Omnia mutantur

Autor (a): Phoenix

Olá queridos leitores, quero lhes apresentar mais uma fic, mas antes que vcs digam: ei, e a outra fic que ficou no meio do caminho, eu vou logo dizer que os projetos não têm nada a ver. A mente é uma coisa louca e por isso mesmo, nem sempre nos é possível controlar o fluxo de idéias que vez por outra nos invade. Foi em um desses ataques avassaladores que a presente fic surgiu; em uma improvável tarde chuvosa de feriado. Provavelmente por isso a história tem leves tons cinzentos, mas a esperança é que depois de uma forte chuva, resta um lindo arco íris.

Beijos a todos e boa leitura.

CAPÍTULO 1

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.


A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém,preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.


Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

(Luís Fernando Veríssimo)

Nossa história começa no ponto em que Verônica volta para a casa da árvore para encontrar a configuração de seu grupo essencialmente modificada: Malone não estava mais entre eles e não vou me repetir porque vcs já sabem o motivo disso. Para ela seria um momento difícil, mas devemos ter a clareza de que as mudanças ocorrem em nossas vidas, independente da nossa vontade. As pessoas vêm e vão em nossas vidas e não nos é dado a saber quando isso vai acontecer; é importante então deixar claro para aqueles que nos são queridos a importância que têm em nossa existência, antes que não haja mais oportunidade de dizer. Verônica aprendeu esta lição da maneira mais difícil, mas resta saber o que ela vai fazer com essa dolorosa, mas vital experiência.

Elucubrações filosóficas à parte, vamos ao que interessa de fato. Como as coisas ficaram depois de passada a tempestade?

Há um bom tempo as coisas haviam se tornado estranhas, nebulosas entre os nossos aventureiros. Devo reconhecer que nada mais era como antes; é verdade que Verônica havia voltado para o convívio dos seus queridos amigos, e isso oa encheu de alegria, mas em contrapartida, Malone havia partido e sem previsão de volta. Finn era a mais nova moradora, que agora se esforçava por fazer parte daquele grupo e apreender as formas de relacionamento deles. Apenas Challenger, Marguerite e Roxton permaneciam os mesmos. Será? Talvez seja mais apropriado dizer que eram os únicos que não haviam partido nem estavam regressando, mas isso não significava necessariamente que as coisas fossem mais fáceis para eles.

Nos ar pairavam muitas dúvidas, muitas perguntas não formuladas e consequentemente, não respondidas. Os semblantes variavam entre a tensão e o desânimo; a alegria de outrora fazia falta e viria bem a calhar nestes dias difíceis. A presença de Finn era um sopro de ar fresco para os aventureiros, pois ela lhes trazia a esperança de que os novos tempos poderiam ser melhores do que eles pensavam. Ela foi rápida em achar uma ocupação para si: ajudante do cientista. Ele, por sua vez, aceitava com simpatia a ajuda da jovem, pois além de reconhecer ser monótono o trabalho solitário no seu improvisado laboratório, os comentários pueris que, volta e meia ela fazia, o divertiam e faziam-no esquecer-se do clima cinzento da casa.

O relacionamento entre Marguerite e Roxton não havia avançado muito e parecia, às vezes, que assim seria sempre. Ele com seu ímpeto de dominar a furiosa herdeira, e ela com seus temores inconfessáveis. Esse era um casal realmente difícil de encontrar entendimento, pois guardavam tantos segredos, tantas emoções, que não conseguiam extravasar o mais simples: o que sentiam um pelo outro. Penso que eles deveriam atentar para a situação de Verônica e quem sabe, aprender alguma coisa; mas como ensinar àqueles que acham que já sabem tudo! Pobres mortais, não sabem que autoconfiança em demasia é o caminho mais curto para decepção!

De qualquer forma, Marguerite e Roxton também ocupavam grande parte do dia com as já conhecidas provocações e jogos de charme; apenas para Verônica as coisas não melhoravam nem um pouco. As horas se arrastavam penosamente e as tardes que passava sentada na varanda, esperando por alguém que não chegava mortificavam sua alma e entristeciam seus delicados traços, causando preocupação aos demais moradores. Nem mesmo suas atividades rotineiras, extremamente prazerosas, como os banhos de rio, as caminhadas pela mata, as visitas à tribo Zanga, especialmente a sua amiga Assai, eram capazes de lhe dar alguma satisfação. Uma nuvem cinzenta pairava sobre a jovem, sem perspectiva de céu azul.

O cientista acompanhava o definhar da moça, assustado por nunca tê-la visto tão vulnerável; de fato, pessoas costumeiramente fortes, quando se encontram vulneráveis, despertam, não só piedade, como principalmente assombro: se até os pilares enfrentam seus momentos de desequilíbrio, que será dos demais que se apóiam sobre eles! "Nunca fui capaz de responder à grande pergunta: o que quer uma mulher?", dizia Challenger consigo mesmo, parafraseando Sigmund Freud, para referir-se à situação que havia se instalado na Casa da árvore. É claro que todos sentiam a falta de Malone, principalmente por não terem notícias de seu paradeiro, mas o cientista achava que a angústia de Verônica parecia motivada por outras causas que não só a saudade, e ele tinha toda razão. Talvez só agora ela tenha se dado conta do quanto gostava dele, e poderia não ter mais chance de demonstrar isso.

Verônica sabia que seus amigos preocupavam-se com seu bem estar, mas ter que responder a cada minuto se estava bem ou se queria alguma coisa, lhe chateava, e por isso era comum se isolar em algum ponto da casa, ou mesmo na selva para se dedicar a uma nova atividade: agora ela escrevia em um diário, como fazia o jornalista. Foi o modo que ela encontrou de expressar tudo que sentia e não podia mais guardar e ao mesmo tempo, sentir-se mais próxima de Malone. A cada dia várias páginas eram preenchidas, já que as palavras escorriam no papel na mesma profusão que as lágrimas corriam em sua face:

"Onde está vc? Por onde estará neste exato momento? Será que pensando em mim? E quando volta, se volta...". São tantas perguntas na minha cabeça que fico tonta e me perco nos meus pensamentos e temores. A cada novo dia que começa, tento manter a esperança de que vou vê-lo chegando em casa e tudo finalmente voltará a ser como antes, como nunca deveria ter deixado de ser, com uma única e significativa diferença: dessa vez prometo dizer sim. Ao mesmo tempo tenho medo: e se vc voltar e não me quiser mais? Se tiver desistido de mim? Se tiver descoberto que não valia apenas esperar por alguém que insistia em não ver o óbvio? Meu coração se aperta a cada pensamento, a cada dúvida e a cada hora que vc me falta, mas, pior que tudo isso é pensar que vc pode não mais voltar. Saber que não faço mais parte de sua vida será uma constatação dolorosa, tenho certeza, mas não saber nada de vc é uma dor ainda pior e sei que essa não serei capaz de suportar".

Naquela tarde, ela voltou para casa abatida como sempre, mas tinha uma sensação diferente, uma ansiedade, como se algo estivesse para acontecer. Chegou até mesmo a pensar "Será que é vc Malone, que está voltando para mim?", mas achou que isso seria bom demais pra ser verdade. Amigos leitores, vcs podem chamar de intuição feminina, alma gêmea, ou qualquer termo que queiram usar, mas o fato é que Verônica não fazia idéia do que encontraria em casa; quem sabe a chance de ter todas as suas perguntas respondidas.

Restava saber se isso seria bom...

...ou não.

CONTINUA...

Disclaimer: os personagens aqui citados fazem parte da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World", não sendo, portanto de propriedade do(a) autor(a) desta fanfiction