Omnia mutantur

Autor (a): Phoenix

Comentários:

TowandaBR: prometo não judiar dos leitores, que aliás já devem estar acostumados com o meu modo nada convencional de escrever (sem regras, sem diálogos, sem data pra liberar caps...e sem inspiração às vezes...). Tb adoro coisas com clima melancólico, aliás tem palavras que eu adoro e melancolia é uma delas! Segundo a psicologia, o melancólico é aquele que sente falta de algo que ele não sabe bem o que é...por isso não consegue suprir essa falta e fica sempre nesse querer infinito. Floberla Espanca fala disso lindamente em um texto.


Cris: adoro esse negócio de escrever o pensamento dos personagens, acho que é uma maneira bacana de tentar explorar a personalidade de cada um (não dá pra fugir da psicologia, né!),mas ao mesmo tempo é um risco, porque pode cair na pieguice, nos textos de novela mexicana que eu tanto detono!

Aline: adoro colocar frases ou textos no início dos caps de acordo com o tema das fics, aliás, eu adoro juntar essas pérolas! Nesta fic em especial, tô selecionando autores que tratam de forma bastante delicada os sentimento humanos e que, particularmente me emocionam. Que bom que vc gostou.


lais e Maylayton:
resolvi responder a vcs duas em conjunto, porque são minhas novas leitoras! Sejam bem vindas ao estranho mundo de Phoenix e ao fabuloso destino das minhas fics, que sempre sei como começam, mas que raramente sei como terminarão! Obrigada pelos elogios e continuem lendo!

Desculpem pela demora (vcs ainda agüentam me ver escrevendo isso!Pelo visto, tudo muda, menos a minha inconstância...), aí vai o cap 2!

With love,

Phoenix.

CAPÍTULO 2

Fragmentos de um discursos amoroso

"Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um. O outro pelo qual estou apaixonado me designa a especialidade do meu desejo. (...) Foram precisos muitos acasos, muitas coincidências surpreendentes (e talvez muitas procuras), para que eu encontre a Imagem que, entre mil, convém ao meu desejo. Eis um grande enigma do qual nunca terei a solução: por que desejo Esse? Por que o desejo por tanto tempo, languidamente?... "

Roland Barthes

Assim que saltou do elevador, Verônica, com o coração aos pulos, foi entrando em casa e olhando em todos os cantos, procurando por algum sinal de que sua intenção não havia lhe traído. A casa estava em absoluto silêncio, e isso a fez chamar pelos outros, de início calmamente, mas depois com o desespero diante de segundos que pareciam horas, sem que notasse a voz trêmula com que ia chamando um a um. A primeira a aparecer na sala foi a herdeira, coçando os olhos que tentavam se adaptar à luz:

-Verônica, o que foi?

- Onde estão todos? Tem mais alguém aqui?

- Não faço idéia...acho que Roxton foi caçar, Finn e Challenger estão no...mas espere aí... vc está esperando alguém?

-Eu?

- Sim, vc. Pela maneira que começou a berrar o nome de todos e ainda perguntando se tem "mais alguém" aqui!

Verônica até tentou ignorar a pergunta de Marguerite, mas quem consegue a proeza de ignorá-la? Com os braços cruzados e os olhos, que rapidamente despertaram, pregados na jovem, Marguerite só faltou bater os pés aguardando a resposta. Depois de gaguejar um pouco, ganhando tempo para arrumar alguma desculpa esfarrapada, Verônica finalmente respondeu:

-Assai...

- Assai...hum...

- É, achei que Assai poderia ter vindo aqui...ela nunca mais apareceu...

- Ah sim...Disse a herdeira sem levar muita fé de que Verônica realmente esperava por Assai, e continuou: Porque então vc não vai até lá? Acho que seria bom pra vc...Aliás, não entendo o porque de vc estar a tanto tempo sem visitar a aldeia Zanga! Estranho...

- Estou um pouco cansada e daqui pra lá é um bom pedaço de chão...mas, vc tem razão, seria bom pra mim...é, seria bom, vou sim...

Marguerite teria continuado sua série de indagações até chegar ao verdadeiro motivo da inquietação de Verônica, mas a loira não lhe deu chance. Depois de esboçar um pálido sorriso, Verônica dirigiu-se à seu quarto, aliás, onde, de uns tempos pra cá, permanecia a maior parte do dia, quando estava na casa. Bons tempos aqueles em que costumava contemplar, enternecida, o entardecer no plateau, ou mesmo se propunha a ajudar Challenger, fascinada pelo repertório intelectual do homem de cabelos de fogo.

Ela mal havia adentrado seu quarto, quando ouviu uma voz, que imediatamente reconheceu como familiar. Marguerite confirmou o que seus ouvidos e sua intuição lhe gritavam:

- Verônica, estou pensando em fazer um piquenique amanhã...já que está tão intuitiva, sabe me dizer se vai chover? Disse Marguerite,ironicamente, enquanto cruzava com Verônica que se dirigia à varanda para responder à sua amiga. Verônica, por sua vez, lançou uma olhar fulminante à herdeira.

- Foi impressão minha ou senti uma leve ironia na sua voz minha dama? Disse Roxton, aparecendo bem atrás da herdeira e sussurrando ao ouvido dela.

- Ironia? Eu! Disse ela, recompondo-se após a interpelação súbita do lorde; ela bem que tentava, mas sabia que cada vez que ele se aproximava e a abordava daquela maneira, intimamente ocorria uma tempestade em seu ser.

- Ah, é verdade, isto não condiz com a sua personalidade...Disse ele, tomando emprestada a ironia de Marguerite.

- Olhe Roxton, eu até poderia lhe explicar o que condiz ou não com a minha personalidade, mas no momento algo me diz que terei mais com o que me ocupar... Disse ela espichando-se para olhar o que estava acontecendo na varanda.

- Hum...mulheres e sexto sentido! Isso é no mínimo engraçado...Disse Challenger enfiando-se na conversa também.

Finalmente os habitantes da casa haviam resolvido sair de suas tocas. A herdeira estava altamente interessada na movimentação da varanda, mas não resistiu a dar meia volta e responder tamanha provocação.

- George, nunca duvide da intuição de uma mulher! Disse ela com o dedo em riste.

- E poderia dizer por quê? Perguntou sarcasticamente o Lorde.

- Foi só um aviso, que serve para todos vcs, homens, um dia vcs podem precisar...e à propósito, não é engraçado, é a mais pura verdade, e não importa se a sua ciência acredita ou não, Challenger...mas vcs nunca entenderiam e sabem por que? Porque homens estão em uma escala evolutiva inferior! Surpresa: isso só não consta nos livros de ciência para que vcs não fiquem magoados!

Os três estavam tão mergulhados na sua "interessante" discussão, que não notaram que Verônica havia tomado o elevador e descido para falar com Assai; seu colóquio sobre as diferenças e similaridades femininas e masculinas foi interrompido por um "Ei gente!" de Finn. Ela havia passado por eles, sem que notassem e se dirigido à varanda, de onde notou que Verônica parecia estranhamente agitada ao falar com Assai.

- O que tá acontecendo? Ei venham aqui!

Todos correram pra varando e viram que Verônica parecia ter recobrado seu entusiasmo costumeiro. Mais que rapidamente, Marguerite, Roxton, Challenger e Finn desceram o mais rápido que puderam para saber qual o motivo de tamanha euforia. Quando chegaram perto das duas, viram que Assai estava particularmente desconfortável diante da alegria de sua amiga.

- Olá Assai! O que aconteceu? Disseram todos em uníssono.

Ela bem que tentava disfarçar seu semblante pesado, mas ninguém deixou de notar, exceto Verônica. A observação cortante da herdeira não poderia deixar de entrar em cena:

- O que houve Assai? Verônica parece alegre, alguma boa notícia?

-A melhor! Vou pegar minhas coisas e desço já Assai. Não saia daí! Disse Verônica, enquanto corria em direção à casa.

Assai definitivamente não era de rodeios e foi logo contando o motivo do furor da jovem: Malone havia sido encontrado.

- O que? Quando? Gritava Roxton.

- Onde? Onde ele está? Queria saber Challenger.

- Diga-nos Assai! Vamos lá agora mesmo! Disse o Lorde já prestes a buscar seu amigo.

Eles queriam saber os detalhes, mas quando começaram as perguntas, Verônica tomou Assai pela mão e foi arrastando a amiga, com toda a pressa do mundo em direção a aldeia Zanga. Sem outra opção, os aventureiros seguiram as duas, esforçando-se por acompanhar o passo da jovem; vale ressaltar que isso já era difícil em condições normais e muito mais naquele momento em que ela voaria se pudesse.

O romancista Coelho Neto disse, sabiamente, que a casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração, mas tomo aqui a liberdade de modificar um pouco este pensamento dele; no caminho que levava á Zanga, ia passando na cabeça de Verônica um filme, com as memórias mais preciosas da estada de Ned na casa da árvore. Ela lembrou-se como se conheceram e do quanto sua doçura a encantou, lembrou de todas as provas de amor que ele havia lhe dado, e dolorosamente, tb lembrou de todas as vezes em que perdeu a oportunidade de retribuir este sentimento. Com a profusão de sentimentos que afloravam em meio a essas lembranças, a pequenina cabana crescia enormemente, ocupando não um canto, mas todo o coração da jovem, que batia descompassado.

Durante o percurso, os detalhes voltaram a ser investigados, mas Assai mostrava-se reticente, e nessa conversa havia mais lacunas do que informações propriamente ditas. Cada um criava suas teorias do porque disso, mas a cada passo as hipóteses surgiam e eram suplantadas por outras novas. A única pergunta que não puderam deixar pra lá foi sobre as condições do jornalista. Saber se ele estava bem era essencial para seus amigos, mas até mesmo isso não foi respondido com convicção por Assai. Ela disse que ele não estava machucado, apenas mais magro.

Assai tentou conversar com Verônica várias vezes, mas ela nem mesmo diminuía o passo; estava mais que ofegante, mas a adrenalina que tomava conta de seu corpo a impulsionava para prosseguir. Quando estavam bastante próximos da aldeia, a nativa afastou-se um pouco da jovem e aproximou-se dos outros aventureiros:

-Preciso falar com vcs...

- Isso eu já percebi Assai, mas o que de tão importante vc precisa dizer? Questionou Marguerite, com uma ponta (grande!) de irritação na fala.

-É alguma coisa com Malone? Perguntou Roxton, que a esta altura, já começava a se preocupar.

-É...

- Não me diga que ele...vc disse que ele estava bem! Perguntou um aflito Challenger.

- Vcs perguntaram se ele estava machucado...e ele não está.

- Mas...Adiantou a herdeira, que, se pudesse, espremeria Assai pra que ela falasse de uma vez por todas.

- Mas eu tenho receio de que Verônica se decepcione quando encontrá-lo.

- E porque isso aconteceria? Perguntou o caçador.

- Porque ele está meio estranho!

- Estranho? Como assim? Continuou ele.

- E tem mais...

- O que mais? Conte tudo Assai, afinal vamos chegar logo na aldeia! Desta vez foi Challenger quem perdeu a paciência.

- Não fomos nós que o encontramos!

- Não! E quem foi então? Marguerite ergueu a sobrancelha.

- Ele foi trazido por um grupo...eles são como vcs, vestem-se do mesmo modo e disseram que vieram em busca da expedição e vcs!

- Que história é essa Assai? E como é que vc só nos conta isso agora! Um possesso Roxton tb começava a surgir; na verdade, aquelas informações aos pedaços confundiam mais que elucidavam e levavam os aventureiros a pensar que algo de algo teria acontecido à Malone.

Como podem ver, havia muitos elementos a serem explicados nessa volta de Malone, mas Assai não havia conseguido contar tudo e agora as coisas aconteceriam de forma inesperada: haviam chegado a Zanga! Verônica cruzou o centro da aldeia como um raio, mas virou-se para Assai a fim de saber onde ele estava. Assai apontou para uma das tendas, mas não foi preciso que ela entrasse, pois de lá, saiu a sacerdotisa e logo após ela, finalmente Malone. Verônica abriu o mais largo sorriso que poderia ter e apressou-se por correr até ele e pendurar-se em seu pescoço. Ele retribuiu friamente, mas ela não notou, como se naquele momento houvesse em seu peito amor suficiente para os dois. Passado aquele momento mágico, ela se afastou um pouco e quis olhar para ele, encarar aqueles olhos azuis que tanto lhe davam saudades, mas qual não foi a sua surpresa diante da reação do jornalista, que se virou para a sábia mulher de Zanga e perguntou:

- Quem é esta moça?

- Quem sou eu Malone!

- Desculpe senhorita, eu a conheço!

- Pare com essa brincadeira sem graça! Vc nunca teve talento pra comédia! Disse a jovem, visivelmente nervosa.

- Eu sinto muito, mas... Disse o jornalista, que, por sua vez, estava tb visivelmente desconcertado.

Nesse momento, saiu da cabana alguém que Verônica jamais esperaria ver no plateau:

- Neddy querido, vc precisa descansar...

- Estou bem Gladys. Na verdade as coisas estão muito confusas...eu nem mesmo sei como vim parar aqui!

- Acho melhor ele entrar! Mas espere um momento, vcs são os expedicionários que viemos procurar! Professor George Challenger! Disse Galdys, desviando seu olhar de Verônica.

- Do que vcs estão falando? Vieram procurar quem? Malone olhe pra mim!

Percebendo a urgência da situação e, principalmente o desespero de Verônica, os amigos, com a ajuda de Assai, a levaram para uma tenda onde ela pudesse se acalmar e entender as coisas. Eles bem que tentaram explicar os acontecimentos, Assai tentou explicar como ele havia chegado, tentou falar sobre a expedição da qual Gladys fazia parte, mas as palavras dela e dos outros eram levadas pelo vento frio que Verônica sentia cortar sua alma.

Quando a saudade é demais, não cabe no peito: escorre pelos olhos, e as lágrimas corriam na face de Verônica sem nenhum pudor. A única coisa que ecoava em sua mente era o rosto de Malone, impassível diante dela; a dor de se sentir insignificante diante dele:

"Ele esteve sempre tão perto, tão ao alcance de minhas mãos e minhas queixas que eu nunca me dei conta de quão curta essa felicidade poderia ser. Quando ele partiu, a procura por seu paradeiro se tornou a missão da minha vida, porque pela primeira vez eu não me imaginava sem ele, sem sua presença silenciosa, mas essencial. Agora que ele voltou, sinto-me mais perdida do que antes; ele me olhou, mas eu não me vi naquele olhar...isso é doloroso, eu o tinha como meu e agora ele nem sabe quem sou. Como ele pôde esquecer de mim? Como eu pude perder tanta vida? "

CONTINUA...


CITAÇÔES:

- A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração. - (Henrique Maximiliano Coelho Neto - Romancista e contista brasileiro - 1864/ 1934)

- Quando a saudade é demais, não cabe no peito: escorre pelos olhos. - (Anônimo)

Disclaimer: os personagens aqui citados fazem parte da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World", não sendo, portanto de propriedade do(a) autor(a) desta fanfiction