Update: Essa história está em processo de atualização, os capítulos serão todos revistos e os erros e incoerências mais graves corrigidos e, principalmente, a escrita suavizada; dito isso, esse capitulo já passou pela revisão.
Não foi fácil descobrir onde o velório ocorreria. Mais difícil ainda havia sido convencer Dumbledore que ele deveria comparecer.
Era um dia bonito, raro naquele lugar. O sol descoberto e brilhante dava as mãos a um céu sem nuvens e ambos pareciam unir forças para zombar do sofrimento dos poucos indivíduos presentes na cerimônia.
Era um pouco deprimente ver quão poucas pessoas haviam comparecido no velório. Passou pela cabeça de Harry quantas gente estaria ali se ele próprio ocupasse o caixão.
O ato ocorreu em um bairro trouxa afastado de Londres.
Harry achava difícil prestar atenção nas palavras cerimoniais e, francamente, vazias que o homem vestido como um sacerdote falava. O senso de necessidade em comparecer ao velório disputava com um sentimento de não pertencer. A dualidade de suas emoções fez o garoto permanecer afastado e escondido embaixo de sua capa.
Ao longe, estava uma mulher loira chorando e agarrada firmemente no braço de um homem que parecia muito mais jovem que ela. A mulher lhe trazia uma sensação de familiaridade e, por esse motivo, Harry notou, tratava-se da mãe de Sarah. O homem ao lado da mulher não poderia ser o pai da garota, possivelmente um padrasto ou irmão.
Do outro lado da lápide, havia uma outra família, composta por um casal e uma garota mais jovem. Provavelmente a prima que Sarah contou que possuía.
Mais distante, mas ainda próximas o suficiente para demonstrar que se importavam, estavam as duas amigas de Sarah que, geralmente, a acompanhavam em Hogwarts.
O garoto não lembrava o nome de nenhuma das duas e, realmente, não se importava muito.
As outras pessoas, ainda mais distantes da lápide, não eram dignas de nota.
Amigos da família, provavelmente. Todos pareciam entristecidos, mas não o suficiente para derramar lágrimas. Com pouca surpresa, Harry deu-se conta que nenhum deles estaria ali se não fossem socialmente obrigados a prestar o seu apoio a família de luto.
O velório não demorou tanto quanto Harry achava que deveria.
Após a fixação da lápide, um por um os poucos que compareceram começaram a se dispersar. O primeiro deles foi o homem vestido de forma cerimonial que, há pouco tempo, conduzia a cerimônia angustiante. Se aproximou da mulher chorosa e sussurrou algumas palavras de conforto antes de deixar o pequeno cemitério.
Em seguida, foram os que estavam mais distantes, poucos deles cumprimentaram a família, a maioria simplesmente saiu. Curiosamente, os próximos a deixar o lugar foram as pessoas da própria família, deixando as amigas de Sarah sozinhas, paradas a alguma distância do centro do lugar.
As meninas trocaram algumas palavras antes de uma das duas desaparatar. A segunda enxugou algumas lágrimas e virou-se para deixar o lugar andando. Após a garota sair de seu campo de visão, Harry se aproximou do túmulo e retirou a capa que o escondia do mundo.
A inscrição era bonita, mas não fazia jus a Sarah que ele havia conhecido. A pedra não era nada especial, provavelmente o melhor que a família podia pagar, considerando a aparência humilde de todos os presentes no velório.
Harry foi retirado de seus pensamentos pelo barulho de passos atrás de si.
"Eu sabia que você viria!" Falou uma voz feminina. "Ouvi dizer que você se esforçou para descobrir o lugar e a data."
Harry virou-se.
Na sua frente estava uma das amigas de Sarah, a que havia saído andando. Usava uma roupa escura e seu cabelo estava preso. No rosto da garota mais velha, um sorriso triste acompanhado por olhos vermelhos.
Ela era bonita e Harry quase podia lembrar o seu nome.
"Você deve lembrar de mim." Especulou a garota. "Sou Sophie."
O garoto assentiu e seus olhos brilharam em reconhecimento antes de voltarem a encarar a lápide.
"Você deveria ter aparecido durante a cerimônia." A garota sussurrou. "Ela gostaria que você…"
Foi interrompida bruscamente pela voz dura de Harry.
"Ela está morta." Falou simplesmente. "E nós não estávamos nos dando bem no fim." Explicou. "Além disso, não queria atrapalhar."
Completou em um sussurro.
Os olhos da garota que havia se surpreendido com a dureza do menino voltaram a se suavizar.
"Você se sente culpado." Constatou ela. "Não deveria!"
Harry começou a se irritar.
"Como você poderia saber?" Disse o menino. "Você não estava lá!"
"Eu confio no julgamento de Sarah." Disse a menina com tristeza. "E ela só dizia boas coisas sobre você. Eu sei que fez o que podia."
Harry se surpreendeu e voltou seu olhar para a garota que encarava o céu de forma pensativa.
"Você precisa culpar alguém." Grunhiu o menino. "Será mais fácil assim."
A menina não parecia convencida.
"Será mesmo?" Perguntou pensativa. "Eu não vou dizer pra você não se culpar, isso não adiantaria."
Harry assentiu sem responder.
"Mas o que você fará então?"
Perguntou Sophie com curiosidade.
Harry demorou para voltar a falar.
"Você sabe a razão da possessão?"
Perguntou o menino subitamente.
"Disseram que foi um objeto encantado com magia negra." Disse a jovem com desconforto aparente. "Não disseram o que era, exatamente."
"Era um diário." Esclareceu Harry. "Você viu algo assim?"
A garota parecia chocada e um pouco assustada.
"Talvez."
Revelou incerta.
"Eu preciso saber! Esse diário foi parar nas mãos dela de alguma forma."
Falou o menino, voltando a ficar irritado.
Sophie hesitou em responder.
"Eu vi Sarah com um diário apenas uma única vez." Sussurrou a menina como se confessasse um crime. "Estranhei na época, ela não era do tipo que possuía uma coisa dessas."
"Você perguntou sobre isso?"
Questionou Harry com urgência.
"Sim! Ela disse que foi um presente de um pretendente."
Disse a garota voltando a encarar a lápide.
Harry, inexplicavelmente, sentiu vontade de vomitar.
"Qual pretendente?"
Perguntou o menino de forma pausada.
"Por que você quer saber essas coisas?"
Devolveu a menina desviando o assunto.
Harry ficou ainda mais irritado.
"Não é obvio?" Questionou em tom de zombaria. "Eu vou descobrir quem foi e vou fazer algo sobre isso!"
Sophie parecia com pena, assim como levemente assustada.
"Você é apenas uma criança, não deveria pensar nessas coisas."
"Não importa, um dia eu não serei mais uma criança." Murmurou o garoto. "O pretendente, quem era?"
Voltou a pressionar o menino.
A garota suspirou.
"Eu não sei qual deles."
A forma como a frase foi formulada incomodou Harry profundamente.
"Não poderia haver tantos."
Rosnou ele.
A menina zombou de uma forma incaracterística.
"Eu já disse tudo que eu sei."
Concluiu ela indicando que iria se afastar.
"Espere!" Disse Harry prestes a entrar em desespero. "Isso não pode ser tudo, você tem que ter alguma pista."
A garota parecia dividida.
"Há coisas sobre Sarah que você não sabe, Harry." Sussurrou. "Há algumas coisas que nem mesmo eu sei."
"Me conte o que puder." Implorou o menino de olhos verdes, sem opções. "Por favor."
A menina suspirou e, de forma muito grosseira, sentou-se no chão, encostando a cabeça na lápide de sua amiga recém-sepultada.
"Existe uma história em Hogwarts." Começou a menina. "Praticamente um boato."
"Se você acha que ajuda." Falou Harry impaciente. "Diga!"
"Começou no fim do meu quarto ano, mas ficou mais sério no quinto." Explicou a garota. "É um boato entre alguns jovens sangue puro do sexo masculino. Eu nem deveria saber sobre isso, descobri por acidente e não faço ideia de quão real é tudo isso." Advertiu a menina com um olhar sério. "Eu também nunca perguntei para Sarah sobre esses boatos ou falei com ela sobre o assunto."
Harry assentiu impaciente, incentivando a outra a continuar.
"Pois bem! Dizem que há uma garota na Grifinória disposta a servir de acompanhante e até mesmo prestar certos favores, pela quantia certa de dinheiro."
Disse Sophie desviando o olhar de Harry.
Harry parecia confuso e, até mesmo, um pouco enojado.
"O que isso tem a ver com Sarah? Por que você está me contando essa idiotice?" Questionou o garoto incomodado. "Você não pode querer dizer que é ela!"
Falou em tom de negação.
A menina deu de ombros.
"Eu não sei." Falou simplesmente. "Agora você entende a razão para eu não saber dizer quem deu o diário para ela?" Perguntou a menina sem esperar uma resposta. "Eu lamento, Harry, você não deveria ter que saber sobre essas coisas desagradáveis."
Harry estava completamente paralisado.
"Por que?" Perguntou ele com a voz enfraquecida. "Por que ela faria isso?"
"Poderia ser mentira." Falou a menina. "Talvez ela precisasse do dinheiro ou talvez ela simplesmente gostasse." Terminou em um sussurro. "Isso é tudo que eu sei, Harry, eu juro."
O garoto assentiu.
"Eu sinto muito!" Continuou a garota. "Eu preciso ir agora, não faça nada estúpido."
Implorou a menina com uma feição devastada.
"Obrigado." Falou Harry em tom de desesperança. "Talvez ajude a saber quem fez isso."
A menina balançou a cabeça com um olhar triste e o abraçou.
"Não vai valer a pena."
Ela alertou, antes de se afastar e desaparatar com um aceno.
Harry encarou a lápide uma última vez enquanto sentia algo dentro dele quebrar.
Talvez a inscrição fizesse mais sentido do que ele pensou no começo.
A hora programada em sua chave de portal chegou e o garoto desapareceu em um estalo, deixando para trás um dia ensolarado e um cemitério vazio.
