Omnia mutantur
Autor (a): Phoenix
Comentários:
TowandaBR: É Si, eu tb preferia quando havia diferença entre "estória" e "história"; acho que as coisas ficavam mais claras e sempre que escrevo, acho que estou colocando errado!
Eu adoro estas partes em que converso com meus leitores, porque eu realmente escrevo pensando o que eles vão achar, como vai ser o impacto, etc. A melancolia, como eu já te disse, eu adoro, esse clima suavemente triste me encanta e quando preciso de inspiração, sempre recorro a Clarice, que parecia ler nossas mentes e a Dostoievski, que tinha o poder de nos transportar para os lugares que descrevia. É claro que a inspiração que eles me dão, é apenas para a minha modesta escrita, mas que faço com muito prazer.
Lais: Eu fiz questão de colocar a Marguerite lembrando da Verônica porque a gente costuma rotular as pessoas como se elas coubessem em nossas classificações míopes. O ser humano é muito maior do que qualquer definição que possa receber e, sempre é capaz de nos surpreender. O titulo OMNIA MUTANTUR significa TUDO MUDA, e se refere à necessidade de lutar contra a tendência de ver as coisas do mesmo modo sempre. Constante e imperiosamente a vida muda.
Mari Krux: Olá, seja bem vinda às minhas fics! Vou tentar colocar mais cenas Rox e Margie, mas como vc mesma disse a assunto central é Ned e Vê; na verdade, eu procuro colocar todos os personagens atuando e prefiro escrever cenas de ação, em vez de romance. Obrigada pelos elogios.
Cris: Oi! Este negocio da última bolocha do pacote eu li na net certa vez e AMEI! Uso constantemente e a expressão já virou quase minha! Freud é uma paixão mesmo, porque ele era danado de bão! Sabia das coisas o homem, e além de ter boas teorias, ele sabia como apresentar suas idéias de forma muito clara; os livros dele são deliciosos, é como se ele estivesse conversando com o leitor. O senhor Smith não tem ligação com Margie, pelo menos inicialmente, mas quem sabe! Continue lendo e mandando seus ótimos reviews, ok!
CAPÍTULO 4
"Renda-se
como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece,
como eu mergulhei.
Pergunte, sem querer, a resposta, como estou
perguntando.
Não se preocupe em "entender".
Viver
ultrapassa todo o entendimento"
(Clarice Lispector)
Depois de conversa pra lá e acertos pra cá, ficou tarde para empreender caminhada rumo à casa da árvore, de modo que todos tiveram que passar a noite em Zanga; partiriam bem cedinho e logo estariam melhor instalados. Sinceramente até agora não sei como cabe tanta gente naquela casa (porque se vcs lembrarem, não será a primeira vez que colocam gente lá...), mas em se tratando de mundo perdido, não adianta buscar explicações plausíveis.
O certo é que aquela noite pareceu uma eternidade para todos: os expedicionários não viam a hora de deixar a aldeia, porque já não agüentavam mais rituais para isso e aquilo, bebidas estranhas, comidas estranhas, isso sem contar o comportamento excêntrico de Jacoba, que, visivelmente queria impressionar os visitantes e demonstrar poder. Ele assustava mais, do que impressionava positivamente.
Para nossos amigos, a noite também foi demasiadamente longa, pois, estavam em uma situação difícil, melhor dizendo, uma sinuca de bico: finalmente a chance de voltar a Londres, ainda por cima em grande estilo, lhes acenava efusivamente, mas, ao mesmo tempo, sabiam que não podiam deixar Verônica em um momento tão difícil. A afirmação da senhorita Willians de que a presença na casa poderia ajudar Malone era o que lhes alentava. Quem sabe ele poderia se recuperar e decidir o que fazer: ficar no plateau ou voltar para Londres.
É claro que aquela seria outra situação complicada, mas, neste caso, pensavam eles, a decisão estaria mais para Malone, que pra eles. A presença de Gladys só aumentava os problemas, mas naquele exato momento eles preferiram seguir a filosofia a la "jack estripador": iriam por partes. Primeiro acertariam as coisas na cabeça de Malone, e depois decidiriam o que fazer.
Acho que não preciso dizer que Verônica passou grande parte da noite em claro, só cochilando por força do sono que sempre nos vence. Do mesmo modo, Malone, exatamente por não entender nada do que estava acontecendo, também não conseguia pregar os olhos. Mais cedo, sem que ninguém notasse, ele havia perdido um longo tempo olhando por uma fresta da tenda, a jovem de cabelos loiros, que andava sem rumo pela aldeia.
A presença dela, mais especificamente sua tristeza, lhe incomodava profundamente, mas não como alguém que se importa com um estranho, mas como se doesse nele, o pesar que ela sentia. Foi como essa imagem que teimava em rodar em sua cabeça, e a montanha russa de sentimentos que a acompanhavam, que Malone foi se deitar, tentando em vão, dormir:
"Não lembro de nada deste lugar, tenho apenas algumas sensações; sinto que esta casa me é familiar, mas quem são essas pessoas que me cercam de cuidados, mas cujos rostos não reconheço? A moça de cabelos e olhos claros, acho que Verônica é seu nome é a que mais me intriga... olho para ela e percebo sua angústia, ela me diz com os olhos o que não pode me dizer com palavras, talvez por medo, talvez por achar que eu não entenderia. O que será que ela quer, o que será que pensa? Quem será que eu fui pra ela e ela para mim?"
Pareceu uma eternidade, mas finalmente, o sol terminou o seu passeio pelas casas noturnas (quem não entendeu, leia minha fic DUAT) e ressurgiu pleno e majestoso, perfeito para servir de guia para a casa da árvore. Bem cedo, todos arrumaram seus pertences e seguiram decididamente em frente. Challenger, Roxton, Finn e Marguerite seguiam na frente para mostrar o caminho, mas à frente deles ia Verônica, que caminhava com a pressa de quem queria deixar tudo para trás, se pudesse.
Fragilidade, vulnerabilidade; palavras que dificilmente veríamos ao lado do nome de Verônica, aqui, nessa história, fazem o par perfeito com ela. Se, para vocês, leitores, imagino que seja no mínimo estranho ver a jovem da selva à flor da pele, para seus amigos, não era menos difícil. O interessante é que, nem mesmo para Malone isso fazia sentido; por algum motivo, ele achava que aquela postura não condizia com a jovem.
Na verdade, em todo o caminho ele assumiu a postura que havia começado na aldeia e que manteria na casa da árvore: dedicava grande parte de seu tempo a perscrutar-lhe os movimentos e reações, atitude que incomodava Gladys deveras. Algo naquela mulher o atraia, e ele se sentia envergonhado cada vez que era surpreendido por sua noiva enquanto a admirava.
Verônica não se virou em nenhum momento na caminhada, nem mesmo nas paradas para descanso, quando ela se mantinha afastada dos demais. Naquele momento, a tristeza que ela sentia, passou a dividir espaço com uma espécie de raiva de si mesma, por se permitir estar tão frágil. Encarar seus amigos era difícil, pois sabia que eles estavam com pena dela, sentimento este, que Verônica abominava. Mesmo assim, era mais fácil de contornar, pois sabia que eles assim sentiam por que se importavam com ela, mas quanto aos expedicionários, estranhos que eram, só podiam sentir pena pura e simples.
Gladys certamente não tinha pena, mas um misto de raiva e despeito, que quase transbordava de seus olhos. Mas quem não suportava encarar mesmo era o jornalista; talvez se ela tivesse tentado um pouco mais, teria visto que nos olhos dele havia a mesma ternura de antes em relação a ela, mesmo que ele não soubesse por quê.
A caminhada serviu para que todos eles pensassem em suas vidas e especialmente naquele momento, no que ele poderia representar. Pra falar a verdade, o fato é que Verônica já estava farta de ser forte, de ser o exemplo. Esta é uma das tarefas mais difíceis de cumprir; o preço da perfeição é alto, custa a espontaneidade e muitas vezes a felicidade.
As pessoas, algumas vezes, esforçam-se tanto por ser perfeitas, que se esquecem de ser gente normal, imperfeita e bela. Quem sabe esse não seria o momento perfeito, para que ela começasse a entender que nem sempre dá pra ser forte. Parece-me que, como diz a filosofia japonesa, esta crise pode ser a oportunidade de cada um se conhecer melhor e evoluir como pessoa.
Nem Gladys saiu ilesa desta experiência. Ela caminhava lado a lado com o jornalista, quase pendurada nele, mas logo descobriu, por experiência própria, que estar perto fisicamente, não significava necessariamente estar perto do coração, e que, este tem razões que a própria razão desconhece.
O único momento em que desgrudou de Malone foi quando se aproximou de Challenger, fingindo interesse em suas história e na casa da árvore. Tudo não passava de um pretexto para saber mais sobre Verônica, cujo simples respirar lhe incomodava. Ao voltar para o lado do "noivo", ela bem que tentou disfarçar, mas não desgrudou os olhos de Verônica:
"Então você é Verônica, o pesadelo que eu imaginava ter, mas cujo rosto não conhecia. Meu sexto sentido dizia que longe de mim Neddy poderia lançar olhos sobre outra, mas não achei que seria sobre uma selvagem. Olhe só suas roupas, seus modos, ou melhor, a ausência deles. E esta tal casa que ela tem! Aposto que seria boa instalação para um orangotango...apesar disso, todos parecem satisfeitos. Ela viveu 11 anos sozinha...e daí? Eu vivi minha vida inteira em meio a alta sociedade...quem enfrenta as piores feras?"
CONTINUA...
Disclaimer: os personagens aqui citados fazem parte da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World", não sendo, portanto de propriedade do(a) autor(a) desta fanfiction
