Update: Essa história está em processo de atualização, os capítulos serão todos revistos e os erros e incoerências mais graves corrigidos e, principalmente, a escrita suavizada; dito isso, esse capitulo já passou pela revisão.

O Natal passou de forma calma. Harry optou por se manter afastado das poucas pessoas que ficaram no castelo aquele ano. Se isolar não foi muito difícil, considerando que apenas Neville fez esforço para ficar próximo a ele. Mas mesmo o garoto Longbottom parecia ter outras responsabilidades aqueles dias. O menino estava determinado a descobrir mais sobre a câmara secreta, dizia constantemente que ficaria famoso se fosse o primeiro a descobrir e documentar sua localização.

Harry não foi enganado tão facilmente. Neville, na verdade, estava tentando provar a inocência do seu amigo mais próximo.

No fundo, Harry estava tocado pelo esforço de seu amigo. Além disso, manter Neville ocupado trazia o bônus de dar tempo para Harry continuar seus estudos sem precisar escapar durante a madrugada. No fim das contas, ser suspeito de ataques múltiplos tinha suas vantagens.

Foi apenas na metade de fevereiro que algo digno de nota aconteceu. No dia dos namorados Lockhart resolver que seria uma boa ideia contratar anões vestidos de cupido para entregar cartões e cantar declarações de amor para todos os alunos.

A princípio, Harry achou a ideia uma idiotice tremenda e fingiu sons de vômito durante o discurso de Lockhart no café da manhã. Pela tensão em seu rosto, a professora de transfiguração concordava com os pensamentos de Harry sobre as ações do professor de defesa. É claro, seu desgosto pareceu desaparecer quando Neville foi parado nos corredores por um dos cupidos na frente de uma multidão de alunos.

"Ei! Neville Longbottom! Pare aí mesmo!"

Gritou o ser minúsculo com uma cara irritada.

Harry riu quando Neville empalideceu.

O garoto Longbottom olhou para os lados buscando uma rota de fuga, mas Harry foi mais rápido. Sua varinha se moveu antes que seu amigo pudesse reagir e o feitiço aderente prendeu os sapatos de Neville no chão do corredor. Se um olhar pudesse matar, Harry tinha certeza que não teria sobrevivido a provação.

Ignorando a troca entre os amigos e os olhares curiosos dos alunos no corredor, o anão andou a passos rápidos e decididos em direção a Neville.

"Alguém me encarregou de lhe cantar uma canção, mantenha-se quieto, garoto." Grunhiu o ser enquanto procurava o cartão correto. "Toda resistência é inútil!"

O olhar de desespero de Neville era impagável, mas em um momento de pura simpatia Harry desfez o feitiço que mantinha seu amigo preso ao chão. No entanto, já era tarde demais. A multidão curiosa já havia formado um círculo em volta de Neville e ele não tinha como escapar.

"Eu lamento amigo."

Falou Harry em tom alegre com um sorriso perverso.

E assim, o anão começou a cantar. Era um verso horrível, sem rimas ou sentido lógico. Neville pareceu querer vomitar quando o cupido comparou a cor de seus olhos a uma pilha gloriosa de excremento de dragão. Harry mordia a própria manga para evitar rir em voz alta. Por outro lado, Neville parecia preferir ser lançado pela janela por seu tio, outra vez, do que estar ali.

Quando o anão finalmente parou de cantar e a multidão diminuiu os risos histéricos, um Neville humilhado tomou seu lugar ao lado de Harry.

"A minha vingança será dolorosa."

Resmungou Neville se referindo ao feitiço que manteve seus pés presos ao corredor. Antes que Harry pudesse dar sua resposta espirituosa, foi interrompido pelo anão.

Um arrepio subiu pelas suas costas.

"Ora! Espera aí!" Disse o ser com asas de anjo. "Harry Potter!"

Os pés de Harry foram rápidos, escapar era uma prioridade. No entanto, Neville não pareceu querer colaborar com seu amigo.

"Me solte, Longbottom!"

Gritou Harry com voz assustada.

"Eu acho que não."

Disse o garoto sadicamente, segurando Harry pelo ombro e braço enquanto sorria de forma maníaca.

A multidão, ao perceber o que ocorria, voltou a se aglomerar e soltar risos de antecipação. Pareciam esquecer, por um momento, que ele era o suspeito de diversos ataques.

A sensação de mal-estar e humilhação só aumentaram quando Harry viu o garoto da câmera fotográfica tirando diversas fotos da situação. O alvo de toda atenção se irritou ao perceber que era o mesmo garoto que costumava segui-lo no início do ano letivo.

Felizmente, o poema direcionado a Harry era consideravelmente menos ridículo que o de Neville. Poderia até ser de bom gosto se não tivesse sido declamado aos gritos por um anão irritado. O que não diminuía o sentimento de humilhação pública do garoto ao andar a passos rápidos para fora do corredor com Neville em seus calcanhares.

O rosto de ambos os garotos era de abatimento e humilhação.

"Eu juro, Longbottom." Falou Harry tomando seu lugar de costume ao lado do lago após a aula de feitiços. "Se você mandou aquele poema em forma de piada, a retribuição será dolorosa."

Grunhiu ele.

Neville pareceu ofendido.

"É claro que não!" Falou em voz alta. "Por que você pensa que eu faria isso?" Perguntou irritado antes de seus olhos se arregalarem. "Você!" Gritou apontando para o amigo que soltou uma risada culpada. "Você escreveu a música ridícula sobre merda de dragão!"

Harry balançou a cabeça enquanto ria.

"Pareceu uma boa ideia." Confirmou o garoto. "Não achei que você pensaria o mesmo."

"Eu já disse." Falou Neville ainda irritado com seu amigo. "Não fui eu!"

Harry que antes ria de forma incrédula agora parecia confuso.

"Mas se não foi você, quem foi?"

Questionou com confusão.

Agora foi a vez de Neville rir e ridicularizar seu amigo.

"Ora, ora, Potter, parece que você tem um admirador secreto." Falou Neville em tom de zombaria enquanto tentava fazer uma pedra deslizar na água do Lago Negro. "Quem diria!"

Harry balançou a cabeça se juntando aos risos de seu amigo. O dia tinha sido o mais descontraído que ele havia tido em meses, era bom esquecer por algum tempo que a escola inteira estava contra ele.

Infelizmente, a comoção ainda não havia acabado naquele dia, Neville ainda recebeu mais dois cartões e um poema. E, para seu desgosto, Harry havia recebido mais um, que parecia suspeitosamente com o que ele havia escrito para Neville em forma de brincadeira pela manhã. O seu amigo jurou que não havia mandado o cartão, o que levou Harry a pensar que quem escreveu a coisa se inspirou em sua obra para criar a idiotice. Hogwarts tinha um público facilmente impressionável.

O clima leve foi interrompido alguns dias depois quando Neville o abordou depois do café da manhã. Era um dia estranho, o clima estava tenso e os alunos voltaram a encará-lo naquela manhã.

Em razão disso, a notícia trazida por Neville não foi surpresa.

"Houve outro ataque na noite passada." Informou o garoto Longbottom, enquanto sentava-se a sua frente no canto mais afastado da mesa. "Colin Creevey da Grifinória." Neville percebeu que Harry não reconhecia o nome. "O garotinho com a câmera."

Suspirou explicando.

Os olhos de Harry brilharam enquanto ele assentia em reconhecimento.

"Isso não é tudo." Continuou Neville para surpresa de Harry. "Peguei sua capa ontem e fiz uma visita a Hagrid."

"Você o quê?"

Falou Harry indignado.

"Fiz uma visita a Hagrid."

Repetiu Neville em confusão fingida.

"Não isso, idiota." Falou Harry aborrecido. "A capa."

Esclareceu em um sussurro.

Neville deu de ombros.

"Você não tem saído a noite, achei que não seria um problema." Falou o menino. "Eu pedirei permissão da próxima vez."

Harry continuou irritado mas assentiu, indicando que Neville continuasse sua história.

"Enfim, algo estranho aconteceu." Recomeçou. "Ele estava me contando algumas coisas sobre cinquenta anos atrás, quando o ministro da magia em pessoa bateu na porta acompanhado de alguns homens."

Narrou Neville para a surpresa de Harry.

"Ministro Fudge?"

Perguntou o garoto em choque.

"O próprio!" Confirmou o Longbottom. "Eles conversaram algo estranho por algum tempo e o ministro levou Hagrid preso."

Sussurrou ele se aproximando de Harry e olhando para os lados.

"Eles disseram que precisavam ser vistos fazendo algo sobre os ataques. Parece que Hagrid foi o suspeito cinquenta anos atrás."

Harry sentiu-se culpado. O meio gigante havia sido seu primeiro contato com o mundo mágico e, mesmo assim, o garoto o visitava poucas vezes durante o ano.

"Isso não faz sentido!" Disse Harry confuso. "Nós conhecemos Hagrid. Prendê-lo por tentar fazer um cruzamento ilegal entre uma manticora e um dragão? Talvez! Mas atacar estudantes?" Questionou o garoto com irritação. "Isso é absurdo!"

Sussurrou indignado.

Neville assentiu com seriedade.

"Você tem razão." Concordou ele. "Não acharam provas conclusivas da primeira vez, por isso ele foi solto." Disse o menino tomando um gole de seu suco. "Isso não impediu que eles quebrassem sua varinha, no entanto."

Harry estava claramente desconfortável com o assunto e queria sair dali o mais rápido possível.

"Tem mais uma coisa." Alertou Neville antes que seu amigo pudesse deixar a mesa. "Hagrid deixou um recado antes de sair."

"O que ele disse?"

Perguntou Harry curioso e um pouco exaltado.

"Ele disse que qualquer um que estivesse interessado em descobrir mais sobre os ataques, deveria começar seguindo as aranhas."

Harry assentiu, levantou-se e saiu do salão.

Ele sabia o que tinham que fazer.

Antes, Harry havia estimulado o interesse de Neville em sua investigação para que ele tivesse mais tempo sozinho para seus estudos. Agora, ele precisava ajudá-lo. Ele não estava lá quando seu amigo foi preso, mas ele ajudaria a limpar seu nome, de um jeito ou de outro.

Quando Neville o alcançou nos terrenos, Harry não sentia vontade de conversar. No entanto, seu amigo não parecia concordar com ele sobre isso.

"Você não acha estranho que todas as vítimas atacadas sejam alguém que você tem motivos para não gostar?"

Falou Neville antes mesmo de sentar ao seu lado na beira do lago.

Harry olhou para seu amigo alarmado.

"Você está me acusando de alguma coisa?"

Perguntou Harry surpreso e levemente assustado. Se seu melhor amigo duvidasse dele, ele não sabia o que faria.

Neville revirou os olhos.

"É claro que não, idiota!" Falou o Longbottom encarando seu amigo como se ele fosse estúpido. "Não foi isso que eu quis dizer. Na verdade, isso nem me passou pela cabeça. Por que diabos você pensaria isso?"

Harry balançou a cabeça desanimado e ignorou a pergunta.

"Não importa." Voltou a falar Neville. "O que eu estava dizendo é que temos um grupo muito variado de vítimas até agora. O que todas elas têm em comum, é o fato de que você não gosta muito delas."

Apontou o jovem.

Harry já havia pensado nisso.

Era, de fato, muito estranho.

Começou com a gata, Harry a odiava por motivos óbvios. A vítima seguinte foi Granger, que já nutria uma antipatia por ele e passou a antagonizá-lo com mais força após o início dos boatos sobre ele. Em seguida veio Justin, a quem Harry supostamente intimidou durante o clube de duelos. Além disso, o garoto também havia se tornado um ferrenho crítico após o ocorrido. A última vítima era quem Harry tinha menos motivos para não gostar. É claro, o garotinho havia o perseguido nas primeiras semanas de aula, assim como o fotografado em algumas situações embaraçosas durante o ano, mas isso o incomodou por pouco tempo.

"Eu sei!" Finalmente falou Harry. "Eu estou tentando não parecer paranoico, mas isso tem me preocupado um pouco."

Neville parecia pensativo.

"Você acha que o culpado pode estar tentando fazer usar você como um bode expiatório?"

Questionou o Longbottom com incerteza.

"Talvez." Ponderou o garoto. "Acho que foi uma coincidência no início, mas depois de tudo que aconteceu." Harry fez uma careta. "É uma possibilidade."

O garoto Longbottom resolver que era uma boa hora para mudar de assunto.

"O que você acha sobre a dica de Hagrid?"

Harry demorou um momento para responder enquanto encarava a floresta ao longe.

"Vale a pena investigar, vamos essa noite se estiver tudo bem para você."

Sugeriu o garoto.

"Tudo bem." Disse Neville enquanto assentia pensativo. "Mas pode ser perigoso."

"A floresta sempre é."

Concordou Harry.

Seu amigo pareceu curioso com a colocação.

"Por que você acha que o que procuramos está na floresta?"

"É apenas um palpite." Falou aparentando cansaço. "Você não lembra das aranhas que Granger encontrou algumas semanas atrás?"

Perguntou Harry lembrando seu amigo sobre o acontecido.

Os olhos de Neville se iluminaram em reconhecimento.

"Tem razão!" Falou simplesmente. "Isso é uma droga, eu odeio aquele lugar."

"Você não é o único."

Harry pretendia dar fim a conversa mas mesmo sua pretensão foi interrompida pela chegada da professora de transfiguração que parecia alarmada.

"Sr. Longbottom, Sr. Potter." Cumprimentou ela apressada. "O diretor mandou chamá-lo, é urgente."

Falou a mulher acenando para que Harry acompanhasse.

O garoto por sua vez despediu-se rapidamente de seu amigo que permaneceu para trás encarando a cena com confusão.

A viagem até o escritório do diretor foi rápida. Harry lutou para acompanhar os passos apressados da professora que andava em silêncio na sua frente.

"Aqui estamos! Acredito que o senhor conheça a senha."

Falou a mulher, saindo antes que Harry tivesse a chance de dizer qualquer coisa.

A gárgula familiar se moveu ao som da senha, dando passagem para Harry que, por sua vez, adentrou preocupado no escritório de seu mestre.

A sala estava inalterada, como Harry a conhecia. Em um canto parado ao lado do poleiro de sua Fênix estava Dumbledore acariciando seu familiar.

"Harry, é bom vê-lo."

Disse o homem como forma de cumprimento.

"Diretor."

Cumprimentou o garoto sem saber o que dizer.

O velho virou-se para Harry. Só agora o garoto percebeu o quão cansado parecia o seu mestre.

"As notícias não são boas, Harry." Começou o velho se dirigindo até sua mesa, onde sentou-se. "Diante dos recentes acontecimentos o ministério se viu obrigado a tomar algumas providências."

"Eu ouvi sobre Hagrid." Harry sussurrou incomodado. "Ele é inocente!"

Dumbledore assentiu e voltou a falar.

"Ele é!" Reconheceu simplesmente o velho. "E é uma lástima o que aconteceu, mas não é disso que eu estava falando."

O garoto agora parecia confuso e um pouco assustado.

"Eles não vão me prender, certo?"

Dumbledore riu sem humor.

"Não, Harry, eles não vão." Respondeu o diretor. "Seu interrogatório foi uma medida tomada apenas pela pressão. O ministério não acha realmente que você é culpado de qualquer coisa."

Explicou Dumbledore para seu aluno que o ouvia atentamente.

"Então por que eu estou aqui?"

"Ontem à noite, ao mesmo tempo em que o ministro e seus aurores levavam Hagrid em custódia, ocorreu uma reunião entre os conselheiros da escola." Esclareceu o homem. "A reunião debatia os recentes ataques e as possíveis soluções. Eles decidiram que o melhor a se fazer, neste momento, é me afastar do cargo de diretor."

Por um segundo Harry não entendeu o que ele estava ouvindo. A ideia era tão impensável que ele chegou a imaginar que seu mestre estava fazendo uma brincadeira de mal gosto.

"Isso é impossível." Disse o garoto calmo, sem acreditar em uma palavra do que havia escutado. "Eles não podem fazer isso, não faz sentido algum."

Dumbledore tinha um olhar carregado de tristeza.

"Receio que eles possam." Disse o homem. "Eles me deram até as cinco da tarde de hoje para deixar as dependências da escola. Os meus pertences pessoais já foram levados e resta apenas alguns poucos assuntos para resolver, o anúncio será dado no jantar de hoje."

Harry parecia amargo e assustado.

"Então é assim?" Perguntou. "Eles te chutam pela porta dos fundos, como se não fosse nada." Falou indignado. "Depois de tudo que aconteceu."

"Nada está perdido Harry." Falou o velho em um esforço para acalmar seu aluno. "Farei o possível para reverter a decisão o mais rápido que puder, se tudo der certo estarei de volta para o cargo antes do fim do ano letivo."

"Mas e até lá?" Sussurrou o garoto. "Me leve com você!" Pediu o garoto para a surpresa de seu mestre. "Com todos esses ataques, Hogwarts não tem chances."

"Hogwarts ficará firme!" Garantiu Dumbledore não deixando espaços para dúvidas. "Os professores protegerão todos os alunos. Além do mais, você deve ficar aqui, Harry." Disse o homem para a surpresa do garoto. "Ainda que não seja oficial, eu lhe considero meu aprendiz." Revelou Dumbledore aumentando o choque da situação. "Seu ensino está incompleto e você tem muito a aprender, mas você é bom o suficiente para se proteger e proteger seus amigos, caso seja necessário. Não há motivo para pânico."

Falou o diretor finalizando seu discurso.

Os ombros de Harry caíram em derrota.

"Tudo bem, eu ficarei aqui."

Murmurou o garoto contrariado.

Dumbledore assentiu e sorriu contente.

"Aqui, fique com isso."

Falou o homem entregando um livro para seu aluno.

Se tratava de um tomo grosso, a capa trabalhada em couro já muito desgastado pelo tempo, mal se podia ler as letras entalhadas no material.

"O que é?"

Perguntou o jovem abatido.

"Eu só pedi que viesse até aqui para entrega-lo a você." Falou o homem. "Mesmo que eu não esteja aqui, seus estudos não podem ser interrompidos." Explicou o diretor, agora afastado do cargo. "Boa parte do que eu espero que você aprenda está nesse livro, o restante você terá que procurar por si só."

Falou o homem abrindo o livro e mostrando um pergaminho que estava solto entre duas páginas. Se tratava de uma lista de tópicos detalhados, um guia de estudos.

"Você espera que eu aprenda tudo isso?"

Perguntou o garoto chocado ao ver a extensa lista de temas complexos que seu mestre havia lhe atribuído.

"É claro que não." Falou Dumbledore fingindo estar ofendido. "Eu espero que meu aprendiz vá muito além disso." Falou como se tratasse de uma obviedade. "A lista e o livro contém apenas o mínimo, os seus estudos paralelos também devem avançar." Demandou. "Agora, eu devo me despedir, resta pouco tempo e muito a ser feito." Disse o velho diretor levantando da cadeira. "Nós nos veremos em breve, Harry, siga firme."

Disse o homem sorrindo fracamente e apontando para a porta.

Harry reconheceu a demissão e saiu da sala, deixando um último aceno hesitante para seu professor.

A situação estava se deteriorando rapidamente.

Já era bem passado da meia-noite quando a sala da Grifinória finalmente se esvaziou, Harry não havia voltado para o dormitório aquela noite, preferiu permanecer na biblioteca, começando sua pesquisa sobre os temas passados por Dumbledore. Portanto, não era uma surpresa que ele tivesse que esperar do lado de fora do buraco do retrato até que Neville saísse.

"Você demorou." Acusou Harry em tom baixo permitindo que seu amigo entrasse embaixo da capa ao seu lado.

"Desculpe, a sala estava lotada até agora." Respondeu o garoto em tom contido. "Vamos indo, antes que a Mulher Gorda acorde."

Harry assentiu antes de começar a andar. Demorou alguns andares para os garotos sincronizarem seus passos, mas antes que chegassem a saída do castelo já conseguiam caminhar sem que seus pés ficassem para fora da capa.

Neville sugeriu que eles abandonassem o uso do objeto mágico assim que saíram para os terrenos, mas Harry preferiu que chegassem até os fundos da cabana de Hagrid antes de abdicar da segurança do manto.

"Você acha que é uma boa ideia?"

Perguntou Neville reconsiderando suas ações após encarar a visão intimidadora da Floresta Proibida encoberta pelo véu da noite.

"É claro! Nós já estivemos lá dentro antes." Falou Harry fingindo tranquilidade. "Vamos, não temos tempo a perder!"

Falou tomando a frente e adentrando pela pequena trilha usada por Hagrid, habitualmente.

"Essa floresta parece mais sinistra a cada vez que me aproximo dela."

Comentou Neville desviando de um galho.

"Interessante você dizer isso." Falou Harry olhando curioso para a escuridão a sua volta. "Eu li uma teoria engraçada sobre florestas mágicas. Dizem que elas se alimentam da magia usada nas proximidades."

Neville franziu a testa.

"E o que isso quer dizer exatamente?"

"Quer dizer que elas crescem." Explicou Harry apontando para algumas aranhas correndo por uma bifurcação na trilha do lado esquerdo. "Nos anos cinquenta foram feitas medições e marcações na floresta proibida. Eles descobriram que a vegetação avançou vários metros no que antes era terreno livre, muito mais do que o esperado, isso em um período de cento e cinquenta anos."

"Isso é impressionante." Respondeu o garoto Longbottom surpreso. "Isso significa que um dia a floresta alcançará a escola?"

"Eu não sei." Falou Harry hesitante. "Mas seria uma suposição segura, eu acho." Comentou enquanto parava de andar. "Nós não viemos pra esse lado da floresta na outra vez."

Neville assentiu.

No ano passado, quando os garotos estiveram naquele lugar, eles haviam tomado a bifurcação da direita quando se aproximaram da clareira dos centauros. Dessa vez, eles entraram pelo lado esquerdo.

"É uma trilha bem marcada." Observou Neville. "Será que Hagrid vem muito aqui?"

"Talvez."

Disse Harry, incerto do que responder.

A cada passo em que se embrenhavam mais fundo na floresta, o ambiente ao seu redor se tornava mais escuro e sinistro. Na trilha principal, que levava até a clareira em que os centauros moravam, o luar iluminava o caminho, mas agora Harry precisava manter sua varinha acesa em um esforço para enxergar seu entorno.

"Talvez devêssemos desistir."

Sugeriu Neville ao sentir um arrepio em sua coluna.

"Já chegamos até aqui." Respondeu o garoto de olhos verdes. "Acho que devemos ir até o fim."

Terminou de falar e voltou a caminhar em direção ao breu.

A trilha inevitavelmente ficou mais difícil conforme eles andavam. As aranhas enfileiradas, que antes existiam em uma quantidade considerável, se tornavam escassas e os garotos precisavam esperar por alguns momentos até que uma aparecesse.

Os dois andaram por mais de meia hora antes de Neville segurar o ombro de Harry e apontar para algo na escuridão.

"Eu vi algo mexer naquela direção." Disse o garoto com voz trêmula. "Era muito grande!"

"Eu não vi nada." Disse Harry revirando os olhos. "Não se borre todo, Longbottom. Vamos continuar!"

No entanto, antes que o garoto tivesse a chance de encerrar seu raciocínio ou voltar a andar, sentiu algo o agarrar pela cintura e o derrubar no chão. Ao seu lado ouviu Neville gritar e imediatamente foi arrastado ao som dos seus próprios grunhidos de pânico, assim como os de Neville.

"Eu avisei que havia visto algo!"

Gritou Neville tentando se libertar do ser que o arrastava sem hesitar.

O ângulo não permitia que Harry visualizasse a criatura que o atacava, mas, por outro lado, ao virar-se na direção de seu amigo foi surpreendido. Neville lutava para se libertar de uma aranha gigante.

"São acromântulas! Não seja envenenado!"

Alertou Harry sem conseguir se libertar.

Antes que qualquer um dos garotos pudesse se livrar do aperto firme do animal monstruoso, foram surpreendidos pelos barulhos inumanos emitidos pelo ser. Como se ouvisse a um chamado, uma aranha muito maior do que as duas que seguravam os amigos desceu da copa de uma árvore.

Era um ser imenso, quase do tamanho de um carro. Coberto por pelos, e possuindo pinças do tamanho de um braço humano. A maior parte dos seus olhos era inútil, possuíam um aspecto leitoso como se tivessem sido vazados. Em resumo, era um ser absolutamente nojento e aterrador.

"Hagrid?" Perguntou o animal gigante em uma voz profunda. "Não, nenhum de vocês é Hagrid. Ele não entraria aqui assustando minha família e perturbando as criaturas da floresta." Observou o monstro para o terror dos adolescentes. "Vocês devem ser comida."

Como se fossem comandadas pelas palavras do patriarca, centenas de aranhas do tamanho de cães adultos desceram lentamente das árvores, emitindo sons horríveis.

"Somos amigos de Hagrid!" Gritou Neville apavorado. "Ele nos mandou até aqui! Queria que fizessemos algumas perguntas."

O ser parecia confuso e chateado.

"Hagrid não traz estranhos." Falou ele como se ditasse uma regra. "Ele traz comida."

Decretou.

"Espere!" Dessa vez foi a vez de Harry implorar. "Hagrid está com problemas, ele nos mandou para perguntar algumas coisas que podem salvá-lo."

"Com problemas, você diz." Considerou a aranha. "O que aconteceu, exatamente?"

Perguntou o monstro demonstrando um mínimo de curiosidade.

"Os homens do governo acham que Hagrid fez algumas coisas ruins." Explicou Neville. "Eles acham que ele andou atacando os alunos. Ele foi preso em Azkaban."

"Outra vez?" Perguntou o monstro indignado. "Eles já tentaram esse truque, há anos." Elaborou. "Ele foi acusado de abrir um quarto secreto que aprisionava um ser aterrorizante. Os homens estranhos acharam que eu era esse monstro." O ser emitiu um som que parecia suspeitosamente com um rosnado. "Ele foi expulso por causa disso."

"E você não é?"

Harry perguntou tentando pescar mais informações.

"É claro que não!" Zombou a acromântula furiosa. "Eu vim de uma terra muito distante, no bolso de um viajante. O homem que me trouxe até aqui me deu como um presente para Hagrid, que cuidou de mim por todo esse tempo." O barulho das pinças parecia o som de um trovão. "Ele era só um garotinho cuidando e fazendo amizade com um ser que achava fascinante. Não, eu não sou o monstro. O monstro é uma criatura perversa, nós temos medo dele." Explicou. "Ele nasceu no castelo e nunca conheceu nada além das entranhas imundas do edifício de pedra estranho."

"Então você não atacou os alunos?"

Perguntou Neville em confirmação.

O ser bateu as pinças em aborrecimento.

"Não, eu sou inocente!" Alegou com firmeza. "Assim como Hagrid, ele é um bom homem, me apresentou a minha esposa." Sua voz se tornou mais brilhante por um segundo ao citar sua companheira. "Meus instintos são fortes, mas eu tenho respeito por Hagrid." Disse de forma assertiva. "Eu não conheço o gosto da carne humana."

"Nesse caso." Começou Harry levantando-se ao perceber que a acromântula que o segurava havia lhe dado algum espaço. Neville seguiu seu exemplo. "O que é o responsável pelos ataques?"

Ao som de sua pergunta as aranhas a sua volta se agitaram e o som de suas pinças tomou conta do ambiente.

"Nós não falamos seu nome." Disse a acromântula em voz baixa. "É um ser vil e nós o tememos mais do que qualquer coisa. Eu não ousaria falar sobre ele, nem mesmo para Hagrid."

Terminou a aranha, sem deixar espaço para discussão.

Harry achou melhor não insistir, seu instinto foi confirmado quando percebeu que as aranhas menores estavam se aglomerando em maior quantidade ao seu redor. A acromântula pareceu notar a impaciência de seus convidados, assim como sua ânsia em sair daquele lugar.

"Foi uma boa conversa." Disse a criatura. "É uma pena que nem um de vocês seja Hagrid." Comentou a aranha em um tom quase pesaroso. "Eu não permito que meus filhos e filhas o ataquem, mas não posso negar-lhes comida quando a refeição vêm caminhando com suas próprias pernas até o nosso ninho. Adeus, amigos do Hagrid."

Harry agiu rápido. Antes que a aranha mais próxima tivesse uma chance de atacar o garoto agarrou Neville pelo braço e explodiu em uma corrida rápida pela trilha fechada e sinuosa pela qual eles haviam vindo. Neville não demorou a perceber o perigo e acompanhar seu amigo. Em sua volta, barulhos de pinça e guinchos tomavam o ambiente e, em seus calcanhares, as aranhas enormes se aproximavam com rapidez.

"Temos que nos afastar da maior!"

Explicou Harry para seu amigo confuso que assentiu e começou a lançar feitiços variados para trás.

Os amigos conseguiram correr por um tempo considerável antes que a primeira acromântula alcançasse Neville.

Antes que o ser tivesse a chance de envenenar seu amigo, Harry agiu.

"Arania Exumai!" O feitiço queimou e jogou a aranha para longe. "Lacero!"

Gritou Harry enviando, na direção da aranha, uma maldição das trevas que a partiu em duas.

"Nos afastamos o suficiente?"

Perguntou Neville tentando se levantar enquanto ao seu redor surgiam centenas de aranhas.

"Eu espero que sim." Respondeu Harry nervoso se preparado para seu próximo ataque. "Ignis!"

Gritou o garoto usando uma de suas magias preferidas.

Diferente do feitiço Incendio, padrão quando se tratava de criar fogo, o Ignis era de longe uma ferramenta muito mais versátil e ofensiva. Enquanto usuários iniciantes do feitiço veriam pouca diferença entre ele e seu primo mais simples, um usuário experiente poderia criar um inferno controlado.

Harry ainda não havia atingido o nível do seu mestre, que segundo os livros de história, havia nivelado uma pequena floresta em sua luta com Grindelwald, usando apenas esse feitiço. Mesmo assim, o jovem era capaz de seus próprios feitos impressionantes.

Os olhos de Neville se arregalaram em resposta às ações de seu amigo. Em volta dos dois garotos surgiu o que a primeira vista tratava-se de uma cúpula de chamas claras. Olhando com mais atenção, era possível perceber que eram apenas labaredas girando incansavelmente ao redor de Harry.

O garoto não demorou a cansar-se de se manter na defensiva. Quando as labaredas se separaram em diferentes direções, era possível ver ao chão, carbonizadas, algumas dezenas de aranhas.

Não ligando para a chacina que criava, Harry seguiu controlando as chamas para que se envolvessem ao redor dos aracnídeos que, em um último ato, tentavam fugir de seu algoz. Para um olhar desatento, o incêndio parecia incontrolável e furioso; mas, pelo olhar concentrado e suor na testa de seu amigo, Neville sabia que se tratava de uma dança extremamente controlada, afinal as chamas, que pareciam selvagens, estavam firmemente a mercê da contenção de Harry.

Em um estalo o fogo se dissipou como se nunca tivessem existido e Harry caiu de joelhos, com as mãos espalmadas no chão, enquanto ofegava.

"Isso foi incrível!" Falou Neville correndo para ajudar seu amigo. "Você precisa me ensinar!"

"É claro." Disse Harry recuperando o folego. "É um feitiço simples, fácil de usar, mas difícil de dominar."

"Quanto tempo você demorou pra dominá-lo?"

Neville perguntou curioso.

Harry riu incrédulo.

"Eu não estou nem perto de dominar." Explicou. "Um mestre poderia transformar uma floresta em cinzas com poucos segundos, sem suar."

Neville parecia surpreso.

"A Floresta Proibida?"

Perguntou sem acreditar.

Harry hesitou e depois riu.

"Talvez uma floresta menor." Neville acompanhou seu riso. "Vamos, temos que sair daqui, logo elas vão recuperar a coragem."

Disse Harry levantando-se após se recuperar do uso de magia.

O caminho até o fim da floresta foi apressado e Harry só sentiu-se tranquilo após a metade da trilha, quando pode perceber os olhos curiosos seguindo-os pela mata, ele podia dizer que os centauros estavam vigiando seus passos.

Eles estavam finalmente em segurança, mas ainda havia um mistério terrível a ser resolvido.