Update: Essa história está em processo de atualização, os capítulos serão todos revistos e os erros e incoerências mais graves corrigidos e, principalmente, a escrita suavizada; dito isso, esse capitulo já passou pela revisão.
Era possivelmente o dia mais gelado que Harry havia presenciado em sua curta vida. Dumbledore havia solicitado sua presença cedo naquela tarde. As aulas haviam sido canceladas após o fim da manhã durante uma breve tentativa de proteger mandrágoras do tempo frio. Ele havia sido notificado pela professora de herbologia que deveria comparecer após o almoço no escritório do diretor.
Harry não reclamaria de ter uma aula a mais com seu mestre, mas era um pouco frustrante ter seu tempo livre retirado dele sem que ninguém perguntasse sua opinião sobre o assunto. Não que ele negaria a oportunidade, mas, após o incidente no clube de duelos, os alunos começaram a teorizar que seus encontros constantes com o diretor se tratavam de uma tentativa de interrogá-lo. O garoto pouco se importava com os boatos, mas as hostilidades estavam aumentando gradualmente a medida que mais e mais pessoas começavam a pensar que Dumbledore desconfiava de seu envolvimento.
Até mesmo Neville parecia mais mal humorado essa semana. O garoto Longbottom havia tomado para si a responsabilidade de ficar perto de Harry o maior tempo possível.
Em outra nota, Sarah parecia ter parado de agir de forma estranha perto das amigas, mas não havia tentado fazer contato nenhuma vez em todo aquele tempo. Apesar de ter se afastado da garota por sua própria vontade, Harry odiava pensar que ela era capaz de acreditar nos boatos sobre ele.
Foi com esse turbilhão de pensamentos e considerações que Harry adentrou o escritório de seu mentor e deparou-se com umas das cenas mais estranhas que já havia visto naquele cômodo.
"Senhor, por que tem duas galinhas em cima da sua mesa?"
Questionou Harry com um rosto incrédulo.
De fato, na mesa do diretor estavam atiradas duas aves. Harry presumiu que estivessem mortas, pela estranha posição em que se encontravam.
Dumbledore parecia divertido e, até mesmo, um pouco envergonhado.
"Hagrid as trouxe até aqui." Explicou o homem. "Parece que algo ou alguém tem matado os galos do castelo."
Só agora o garoto percebeu que não se tratavam de galinhas e sim galos. Deveria ter sido óbvio pela crista maior na cabeça das aves e pelas penas diferentes.
"Então há um assassino serial de aves a solta no castelo?" Perguntou Harry em tom jocoso. "Fawkes não deveria estar preocupada?"
A fênix, ao ouvir seu nome, encarou Harry e grunhiu ofendida.
Dumbledore limitou-se a rir suavemente da troca entre seu aluno e o familiar. O velho ficou feliz pela fênix ter voltado a reconhecer a existência do garoto. Com a evolução dos estudos paralelos de Harry, a magia obscura que ele estava aprendendo havia se impregnado em seu corpo, isso fez com que o pássaro mágico começasse a ignorar a existência do rapaz. O animal voltando a reconhecer seu aluno indicava que Harry estava progredindo no seu controle. Pelo menos, Albus esperava que sim. Era um bom sinal, de qualquer forma.
"Garanto que qualquer coisa que tenha a audácia estúpida de atacar Fawkes estará em mais problemas do que pode lidar." Disse o diretor em tom bem-humorado. "Nossa amiga flamejante está segura, por agora."
Garantiu o homem apontando para o pássaro que se erguia orgulhoso.
Harry apenas balançou a cabeça sorrindo e sentou-se na cadeira oferecida por seu professor.
"Bom." Começou o velho. "Antes de começarmos a sua lição de hoje, quero que me diga o que pode sentir vindo disso." Disse o velho apontando para os dois animais mortos em sua mesa. "Garanto que é interessante."
Falou o homem com um sorriso levemente sombrio.
Harry deu de ombros antes de focar em seu dom. A primeira vista não parecia haver nada de estranho sobre os animais. Por um instante estranho, Harry esperava sentir algo parecido com o que havia sentido em Granger, mas rapidamente descartou esse pensamento como uma tolice. Afinal, não havia como haver ligação entre as duas coisas.
Por outro lado, a medida que Harry concentrava-se em seu dom ele notou algo inquietante. A primeira coisa a chamar sua atenção foi a percepção de que havia uma pequena e quase imperceptível quantidade de magia presente no cadáver dos animais.
"Há algo de estranho nisso tudo." Surpreendeu-se Harry olhando para o seu mestre que assentiu apreciativamente, indicando que ele continuasse. "Não deveria haver magia neles."
"Você está certo." Concordou o velho. "Mas por que?" Perguntou. "Você pode fazer melhor que isso. Sinta, teorize e deduza."
Harry fez o que foi mandado.
"Bom, eles não deveriam possuir magia porque não são animais mágicos. Se fossem, haveria muito mais e traria um sentimento diferente." Tentava explicar o menino enquanto organizava seus pensamentos. "Por outro lado, não foram mortos por um feitiço, pois, se tivessem sido, eu poderia dizer a natureza da magia ou, no mínimo, ter uma ideia do que aconteceu. Também não foram mortos por uma criatura mágica convencional, se fosse algo do tipo haveria muito mais magia ou nenhuma no caso de algo como um centauro ou um hipogrifo."
"Tem razão, criaturas mágicas desse tipo não deixam um rastro mágico porque passivamente controlam a magia existente em seu ser com maestria. Por outro lado, um ser mais agressivo ou ativamente mágico como um dementador ou uma fênix teria deixado rastros óbvios."
Explicou o homem complementando as impressões do seu aluno.
Harry assentiu pensativo.
"Uma pessoa, é a única possibilidade. Não pode ser um trouxa ou um aborto já que nenhum deles deixaria uma impressão mágica." Ponderou o garoto. "Mas é estranho. É difícil imaginar que um bruxo minimamente instruído deixaria um rastro como esse apenas por tocar em algo. Não faz sentido."
Ponderou o garoto.
"Tem toda razão." Disse Dumbledore. "A menos…"
Começou o velho indicando que ainda havia mais a ser dito sobre o estranho caso.
Harry entendeu a deixa e compreendeu o que o velho queria dizer.
"A menos que seja uma criança." Disse Harry orgulhoso de sua própria dedução. "Só faria sentido se fosse uma criança ou alguém que tenha perdido o controle de sua magia, por algum motivo."
Dumbledore sorriu orgulhoso.
"Muito bem, Harry!" Disse o velho olhando para seu aluno. "Eu deduzi a mesma coisa. Só pode ter sido um jovem especialmente poderoso e emotivo ou, ainda, um bruxo que por alguma razão está perdendo aos poucos o controle de sua magia." Agora o sorriso do velho ficou infeliz. "É uma pena que essa informação não sirva para ajudar a achar o culpado."
"Mas limita bastante, não é mesmo?"
Perguntou Harry curioso.
"É verdade, poderia ser um dos alunos mais jovens, ainda que seja improvável." Explicou o velho. "Mas estou mais inclinado a pensar que, neste caso, estamos procurando alguém que está perdendo o controle de si mesmo." Explicou o homem. "O que torna a busca significativamente mais difícil, já que todos no castelo podem ser um suspeito."
Harry começava a entender onde o seu mestre queria chegar.
"Talvez a pessoa ainda nem saiba que há algo de errado com sua magia." Percebeu o garoto antes de arregalar os olhos e encarar seu mestre. "Talvez seja alguém com problemas psicológicos! Isso poderia afetar a magia não é mesmo?" Dumbledore assentiu. "E se ele nem ao menos souber o que está fazendo?"
Dumbledore caminhou até a janela e encarou a escola que tanto amava.
"É uma possibilidade." Admitiu o velho a contragosto. "Mas isso não importa agora." Mudou de assunto o diretor. "Severus me contou sobre o que aconteceu durante o clube de duelos."
Dumbledore virou-se trazendo seus olhos de volta para Harry.
"Eu esperava não ter que falar disso." Suspirou o garoto. "Tem sido um incômodo. O garoto da Lufa-Lufa ficou assustado com a serpente."
"Imagino que ele tenha conversado sobre isso com seus colegas de casa." Supôs o homem.
"Não importa! Basta dizer que eu não tenho mais muitos amigos na Lufa-Lufa."
Simplificou Harry.
Os olhos do diretor estavam tristes.
"Eu lamento, Harry, se eu soubesse antes sobre sua capacidade teria lhe alertado sobre isso."
Harry balançou a cabeça afastando as desculpas.
"Não havia como saber." Disse ele. "Nem mesmo eu sabia." Acrescentou. "O que eu não entendo é de onde surgiu essa habilidade. Há poucas informações sobre isso, mas alguns autores sugerem que é uma característica hereditária."
Dumbledore concordou com a cabeça.
"Não há relatos de nenhum Potter que pudesse falar com cobras." Explicou o homem. "Mas sua família tinha relações de sangue com os Black e eles, por sua vez, costumavam reivindicar um parentesco distante com Salazar."
O garoto parecia cético.
"Poderia muito bem ser mentira, nunca se sabe com essas coisas." Falou enquanto pensava sobre o assunto. "Mesmo que seja verdade, não é uma explicação muito boa. Nesse caso, deveria haver outros."
Assumiu o garoto com pouca certeza.
O homem mais velho balançou a cabeça.
"Há uma outra explicação." Disse o velho apontando para a cicatriz na testa do menino, que se surpreendeu com a ação. "O homem que lhe deu essa cicatriz era um infame ofidioglota." Revelou o diretor. "Não se sabe muito sobre a maldição que ele usou aquela noite, além do óbvio. É possível que, após a maldição ser refletida, tenha ocorrido uma reação mágica imprevisível não documentada até agora."
O garoto ouviu atentamente. Enquanto isso, repassava na sua cabeça todas as poucas informações que possuía sobre magia negra e teoria mágica em geral.
"Eu nunca ouvi nada sobre algo assim."
Disse o menino curioso e um pouco apavorado.
"É apenas conjectura." Esclareceu Albus. "Mas em tese, ele poderia ter transferido uma parte de suas capacidades para você naquela noite, por acidente." Disse o homem enquanto voltava a sentar em sua poltrona ricamente decorada. "Provavelmente não poderia se manifestar se você fosse um adulto na época do ocorrido, mas se tratando de uma criança com a magia instável, em formação e sofrendo as reações de uma maldição pouco conhecida." Encarou Harry nos olhos "É difícil dizer o que aconteceria nesse caso."
O garoto parecia perigosamente perto de entrar em pânico e, sobretudo, levemente enojado de si mesmo.
"O que isso significa para mim?" Perguntou inquieto. "Eu sou ele?" Dumbledore imediatamente negou com a cabeça, mas foi impedido de elaborar. "Então? Eu tenho uma parte dele dentro da minha cabeça?"
Voltou a perguntar o garoto.
Dumbledore demonstrou um de seus raros momentos de hesitação, antes de responder a pergunta.
"É difícil dizer, Harry." Falou Dumbledore com pesar. "Mas você não é ele!" Afirmou enfaticamente. "Você é incrivelmente parecido com a criança que ele foi um dia." Confidenciou o velho para a surpresa de Harry. "Mas as suas escolhas são muito diferentes, incomparáveis eu diria."
"Você disse que nós éramos semelhantes."
Lembrou o garoto em tom de temor.
Dumbledore assentiu. Mesmo Harry podia notar que a conversa deixava seu mestre desconfortável, mas, mesmo assim, o diretor voltou a falar.
"Vocês tem semelhanças curiosas, mas apenas em alguns aspectos." Disse ele. "Você faz amigos, Harry. Você é mais forte que ele diante de uma situação ruim." O velho balançou a cabeça. "As semelhanças empalidecem diante das diferenças, lembre-se sempre disso."
A conversa com Dumbledore tranquilizou Harry naquela dia, mas apenas por um tempo.
O garoto foi acordado no meio da noite. Ele havia ido dormir cedo, estava cansado após a lição dada por seu mestre. Desta forma, foi uma surpresa quando Neville desfez a magia que mantinha sua cortina fechada e o acordou com uma sacudida no ombro.
"Longbottom, o que aconteceu?" Questionou Harry confuso pescando seus óculos do criado-mudo ao lado de sua cama. "Que horas são?"
Neville tinha um olhar assombrado e tentava se desculpar com os olhos.
"Professor McGonagall mandou te acordar sem alertar os outros. Ela está esperando na sala comunal, vista-se." Disse o menino virando as costas.
"Neville, o que aconteceu?" Perguntou Harry preocupado.
"Eu lamento, Harry." Disse o menino saindo. "Se apresse!"
Harry vestiu-se e desceu as escadas confuso. A sala comunal estava calma e os poucos ocupantes olhavam com apreensão para a vice diretora que aguardava em pé ao lado do buraco do retrato, rígida como uma pedra.
Ao ver seu aluno descer as escadas, a professora de transfiguração acenou rapidamente para ele e não perdeu tempo em puxá-lo para fora da sala, longe dos olhares curiosos do restante da torre da Grifinória.
"Sr. Potter, siga-me! Eu explicarei no caminho."
Disse ela, já caminhando pelo corredor.
Harry lutou para manter seu ritmo acelerado.
"O que aconteceu?"
Voltou a perguntar o menino preocupado.
"Houve outro ataque, Sr. Potter, e, apesar do esforço do diretor em manter o ministério fora de Hogwarts, o Departamento de Execução das Leis Mágicas insiste que deve haver um questionamento oficial com os suspeitos o mais rápido possível."
Explicou a mulher.
O estômago de Harry se revirou em pânico.
"Esses suspeitos que você acaba de citar." Disse Harry. "Quem são?"
Perguntou o garoto temendo o pior.
A vice diretora o encarou com pena antes de responder.
"No momento, apenas o senhor." Disse a mulher vendo o horror surgir no rosto do aluno. "Não se preocupe, o auror encarregado do caso é um homem em quem o diretor confia. Ele será justo!"
Garantiu a mulher tentando acalmá-lo.
Harry não voltou a falar pelo resto da caminhada. No começo pensou que estavam se dirigindo até o escritório do diretor, mas essa noção se provou errada quando eles pararam em frente à uma porta, alguns corredores antes da famosa gárgula. A professora de transfiguração abriu a porta, sinalizando para que ele entrasse primeiro.
Harry escutou a porta ser fechada atrás de si e a mão da diretora de sua casa se prender firmemente ao seu ombro, em uma óbvia tentativa de lhe apoiar diante da cena intimidante. À sua frente parecia haver uma sala de reuniões de tamanho considerável. Haviam diversas mesas e cadeiras luxuosas empilhadas nos cantos da sala e, ao meio, banhadas pela penumbra que adentrava a janela e a luz de duas velas solitárias, estavam três poltronas e uma cadeira solitária, separadas por uma mesa baixa.
Parecia um cenário criado especialmente para intimidar.
Ao lado da disposição estranha de móveis, estava seu mestre com o rosto sério no que parecia uma discussão acirrada, porém em voz baixa, com um homem alto de pele marrom que usava roupas de aparência oficial. A feição do homem desconhecido era severa, porém o mesmo parecia cansado e aborrecido com a situação.
Assim que Harry entrou na sala, ambos os homens se voltaram para ele e o desconhecido, que devia ser o auror encarregado, dirigiu-se a Harry, abrindo uma ficha que o garoto não havia percebido que ele carregava.
"Harry Potter, estudante de Hogwarts, segundo ano." Falou o homem fingindo que lia a ficha em suas mãos. Seus olhos voltaram para Harry. "Sou o auror Shacklebolt, sente-se, por favor."
Pediu o oficial apontando para a cadeira de madeira enquanto ele mesmo dirigia-se à poltrona do meio.
Harry olhou para seu mestre, pedindo confirmação.
Dumbledore limitou-se a assentir.
Assim que sentou-se na cadeira, o garoto pode sentir a presença da professora de transfiguração parada firmemente, em pé, atrás dele. E, com surpresa, pode ver o diretor com um rápido aceno de sua varinha conjurar uma cadeira semelhante a que Harry usava. O diretor não tardou a sentar ao seu lado.
O auror pareceu levemente desapontado e irritado que os dois ocupantes extras na sala não tivessem acatado sua sugestão de assentos.
"Pois bem!" Começou o homem. "Você sabe por que está aqui?"
Perguntou o homem se dirigindo a Harry.
"Parece um interrogatório."
Respondeu o garoto intimidado.
O homem grunhiu aborrecido.
"O ministério deu o nome de entrevista." Disse o homem. "Mas sua avaliação está correta, Sr. Potter, é um interrogatório." O aperto da professora de transfiguração em seu ombro se tornou mais firme. "Você sabe o motivo de ser interrogado, Harry Potter?"
Voltou a questionar o homem.
O garoto limitou-se a balançar a cabeça. O gesto pareceu aborrecer ainda mais o homem.
"Responda com palavras da próxima vez, garoto." Alertou. "Você sabe o motivo de ser interrogado?"
"Não, senhor."
Disse o rapaz, que começava a ficar irritado.
"Há boatos sobre o seu envolvimento em três diferentes ataques que ocorreram desde o começo do ano letivo." Apontou o homem voltando a olhar para a ficha. "Tem algo a dizer sobre isso?"
"Não." Disse Harry. "São apenas boatos."
"Isso é o que veremos."
Murmurou o homem numa tentativa de ser intimidante. A ação pareceu irritar Dumbledore que se endireitou na cadeira ao seu lado.
"Você conhece Hermione Granger?"
Perguntou o homem colocando sobre a mesa uma foto da garota de cabelos crespos. Na foto ela parecia mais jovem e estava sorrindo.
"Sim, ela está na mesma casa e ano que eu."
Disse Harry, permanecendo neutro.
"Entendo, e como você diria que é a sua relação com ela?"
Harry olhou em volta nervoso. Enquanto isso, o homem continuava a encará-lo firmemente.
"Sinta-se à vontade para responder quando quiser." Falou ele. "Em algum momento agora, seria bom."
Pressionou o auror.
Harry suspirou.
"Ela não gosta muito de mim." Começou a falar. "Eu diria que não nos damos muito bem."
"Elabore."
Exigiu o interrogador estreitando os olhos.
"Ela parece se ofender quando alguém se sai melhor que ela nas aulas. Ouvi dizer que ela começou os boatos sobre mim na Grifinória."
Explicou um Harry Potter defensivamente.
Isso pareceu satisfazer o homem sobre o assunto, por hora.
"E quanto ao zelador? Qual sua opinião sobre ele?"
O garoto bufou de forma irônica.
"O homem não se dá bem com nenhum dos alunos. Na verdade, acho que ele não se dá bem com nenhum ser vivo, com exceção da gata."
Tarde demais, Harry percebeu que caiu na armadilha. Os olhos do oficial brilharam com a menção ao animal.
"Me fale sobre a gata."
Demandou.
"Bom... O que há pra se falar?" Perguntou o garoto de forma retórica. "É uma gata normal, eu acho. O zelador a usa para farejar os alunos que desrespeitam o toque de recolher."
Explicou o menino ajeitando os óculos.
"Você costuma ser um desses alunos que o animal fareja?"
Perguntou o homem de forma sugestiva.
Na verdade, Harry era. Suas escapadas para estudar e praticar durante a noite lhe renderam vários encontros desagradáveis com o felino em questão.
"Você não precisa responder a isso, Harry." Interveio o diretor. "Seu histórico escolar e de transgressões está bem documentado e é sigiloso. Se o ministro quiser mesmo ter acesso a ele, o DELM pode muito bem usar os meios oficiais."
Falou o velho desafiando o auror a sua frente, que pareceu entender o recado e recuou com irritação.
"Bom!" Rosnou o homem frustrado, encarando o diretor. "Me fale sobre o último, Justin Finch-Fletchley. Eu ouvi uma história engraçada sobre você ter o ameaçado com uma cobra."
Apontou o homem mostrando uma foto do garoto Lufa-Lufa que Harry evitou que fosse atacado pela serpente, dias atrás.
Era uma estranha coincidência.
"Eu não o ameacei!" Garantiu o jovem. "Eu estava mandando a cobra se afastar dele."
O auror pareceu surpreso por um momento.
"Então há um fundo de verdade na história toda." Constatou o homem. "Você se irritou quando ele espalhou a história sobre você tentar atacá-lo?"
"Bem, sim!" Respondeu Harry. "Mas quem não teria? Isso não significa que eu o atacaria."
Insistiu o garoto.
"Eu não disse que você o atacou." Disse o homem anotando algo em sua ficha antes de voltar ao interrogatório. "Me conte detalhadamente onde você estava antes e durante cada um dos ataques."
Pediu o homem olhando atentamente para o garoto.
Harry suspirou.
"No primeiro, eu estava voltando para a torre com Neville Longbottom." Explicou Harry, no caso de o homem querer verificar seu álibi. "Nós dois encontramos a gata."
O homem assentiu.
"Entendo, prossiga."
"A próxima foi Granger, eu estava me recuperando de um ferimento em um jogo de quadribol e depois disso tive detenção pelo restante do dia."
O homem parecia querer interromper, mas o diretor foi mais rápido.
"Eu posso atestar isso." Falou Albus. "Eu apliquei a detenção em questão."
O homem oficial deu-se por satisfeito, indicando que Harry prosseguisse.
"Eu também tinha detenção hoje e, depois dela, fui direto para a cama. Várias pessoas na torre me viram subindo as escadas para o dormitório."
O homem sorriu ironicamente.
"Duas detenções convenientes. Talvez o diretor tenha supervisionado essa também."
Assumiu o homem de forma ríspida.
"Na verdade, sim." Voltou a interferir Dumbledore. "Você está tentando implicar alguma coisa, auror?"
A voz de Dumbledore permanecia neutra, sem qualquer emoção perceptível.
O homem de pele escura, por sua vez, pareceu surpreso e levemente desconfiado.
"Duas detenções com o diretor?" Perguntou olhando para o garoto à sua frente que balançou a cabeça em confirmação. "Use sua boca, garoto."
Lembrou o homem, novamente.
"Sim, senhor."
Respondeu Harry conseguindo afastar o instinto de gaguejar.
"Isso é estranho." Ponderou o homem. "O que você fez nas detenções?"
Dumbledore encarou o homem com uma feição de aviso, mas permitiu que Harry respondesse a questão.
Por sorte, havia uma história combinada previamente para o caso de alguém perguntar sobre as constantes detenções de Harry com o diretor.
"Eu limpei o poleiro de Fawkes."
Falou o jovem com desgosto fingido, para a diversão do seu mestre.
Curiosamente, essa era uma detenção que o diretor costumava aplicar nas raras vezes em que supervisionava as punições. Era a forma favorita de disciplina do velho e o auror parecia saber disso.
O homem fechou a ficha com um suspiro, antes de espreguiçar-se na cadeira.
"Desculpe por isso, garoto." Falou o homem agora em um tom mais ameno, mas ainda mantendo uma leve frustração em sua voz. "É o meu trabalho, eu tinha que interrogá-lo."
Explicou ele aborrecido.
"Isso quer dizer que eu estou livre?"
Perguntou o garoto incerto soltando um suspiro de alívio.
O homem riu sem humor, mas assentiu.
"Por enquanto, sim. Não parece haver nenhum problema ou incoerência na sua versão dos fatos." O homem hesitou. "Mas mantenha-se longe de problemas por um tempo, tudo bem?"
Harry confirmou com a cabeça.
O homem contornou a mesa e apertou a mão do diretor, que parecia quase triste com o cumprimento.
"Albus, é sempre um prazer. Gostaria que a minha visita ocorresse em uma ocasião melhor."
Disse o auror como uma forma de despedida enquanto apontava para a porta.
"Eu também, Kingsley. Mande meus cumprimentos para Amélia." Respondeu o velho. "Minerva, acompanhe nosso convidado até os portões. Depois disso, sinta-se livre para aproveitar seu descanso. Eu tomarei conta de Harry, por agora."
Instruiu o diretor.
Minerva assentiu e apressou-se em seguir o auror, deixando Harry com um último aperto consolador em seu ombro e aos cuidados de seu mestre.
"Isso foi intenso."
Disse Harry após se ver sozinho com o diretor.
Dumbledore concordou.
"Imagino que tenha sido." Falou ele de forma distraída. "É uma pena que você tenha conhecido Kingsley nessa situação. Ele é, na verdade, um bom homem e um velho amigo."
Explicou o diretor, diante da descrença do aluno.
Harry assentiu mas não parecia convencido.
"Ele certamente não agiu como um velho amigo."
Resmungou o garoto.
Dumbledore riu sem humor.
"Ele leva seu trabalho muito a sério."
Disse o homem com um sorriso.
Harry riu. No fim das contas, estava tudo bem.
Incrivelmente, a informação que Harry havia sido oficialmente interrogado pelo ministério não escapou nos próximos dias. As únicas pessoas cientes do fato eram os professores, Harry e Neville que foi informado no mesmo dia pela professora de transfiguração.
Isso aliviou Harry por um lado, mas alguns dias depois ele ficou sabendo que Neville havia informado sua avó sobre o ocorrido.
"Por que diabos você contaria isso para ela?"
Perguntou Harry incrédulo enquanto trabalhava na criação de um boneco de neve gigante.
Neville deu de ombros, tremendo de frio enquanto escondia o rosto em seu cachecol.
"Minha vó conhece muita gente no ministério. Eu preferi informá-la rápido, apenas no caso de algo dar errado." Explicou o garoto tentando aquecer as mãos. "Além do mais, achei que se ela soubesse o quão ruim as coisas estavam ela poderia ajudar a conseguir mais informações sobre a câmara."
"Mas você disse que ela não sabia muito."
Perguntou Harry curioso.
"Tem razão, mas ela não diria tudo se não achasse que eu precisava." Falou o menino voltando o olhar para o lago. "Ela me mandou um livro."
Revelou ele presunçosamente.
"Que tipo de livro?"
"Um relato histórico da época em que a câmara foi aberta pela primeira vez. Parece um tipo de trabalho acadêmico." Respondeu o Longbottom pensativo. "Você sabia que a garota que morreu meio século atrás ainda vive no castelo como um fantasma?"
Perguntou enquanto encarava Harry, com curiosidade.
Este último fez uma careta.
"Não, eu não sabia. Quem?"
"A Myrtle, um fantasma que fica no banheiro das garotas no segundo andar." Falou apontando para uma janela ao longe, no castelo. "Dizem que ela é irritante, costuma inundar os corredores e chorar por horas."
"Parece alguém interessante."
Falou Harry de forma desinteressada.
Neville revirou os olhos.
"Eu pretendo investigar mais sobre isso, talvez eu desvende o mistério." Falou com um sorriso e uma voz levemente sonhadora. "Você pode ser meu ajudante, se quiser."
Ofereceu o Longbottom de forma arrogante.
Isso havia se tornado uma característica nos últimos meses.
Harry riu.
"Obrigado pela oferta, mas não vou ofuscar sua glória minúscula com minha presença exultante."
Brincou o garoto retirando a mão do seu boneco de neve para ajustar seus óculos.
Os garotos balançaram a cabeça rindo e continuaram se insultando em tom de brincadeira pelo resto da tarde.
