Omnia mutantur

Autor (a): Phoenix

Comentários:

TowandaBR: Eu só quero te fazer uma pergunta: se você me esganar, quem vai continuar a fic?

Além disso, se eu não parar no clímax, quem vai querer ler o próximo cap? Aprendi com o emissora plim plim minha filha, e dá certo!Ah, sugestões de como infernizar a vida da Gladys são bem aceitas!

Cris: OI Cris, obrigada pelos elogios e que bom que, diferente da Si, vc não quer me esganar...ou será que vc não disse mas pensou! M-e-d-o... Como eu já disse, e, aliás, como sempre acontece nas minhas fics, nem eu sei bem para que lado elas vão; na verdade, minha fics se autoconduzem...dessa vez até expedição nova e Gladys...

Lais: espero sinceramente que vc não fique aos prantos, pelo menos não tão cedo, porque ainda tem muita água pra passar por debaixo dessa ponte! Beijos.

CAPÍTULO 3

Jornada

Novas trilhas para velhos caminhos
Um mergulho no mar da escuridão
Cair sem fim até chegar ao fundo do abismo
Descobrir que ainda respiro
Abrir novos olhos
Olhos de aurora
Cristalinos e ativos
Vivos enfim

Passado o susto de ter encontrado Malone sem memória, os demais exploradores, exceto Verônica, foram assolados por outra surpresa, afinal de contas seu amigo havia sido encontrado por uma expedição, que segundo Assai, teria vindo em busca deles. As perguntas se atropelavam: quem seriam eles? Há quanto tempo estariam procurando? A mando de quem teriam sido enviados? De que modo teriam conseguido chegar ao plateau? E, principalmente, sabiam a saída daquele lugar?

Challenger foi o primeiro a se apressar em saber de todos os detalhes que cercavam aquele acontecimento, no mínimo, inesperado; por tanto tempo tinham tentado sair do mundo perdido e nem sequer tiveram noticias de que alguém os procurava. Na verdade, todos achavam que haviam sido dados como mortos. Pelo visto, não era isso que tinha acontecido. O chefe de Zanga serviu como mediador entre os dois grupos, e levou Marguerite, Roxton, Finn e Challenger ao encontro da tal expedição misteriosa.

Na tenda em que os desconhecidos estavam reunidos, Challenger perscrutou os rostos, mas não foi capaz de se lembrar de nenhum deles; na verdade, não fosse pela noiva de Malone, ele não faria a mínima idéia de onde eles teriam vindo. Sentados em circulo, meio desajeitados com os costumes de Zanga, estavam aqueles rostos estranhos: além de Gladys, eram quatro homens e uma mulher. Dois biólogos, um geólogo, um guia, e uma mulher que se apresentou como pesquisadora, mas que dificilmente poderia ser definida, devido a vastidão e excentricidade de seus interesses de pesquisa, mas falaremos disso mais tarde.

- Olá, fiquei muito surpreso em saber que vocês fazem parte de uma expedição que veio em à procura... Disse Challenger tentando disfarçar com simpatia a ansiedade em saber dos detalhes.

- Sim, professor Challenger! Disse um dos homens.

- Desculpe, mas o senhor me conhece? Quis saber o cientista.

- Mas é claro! Quem não conhece o eminente professor George Challenger da Sociedade Zoológica Britânica! Disse o homem efusivamente.

Challenger sorriu orgulhosamente, afinal de contas seu ego havia sido intensamente massageado com aquelas palavras e não há ser humano, em maior ou menor grau, que não se renda, no fim das contas a um dos pecados capitais mais populares: a vaidade.

- Ora, ora, não sabia que você era tão famoso George! Retrucou Marguerite, claramente em tom de sarcasmo.

- Um homem como este não pode ser ignorado, senhorita...Afirmou prontamente um outro homem, que, ao mesmo tempo, queria saber o nome da herdeira.

- Marguerite, Marguerite Krux...Disse ela com a empáfia costumeira.

- Oh sim, senhorita Marguerite! Respondeu ele, um pouco constrangido.

- Você deveria saber quem sou eu, afinal se vieram em uma expedição de busca!

- Acho que ela ficou com ciúmes Challenger... pelo visto, não é tão famosa quanto você! Cochichou Roxton ao cientista, que não pode conter o riso, para irritação da herdeira.

Um dos homens levantou-se e tomou a palavra.

- Desculpem-nos pela falta de modos, na verdade, deveríamos ter-nos apresentado desde que chegaram, mas devido ao incidente com o jornalista e a jovem que veio com vocês...Bem, eu sou Jason Straiton, biólogo, assim como o senhor Devin Smith. Aquele é o senhor Richard Burns, nosso geólogo, aquela, a senhorita Tessa Willians, uma brilhante pesquisadora e o senhor Lopes, nosso competente guia. Suponho que a senhorita Gladys já seja conhecida...

- Um guia? Como assim? Ele conhece este lugar? Perguntou Roxton, surpreso.

- Na verdade, não. Ele foi nosso guia até a região conhecida da Amazônia, como vocês devem saber melhor que ninguém, existe uma área não catalogada e jamais explorada. Desse ponto em diante contamos com uma série de pistas, muitas vezes desencontradas e confusas, além da colaboração inestimável da senhorita Willians. Cabe ressaltar que este última colocação continha certa dose de ironia do senhor Straiton.

- Interessante...Poderiam nos contar exatamente como chegaram aqui? Questionou o cientista de cabelos de fogo.

- Foi muito difícil, e em dado momento achamos que falharíamos como os outros...Disse Straiton com certo pesar.

- Outros? Perguntou surpresa Finn, que pela primeira vez se pronunciava naquela conversa, afinal de contas a expedição não dizia respeito a ela, já que sua origem era o futuro, por mais estranho que isso pudesse ser. Imaginem como seria explicar isso para os expedicionários que chegavam ao mundo perdido repleto de certezas. Pobres tolos que não sabiam que tais certezas estavam prestes a cair por terra.

- Sim, não somos a primeira expedição que se propôs a encontrá-los... na verdade somos praticamente a última!

- Poderia ser mais claro, senhor Straiton? Questionou o Lorde.

- Sendo bastante direto, a busca por vocês custou muitas vidas...quatro expedições foram enviadas e nenhuma dela, assim como vocês, jamais voltou.

- Devemos acreditar que tal insistência em nosso paradeiro foi única e exclusivamente por preocupação altruísta? Perguntou a herdeira enquanto erguia uma das sobrancelhas, e laçava um sorriso de cano de boca, como só ela sabia fazer.

- Perspicácia...uma característica muito útil senhorita Krux...não serei hipócrita em dizer que o único interesse era encontrá-los são e salvos, apesar desse objetivo ter sempre estado em nossas intenções...

- Mas...

- Mas o fato de não terem retornado, assim como as demais expedições, atiçou a curiosidade de cientistas e investidores, que apostam fielmente neste mundo perdido, cuja existência que acabamos de atestar.

- Então quer dizer que os olhos da ciência, neste momento estão voltados para este assunto: a existência do mundo perdido? Perguntou Challenger, cujos olhos brilhavam diante da atenção destinada a seu grupo e, especialmente a ele.

- Completamente! Confirmou Straiton, animadamente.

- Minha nossa...

-Pois é senhor Challenger, por isso acho que devemos nos apressar em sair daqui e dar noticias sobre este admirável mundo novo!

- O senhor quer dizer que sabe como sair daqui? Perguntou Roxton.

- Mas é claro! A esta altura o senhor Straiton já estava um pouco irritado com as perguntas desconfiadas do Lorde, assim como das alfinetadas de Marguerite. Ele só parecia simpático com Challenger, já que este, amaciado pela vaidade, fazia perguntas que não atingiam diretamente o também vaidoso senhor Straiton.

- Não acho tão claro, já que entramos aqui e não mais conseguimos voltar! Afirmou o Lorde. Quanto mais o expedicionário se irritava, mais o Lorde parecia ter aguçado seu sentido questionador. Ao que parece a convivência com Marguerite havia lhe fornecido excelentes lições de ironia.

- Me diga uma coisa, Lorde Roxton...

- O nome dele ele sabe...Sussurrou Marguerite, fazendo as vezes de uma menina birrenta.

- Como vocês chegaram aqui? Continuou o senhor Straiton.

- Bem, estávamos em um balão de ar quente que deveria transpor uma escarpa quando uma tempestade nos pegou e nos jogou no plateau de onde não conseguimos mais sair, apesar das tentativas não terem faltado! Explicou Challenger.

- Pois, no nosso caso, foi bem diferente, entramos por uma passagem secretamente guardada e por ela voltaremos. Fizemos um mapa extremamente detalhado para não corrermos riscos desnecessários. Como pode ver, tomamos todas as precauções e não há lugar para erro. Disse Straiton com todo o orgulho que seu peito estufado conseguiu reunir. Cá pra nós, ele era muito convencido, se achava a última bolacha do pacote.

- O senhor tem noção exata de onde está? Perguntou a herdeira.

- Porque a pergunta? Neste momento, o outro biólogo, o senhor Smith, interveio.

- Porque acho que vocês não passaram tempo suficiente neste lugar para descobrirem que as coisas aqui funcionam um pouco diferente!

- Acho que a senhorita não entendeu. Fizemos um planejamento que não comporta erros, é exato, preciso, detalhado, completamente nos moldes da ciência. Não há como errar, porque não há lacunas! O geólogo, Burns, também foi enfático em atestar a eficiência da organização da expedição. Como podem ver, confiança não era problema naquele grupo.

- Torço profundamente para que o senhor tenha razão...mas tenho lá minha dúvidas! Completou a herdeira.

-Duvidas não fazem parte do meu trabalho, mas certezas sim. Voltou a afirmar Straiton, com a antipatia que lhe era peculiar.

Neste momento, a senhorita Willians lançou um olhar de reprovação a seus colegas de expedição, como se concordasse com a herdeira. Aliás, cabe ressaltar que Tessa era um elemento estranho naquele grupo, pois apesar de cientista, ela tinha com a ciência uma ligação muito especial. Confiava nos métodos e técnicas, mas não os manipulava de forma dura, pois acreditava que havia terrenos onde a prática cientifica apenas engatinhava. Aquele lugar parecia ser um desses terrenos.

Participar da expedição foi uma oportunidade única, mas não sabia o quão difícil seria conviver com pessoas de mente tão cartesiana. Sofria preconceito, logo de saída por ser mulher, e, além disso, por usar métodos não convencionais. Gladys, que poderia ser uma aliada, em meio a fúria de controle masculina, portava-se exatamente como eles esperaram que uma mulher se portasse: mais preocupada com o figurino e o penteado e gritando a cada microscópica aranha ou inseto qualquer. Enfim, estava sozinha, tinha uma jornada dentro da jornada, mas quem sabe se sua participação não seria decisiva em algum momento? Ela sentia que sim.

Depois de todo este colóquio, inicialmente nossos amigos pensaram que não deveriam levar a expedição para a casa da árvore; seria melhor que fossem buscar suas coisas e voltassem para Zanga, de onde partiriam, para finalmente voltar à Londres, que, de lembrança esmaecida, havia rapidamente passado a desejo incontrolável. Mas foi a herdeira, comumente taxada de egoísta, não raramente com motivos, quem apresentou a pergunta que não queria, e não poderia, calar: e Verônica?

É, verdade, diante tal empolgação e da mais real possibilidade que já tiveram de ir para casa, eles, momentaneamente esqueceram da saia justa, para ser bem sutil, que havia se instalado: Verônica mais que ansiosa por um Malone que não se lembrava dela e que, ainda por cima, estava com uma noiva a tiracolo. Parafraseando nossa amiga Taiza no msn: tem como complicar mais! Deste modo, a melhor solução se é que havia uma solução, era levar todos para a casa da árvore e torcer para que as coisas chegassem a um estado melhor que o atual. Foi isso que nossos aventureiros comunicaram aos expedicionários e que eles aceitaram, prontamente, já que, depois de uma breve descrição da casa da árvore, eles deduziram que as acomodações seriam mais confortáveis.

A senhorita Willians ainda salientou que o fato de Malone ter morado tanto tempo na casa da árvore, seria positivo para a recuperação de sua memória, já que aquela deveria ser uma condição passageira. Isso fez com Que Gladys quase se opusesse à idéia, mas, de qualquer modo, foi voto vencido. Vocês devem estar pensando: poxa, mas se Verônica tivesse ouvido que a amnésia de Malone era passageira ela poderia ficar mais calma, mas é aí que mora o problema: o que a incomodava realmente era o esquecimento da sua pessoa, ou seja, diante do amor que Malone dizia e demonstrava sentir, o mínimo que ela esperava era ser lembrada, independente da situação!

Um velhinho bem esperto e bacana, chamado Sigmund já dizia que o nosso inconsciente é misterioso e ele tinha toda razão; o inconsciente "escolhe" coisas a serem lembradas e relembradas e coisas que devem ficar mergulhadas bem lá no fundo, e isso depende das emoções associadas a estes acontecimentos, de modo que, o fato de Malone não lembrar de Verônica não necessariamente significava falta de amor. Podia, na verdade, significar excesso! Se o psicótico, aquele que chamamos comumente de louco, não aceita a realidade e por isso "cria" outra, como proteção, nosso amigo Malone, com amor até demais, "escolheu", diante de um trauma (em sentido bem médico, tá, tipo pancada na cabeça...mais uma coisa pra explicar depois), esquecer Verônica, em vez de aceitar a dura realidade de que ela não lhe queria. Velhinho danado esse Freud!

Ao mesmo tempo em que essa conversa acontecia entre os nossos aventureiros e os expedicionários de resgate, Verônica continuava a tentar encaixar os fragmentos daquela cena estranha em sua cabeça; Malone não havia reconhecido ela, isso era um fato, mas porque isso havia acontecido, e pior, o que isso poderia significar? Aproveitando um momento em que Assai havia saído, Verônica saiu da tenda e resolveu caminhar uma pouco, como ela costumava fazer sempre que precisava espairecer, por suas idéias em ordem. Era como se, de repente, tudo tivesse ficado meio sem graça, cinza, como se ela não fizesse a menor idéia do que fazer ou mesmo para onde ir.

Havia imaginado, centenas, milhares de vezes como seria esse reencontro, mas em nenhum deles, esse pesadelo figurava. Pra falar a verdade, ela preferia que ele brigasse ou que lhe jogasse na cara todas as mágoas que ela achava ter lhe causado, mas o silencia era infinitamente pior. A indiferença lhe corroia. Ela estava tão absorta em seus pensamentos que não notou que enquanto caminhava a passos curtos e lentos, dois olhos lhe seguiam, curiosa e fixamente.

CONTINUA...

Disclaimer: os personagens aqui citados fazem parte da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World", não sendo, portanto de propriedade do(a) autor(a) desta fanfiction