"Eu realmente adoro muito esse lugar!"
Falou Bill olhando apreciativamente para a grande multidão mágica que ocupava as ruas abarrotadas de barracas e vendedores ambulantes.
"O cheiro!" Exclamou ele para um Harry incrédulo. "Você consegue sentir? Cheira a oportunidade!"
Explicou o ruivo com um sorriso de prazer encarando seu parceiro mais jovem.
"Realmente?" Questionou o garoto incomodando em meio a uma careta. "Para mim cheira como uma cova aberta."
"Não seja assim."
Repreendeu o ruivo, bem humorado.
"Você me trouxe para o Egito? É Sério? E não qualquer lugar do Egito, a Toca do Djiin! Me diga, onde você estava com a cabeça?"
Os questionamentos do jovem chamaram atenção do mais velho, que o encarou com curiosidade não disfarçada.
"Eu não esperava por isso." Constatou ele, surpreso. "Você por acaso já esteve aqui antes?"
Era uma pergunta complicada, se é que Harry já havia escutado uma.
"E o que isso importa? Eu achei que iriamos procurar algumas ruínas, matar zumbis ou qualquer coisa do tipo."
Comentou o jovem mal humorado, acompanhando Bill em seu passo despreocupado por entre as vielas estreitas.
Ora ou outra, enquanto caminhava, desviava sutilmente dos pequenos ladrões de aparência inofensiva. Embora fossem pouco mais que crianças, Harry sabia que não hesitariam em surrupiar qualquer coisa de seu bolso traseiro.
"Esse buraco não mudou nem um pouco." Constatou Harry. "Não me inscrevi para uma excursão pela Toca do Djinn, muito menos para enfrentar uma multidão de ladrões, prostitutas e vendedores ambulantes."
"Vamos lá!" Zombou Bill em tom de curiosidade. "Parece uma história interessante, quando você esteve aqui?"
O jovem ainda hesitou por alguns instantes antes de finalmente ceder.
"Estive aqui no fim do outono, com Nicholas." Explicou ele calmamente. "Perenelle se recusou a tomar conta do meu aprendizado enquanto ele viajava."
O jovem parou por alguns instantes, enquanto Bill desviava de um feitiço de aparência desagradável, lançado aleatoriamente por uma jovem cortesã em direção a um mal pagador do outro lado da rua.
"Isso foi perigoso." Resmungou Bill. "Continue sua história, o que você e o Alquimista Imortal vieram fazer aqui, afinal?"
"Não foi exatamente aqui." Recomeçou o Potter. "Acho que ele queria impressionar, me trazendo até um lugar como esse, mas, na verdade, viajamos até a propriedade de uma família de alquimistas locais, mais ao sul, eles eram muito ricos."
"Impressionante."
Comentou o ruivo absorto na história mas atento aos arredores.
"Nicholas tinha negócios com o velho patriarca." As sobrancelhas de Harry levantaram, como se quisessem provar um ponto. "E quando eu digo velho, eu quero dizer muito, muito velho."
Bill limitou-se a rir, incentivando o menino a continuar o conto peculiar.
"Eu não sei ao certo que negócios os dois tinham um com o outro, embora tenha minhas suspeitas, mas o certo é que eles não se davam nada bem, acho que Nicholas estava cobrando uma dívida." O jovem franziu a testa em pensamento. "Entretanto, novamente, eu não sei ao certo, passei a maior parte do tempo na companhia da neta e herdeira do homem."
Bill assobiou.
"Sorte a sua!" Brincou o mais velho, ainda atento aos arredores. "E como foi?"
"Nada demais." Descartou o garoto de olhos verdes. "No fim, as negociações de Nicholas deram errado e ele me instruiu a me aproveitar da confiança da garota para furtar uma herança de família em que ele queria pôr as mãos." Harry estremeceu. "Já estávamos nos dando bem nesse ponto da história, desnecessário dizer que eu não fui muito honrado com ela depois disso."
"Ai! E você vive me acusando de ser um ladrão, hipócrita..." Exclamou Bill, simulando dor. "Como se chama a misteriosa herdeira estrangeira a qual você, aparentemente, quebrou o pobre coração?"
"Layla." Respondeu Harry simplesmente, mas com distanciamento. "O nome dela é Layla."
Bill assentiu, deixando o assunto morrer.
Harry resmungou seu descontentamento, mas voltou a andar ao lado de seu amigo mantendo os olhos atentos para as mãos ágeis que espreitavam seus bolsos no beco apertado.
"Aqui estamos nós!"
Falou o ruivo de repente, adentrando uma alcova em um dos becos laterais e se dirigindo até uma porta de aparência desgastada.
Harry respirou profundamente, uma última vez, o ar acre da Toca do Djinn antes de seguir seu companheiro e instrutor.
"O apartamento que eu costumava dividir com Rachel fica a poucas ruas de distância." Comentou o ruivo batendo na porta em uma sequência especifica. "Tem dezenas de lugares como esse nas redondezas, gostávamos de ficar por perto, ainda deve haver algumas das minhas tralhas por lá."
"O que é esse lugar, afinal?"
Perguntou o garoto mais jovem, enquanto a porta abria.
"Isso, meu caro aprendiz, é um bar." Revelou ele com um sorriso malandro estampado na face. "Um dos melhores lugares para fazer o álcool e o ouro fluir em Toca do Djinn."
"Eu não sou seu aprendiz."
Comentou Harry contrariado, seguindo o mais velho para dentro do estabelecimento.
Se as ruas sujas do beco eram, por conta própria, desconfortavelmente quentes, nada se comparava ao interior da espelunca maltratada.
Parecia muito mais uma caverna mal iluminada do que um bar.
Havia algumas pessoas no ambiente hostil, o garoto, entretanto, presumia que àquela hora do dia não costumava ser um horário muito movimentado.
A careta entediada do barman, um homem de meia idade e cheio de cicatrizes na face, parecia corroborar com sua hipótese.
"Bastet!" Cumprimentou Bill, parecendo alheio aos olhares hostis que ambos recebiam dos poucos clientes da casa. "Já faz quanto tempo? É bom vê-lo!"
O homem atrás do balcão não parecia impressionado com a saudação calorosa. Fez questão de cuspir no chão do próprio estabelecimento antes de começar a falar com um sotaque carregado.
"Nem perto do tempo que eu gostaria." Grunhiu o homem de rosto marcado. "Você tem muita coragem em trazer seu rabo inglês pretensioso para o meu estabelecimento depois de tudo que aprontou, Aahmar."
A última palavra, estranha a Harry, foi dita quase que em um tom de maldição.
"Eu pago minhas dívidas!" Rebateu Bill em tom insultado, retirando um pequeno saco de moedas do bolso. "Você me conhece, sabe que estou sempre disposto a comprar alguns amigos."
O anfitrião riu secamente, aceitando a oferta e a pesando em seus dedos, sem, entretanto, desviar o olhar do ruivo.
"Você vai ter trabalho se espera encontrar alguém aqui, além de mim, disposto a aceitar seu ouro inglês sujo." Respondeu o homem, em um tom mais ameno. "Pegue uma mesa, nosso amigo em comum chegará em breve." Falou o homem já voltando sua atenção para outro lugar. "E Aahmar..." Voltou a falar ele em uma reflexão tardia. "Não faça nenhuma besteira."
O alerta do balconista encontrou ouvidos surdos, Bill não fez menção de ter escutado o aviso enquanto conduzia seu companheiro mais jovem para uma das mesas mais afastadas, em um canto escuro do bar sujo.
"Diga..." Recomeçou o mais velho, assim que tomou seu lugar no assento afastado. "Sobre essa família de alquimistas... Como você disse que se chamava?"
"Eu não disse." Respondeu o mais jovem de forma seca, enquanto analisava os seus arredores. "Tem certeza que é seguro conversamos sobre isso aqui, de todos os lugares?"
O questionamento veio acompanhado de um discreto sinal em direção aos poucos clientes que ocupavam o estabelecimento.
"Você ouve o que eles falam?" Devolveu a pergunta o mais velho. "Se não ouve, eles também não ouvirão."
Harry grunhiu desconfiado.
Bill revirou os olhos diante da falta de confiança do mais jovem.
"Confie em mim, é seguro."
Garantiu o ruivo.
"Certo..." Concordou o de cabelos escuros a contra gosto. "Eu não sei sobre o nome do patriarca da família..." Admitiu depois de um curto tempo. "Nicholas o chamava de Khaled, mas era uma espécie de zombaria, tenho certeza."
"O Imortal." Sorriu Bill sombriamente, reconhecendo imediatamente o significado do nome antigo. "Interessante."
"De fato." Concordou Harry. "O nome da família é mais interessante ainda, se me perguntar. Eu encontrei menções a eles que remontam, ao menos, quatro mil e quinhentos anos atrás."
O Weasley assobiou impressionado.
"Isso é certamente incomum."
O sútil incentivo do mais velho bastou a Harry.
"Maximus." Revelou ele após um único instante de silêncio tenso. "Eu fui apresentado a Khalid, Laila e Samira Maximus, o patriarca e as duas herdeiras."
Se Bill ficou chocado não demonstrou.
"Você quer dizer..."
"Sim." Devolveu Harry antes que o mais velho pudesse elaborar a pergunta. "Nicholas foi bastante sugestivo ao apresenta-los como: os últimos filhos do mercúrio."
"Descendentes diretos de Hermes Trismegistus." Reconheceu o ruivo se alinhando na cadeira que ocupava. "Você certamente conhece algumas pessoas importantes..." Comentou ele antes de mais uma pausa prolongada. "E então? Qual é a teoria? Que tipo de negócios Flamel poderia ter com essas pessoas?"
"Quem sabe? É difícil dizer..." Deu de ombros o adolescente de olhos cor de esmeralda. "Mas eu poderia apostar que tem algo a ver com o elixir e com a pedra, o nome pelo qual Nicholas se referia ao mais velho é bastante sugestivo, se quer saber."
Bill assentiu, ainda parecendo impressionado com o conto inacreditável.
"Isso é o suficiente sobre Nicholas e seus negócios obscuros." Se impôs, finalmente, o de cabelos negros. "O que diabos estamos fazendo aqui, afinal?"
"Estamos fazendo o que todos fazem em um ponto de encontro, meu jovem aprendiz." Revelou o mais velho de maneira dramática. "Esperando que nosso contato apareça."
"E quem seria esse nosso contato?"
Bill, contrariando a confiança que havia, há pouco, demonstrado na segurança do local, avaliou seus arredores com cuidado.
"O chamam de Almir..." Revelou em tom comedido. "Ele é discreto, tem ouvidos muito bons e contatos ainda melhores... Isso faz dele um recurso inestimável nessa parte do mundo."
"É confiável?"
Questionou o mais jovem desconfiado.
Bill deu de ombros, sem demonstrar preocupação.
"Espero que não." Respondeu ele para a surpresa de Harry. "Eu não confiaria em alguém confiável, pelo menos não nesse lugar."
Incrivelmente e por mais estranho que pudesse soar, aquilo fez sentido aos ouvidos do mais jovem. Foi, também, a última troca de palavras antes da porta do bar voltar a abrir, revelando, desta vez, um homem baixo de barba cerrada, coberto por vestes pesadas e desbotadas dos pés ao pescoço.
O reconhecimento brilhou quase que imediatamente nos olhos do companheiro ruivo e, em razão disto, Harry soube que o contato que esperavam havia acabado de chegar.
O homem não tardou a se dirigir a mesa afastada em que estavam, bastou um breve aceno ao taverneiro mal humorado, que, ao contrário de Bill, não parecia feliz com a presença do recém chegado.
Não que o homem tivesse dado indicativos, até então, que a chegada de pessoas ao seu estabelecimento lhe trazia alguma satisfação.
"Almir." Bill comprimento alegre, embora de forma mais contida do que o de costume. "O que tem para mim hoje."
O homem grunhiu dolorosamente ao tomar um assento em frente aos dois companheiros na mesa redonda.
Harry não deixou de perceber que o homem parecia ferido.
"William Weasley." Retornou o homem com a voz enrouquecida. "Como o chamavam por aqui mesmo? O Vermelho?" Bill não respondeu, apenas deu de ombros desinteressado. "Já faz um bom tempo..."
O recém chegado cortou seu discurso ao acenar para o dono do bar escuro, pedindo que lhe servisse uma bebida.
"Eu não vou pagar por isso."
Protestou Bill despreocupadamente.
"Você vai, Aahmar." Retrucou o homem em tom sociável. "Nós dois sabemos que você vai pagar."
O tom, apesar de aparentar leveza, indicava que algo maior do que Harry era capaz de compreender no momento estava sendo dito nas entrelinhas.
Nada mais foi falado até que o taverneiro trouxesse a bebida pedida pelo homem. Harry notou que o mesmo verificou a caneca larga, de forma quase casual, em busca de venenos ou qualquer outra substância fora do lugar.
"Quem é o garoto?"
Questionou o barbudo dirigindo sua atenção, pela primeira vez, a Harry.
Só agora o menino percebeu que o homem de aparência mais velha não tinha um sotaque e falava em um inglês perfeito, indicando que talvez não fosse um nativo daquele local.
"Meu novo aprendiz." Mentiu o ruivo facilmente, para o que Harry revirou os olhos com indiscrição. "Ele precisa de um pouco de experiência, então resolvi trazê-lo comigo dessa vez."
O homem não parecia convencido.
"Isso não tem nada a ver com o que ouvi que aconteceu entre você e sua parceira anterior naquela caverna há alguns meses, espero..."
A farpa sutil, embora tivesse despertado o interesse de Harry, não pareceu abalar Bill.
"Não, naturalmente não."
"Bom!" Falou simplesmente o homem, tomando mais um gole de sua bebida. "De qualquer forma, esse aqui é bem menos agradável aos olhos do que a última."
Bill, em tom de bom humor, encarou Harry criticamente.
"Eu posso concordar com isso."
Reconheceu ele finalmente.
"Eu também." Retrucou Harry, em resposta a provocação dos dois mais velhos. "Pelo pouco que conheci de Rachel ela me pareceu realmente fascinante."
O barbudo riu pesadamente. Enquanto Bill, por sua vez, fechou a cara.
"Aprendizes ficam calados e aprendem enquanto os mais velhos conversam."
Harry voltou a levantar a sobrancelha.
"Isso faz sentido." Concordou o mais jovem. "Que bom que não sou seu aprendiz e, portanto, não preciso me preocupar com isso."
O homem desconhecido, tendo terminado de tomar sua bebida, limpou a garganta, interrompendo a discussão infantil que certamente ocorreria.
"Embora seja muito interessante ver que nem ao menos se deram ao trabalho de combinar uma história de fachada..." Comentou ele despreocupado. "Meu tempo é limitado."
"Eu entendo." Respondeu Bill voltando a ficar sério. "Nós também estamos trabalhando com um cronograma apertado." Reconheceu o ruivo. "O que tem para mim, Almir?"
"Eu não tenho nada para você, ruivo." Respondeu secamente o homem, recostando-se na cadeira e cruzando os braços. "Nem eu, nem ninguém nesse lado do país."
A carranca de Bill não passou despercebida, mas o Weasley também não parecia surpreso com aquela resposta.
"E, ainda assim, veio ao meu encontro" Disse em um murmúrio. "Notei que está ferido." Apontou o ruivo. "Tem poucas coisas que não seriam facilmente tratáveis por um aceno de varinha ou boticário qualquer..."
O homem assentiu sem parecer intimidado.
"Você é bom, ruivo, mas não é o único."
Bill zombou.
"Eu sou o melhor." Gabou-se ele. "Se você não foi capaz de resolver seja lá qual for o problema com o qual está lidando por conta própria, nada menos que o melhor será capaz de lidar com isso."
"Você se tem em alta conta, garoto." Argumentou o homem de barba fechada. "Mas há pouco que você pode fazer que uma boa equipe não possa."
Bill sorriu.
"Uma boa equipe cobrará o preço de uma boa equipe." Lembrou o ruivo. "Trabalhamos juntos há quanto tempo?" Questionou ele. "Você sabe muito bem que não há ninguém em sua lista de contatos, tão bom quanto eu, que esteja disposto a honrar os nossos termos usuais."
O impasse era evidente, mas mesmo os olhos destreinados de Harry puderam perceber que a negociação havia mudado em um estreitar de olhos, não estava mais em questão se eles fariam o trabalho, mas sim os valores envolvidos.
"Muito bem, ruivo." Concordou o contratante como se pretendesse aceitar desde o início. "Mas espero que não esteja pensando na divisão habitual, com sua reputação, atualmente..."
Qualquer detalhe que pudesse escapar foi cortado pela interrupção oportuna de Bill.
"Meio a meio..." Cuspiu o Weasley aparentando estar incomodado. "Ninguém assumiria um trabalho assim por menos que isso."
Almir gargalhou em escárnio.
"Você não vai conseguir mais que vinte por cento, garoto." Sorriu o homem com roupas pesadas. "E eu estou sendo generoso."
A frustração de Bill, embora evidente em razão de sua feição, parecia ensaiada.
Harry tinha a forte intuição que a negociação difícil já era esperada.
"Nem mesmo a mais medíocre das equipes trabalharia por menos de quarenta." Teimou o ruivo. "Você sabe que precisa de mim, Almir."
O homem negou com a cabeça, ainda mantendo o bom humor em sua feição.
"É aí que você se engana, ruivo." Recomeçou ele. "Você precisa de mim, muito mais do que eu preciso de você." Almir terminou sua bebida com um largo gole em meio a um grunhido de satisfação. "E é por isso..." Recomeçou. "Que você aceitará trinta por cento, essa é a minha última oferta."
O homem mal havia acabado de falar quando levou sua mão até o interior das vestes.
Por um instante os instintos de Harry o alertaram para um possível ataque, mas o garoto relaxou ao ver o homem sacar, não uma varinha, como era de se esperar, mas sim, uma única pena de aparência exótica.
"Chave de portal." Explicou ele largando o objeto em cima da mesa, em frente a Bill. "Espero você lá amanhã, ruivo, ao nascer do sol, não se atrase."
O contato não esperou a resposta do Weasley, afastou-se a passos rápidos, da mesma forma que havia chegado, há poucos minutos.
"Encantador."
Comentou Harry secamente, ao observar o estranho deixar o estabelecimento.
"De fato." Concordou Bill, parecendo levemente aborrecido. "Vamos!" Disse ele deixando algumas moedas na mesa. "Preciso comprar algumas coisas, não teremos tempo amanhã."
No dia seguinte, ao nascer do sol, ambos usaram a chave de portal em forma de pena.
Foram levados até uma encosta montanhosa.
Era um deserto íngreme de pedra e areia, não havia nada lá, ao menos nada perceptível aos olhos de Harry.
Bill bufou, ao que Harry franziu a testa.
"Era para estarmos aqui?" Questionou o jovem levemente preocupado. "Não há nada ao redor."
"Você está errado." Contradisse o ruivo em tom de voz seco. "Acho que é uma boa hora para uma lição prática, ainda temos algum tempo..."
Harry assentiu intrigado.
"O que eu devo procurar?"
Bill limitou-se a apontar para a encosta montanhosa.
"Magia muito sútil, é compreensível que você não tenha percebido logo de cara." Revelou o mais velho. "Baixe suas defesas, se concentre e me diga o que temos aqui."
O jovem fez conforme o instruído, não era muito diferente do que o que ele costumava fazer, há alguns anos atrás, no escritório do diretor.
Não demorou muito para o jovem perceber o que estava acontecendo.
"As alas começam logo em frente." Comentou o garoto, após perceber o óbvio. "São muitas, eu não reconheço todas elas."
Bill assentiu.
"Você precisa melhorar." Aconselhou o Weasley. "Quais você conseguiu detectar?"
"Repelente de trouxas."
O mais velho grunhiu.
"Essa é a mais comum, ficaria muito surpreso se você não conseguisse encontrá-la." Provocou ele. "Você pode fazer melhor que isso... O que mais?"
Harry voltou a se concentrar, tentando discernir entre as muitas camadas de magia tecidas uma em torno da outra.
"Há cerca de quatro ou cinco alas defensivas, padrões até onde posso dizer." Apontou ele. "Com exceção de uma, nunca senti nada parecido."
"Perto o suficiente." Reconheceu o outro. "São oito, na verdade."
Harry assentiu, assumindo o erro, aquela estava longe de ser a especialidade dele.
"E, é claro, uma forte ilusão sobre toda essa encosta." O jovem voltou a fechar a cara. "Me sinto meio idiota por não ter percebido logo de cara."
Bill riu.
"É bem impressionante para um amador." Elogiou o ruivo. "Você poderia sentir mais alguma coisa se chegasse mais perto?"
"Acho que sim." Ponderou o de cabelos negros, ignorando o fato de ter sido chamado de amador. "Eu devo?"
"Não, ainda não." Negou o mais velho. "Por curiosidade, qual delas você derrubaria primeiro?"
Harry não tinha muita certeza sobre isso.
Ele era competente o suficiente em aritmância, afinal a alquimia exigia isso; mas o conhecimento rúnico necessário lhe fugia, ele sabia o básico que era ensinado em Hogwarts e mais tudo que era estritamente necessário para os métodos alquímicos mais sofisticados, mas isso era tudo.
"Eu não tenho certeza." Admitiu ele após algum pensamento cuidadoso. "Há alguns elementos dessa barreira que não me são familiares, mas eu diria que começar pela ilusão é a escolha mais segura, considerando todas as coisas."
O ruivo balançou a cabeça sorrindo.
"Isso dispararia o alarme."
A sobrancelha de Harry se ergueu imediatamente.
É claro, a ala defensiva que ele não havia reconhecido a princípio.
"Começaria por ele, nesse caso."
Corrigiu-se o jovem, levemente envergonhado, mas mantendo o rosto neutro.
"O que está esperado?" Incentivou o ruivo, para a surpresa do mais jovem. "Nós não temos o dia todo."
"Isso é sério?" Questionou o Potter cético. "Eu acho que derrubar as alas do seu empregador não é a maneira mais sábia de estabelecer uma relação de emprego saudável."
O mais velho fez um gesto desdenhoso.
"Isso é, antes de mais nada, uma viagem de aprendizado." Lembrou ele despreocupado. "Almir vai entender."
Harry deu de ombros e se pôs a trabalhar.
Sua varinha estocou apontando para a encosta, na direção onde ele sabia que estavam concentradas as alas, uma única vez.
Foi surpreendentemente fácil se conectar com o esquema mágico, mas foi mais difícil encontrar o primeiro alarme.
"Dumbledore o ensinou bem." Constatou o mais velho em apreciação. "Achei que agiria como um amador, usando contra feitiços ou, pior, força bruta."
Harry zombou, sentindo o suor escorrer por sua testa, não tanto pelo calor desconfortável, mas sim pela concentração exigida.
"Eu sei ser sútil quando é necessário."
A feição de Bill demonstrou claramente que ele não acreditava nisso.
"Você está indo bem." Voltou a falar o ruivo. "Derrube a ilusão agora, você conseguiu desvincular o alarme, será mais fácil derrubá-lo depois."
Harry assentiu, guardando a informação útil no fundo de sua mente.
A ilusão foi mais fácil de quebrar, era uma magia mais genérica e, por conta disto, era dependente do restante do sistema para ser eficaz.
O jovem fez uma careta e empurrou sua magia em direção ao esquema de alas em único impulso.
A realidade pareceu rachar em sua frente para, logo depois, escorrer e dissipar pelo ar.
Revelou-se, de pronto, a real face da encosta, antes camuflada pela magia.
O seu parceiro mais velho voltou a rir.
"Isso que eu chamo de sutileza." Zombou ele. "Para quem sabe ser sútil quando necessário você se volta muito rápido para a força bruta."
Harry deu de ombros sem se incomodar com a crítica.
"As vezes a força bruta resolve." Comentou ele em voz baixa, limpando o suor de sua testa e terminando de derrubar o alarme. "Pronto." Disse ele baixando a varinha. "Ilusão quebrada e alarme desativado."
Só agora o jovem olhou com atenção para a encosta desnuda.
Não parecia muito diferente da versão camuflada, com exceção de uma única abertura que se abria entre as pedras, uma garganta escura e íngreme.
"Trabalho aceitável." Avaliou o ruivo. "Vamos logo! Já estamos atrasados."
Harry não hesitou em segui-lo.
"Não vai derrubar o restante das defesas?"
Questionou o jovem, seguindo o mais velho e entrando na caverna.
"É claro que não." Respondeu ele como se fosse óbvio. "Por que eu faria isso? Seria desrespeitoso."
"Você não parecia preocupado com isso quando desfizemos a ilusão e desativamos o alarme."
Apontou o jovem curioso.
O ruivo gargalhou.
"Ora, mas eu não fiz nada." Respondeu ele com um sorriso sacana e um olhar afiado. "Isso foi tudo você."
O garoto revirou os olhos resmungando.
"Idiota."
"Não use esse linguajar com seu mestre."
Limitou-se a repreender Bill, em tom de superioridade e zombaria.
A resposta mordaz do mais jovem teve que esperar.
A pequena caverna apertada se abriu em um abóbada gigantesca. Havia, no centro da sala subterrânea, uma escadaria, cercada por pilares de pedra iluminados por uma luz etérea.
Era magnífico de se olhar e havia magia impregnada no ar antigo.
No topo da escadaria velha estava Almir, cercado por quatro pessoas, três homens e uma mulher que, Harry só poderia supor, compunham a equipe citada na reunião do outro dia.
Bill resmungou.
"Achei que ele dispensaria a equipe."
Apontou o mais jovem em um sussurro.
"Eu também, mas deveríamos ter previsto o contrário." Respondeu em voz baixa e irritada o ruivo. "Isso não é nada bom..."
Não era a primeira vez em sua curta vida que Harry Potter indagava a si mesmo em pensamentos: como é que ele sempre acabava no meio de situações tensas e desagradáveis que, em primeiro lugar, nada tinham a ver com ele?
"Emocionante."
Murmurou, amargo, o jovem; seguindo, resignado, seu parceiro mais velho em direção aos degraus ancestrais de pedra.
