Update: Essa história está em processo de atualização, os capítulos serão todos revistos e os erros e incoerências mais graves corrigidos e, principalmente, a escrita suavizada; dito isso, esse capitulo já passou pela revisão.
"Então." Falou Neville encarando seu amigo que folheava páginas e mais páginas de uma pilha crescente de livros. "O que faremos agora?"
Harry nem se incomodou em tirar os olhos do livro antigo que detalhava os hábitos de diferentes espécies de aranhas mágicas.
"Nós continuamos, tem que estar aqui em algum lugar."
"Nós estamos procurando há dias." Gritou Neville, que recebeu um olhar severo da bibliotecária. "Nós já lemos dezenas de livros sobre criaturas mágicas, nada se encaixa."
Voltou a falar o garoto em tom mais contido.
Harry fechou o livro irritado.
"Nós estamos deixando passar algo." Falou o garoto frustrado. "Nenhuma dessas criaturas pode petrificar alguém."
O rosto de Neville se contorceu em um esforço para solucionar o quebra-cabeças.
"Talvez eles não estejam realmente petrificados." Sugeriu o garoto. "Talvez seja uma espécie de paralisia ou estase mágico."
Agora foi a vez de Harry fazer careta.
Ele lembrava muito bem o que havia sentido da mágica que permeava por Granger.
"Não." Respondeu o garoto com certeza. "Dumbledore não se enganaria, não com algo assim."
Neville agora parecia incerto.
"Talvez devêssemos esperar."
Sugeriu o Longbottom perdendo as esperanças.
"Nós não temos tempo, não seja idiota."
Descartou Harry com facilidade voltando a abrir o livro que vasculhava anteriormente.
"Não, escute." Recomeçou seu amigo. "Nos próximos dias as mandrágoras estarão prontas para colher." Explicou. "Quando as vítimas acordarem elas poderão contar quem é o culpado."
A atenção de Harry foi desviada de seu amigo por um pequeno trecho escrito despretensiosamente no livro que lia.
Harry alertou seu amigo.
"Neville, veja isso."
Falou virando o livro para seu amigo e apontando para o trecho correto.
Os olhos do rapaz correram pelas linhas rapidamente e sua feição se tornou surpresa.
"Acromântulas tem medo de algumas espécies de serpentes mágicas." Repetiu o que acabará de ler. "Estranhamente, isso faz sentido."
Murmurou o jovem.
Harry assentiu incomodado.
"Alguém deveria ter desconfiado, é claro que o monstro de Salazar seria uma cobra."
Comentou ele.
"Bom, isso facilita as coisas." Voltou a falar Neville. "Qual serpente pode petrificar?"
"Nenhuma, até onde sei."
Neville gemeu.
"Não poderia ser muito grande." Começou a deduzir Neville. "Alguém teria notado, então procuramos alguma espécie pequena ou média."
"Talvez não." Interrompeu Harry, ajeitando os óculos. "Existem várias passagens secretas pelo castelo, não há como saber se alguém veria o monstro por aí."
O rosto de Neville endureceu.
"Há uma coisa engraçada sobre Hogwarts, uma espécie de curiosidade." Falou o menino com cuidado. "Minha avó me contou sobre isso, o castelo é equipado com um sistema colossal de encanamentos, os alunos na época dela costumavam procurar por eles." Explicou o menino. "Nos anos trinta, os professores descobriram dois acessos que davam para fora do castelo, as passagens estão bloqueadas desde então."
"Canos." Repetiu Harry enquanto ponderava. "Isso faz sentido, eu suponho."
"Supostamente, eles são bem grandes, foram desativados ainda na época dos fundadores. Acho que eles foram abandonados porque era muito difícil mantê-los em bom estado." Falou Neville. "Agora eles usam sistemas menores de encanamento alimentados por magia, como na maioria das propriedades antigas."
"Isso explica a questão da mobilidade." Falou o garoto de olhos verdes diante da explicação de seu amigo. "No entanto, isso só piora as coisas. Poderia ser uma serpente pequena ou um basilisco gigante até onde sabemos."
"Definitivamente não um basilisco." Disse Neville. "Estaríamos todos mortos se fosse."
Harry deu de ombros.
"Não se recebeu ordens de alguém."
O garoto só percebeu a implicação do que havia dito depois de proferir as palavras.
"Isso é uma confissão de culpa, por acaso?"
Brincou Neville tentando aliviar o clima.
Harry apenas balançou a cabeça e procurou outro livro da imensa pilha equilibrada na borda mais afastada da mesa.
"Vamos supor o pior!" Disse o menino folheando um bestiário do século XIII. "Digamos que seja um basilisco, o que sabemos sobre ele?"
"Além do obvio? Não muito." Disse Neville lembrando do pouco que sabia sobre a criatura. "É grande, venenoso, e mata com um olhar."
Resumiu o garoto.
"Isso não ajuda muito."
Argumentou Harry.
"Ajuda a saber como ele vai te matar se você for estúpido o suficiente pra se aproximar." Voltou a falar o Longbottom. "Bom, tecnicamente você nem precisa se aproximar tanto."
"Isso não importa." Reiterou o rapaz frustrado. "Como se mata um basilisco? Alguém já deve ter precisado lidar com um."
Neville revirou os olhos.
"Isso é conhecimento comum, na verdade." Falou o garoto entediado. "No século XVI um lorde das trevas pensou que era uma boa ideia criar vários basiliscos. As famílias começaram a manter galos em sua propriedade para combater a infestação, é por isso que a maioria das casas mágicas possui seu próprio galinheiro até hoje."
Harry ainda se surpreendia com seu amigo. O garoto era uma enciclopédia de conhecimento inútil.
"Isso resolve as coisas." Disse em tom de finalidade. "É um basilisco."
"Você não pode ter certeza."
Negou Neville com um olhar amedrontado.
"Mais cedo este ano, Dumbledore comentou que alguém assassinou todos os galos da escola." Explicou Harry. "É um basilisco."
Reafirmou o garoto de olhos verdes.
"Isso é horrível!" Disse o Longbottom começando a entrar em pânico. "Precisamos contar para alguém!"
Harry hesitou, mas assentiu.
"Talvez algum dos professores." Sugeriu. "Ou o ministério."
"Eles não acreditariam." Disse Neville derrotado. "Enviarei uma carta para minha avó, ela saberá o que fazer."
Falou levantando-se da cadeira e acenando uma despedida apressada.
Felizmente, Neville conseguiu mandar a carta endereçada à sua avó naquele início de tarde e Augusta parecia ter levado a teoria de seu neto muito a sério. No início da noite, a mulher apareceu em Hogwarts surpreendendo ambos os garotos que haviam se mantido na sala comunal durante tudo aquele dia. Infelizmente para os garotos, as notícias não eram nada boas.
Ainda era cedo quando uma quantidade grande alunos de anos variados começou a entrar pelo buraco do retrato, todos com rostos confusos e levemente irritados. Não demorou muito para os garotos descobrirem que em todos os corredores havia soado um alarme indicando que os alunos que estavam perambulando pela escola deviam se dirigir aos seus aposentos.
Quando a sala já estava lotada, surgiu pela entrada a diretora interina, portando uma feição arrasada.
"As notícias não são boas." Começou a mulher sem delongas. "Houve outro ataque, os professores se juntarão para discutir o que será feito, mas já adianto a todos os que estão aqui que, se algo não mudar significativamente até amanhã, Hogwarts será provavelmente fechada." O caos irrompeu pela sala. Gritos, burburinhos e olhares apavorados podiam ser vistos por todos os lados. "Acalmem-se todos!" Comandou a professora. "Organizem suas malas e aguardem mais informações."
O recado estava dado, mas para a surpresa de Harry e Neville a mulher dirigiu-se andando até eles.
"Sr. Longbottom, sua avó chegou ao castelo a poucos minutos." Explicou a professora. "Ela já foi informada sobre os últimos acontecimentos e resolveu levá-lo para casa o mais rápido possível." Falou a mulher. "Me acompanhe até seu dormitório, ajudarei a organizar seus pertences."
Neville parecia em estado de choque.
"Eu não posso ir embora!" Falou com pouca convicção. "A situação não está tão ruim assim, Hogwarts vai superar isso."
Argumentou o garoto desolado.
"As coisas estão muito ruins Sr. Longbottom." Voltou a falar a mulher. "Além disso, receio que o senhor não tenha muita escolha."
Harry nem escutou o restante da conversa. O tempo que levou para McGonagall convencer seu amigo a ir ao dormitório juntar suas coisas e a volta dos dois até a sala nem foi registrada por ele.
"Potter." Falou Neville em tom abatido, chamando atenção de seu amigo que estava sentado em uma poltrona olhando para a parede. "Eu tenho que ir, parece que as coisas estão ruins."
"Eu sei!" Falou Harry com um sorriso forçado. "Não se preocupe, vai ficar tudo bem!"
Neville não parecia animado.
"Eu sei bem no que você está pensando." Disse o Longbottom com seriedade. "Tome cuidado!"
Harry fingiu confusão.
"Eu não sei do que você está falando."
Seu argumento vazio foi interrompido por um curto, e surpreendente, abraço de Neville.
Agora Harry estava em alerta. Os dois eram amigos próximos, mas não eram chegados em demonstrações de afeto, então não foi surpreendente quando Neville começou a sussurrar sorrateiramente.
"O banheiro das garotas no segundo andar." Falou ele com urgência. "Eu começaria por lá." Disse o menino antes de se afastar encerrando a despedida. "Tudo bem! Então é isso!" Falou virando-se para a professora que aguardava impacientemente prestando atenção na conversa dos dois amigos. "Até breve!"
"Até breve Longbottom." Respondeu Harry sorrindo, ainda surpreso pela demonstração de sutiliza apresentada por seu amigo. "Não se preocupe, eu vou cuidar das coisas por aqui."
O Longbottom sorriu de costas e seguiu a diretora interina para fora da sala. Harry desabou, ele estava sozinho agora e ainda havia um trabalho a fazer.
Vendo que a sala havia esvaziado naquele tempo, Harry não perdeu tempo em envolver-se em seu manto e seguir a professora para fora pelos corredores. Ele acompanhou os passos da mulher e de seu amigo até a entrada principal do castelo, onde Augusta não tardou em levar seu neto para longe. Sozinha, McGonagall seguiu até a sala de reuniões da equipe.
As grandes portas do cômodo se abriram completamente, com um aceno de varinha da mulher. Harry tratou de se esgueirar pela porta e encolher-se em um canto do cômodo.
O restante da equipe já estava posicionada para o início da reunião, aguardando a sua superior. O rosto da maioria era de desânimo, a feição do fracasso. O restante tinha um olhar de pavor e incerteza.
"Finalmente, ocorreu o que todos temiam." Disse a mulher com uma voz dura. "Uma aluna foi levada até a câmara e se a mensagem deixada pelo agressor valer de algo, ela não saíra de lá com ou sem vida."
O estômago de Harry afundou e ele sentiu uma inexplicável vontade de vomitar.
Sussurros e alguns gritos assustados tomaram conta da equipe, mesmo o fantasma que ensinava história possuía um olhar assombrado.
"Essa informação é correta? Tem certeza?"
Perguntou Snape entre os dentes enquanto apertava o braço da cadeira.
"O esqueleto dela jazerá na câmara para sempre." Disse a mulher em tom assombrado. "É o que dizia a mensagem."
"Quem é a aluna?"
Alguém perguntou em meio aos burburinhos.
"Sarah Richards!"
Respondeu McGonagall sem rodeios.
Harry sentiu o gosto do fel em sua boca e seu sangue gelou. Ele gritaria se não tivesse mordido o próprio braço em uma tentativa de manter-se calado. Seu esforço para se manter quieto não impediu, no entanto, que as lágrimas rolassem por seu rosto assombrado.
"Não temos mais escolha." Decretou a mulher. "Esse é o fim de Hogwarts, de uma vez por todas! Os alunos irão para casa amanhã." A mulher considerou a situação por um instante, antes de voltar a falar. "Gilderoy!" Falou em tom derrotado para o homem, que muito parecido com Harry, se encolhia no canto. "Você pediu carta branca por meses, você tem uma noite!"
O homem parecia ainda mais apavorado do que antes. Infelizmente para ele, ninguém parecia querer vir ao seu socorro. Snape enviava um olhar vingativo em seu caminho e tinha em seu rosto um sorriso de desgosto.
"Certo!" Disse o homem em meio a uma crise de gagueira. "Eu vou me preparar."
Disse enquanto abandonava a sala correndo de forma patética.
A diretora interina ainda deu as últimas instruções para sua equipe, mas Harry já não prestava atenção. Sua mente estava na garota a quem ele vinha sistematicamente ignorando durante todo o ano. Mesmo com todo o incentivo de Neville para que falasse com ela, e os alertas de que a garota estava solitária, Harry seguiu isolando-a. Agora ela estava nas profundezas do castelo, viva ou morta, era impossível dizer.
Talvez essa fosse a pior sensação que o garoto lembrava de ter sentido em toda sua vida. Sentia-se, sobretudo, culpado, talvez se estivesse com ela poderia ter impedido que a levassem. Se ao menos pudesse fazer algo.
E de repente veio-lhe resignação, ele não podia abandoná-la outra vez, se havia uma chance, por mais ínfima que fosse, ele a salvaria.
Incrivelmente ele foi o último a sair da sala de reuniões, as tochas já haviam apagado e os corredores pareciam mais frios do que nunca. Pela primeira vez em muito tempo, percorreu os andares da escola sem enrolar-se em sua capa, não havia mais sentido.
O caminho até o segundo andar pareceu muito longo e o banheiro das garotas que, há tantos anos, havia presenciado um ato horrível, parecia estranhamente normal.
De repente, Harry viu-se obrigado a parar, havia uma voz em suas costas.
"Quem é você."
Perguntou a voz feminina, etérea.
O susto de Harry passou tão rápido quanto veio. Tratava-se de uma menina fantasma que havia acabado de sair de um dos cubículos.
"Sou Harry." Disse o garoto sem saber o que dizer. "Amigo de Neville."
A menina assentiu e pareceu abrir um pequeno sorriso.
"Doce Neville! Ele veio me visitar várias vezes esse ano." Comentou a menina. "Você vai me visitar também?"
Perguntou a fantasma se animando.
Harry deu de ombros.
"Eu não sei se terei a chance." Respondeu o rapaz. "Eles fecharão Hogwarts amanhã, por causa dos ataques."
Myrtle parecia melancólica.
"E o que você faz aqui então?"
Perguntou voltando para sua personalidade triste e característica.
Harry hesitou, lhe ocorreu que ele não sabia o que fazer. Ele havia seguido os passos que Neville tinha indicado durante todo o fiasco que os dois chamaram de investigação, mas agora ele estava sozinho.
"Eu não sei." Admitiu o menino com sinceridade. "Acho que eu só estava curioso, como foi que você morreu?"
Perguntou tentando pescar qualquer informação que lhe desse um norte.
O rosto da menina, que antes segurava uma feição de desânimo, abriu-se em um sorriso contente.
"Neville me perguntou a mesma coisa." Disse ela. "Foi horrível, é claro! Bem aí onde você está parado." Harry moveu-se discretamente para o lado. "Lembro-me bem, eu saí do cubículo por que alguém chamou a minha atenção. Eu estava chorando no dia, pois uma garota idiota havia me insultado." Narrou a fantasma concentrada em seu conto fantasmagórico. "Quando ouvi a voz de um garoto falando coisas estranhas no banheiro, fiquei irritada e saí para tirar satisfações."
A história parou por aí.
Harry esperou alguns segundos antes de perguntar.
"E então?"
"Foi só isso, eu só morri."
Falou a menina voltando ao sorriso melancólico que usava anteriormente.
Harry assentiu.
A menina provavelmente havia dado de cara com o basilisco e morrido antes de perceber o que estava acontecendo. Só havia uma coisa em frente ao cubículo indicado por Myrtle, era uma enorme pia de mármore trabalhada. Não havia nada de especial sobre o objeto à primeira vista.
"Essa torneira nunca funcionou."
Comentou a fantasma ao ver o garoto analisar a pia com cuidado.
Olhando com mais atenção, Harry percebeu que havia uma pequena cobra entalhada no metal. Era uma coincidência em forma de um enfeite curioso ou um sinal.
Ele não costumava a acreditar em coincidências.
Sem nada a perder, o garoto deixou que a magia permeasse por seus sentidos e pôde constatar que, definitivamente, havia algo estranho sobre aquela pia. Diferente do restante da fundação do castelo, que parecia magia sólida em baixo dos seus pés, a pia parecia não estar sustentada em nada, como se houvesse um enorme oco em baixo do ornamento.
"Isso é estranho."
Sussurrou Harry intrigado.
Agora, se ele fosse Salazar Sonserina, que senha ele usaria em sua sala supersecreta?
"Abra!"
Ordenou o garoto, lembrando da serpente que havia atacado seu colega Justin, semanas atrás.
Para a surpresa do rapaz, a língua de cobra funcionou. A pia moveu-se, desaparecendo no chão e dando lugar a um buraco enorme que parecia não ter um fim. Atrás dele, a garota fantasma encarava de olhos arregalados e feição assustada.
"Essa voz."
Resmungou ela.
"Eu não sou ele." Garantiu o menino. "Nós só possuímos algumas semelhanças estranhas."
O fantasma não deu indícios de que ouviu a explicação e simplesmente desapareceu em um dos cubículos apertados.
Harry não correria o risco de mudar de ideia, saltou pelo cano enorme sem pensar duas vezes.
O cano não parecia ter fim, de tempos em tempos o garoto conseguia ver outras saídas que se misturavam e se confundiam em uma rede complexa de encanamentos. O chão chegou em um baque e, desta forma, o menino viu-se deitado em um corredor largo e escuro esculpido em rocha sólida.
Havia uma quantia inacreditável de magia saturando o ar daquelas profundezas e seu dom, desabituado a estar em plena potência em um ambiente tão saturado, era quase inútil no local. Por sorte, havia apenas um caminho para se seguir e o garoto não demorou para começar a andar naquela direção.
O chão estava úmido e volta e meia o som de seus sapatos ecoavam contra uma poça particularmente grande de água. Fora isso, o lugar estava mortalmente silencioso.
Se mantivesse a concentração por tempo o suficiente, o garoto quase certamente poderia ouvir seu próprio sangue correndo acelerado em suas veias.
Não raro, havia o crânio de algum animal não identificado jogado ao chão e o jovem se assustou mais de uma vez ao pisar em ossos perdidos pelo caminho. Foi em uma dessas que, ao virar a varinha para um canto mais distante do túnel, o menino se deparou com a visão horripilante do que a primeira vista parecia uma carcaça de serpente gigante.
Seu engano durou pouco tempo, notou, ao se aproximar, que tratava-se da pele descartada do monstro de Salazar. Era uma visão assustadora, curvilínea e serpenteando pelo canto da sala onde jazia inerte.
"Isso é enorme."
Constatou o garoto com pavor, sussurrando para si mesmo na escuridão do túnel.
Tentando ignorar a monstruosidade da criatura que o esperava, o garoto continuou seu caminho. O corredor entalhado na pedra seguia de forma quase linear, exceto por eventuais degraus que davam a impressão que o caminho se embrenhava cada vez mais nas profundezas da terra.
Após uma interminável reta, o caminho finalmente começou a fazer diversas curvas e após a última delas havia uma pequena câmara, a sua frente uma parede sólida com duas pedras esculpidas em forma de serpente. Os olhos das cobras brilhavam em um tom de verde que fazia Harry sentir-se apreensivo.
Era muito óbvio o que precisava ser feito.
"Abra!"
Assobiou em tom temeroso.
Como o garoto previu, as serpentes recuaram, a parede sólida rachou e recuou abrindo caminho por entre o que antes era rocha sólida.
Entrando na sala, Harry deparou-se com um cômodo enorme e mal iluminado. Haviam colunas de pedra que se entrelaçavam até atingirem o teto alto e diversas estátuas em forma de serpentes dos mais diferentes tamanhos.
O garoto se moveu com cautela, seus olhos presos nas sombras formadas pelas colunas. Não havia sinal do basilisco enorme que, ele sabia, o esperava nas profundezas do castelo. Tão pouco podia ver Sarah ou a pessoa que a trouxe até aqui.
Seus passos ecoavam pelas paredes e teto alto e foi apenas ao atingir a última fileira de estátuas que pode visualizar algo diferente.
Havia um enorme rosto esculpido na pedra. A feição da estátua era enlouquecida e seus cabelos e barba pareciam dançar na penumbra. No pé da estátua, estava o corpo de sua amiga querida.
Harry abandonou a cautela e correu em direção a Sarah que, por sua vez, jazia atirada ao chão, como uma boneca de pano.
"Sarah!" Sussurrou o garoto apavorado enquanto se ajoelhava ao lado da garota. "Não morra, por favor!"
Implorou enquanto afastava o cabelo loiro bagunçado do rosto pálido e sem vida.
A garota não estava petrificada, mas Harry quase desejou que estivesse.
"Você chegou tarde." Disse uma voz indiferente nas sombras. "Ela não vai acordar."
O jovem foi rápido em se colocar na frente do corpo de sua amiga e apontar a varinha para o rapaz que andava lentamente em direção à claridade.
Era um garoto alto, de cabelos pretos e sorria de forma fria. Harry reconheceu a varinha de Sarah em suas mãos.
"Quem é você?"
O menino perguntou cautelosamente ao desconhecido que, despreocupado, sorriu de forma mais enfática.
"Tom." Disse o rapaz deixando escapar uma ponta de desgosto. "Tom Riddle." Completou com simplicidade, mantendo os seus braços cruzados e olhar atento.
Harry reconhecia o nome de uma conversa breve que teve com Neville há algumas semanas.
"Você não pode ser Tom Riddle." Falou mantendo sua varinha levantada. "Ele teria mais de meio século de idade agora."
"Você tem razão." Disse a figura estranha. "Eu sou apenas uma parte dele." Explicou. "Uma memória presa em um diário."
Falou desviando o olhar para um objeto que jazia no chão ao lado de Sarah.
Só agora, Harry percebeu o pequeno diário escuro de aparência inofensiva. Bastou um olhar para que Harry percebe-se que não se tratava de um objeto comum, exalava uma magia poderosa e maligna.
Além da podridão que exalava do diário, o mesmo parecia estar ligado a Sarah de uma forma misteriosa.
"Você a matou?"
Perguntou Harry, rosnando por entre os dentes.
O rapaz, que se auto intitulou Riddle, riu com gosto.
"É claro que não." Negou com bom humor. "Ela mesmo fez isso."
Os dedos de Harry se apertaram ao redor de sua varinha.
"Eu não tenho tempo para isso!" Disse Harry irritado. "Ela ainda está viva! Eu posso sentir!" Revelou o garoto. "Saia do meu caminho!"
O rapaz estranho balançou a cabeça sorrindo de forma cruel.
"Você está enganado, jovem." Disse ele. "Ela só está viva por um fio, não há nada mais a ser feito."
"Você está mentindo."
Disse Harry preparando-se para atacar.
"A ligação com o diário está mantendo ela viva, você chegou muito tarde." Voltou a afirmar. "Se manter a ligação, ela jamais vai acordar e se quebrar o vínculo, ela morre instantaneamente."
"Eu não acredito em você!" Rosnou o garoto se movendo. "Lacero!"
A maldição de corte foi tão certeira quanto inútil, passou por dentro da figura sem causar dano algum.
"Tão rápido em partir para violência desenfreada." Constatou Tom. "Você é mesmo interessante, Harry Potter."
Harry recuou alarmado.
"Eu não disse o meu nome."
"Você não precisa." Falou Riddle como se não importasse. "Eu vi tudo que precisava na cabeça de sua amiga." Revelou a memória enquanto ria. "Tão ansiosa por um confidente. Eu acho que devia agradecê-lo, Harry Potter, se você não tivesse se afastado dela, poderia ter sido mais difícil dobrar sua vontade."
"Do que você está falando?"
Perguntou Harry tentando ganhar tempo.
"Você não é tão brilhante quanto Sarah pensa se não adivinhou ainda." Provocou. "Foi ela esse tempo todo." Falou Tom enquanto voltava a rir. "Quem abriu a câmara, quem atacou os alunos, quem matou os galos da escola e até mesmo as mensagens nas paredes do castelo."
"Isso não faz sentido."
Harry sussurrou olhando horrorizado para sua amiga atirada ao chão.
"No início ela não sabia, mas acho que se acostumou com a atenção." Explicou a memória. "Com o tempo, eu mal precisava forçá-la, tive que obrigar ela a fazer as pazes com as amigas para que não chamasse tanta atenção." Falou enquanto balançava a cabeça. "Ela até me contou sobre você, o menino que sobreviveu."
Harry rosnou ao ouvir sua alcunha, mas isso não impediu Riddle de continuar falando.
"Ela me contou sobre como vocês se tornaram amigos. Como você a salvou de uma morte horrível." Tom desviou seus olhos para a garota no chão. "Ela achava divertido ver você correndo atrás dela como um cachorrinho apaixonado."
"Chega!" Interrompeu Harry frustrado. "O que você quer com isso?"
"O que eu quero? Eu achei que fosse obvio." Falou curioso. "Eu queria terminar o que Salazar começou e eu consegui."
"Não seja estúpido!" Zombou o garoto de olhos verdes. "Ninguém morreu, você falhou!"
Riddle voltou a rir.
"Suas esperanças são patéticas." Disse ele. "Sarah já está morta, negar isso só vai tornar tudo mais doloroso para você. E, além disso, matar um sangue ruim não significa nada para mim." Falou em voz baixa como se revelasse um grande segredo. "Meu verdadeiro alvo é você, a criança que se orgulha de ter derrotado o maior Senhor das Trevas de todos."
Harry encarou seu inimigo com fúria.
"O que Voldemort tem a ver com isso?"
Os olhos de Riddle arderam em fúria ao ouvir o nome.
"Lord Voldemort." Disse em meio a raiva. "É meu passado, presente e futuro." Revelou abrindo os braços. "Você não achou que eu manteria o nome de meu pai trouxa para sempre, não é mesmo?"
Os olhos de Harry se arregalaram em choque.
"Seu tempo acabou, Harry Potter, chega de conversa!"
Disse a memória de Voldemort virando-se para a estátua.
Sua ação foi interrompida por um canto familiar.
Um breve alívio percorreu o corpo de Harry ao escutar o som da fênix de seu mestre. As penas de Fawkes brilharam em chamas e ela surgiu entre os dois homens, derrubando, na frente de Harry, o chapéu seletor. Harry nunca sentiu-se tão grato pela visão do pássaro em toda a sua vida.
"Um pássaro e um chapéu velho?" Riu Voldemort incrédulo. "Essa é a ajuda oferecida pelo grande Albus Dumbledore?" Perguntou. "Pois que seja! Vamos ver como você se saí contra o monstro de Salazar."
Um assobio familiar saiu da boca de Tom.
"Fale comigo, Sonserina, o maior dos Quatro de Hogwarts."
Harry olhou pra trás alarmado, em suas costas o enorme rosto da estátua se mexia, sua boca abriu-se revelando um túnel escuro.
Harry fechou os olhos assim que viu algo mexer-se no buraco. A presença familiar de Fawkes sentou em seu ombro pela primeira vez em muito tempo. Harry rezou para que o pássaro pudesse fazer algo contra o enorme monstro.
Com a privação de sua visão, seu dom veio à tona quase como um instinto e Harry conseguiu sentir com clareza a enorme criatura que exalava uma magia torpe e poderosa se alongar em sua frente. Tinha um aspecto opressivo e antinatural, como Harry lembrava de ter sentido em Granger.
"Mate ele!"
Riddle assobiou de forma quase entediada.
E assim, sem poder ver, Harry sentiu impotente a serpente deslizar em direção a ele. Tentou correr, buscando se afastar do basilisco que o perseguia preguiçosamente. Mas a câmara era irregular e poucos passos na completa cegueira foram o suficiente para levar o garoto ao chão.
Sem opções, Harry esperou resignado pelo melhor e o milagre veio na forma de Fawkes que atacou a cobra impiedosamente.
Harry escutou, cego, o basilisco chiar enquanto batalhava contra a fênix de Dumbledore. O garoto arriscou abrir os olhos e viu Fawkes desviando da cobra enquanto usava das aberturas para bicar os olhos enormes da criatura, que já se resumiam a uma bagunça sangrenta.
Riddle gritou em fúria pura.
"Mesmo que a fênix tenha o cegado, é um esforço inútil." Disse antes de mudar para a língua de cobra. "Ignore o pássaro e sinta o garoto. Está atrás de você, acabe com ele!"
Ainda era uma situação desesperadora, mas, agora que Harry tinha sua visão, havia alguma chance de revidar.
"Lacero!" Gritou mirando no basilisco. A cobra ignorou o feitiço que a atingiu em cheio e continuou atrás do garoto que correu em uma tentativa desesperada de ganhar distância. "Everte Statium!"
Gritou lançando uma das estátuas em direção a fera.
O basilisco chiou, mas não pareceu sofrer grandes danos do ataque de Harry.
"Aestus Venis!"
Gritou Harry frustrado, arriscando uma maldição de ferver o sangue.
Era inútil.
"Sua compreensão das artes me surpreende." Gritou Riddle do outro lado da sala. "Mas não importa, isso não fará cócegas em um basilisco de mil anos."
Harry resolveu mudar de tática e correu em direção ao chapéu que jazia atirado ao chão, próximo de Sarah.
"Não me decepcione, diretor."
Sussurrou Harry segurando o chapéu que pareceu muito mais pesado do que ele lembrava.
Uma espada de metal caiu no chão, de dentro do chapéu. Harry não perdeu tempo em agarrar o objeto e desviar da cauda do basilisco que já havia se aproximado novamente.
Antes que Harry tivesse a chance de correr. Viu seu caminho interrompido pela enorme serpente, com a boca arreganhada pronto para acabar com sua existência.
"Coma isso, cobra estúpida!" Gritou apontando a varinha para a garganta da serpente. "Sanguinis!"
A maldição de hemorragia atingiu o lado de dentro da boca do basilisco que instantaneamente começou a sangrar. Infelizmente isso não tirava Harry do caminho do bote da serpente gigante, tudo que ele pode fazer foi levantar a espada em uma tentativa fútil de salvar sua própria vida.
A fera machucada e irritada não se deu conta do perigo e abocanhou o braço do rapaz, empalando o céu de sua própria boca na espada de prata. O sangue da maldição se misturou ao veneno que banhou Harry e, reativamente, seu braço instantaneamente latejou de dor e agonia. Harry retirou o braço da boca da fera que balançava e caia para o lado, inerte.
O rapaz ignorou a dor em seu braço e tropeçou em direção ao corpo de sua amiga, que jazia intocada no mesmo lugar desde o inicio da breve, porém sangrenta, batalha.
Riddle respirava com força e encarava a cena com um olhar possesso. Harry mal havia se ajoelhado ao lado de Sarah quando a memória voltou a falar.
"Você morreu, Harry Potter."
Disse apontando para o braço ferido do garoto.
De fato, só agora o garoto percebeu que afundada em sua carne estava um dente do basilisco. Com um grunhido de dor, o garoto retirou a presa e tombou para o lado. Seu corpo perdia a força e a visão escurecia muito rápido.
O canto de Fawkes soou acima de Harry e sua visão voltou de forma lenta e continua, a fênix estava debruçada em seu peito, chorando em cima de seu ferimento.
"Fawkes." Disse Harry com a garganta seca. "Eu sei que não nos damos muito bem, mas obrigado."
A fênix abriu suas assas e passou a sobrevoar círculos lentos em volta da cena.
"No fim, o pássaro teve seus usos." Disse Riddle irritado enquanto Harry voltava a ajoelhar-se ao lado de sua amiga. "Mas isso não muda nada, você está acabado." Disse ele. "E a garota não está melhor que antes." Riddle apontou a varinha. "Eu acabarei com isso com minhas próprias mãos."
"Pare aí mesmo!" Disse Harry com voz cansada, surpreendendo a memória. "Você disse que usou o diário para armazenar a memória." Falou o garoto fazendo o olhar de Tom se estreitar. "O que acontece se eu fizer isso?"
Perguntou Harry antes de cravar a presa, que ainda segurava em sua mão, no diário jogado ao lado de Sarah.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa, Riddle gritou em agonia.
O que poderia ser tinta, mas parecia mais com sangue negro, jorrou do diário em uma torrente e, antes que a memória pudesse se recuperar, Harry apunhalou de novo e de novo.
O rapaz continuou cravando a presa no diário, a memória de Lord Voldemort foi ao chão se contorcendo e, de repente, como se nunca tivesse existido, desapareceu em meio a um grito de dor e ódio.
A atenção do garoto se desviou da visão e som sinistro e voltou para Sarah que estremeceu no chão.
"Sarah!" Gritou ele se arrastando em direção a garota. "Você está bem?" Perguntou. "Sarah!"
Gemeu ele deitando a cabeça de sua amiga em seu colo.
Os olhos de Sarah se abriram por um instante, ela sorriu e eles voltaram a se fechar.
Harry permaneceu ali pelo que pareceram horas e mal percebeu quando Fawkes, em uma torrente de chamas ,fez com que ele, todos os objetos e o corpo de sua amiga desaparecessem, deixando para trás a Câmara Secreta e apenas a varinha da menina recém morta, perdida para sempre nas profundezas do castelo.
