, antes de terminar de endireitar-se, escutou um encantamento baixo e um ardor no ombro.
Seguido do primeiro feitiço pungente, veio outro que, por sorte, Harry conseguiu desviar, mas não reconheceu.
Respondendo a ofensiva de seu adversário, Harry lançou um feitiço de ofuscamento que obrigou Nott a fechar os olhos para não ficar temporariamente cego. O garoto da Sonserina só conseguiu desviar da próxima magia de Harry, um feitiço de cócegas, por puro instinto.
Reconhecendo que estava perdendo terreno, o rosto calmo do garoto de gravata verde começou a ficar mais tenso.
"Ascendium!"
Lançou o sonserino, para a surpresa de Harry.
Era um feitiço mais avançado e, diga-se de passagem, com um bom potencial para machucar. Acertou Harry no peito e, em razão disto, o mesmo foi lançado para cima, em direção ao alto teto do Salão Principal.
Pensando rápido, Harry não perdeu tempo em evitar a queda usando um dos seus próprios feitiços avançados.
"Aresto Momentum!"
O tempo foi perfeito.
Um instante de atraso e Harry teria se estatelado no chão, de qualquer maneira.
Caiu de volta na plataforma com um rolamento que serviu para escapar de um feitiço de pernas de geleia, lançado por seu adversário, e distribuir o impacto da queda. Durante a manobra, observou, com o canto dos olhos, que Snape segurava Lockhart pelo ombro, impedindo que o mesmo interferisse no duelo.
Nott era um bruxo excepcional para um segundo ano.
De fato, um adversário digno para um Harry Potter que não queria mostrar muito do que sabia.
Harry tinha a noção de que precisava acabar com isso, em breve, ou algum dos dois poderia se ferir durante a luta encenada.
O rosto do garoto de cabelos marrons, que no começo do duelo estava calmo, agora transbordava frustração. E Harry sabia que tinha que se aproveitar da vulnerabilidade de seu adversário.
Ele precisava surpreender Nott com algo mais avançado.
"Expelliarmus!"
Lançou, mirando cuidadosamente na mão do adversário.
Nott se surpreendeu, mas reagiu com rapidez, saindo do caminho do feitiço de desarme que bateu na parede em suas costas com um chiado.
No entanto, Harry não havia acabado.
"Glacium!"
Conjurou o menino de olhos verdes calmamente, mirando no caminho escolhido por Nott para desviar de seu feitiço anterior.
O garoto sonserino, finalmente foi pego de surpresa por algo que não poderia evitar e caiu na armadilha de Harry.
No entanto, antes de ir ao chão, conseguiu se equilibrar o suficiente para um último feitiço.
"Serpensortia!"
Mal terminou a conjuração antes de cair desequilibrado.
Entretanto, conseguiu o que pretendia.
Aterrissando poucos metros à frente de Harry, conjurada por seu adversário, estava uma serpente venenosa de porte médio.
O garoto de cabelos negros, acostumado com animais conjurados, não se assustava facilmente com eles. Mas, inesperadamente, a serpente em questão parecia pouco interessada nele e muito curiosa com um garoto da Lufa-Lufa que estava parado em choque ao lado da plataforma de duelos, ao alcance do bote da cobra.
Harry sabia que não teria dificuldades em se livrar do animal, mas, por outro lado, também sabia que caso o animal se sentisse ameaçado reagiria muito mais rápido do que ele e atacaria o garoto que parecia petrificado em puro choque.
"Tudo bem, Potter." Interrompeu Snape com desprezo. "Eu lido com isso."
No entanto, antes que o professor de poções pudesse fazer qualquer coisa, Lockhart tomou a liberdade de lançar a cobra pro alto em uma tentativa fútil de afastar o perigo.
Desnecessário dizer que isso só irritou a serpente, o animal agora parecia muito mais perto de atacar o garoto da Lufa-Lufa.
Sem opções, Harry agiu por instinto.
"Não se mecha." Começou a assoviar. "Preste atenção em mim, eu sou a verdadeira ameaça."
A cobra, que antes parecia distraída, começou a virar lentamente em direção a Harry, enquanto este continuava seus esforços.
"Venha até aqui!"
Incrivelmente, a serpente obedeceu. Começou a dirigir-se em direção a Harry de forma lenta e desconfiada.
Quando viu sua chance, o garoto de cabelos escuros não perdeu tempo.
"Ignis!"
Falou com voz forte.
A cobra conjurada sumiu em chamas e as cinzas se desfizeram no ar com a mesma facilidade.
Harry manteve a varinha levantada por um segundo, recapitulando o que havia ocorrido. Foi quando se deu conta do silêncio antinatural e opressivo que havia tomado conta da sala, bem como dos olhares ainda mais sujos e amedrontados que estava recebendo de todos os lados do cômodo.
Mesmo Snape e Lockhart o encaravam chocados.
"O que diabos, Potter! Você enlouqueceu?"
Gritou o jovem vestido de amarelo que a pouco era o objeto de interesse da cobra.
Antes que Harry pudesse entender o que havia ocorrido, Neville o agarrou pelo braço e o arrastou correndo para fora do salão.
Em suas costas, Harry ouviu um tumulto de vozes incompreensíveis estourar.
Neville o arrastou incansável por corredores até uma sala abandonada no terceiro andar, local onde o garoto Longbottom finalmente o confrontou.
"Por que você não me contou?" Perguntou o menino alarmado. "Por que esconder isso?" Continuou pressionando. "Eu não pensaria menos de você."
Garantiu o menino, ainda que sua voz possuísse uma pitada de incerteza.
"Me solte." Grunhiu Harry se desprendendo do aperto firme do seu amigo. "Eu não tenho ideia do que você está falando."
Apontou o garoto aborrecido.
"Não se faça de idiota, Potter! Não é hora pra isso!" Respondeu Neville alarmado. "Você fala com cobras, isso vai ser um grande problema!"
"O que?"
Perguntou Harry surpreso e chocado, ainda sem entender o que estava acontecendo.
"Você é surdo agora? Você é um ofidioglota!"
Afirmou o amigo, andando em círculos pela sala.
"Não, eu não sou!"
Insistiu o outro.
"Sim, você é!" Falou Neville parando de andar pela sala e encarando seu amigo. "O que você falou para ela afinal?"
"Não seja idiota ,Neville, você estava lá."
Neville, que começava a compreender, pareceu terrivelmente surpreso.
"Quer dizer que você não sabia? Você assoviou como uma serpente, lá atrás! No meio do maldito salão!"
Explicou o garoto.
Harry hesitou.
"Eu apenas pedi que ela prestasse atenção em mim." Esclareceu com algum temor. "Pare de brincar, Longbottom, você ouviu isso! Você tem que ter ouvido!" Neville parecia com pena agora. "Eu não posso ser um ofidioglota." Insistiu desolado. "Eu não posso ter falado na língua das cobras na frente de todas aquelas pessoas."
Continuou Harry em negação.
Neville apenas balançou a cabeça com pesar.
"Você está com muitos problemas, meu amigo."
Falou o Longbottom com tom de finalidade.
Novamente, Harry gemeu, desta vez com as mãos enfiadas em seu rosto.
