Update: Essa história está em processo de atualização, os capítulos serão todos revistos e os erros e incoerências mais graves corrigidos e, principalmente, a escrita suavizada; dito isso, esse capitulo já passou pela revisão.

"Diretor." Disse a professora de transfiguração surpreendendo Dumbledore ao adentrar em seu escritório. "As delegações de Durmstrang e Beauxbatons chegarão em breve." Alertou a mulher com um olhar preocupado. "O convidado especial ainda não apareceu. Talvez o senhor precise entrar em contato com ele."

Dumbledore largou o pergaminho que lia anteriormente e apontou a varinha para um dos instrumentos prateados localizados perto da janela. O objeto vibrou e soltou uma fumaça avermelhada.

O diretor, em resposta, bufou com frustração. Mas, por outro lado, parecia aliviado.

"Não se preocupe, Minerva. Ele já está no castelo." Falou o homem levantando de sua cadeira ornamentada. "Termine de organizar os alunos nos terrenos, em breve me juntarei a todos."

Demandou o homem para a mulher que limitou-se a assentir e deixar a sala.

O olhar de Dumbledore se voltou para a janela e em sua mão surgiu um de seus amados doces.

"Eu espero que não cause problemas hoje, meu garoto."

Sussurrou o diretor para si mesmo enquanto aproveitava sua guloseima.

No outro lado do castelo, perdido em seus pensamentos estava um garoto escorado na grade de proteção da torre mais alta do enorme edifício gótico.

A brisa bagunçava seus cabelos e o menino mantinha seus olhos fechados, enquanto apreciava a familiaridade da magia percorrendo, indomada, por aquele ambiente.

O som de uma porta batendo em seus calcanhares o tirou de seus pensamentos e fez com que ele se virasse.

"Puta merda!" Xingou em voz alta o novo ocupante da sala. "Se eu não visse com meus próprios olhos não acreditaria, se não é Harry Potter em pessoa."

Gritou o rapaz se aproximando do ocupante original da torre.

O garoto de olhos verdes piscou sorrindo ao ouvir a voz de seu velho amigo.

"Longbottom!"

Seu amigo não havia mudado muito, com exceção da voz, que havia engrossado, e de ter crescido alguns generosos centímetros.

"Não achei que teria sobrevivido tanto tempo sem alguém mantendo um olho em você."

Brincou Harry apertando a mão de seu amigo.

O rosto de Neville se contorceu.

"Olha quem falando! Ouvi dizer que Dumbledore não te aguentou nem por uma semana como aprendiz antes de mandá-lo para longe." Zombou o garoto. "Não esperava vê-lo antes do próximo ano, sua carta não explicou sobre isso. Por que voltou agora?"

Perguntou Neville curioso.

Desta vez, foi Harry quem fechou a cara em uma expressão frustrada.

"O diretor queria que eu voltasse e Flamel não se importou em lutar para que eu ficasse." Explicou o rapaz. "Parece que o velho tem uma tarefa para mim esse ano."

"Que tarefa?" Perguntou Neville levemente preocupado. "Com o torneio se aproximando, eu não acho que exista muito mais a se fazer por aqui."

Harry riu.

"Você ficaria surpreso." A explicação foi cortado por um brilho de chamas. "Fawkes, já faz um tempo." Cumprimentou o garoto enquanto mantinha os olhos na fênix que havia surgido em um clarão. "Eu acho que minha presença é necessária."

O pássaro não deu sinal de que o garoto estava certo, apenas cravou as garras em seu ombro preparando-se para a viagem. Harry não perdeu tempo em agarrar com firmeza o ombro de seu amigo que olhava a cena com curiosidade.

Neville se desequilibrou e caiu sentado assim que chegaram ao destino. Na sua frente, parado em um corredor vazio perto da saída do castelo, Dumbledore observava a cena com diversão.

"Sr. Longbottom, recomendo que se junte aos outros alunos."

Instruiu o homem para o garoto, que assentiu antes de levantar-se acenando e massageando o próprio traseiro.

Finalmente a sós, aluno e professor se encararam. Desta vez, sem disfarces ou segundas intenções.

"Quando eu disse para você estar aqui na hora correta, eu não estava brincando." Alertou o velho. "Você não quer envergonhar Hogwarts na frente dos nossos convidados."

Harry grunhiu.

"Que se dane Hogwarts." Disse o menino afastando um punhado de cinzas que havia ficado em seu manto. "Você nem mesmo explicou a razão de eu estar aqui."

"Eu já disse." Começou o homem. "Hogwarts precisa ganhar esse torneio. Os acontecimentos recentes não fizeram bem para a nossa reputação."

"Besteira!"

Interrompeu Harry cruzando os braços. Dumbledore percebeu que o garoto ainda tinha o anel de rubi que usava em seu último encontro, isso significava, ao menos, que Nicholas o achava competente o suficiente para praticar alquimia por conta própria.

"Hogwarts ganhou mais da metade desses torneios de forma justa e limpa, você não precisa de mim agora."

"As outras escolas viram uma oportunidade, são como tubarões sentindo o cheiro de sangue na água." Explicou o velho de forma paciente. "Hogwarts nunca esteva tão enfraquecida nas vésperas de um torneio."

Harry ainda manteve a cara fechada, estava claramente contrariado.

"Você quer dizer que não há ninguém, aqui nesse castelo milenar e prestigiado, capaz de ganhar o maldito torneio?" Questionou o garoto incrédulo. "Durmstrang nem mesmo tem chances, eles nunca ganharam." Afirmou o garoto. "E Perenelle me contou sobre Beauxbatons, eu não ficaria preocupado."

Dumbledore franziu a testa.

"Eu não lembro de você ser tão arrogante." Alertou o homem. "Não os subestime! Além disso, eu não preciso apenas de um aluno capaz de ganhar o torneio." Esclareceu. "Não, Isso seria muito simples e pouco recompensador."

"O que você precisa que eu faça?"

Perguntou o jovem sem entender.

O sorriso gentil de Dumbledore piscou de forma sinistra por um instante.

"Recupere a reputação de Hogwarts como a melhor e mais segura escola de magia do mundo." Falou o diretor de forma altiva. "Eu quero que você não apenas ganhe o torneio, mas mostre que eles nunca tiveram uma chance para começo de conversa."

Harry gargalhou com pouco humor.

"Uma humilhação pública?" Perguntou sabendo a resposta. "Você quer um espetáculo? Eu acho que posso fazer isso."

Assentiu o menino.

"Eu não colocaria em termos tão deselegantes." Disse o homem sorrindo enquanto apontava para a grande porta que os levaria para os terrenos. "De qualquer forma, esse é um jeito de dizer."

Falou balançando a varinha e saindo do castelo.

Harry riu e seguiu, obedientemente, seu mestre.

Perto dali, em uma carruagem mágica, uma jovem sorria enquanto verificava uma última vez as suas roupas. Na sua frente, uma fila de adolescentes se preparava para descer da carruagem ricamente decorada que havia os transportado até aquela terra fria.

Ela era a última da fila, permanecendo firmemente ao lado de sua diretora, uma mulher grande e intimidante, vestida de forma ainda mais elegante que os seus alunos, mas também mais quente.

"Você está pronta para isso, Fleur?" Perguntou a mulher francesa em voz baixa. "Hogwarts está enfraquecida e Dumbledore tolamente mandou seu trunfo para o outro lado do canal. Nós não teremos outra chance tão boa."

Fleur sorriu com confiança e desdém.

Ela já sabia de tudo aquilo.

"Eu estou pronta!" Afirmou balançando a cabeça. "Fico feliz que o torneio tenha sido adiantado, não achei que teria a oportunidade de participar." Comentou a garota loira. "Não vou decepcioná-la, Madame Maxime!"

A mulher grande sorriu.

"Eu sei, Fleur." Disse a mulher confiante olhando com carinho para seus alunos animados com a perspectiva de conhecer um lugar novo. "Não há como Durmstrang produzir um bruxo capaz de ganhar esse torneio, eles jamais conseguiram, afinal." Explicou a mulher. "E com o aprendiz de Albus longe da Grã-Bretanha, não há ninguém em Hogwarts capaz de vencê-la, querida."

Esse era o assunto da atualidade.

Há pouco mais de um ano, Albus Dumbledore anunciou, publicamente, que ele havia firmado um contrato de aprendizado com um aluno de Hogwarts.

Havia inúmeros boatos não confirmados sobre quem era essa pessoa misteriosa. A única coisa certa, era que o homem havia mandado o seu aprendiz para o continente, para estudar com alguém da confiança do velho mago.

O fato de Harry Potter ter sumido da escola na mesma época em que o anúncio foi feito reforçava os boatos de que o menino era a pessoa misteriosa.

Na época, Fleur já sabia sobre os preparativos do torneio por causa de seu pai, um dos diplomatas do governo francês encarregado de negociar os termos do evento. Quando as informações sobre a morte da garota trouxa nas dependências da escola escocesa chegaram ao o continente, houve esforços conjuntos do governo da França e da Noruega para que o torneio fosse adiantado e realizado em uma das outras duas escolas.

A pressão deu resultados.

Apesar dos ingleses não abrirem mão de sua vez em hospedar o torneio, a data foi adiantada e isso importava a Fleur, pois representava a oportunidade de realizar seu sonho e levar a taça para sua escola.

Como as coisas estavam, Hogwarts possuía uma vitória a mais que Beauxbatons. A garota prometeu que mudaria esse número.

Ainda que houvesse o desejo pessoal de tomar a glória para si e escrever seu nome nas linhas dos livros de história, a jovem sabia que a vitória no Torneio Tribruxo representava muito mais que um triunfo pessoal. Afinal, uma mentira repetida cento e vinte cinco vezes não se tornava mais real. A imprensa podia dizer o que quisesse, o torneio não era um exercício de cooperação internacional. Colocar o melhor de cada escola a prova, era uma propaganda direta e uma forma sancionada de sabotar o sucesso de uma instituição rival.

A vitória no torneio representava uma década de crescimento para a escola que ganhasse, avanço mágico para a nação vencedora e o orgulho de se afirmar como a melhor instituição mágica do mundo, pelo menos até que uma das outras duas principais usurpasse o posto.

De repente, as portas da carruagem se abriram, retirando Fleur de seus pensamentos.

Os alunos mais próximos a saída estremeceram com o vento gelado que percorreu o espaço apertado e se recusaram a sair para o tempo frio. Madame Maxime, ao seu lado, bufou e fez sinal para que Fleur a seguisse antes de tomar a frente na delegação, sem se importar com a mudança de temperatura.

Fleur tomou coragem e acompanhou sua diretora, limitando-se a cobrir seu rosto do ar gelado com o fino cachecol azul que carregava mais como peça decorativa do que como proteção real contra os elementos.

Ao pisar fora da carruagem, a primeira coisa que Fleur percebeu era que Hogwarts era muito maior e mais intimidante do que a sua escola. A luz do sol, desbotada, iluminava os terrenos amplos e ao longe ela podia ver um lago e uma floresta de aspecto hostil. Complementando a paisagem estava o castelo, sentado imponente como se tivesse sido esculpido no que um dia foi uma montanha.

Era uma construção dura e fria de arquitetura gótica, o pico de suas torres ameaçava rasgar as nuvens.

Em resumo, era frio, duro e bonito de uma forma estranha.

Fleur odiou quase que instantaneamente.

Espalhados desordenadamente pelo terreno estavam os alunos da escola.

Vestiam-se quase totalmente de preto, com exceção de suas gravatas e algumas peças extras que variavam nas quatro cores principais da escola. Curiosamente, ou não, os alunos pareciam dividir-se em grupos menores separados pelas corres que carregavam.

Era uma demonstração prática do mundialmente infame sistema de casas de Hogwarts.

Um degrau acima do grupo estavam os professores, reunidos próximos a entrada principal do castelo.

A frente de todos ou outros, chamando a atenção e vestindo uma escolha curiosa de roupas, estava o tão temido Albus Dumbledore.

Em uma inspeção rápida, porém cuidadosa, a garota não percebeu a razão para todos acharem o homem intimidante.

É claro, as aparências costumavam enganar, mas o velho a sua frente tinha os olhos brilhantes acompanhados de um sorriso caloroso e braços abertos de forma receptiva.

Fleur tomou o cuidado de se manter perto da mulher mais velha, que já se encaminhava firmemente na direção do diretor da instituição rival.

"Isso não é bom."

Sussurrou a mulher grande para si mesmo, surpreendendo Fleur. Obviamente ela havia percebido algo que a garota mais jovem ainda não havia se atentado.

"O que você quer dizer, madame?"

Perguntou a menina francesa em voz baixa, se mantendo ao lado de sua diretora.

"Não se preocupe, Fleur."

Tranquilizou a mulher forçando um sorriso tenso.

A garota se impediu de questionar mais, pois eles já haviam se aproximado o suficiente do grupo de Hogwarts para que pudessem ouvir seus sussurros animados. A diretora tomou um fôlego antes de reformar seu sorriso em algo mais natural e feliz.

"Minha cara Maxime!"

Falou o velho homem à frente do grupo rival com um sorriso largo e uma curvatura.

"Bem-vinda a Hogwarts!"

Cumprimentou o diretor caloroso.

Só agora a jovem francesa percebeu que, ao lado do velho, estava parado um garoto. Não podia ter mais do que quinze anos e levava em seu rosto uma feição neutra, quase entediada.

"Dumbledore!" Saudou sua professora de forma grave, não abrindo mão do forte sotaque. "Espero encontrá-lo em boa saúde."

"Excelente, obrigado!"

A resposta brilhante e sincera do homem soou aos ouvidos de Fleur quase como uma zombaria.

A conversa, a partir dali, tomou um tom leve, com Maxime mostrando ao diretor rival os alunos que se encolhiam no frio esperando a chance de se aquecerem.

A atenção de Fleur foi desviada para o garoto de cabelos pretos ao lado de Dumbledore que, alheio a troca entre os diretores, a encarava de forma atenta e curiosa.

A menina francesa bufou descartando as atenções do menino bobo que, por sua vez, riu das ações da garota.

"A propósito." Mudou de assunto Dumbledore. "Acho que já ouviu falar do jovem ao meu lado." Disse o homem colocando a mão no ombro do garoto e o forçando a dar um passo à frente. "Este não é outro senão Harry Potter."

Apresentou o velho com um sorriso ainda maior.

O olhar de Fleur se desviou imediatamente para o rosto de sua diretora, que demorou alguns segundos para forçar um sorriso insincero.

"É um prazer, jovem."

Cumprimentou a mulher em um aceno duro, que trouxe outro sorriso ao rosto do velho que observava a troca atentamente.

O garoto, por outro lado ofereceu um aceno pequeno e um arco respeitoso antes de voltar a recuar para sua posição original ao lado de seu professor.

"Presumo que Karkaroff ainda não tenha chegado?"

Voltou a questionar a mulher, em uma tentativa óbvia de mudar de assunto.

Dumbledore assentiu.

"A qualquer momento, eu espero." Disse o homem como se não estivesse muito preocupado. "Eu a convido, e a seus alunos, para entrarem e se aquecerem em nossas dependências. Em breve o banquete será servido e teremos tempo para trocar gentilezas."

A mulher assentiu aceitando a oferta de forma graciosa e acenou para que seus alunos a seguissem para dentro do castelo, onde uma senhora de aparência rígida já esperava para guiá-los.

"Isso é ruim!" Disse Maxime enquanto andava ao lado de Fleur atrás do resto dos alunos, para a surpresa de sua guia. "Ele o trouxe de volta, não esperávamos por isso."

Fleur pareceu surpresa com a tensão na voz de sua diretora.

"Ele é só uma criança, não pode ser tão difícil vencê-lo." Disse a jovem confusa. "Além do mais, talvez nem seja ele."

A mulher suspirou antes de acenar com a cabeça.

"Talvez você tenha razão, minha querida." Concordou a diretora. "Eu espero estar me preocupando sem necessidade."

Fleur assentiu em concordância e seus pensamentos se desviaram até o garotinho que sua diretora temia tanto. Por alguma razão insondável, o pequeno zombeteiro ao lado de Dumbledore parecia estranhamente familiar.

Ainda demorou algum tempo até que os alunos estivessem devidamente acomodados em uma das quatro mesas no salão principal de Hogwarts. Os alunos de Beauxbatons foram instruídos a sentar-se com a casa que usava roupas azuis, foi o combinado em uma reunião de logística que ocorreu antes do início do torneio. Os adolescentes de Durmstrang, que chegaram pouco tempo depois da delegação francesa, sentaram-se com a casa que usava verde.

Fleur não sabia como eles haviam chegado, mas alguns estudantes sentados por perto sussurravam animadamente sobre um navio.

Dumbledore foi o último dos três diretores a adentrar o salão, ele estava acompanhado do mesmo garoto que ficou ao seu lado durante a chegada das delegações e os dois pareciam envolvidos em uma conversa importante enquanto andavam em direção a mesa principal.

Ao contrário do que Fleur esperava, o jovem de cabelos negros não acompanhou o diretor até a mesa reservada para a equipe. Sem surpresas, o jovem famoso parecia levemente chateado com a dispensa de seu professor, mas assentiu e se dirigiu até a mesa mais barulhenta da sala, onde sentou-se distante dos seus colegas. Foi acompanhado, tão somente, por um outro garoto que parecia se divertir com a frustração de seu amigo.

No outro lado da sala, os alunos de Durmstrang olhavam curiosos para o teto encantado de Hogwarts.

Fleur podia admitir facilmente que era uma magia impressionante, mas nada distante do que o currículo que Beauxbatons cobria.

No entanto, sua escola era uma referência quando se tratava de feitiços e encantamentos, reputação que Durmstrang dificilmente poderia ambicionar.

A escola norueguesa se segurava como a terceira melhor do mundo por meros detalhes e estava muito distante da qualidade de suas duas principais rivais, o único ramo que eles tinham algum destaque eram as Artes das Trevas e isso era principalmente por falta de opção, já que nem Hogwarts nem Beauxbatons levavam a disciplina a sério em seus currículos, se limitando ao estudo teórico, no caso de Beauxbatons, e ao combate, no caso de Hogwarts.

Por outro lado, os seus rivais do leste europeu pareciam mais preparados para encarar o tempo escocês. Fazia sentido, considerando os boatos de que sua escola estava localizada em um pico congelado esquecido pela própria magia.

Dumbledore tirou a jovem francesa de seus pensamentos ao se posicionar no ponto mais alto da sala, preparando-se para falar.

"Boa-noite a todos, queridos alunos." Começou ele com uma voz poderosa e feliz. "E meus cumprimentos aos nossos estimados convidados que enfrentaram uma longa viagem para chegar até aqui em segurança."

Fleur escutou os alunos de Durmstrang grunhindo em concordância. Era provável que seu navio não estivesse tão preparado para encarar a viagem quanto a carruagem em que viera.

"Ofereço boas-vindas a todos e espero que sua estadia seja prazerosa e confortável." Fleur não pôde evitar rir da ironia da frase. "O torneio será aberto oficialmente ao final do banquete." Continuou o velho sem se importar com qualquer intromissão. "Agora, estão todos convidados a comer e beber. Sintam-se em casa."

Terminou o velho com um aceno rápido de sua varinha, já se dirigindo ao seu lugar na longa mesa.

Fleur se distraiu por um momento com as ações do velho homem e demorou alguns segundos para perceber que as travessas na sua frente haviam se enchido de comidas diversas. A garota loira se aborreceu ao perceber que todos os pratos familiares já haviam sido monopolizados pelos seus colegas. Um dos pratos desejáveis mais próximos estava em uma outra mesa, localizado, muito convenientemente, na frente de Harry Potter.

Fleur não perdeu tempo em se dirigir até lá.

No entanto, antes que chegasse os dois garotos foram abordados por outra pessoa. Um homem tão grande quanto a sua professora, parecia interessado em contar sobre alguma criatura misteriosa com qual ele estava tendo dificuldades.

A garota não se importou em interromper a conversa.

"Com licença." Falou com sotaque carregado. "Vocês vão comer aquele bouillabaisse?"

Perguntou ela de forma neutra.

A menina observou com atenção enquanto o amigo de Harry Potter engolia em seco, por outro lado, o homem grande não parecia afetado por ela além de uma leve curiosidade. Só agora o menino de olhos verdes, que estava de costas para ela, pareceu perceber a sua presença e virar-se para encontrar seus olhos.

"Bem." Começou ele com uma voz maliciosa, ao perceber a reação de seu amigo. "Você pode ficar com ele, eu suponho." Falou fingindo pensar no assunto. "Isto é, se Longbottom aqui não se importar, é claro."

Disse com um sorriso enquanto enviava um olhar de zombaria para o outro garoto que tentava parar de gaguejar.

Fleur agarrou o prato oferecido pelo menino com os dentes cerrados. Ela definitivamente não gostava quando as pessoas usavam sua herança como forma de fazer uma piada.

"Estava bom?"

Se forçou a perguntar ela com raiva escorrendo de sua voz. Sua frustração apenas pareceu divertir ainda mais o garoto.

"Não é meu prato preferido." Respondeu ele dando de ombros, enquanto fingia não perceber a irritação da jovem francesa. "Experimentei quando estava na frança." Esclareceu ele sem que fosse perguntado. "Imagino que seja difícil para você apreciar a culinária daqui. Tenha certeza de que para mim foi quanto aos pratos franceses."

"Não há nada de difícil em apreciar a culinária francesa!" Respondeu a garota de forma cortante após levar a consideração anterior como um insulto ao seu país. "E você é um jovem muito irritante."

Continuou ela, mudando seu tom de frustrado para condescendente em um piscar de olhos.

"E, apesar de sua beleza, você é uma garota muito arrogante."

Respondeu Harry Potter ainda sorrindo e sem se surpreender com a agressividade com que foi abordado.

"Você está sendo enfurecedor de propósito? Como era de se esperar de um inglês inculto."

Voltou a atacar Fleur, mal entendendo o que havia no garoto que a irritava tanto.

"Eu certamente não estou."

"Nós já nos conhecemos antes?" Perguntou a garota sem resistir a sua curiosidade crescente. A aparência familiar do menino impertinente estava incomodando-a desde o princípio. "Sua atitude ruim e aparência duvidosa me é levemente familiar."

Harry riu balançando a cabeça, ação que a deixou ainda mais frustrada.

"Eu tenho certeza que me lembraria."

Respondeu com um sorriso, sem dar maiores pistas.

O que se seguiu foi um concurso de encarar muito desconfortável.

Só agora Fleur percebeu que sua performance estava sendo observada atentamente por todo o salão que, desde o início da troca, estava quase completamente em silêncio, com exceção da mesa da equipe que, muito ao contrário, não parecia se importar com a cena.

O silêncio foi quebrado pelo garoto Longbottom, finalmente superando sua crise de gagueira.

"Estava muito bom!" Falou ele de forma desajeitada em um tom mais alto que o necessário. "O bouillabaisse, eu quero dizer!"

Tentou se explicar.

A maior parte da atenção pareceu se desviar após o comentário e os burburinhos voltaram a tomar conta do salão. Fleur bufou diante da situação ridícula e virou as costas para a cena ridícula, levando com ela o prato que veio buscar e mais dúvidas do que respostas.

Fleur mal pôde aproveitar o seu espólio.

Sem, ao menos, que ela acabasse de apreciar o prato que havia conquistado, o diretor interrompeu o jantar.

Quando o velho levantou-se para falar uma tensão invadiu o salão e a maioria dos alunos portava uma expressão atenta e curiosa.

"Então, chegou a hora." Começou o homem. "O Torneio Tribruxo vai começar agora." Anunciou fazendo com que diversos alunos se inclinassem para a frente. "Antes de mais nada, gostaria de apresentar alguns dos responsáveis por esse maravilhoso evento."

A fala do homem interrompeu a expectativa e fez com que uma boa parte do salão gemesse em frustração.

"O Sr. Bartemius Crouch, Chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia." Alguns aplausos puderam ser ouvidos. "E o Sr. Ludovic Bagman, Chefe do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos."

Os aplausos foram significativos desta vez, fazendo com que Dumbledore fosse obrigado a realizar uma pausa em seu discurso bem construído.

"Ambos trabalharam incansavelmente para que esse evento pudesse ser realizado." Voltou a falar o velho. "E tenho certeza que sem eles não teríamos essa grande oportunidade que nós é oferecida hoje."

Alguns murmúrios tomaram o salão, mas Dumbledore não pareceu intimidado.

"Além disso, gostaria de cumprimentar o Professor Karkaroff e a Madame Maxime que, gentilmente, se juntarão a mim e aos senhores Crouch e Bagman como jurados na totalidade do torneio." Revelou o homem com um sorriso. "Dito isso, vamos ao nosso juiz imparcial!"

Como se respondesse a uma frase combinada, a porta se abriu e por ela entrou um homem atarracado e de aparência hostil, carregando o que parecia uma urna feita de madeira decorada ricamente com pedras preciosas.

"Haverá três tarefas durante todo o ano letivo." Começou Dumbledore enquanto a urna era colocada em uma mesa em frente ao homem. "Elas foram cuidadosamente elaboradas para testar os campeões das mais diversas formas. Perícia em magia, coragem, dedução e capacidade de encarar o perigo."

Fleur fez uma careta enquanto ouvia o discurso do velho diretor. Ele parecia simplificar as coisas terrivelmente.

"Como vocês já estão cientes, tradicionalmente, três campeões participam do evento." Explicou. "Um representando cada escola. Eles recebem notas pelos seus desempenhos e, no final, quem tiver o melhor resultado ganhará a Taça Tribruxo e todos os prêmios que a acompanham."

A menção dos prêmios o salão voltou a se agitar, mas Dumbledore não pareceu surpreso com isso.

"Os campeões serão escolhidos por um Juiz Imparcial, um transgressor conhecido como O Cálice de Fogo."

A maioria das pessoas não reagiu ao termo incaracterístico utilizado pelo velho para se referir ao cálice, mas Fleur já havia ouvido falar sobre isso.

No entanto, ela não conhecia esse objeto em particular e esse fato a incomodou profundamente. Por um momento horrível, Fleur se perguntou que tipo de magia única o cálice mágico era capaz de realizar.

A garota foi retirada dos seus pensamentos pelas ações do velho diretor que, com um tapa de sua varinha, fez a urna se abrir e revelar para todo salão o que havia dentro dela.

Não surpreendente, era um cálice.

Mas, ao contrário do que a garota pensou, não era um objeto luxuoso e etéreo, era apenas um cálice de madeira, toscamente decorado e de aparência comum. O que surpreendia sobre ele era o que havia dentro.

O conteúdo parecia brilhar e ora ou outra saltava o que parecia uma chama viva. O objeto portava, em seu interior de madeira, o que parecia ser fogo líquido.

"Quem quiser se candidatar deve lançar nas chamas um pedaço de pergaminho com a sua assinatura." Recomeçou a falar Dumbledore. "Vocês tem vinte e quatro horas. O campeão será escolhido amanhã, durante a festa de dia das bruxas."

Explicou o homem com um olhar neutro.

"É útil ressaltar que ninguém deve se inscrever nesse torneio se não estiver pronto para as consequências. Não há chance de mudar de ideia, os três escolhidos terão que se submeter aos perigos oferecidos pelas tarefas."

Alertou ele com seriedade.

O salão rugiu em pequenos murmúrios e discussões em voz baixa. Para a surpresa de todos, Dumbledore voltou a falar, desta vez com um sorriso.

"Um último anúncio a todos." Disse o homem interrompendo a empolgação geral. "Essa é uma noite especialmente feliz." Disse ele abrindo os braços. "Declaro com alegria que o meu aprendiz retornou de seu tempo longe, onde ele aprendeu com um dos meus amigos mais confiáveis."

Anunciou o homem para o choque de todos. A maioria das pessoas já devia ter notado que Harry Potter voltou para Hogwarts, mas ninguém levava os boatos como uma certeza, até agora.

"Meus cumprimentos, Harry Potter!" Disse o homem com altivez. "Hogwarts, sem dúvidas, sentiu sua falta!"

O menino com quem Fleur falava anteriormente sorriu largamente e não pareceu se importar com o caos que irrompeu ao seu redor.

Alunos de diversas casas o encaravam de olhos arregalados enquanto alguns murmuravam furiosamente. Aqui e ali, Fleur achava que tinha visto o brilho de alguns galeões mudando de mãos.

"Isso encerra a nossa noite encantadora." Despediu-se Dumbledore. "Bom descanso a todos."

Falou o homem se retirando do salão.

Imediatamente, alguns alunos mais velhos levantaram oferecendo instruções para os mais jovens, numa tentativa de abafar o tumulto. Mesmo alguns professores se juntaram ao esforço.

Com surpresa, Fleur sentiu seu braço ser agarrado por Madame Maxime que acenou para que todos os alunos de Beauxbatons a seguissem para fora do salão.

"Isso muda tudo." Falou a mulher mais velha com irritação. "Maldito Dumbledore, sempre um passo à frente."

Resmungava a mulher enquanto marchava de volta para a carruagem com os alunos em seus calcanhares.

"Madame!" Interrompeu Fleur preocupada. "Talvez seja uma coincidência, não sabemos se ele vai competir."

Disse tentando conter a irritação ao lembrar do garoto enfurecedor que havia conhecido mais cedo e que voltava a ser um incômodo agora.

"Não seja tola, querida." Alertou a mulher. "Um anúncio como esse, nesse momento." Ponderou ela. "Já é uma certeza agora, Harry Potter vai representar Hogwarts nesse torneio."

Falou a mulher apressando o passo e deixando seus alunos para trás.

Em um outro lado do castelo, longe do choque causado pela revelação de Dumbledore, Harry adentrava o escritório de seu mestre.

"Essa foi uma declaração e tanto." Disse o jovem de olhos verdes, alertando o velho de sua presença. "Até mesmo eu fiquei surpreso."

"Não há razão para darmos esperanças aos nossos rivais." Disse o homem sem desviar o olhar do papel que tomava sua atenção. "O que faz aqui, Harry?"

O garoto, que havia se dirigido até o poleiro de Fawkes, demorou alguns segundos para responder e, quando fez, não encarou o seu mestre.

"Eu vim negociar." Revelou. "O senhor pode me obrigar a competir, mas não darei tudo de mim a não ser que eu receba algo em troca."

"É desnecessário perder tempo com essa tolice." Cortou Dumbledore. "Eu estou perfeitamente disposto a fazer concessões."

Respondeu o homem indicando que iria ouvir os pedidos do garoto.

"Sem toque de recolher durante esse ano." Disse o menino. "Meus estudos vão estar em primeiro lugar."

"Justo! Desde que isso não atrapalhe seu padrão de sono." Concordou o homem. "Voltaremos a discutir isso se eu perceber que seu rendimento nas aulas e no torneio estiver sendo prejudicado."

Harry fez uma careta, mas aceitou.

"Isso é outra coisa." Disse parando de acariciar a fênix e voltando seu olhar para o velho. "Sei que não estou matriculado em qualquer uma das aulas comuns, mas quero autorização para participar."

"Tudo bem!"

Concordou o velho sem esforço.

"E nas aulas dos anos mais altos."

Tentou o garoto esperançosamente.

Dumbledore se limitou a sorrir e balançar a cabeça.

"De forma alguma, isso não é aceitável." Disse o velho com bom humor. "Algo mais?"

Perguntou desviando o olhar de seu trabalho pela primeira vez durante a conversa.

"Só mais uma coisa." Respondeu o rapaz com tom curioso. "Você mencionou durante o discurso que o cálice é um transgressor." Apontou Harry alargando o sorriso de Dumbledore. "Isso não é verdade, é?"

Dumbledore balançou a cabeça impressionado.

"Isso foi um teste, queria saber se você já havia se deparado com esses objetos intrigantes em seus estudos." Apontou o velho. "E, de certa forma, você tem razão."

"Eu sabia!"

Disse o garoto sucintamente se preparando para ouvir a explicação.

"Como você bem sabe, com algumas raríssimas exceções, o conhecimento de como criar um transgressor foi perdido para sempre." Disse o velho. "O cálice foi o produto de um projeto de muito tempo atrás que tinha por objetivo recriar o processo mágico. A tentativa foi parcialmente bem-sucedida." O homem comeu um de seus doces antes de continuar. "Embora capaz de quebrar alguns limites da magia, o cálice tem um uso muito mais limitado do que um transgressor completo."

"O que ele faz, exatamente?"

Perguntou o jovem curioso.

"Ele pode criar e impor vínculos mágicos." Disse o homem sem rodeios. "Mesmo sem a autorização dos envolvidos."

Harry estremeceu, entendendo as implicações.

"Isso deveria ser destruído."

Opinou o garoto.

Dumbledore balançou a cabeça e riu.

"Possuí seus usos." Descartou o homem. "Ele é quase o oposto perfeito de um outro objeto muito mais poderoso. A lendária, e quase esquecida, Adaga da Traição."

Os olhos de Harry brilharam em reconhecimento.

Dumbledore se referia ao que era conhecido como o transgressor original.

"Isso é interessante."

Comentou o garoto perdido em pensamentos.

"Agora, eu tenho uma curiosidade." Falou Dumbledore inclinando-se na cadeira. "Onde você ficou sabendo sobre esses objetos?"

Harry bufou e balançou a cabeça.

"Nicholas não te contou sobre o incidente no Egito?" Disse o garoto lutando contra a vermelhidão que ameaçou cobrir seu rosto. "Foi assustador."

Sussurrou envergonhado.

Dumbledore riu.

"Meu velho amigo me contou." Disse surpreendendo o garoto que agora olhava para seu mestre com desconfiança. "Eu só queria ouvir você falando sobre isso, ver sua cara." Brincou o velho. "Volte para sua cama agora ou para a sessão restrita, se preferir."

Dispensou o homem satisfeito.

Harry assentiu ainda mais envergonhado e deixou a sala correndo.