Omnia mutantur
Autor (a): Phoenix
Comentários:
Cris: pois é, a gente tb usa aqui a expressão "carapuça perfeita", e tb me identifico muito com esse cap, aliás, sempre que escrevo coisas melancólicas, grande parte do sentimento vem de mim, não necessariamente pelas mesmas causas, mas sentimento é sentimento, não esse explica, se sente e "viver ultrapassa todo o entendimento". Um beijo enorme pra vc e boa leitura.
Lais:oi, vc está se revelando mais malvada que eu! Coitada da Gladys (ops, o que estou dizendo!)...continua lendo e deixando reviews tá! Thanks!
CAPÍTULO 5
Recomeçar
"Não
importa onde você parou...
em que momento da vida você
cansou...
o que importa é que sempre é possível
e
necessário recomeçar".
Recomeçar
é dar uma nova chance a si mesmo...
é renovar as
esperanças na vida e o
mais importante...
acreditar em
você de novo.
Sofreu muito nesse período?
foi
aprendizado...
Chorou muito?
foi limpeza da alma...
Ficou
com raiva das pessoas?
foi para perdoá-las um
dia...
Sentiu-se só por diversas vezes?
é por que
fechaste a porta até para os anjos...
Acreditou que
tudo estava perdido?
era o início da tua melhora...
Pois
agora é hora de iniciar...
de pensar na luz...
de
encontrar prazer nas coisas simples de novo.
Olha
quanto desafio...quanta coisa nova
nesse mundão de meu Deus
te esperando.
Tá se sentindo sozinho?
besteira...tem
tanta gente que você afastou
com o seu "período
de isolamento"...
tem tanta gente esperando apenas um
sorriso
teu para "chegar" perto de você.
Quando
nos trancamos na tristeza...
nem nós mesmos nos
suportamos...ficamos horríveis...
o mal humor vai comendo
nosso fígado...
até a boca fica
amarga.
Recomeçar...hoje é um bom dia
para
começar novos desafios.
Onde você quer
chegar? ir alto...
sonhe alto... queira o melhor
do
melhor...
queira coisas boas para a vida...
pensando
assim
trazemos prá
nós aquilo que desejamos...
se
pensamos pequeno...
coisas pequenas
teremos...
já se
desejarmos fortemente o melhor
e principalmente lutarmos
pelo
melhor...
o melhor vai se instalar na nossa vida.Lembre-se
somos apaixonáveis...
somos sempre capazes de amar
muitas
e muitas vezes... afinal de contas...
Nós somos o "Amor"...
Carlos Drummond de Andrade
Depois de uma cansativa caminhada, finalmente eles chegaram à casa da árvore. O cansaço realmente havia tomado conta de todos, nem tanto pela caminhada em si, pois os pés de todos, mesmo dos novos expedicionários, já haviam se acostumado às longas jornadas, mas pelos pensamentos que atordoavam a mente de todos eles. Nossos amigos preocupavam-se sem saber o que lhes reservava o futuro, ali no mundo perdido, ou quem sabe em Londres; os novos visitantes, por sua vez, estavam diante da ansiedade que aquele lugar desconhecido lhes despertava continuamente; e especialmente três personagens tinham sérias preocupações: Verônica, Malone e Gladys. Para eles, creio que as idéias estavam um pouco mais nebulosas.
Diante da casa, os expedicionários ficaram abismados com a magnitude do lugar, pois quando lhes disseram que era uma casa na árvore, eles imaginaram algo rudimentar, um improviso, na verdade; mas nós sabemos que a casa da árvore é muito diferente disso, afinal de contas tem elevador e até mesmo laboratório! Quando enfim entraram em casa, Challenger encarregou-se das honras da casa, já que Verônica, visivelmente não estava muito disposta a estes salamaleques.
Todos os cantos da casa foram devidamente apresentados e, antes de mais nada, o cientista providenciou a organização do espaço: a distribuição das pessoas nos quartos teve que ser refeita para que todos pudessem se instalar de modo que, Marguerite e Finn ficaram no quarto de Verônica, e no que era de Marguerite, ficaram Gladys e a senhorita Willians. Os homens se dividiram em: Malone, Roxton e Challenger em um quarto, no outro se arrumaram os biólogos Straiton e Smith, e mais um quarto para o geólogo Burns e o guia Lopes.
Em seguida, depois da acomodação de todos, eles voltaram para a sala onde iniciaram uma interessante troca de informações sobre as impressões de cada um sobre aquele fascinante lugar. Os expedicionários descreviam, entusiasticamente, a riqueza da fauna e especialmente da flora da região. Eles tinham toda razão, afinal, as cores vibrantes, os cheiros da floresta que se estendia majestosa e imponente eram impressionantes e serviam de deleite para os olhos dos ingleses acostumados a sua paisagem cinzenta e sisuda.
Nossos amigos, devido ao longo tempo de convivência naquela região, tinham muito mais do que flora e fauna para comentar; eles sabiam que o mundo perdido podia ser tão encantador, quanto perigoso, na verdade, o encantamento diante de tanta beleza podia ser o perigo em si, pois distraia o suficiente para permitir o ataque fulminante de algum agressor, acontecimento nada incomum por aquelas bandas. Acho que não preciso dizer que os expedicionários não levaram muita fé nestes comentários, achando que isso era mais fruto da imaginação e, quem sabe uma tentativa de impressioná-los. Tolinhos...se eu fosse eles, teria acreditado.
Mas vocês devem estar se perguntando: e esse povo não tem fome não? Só faz gastar latim? É claro, que não, e depois de uma caminhada daquela, eles estariam logicamente mais do que famintos. Roxton havia trazido alguma caça da aldeia e outros mantimentos que poderiam fazer um almoço improvisado; ele bem que tentou conseguir a ajuda de alguém para preparar a comida, mas a única que aceitou tal empreitada foi a sempre solícita Finn. Portanto, depois de muita conversa todos se dirigiram à mesa para degustar o banquete (tempero de comida é fome!) preparado pelo Lorde. Todos, com exceção de verônica, que mesmo diante da insistência de seus amigos, não quis almoçar, preferindo ir para a varanda.
A senhorita Willians era discreta o suficiente para que, ao terminar sua refeição, ela tivesse se retirado da mesa sem que ninguém notasse, dirigindo-se à varanda onde Verônica estava:
-Olá.
-Olá.
-Sem fome?
- É sim.
- Nossa, depois de uma caminhada dessas, eu estava faminta!
-Já estou acostumada...
-É verdade. Muito bonita a sua casa. Mora aqui há muito tempo?
-Sim...eu nasci aqui, morei 11 anos sozinha e depois eles chegaram...
-Sozinha...é, o professor Challenger nos disse que seus pais faziam parte de uma expedição, mas desapareceram misteriosamente...
- Eles não morreram...
- E quem disse isso?
-É o que todos pensam.
- Bom, se me conhecesse melhor, saberia que eu não costumo partilhar da opinião da maioria!
- Que bom.
- Vou tomar isso como um elogio. Acho que pode ser um bom começo...
Pela primeira vez em alguns dias, verônica esboçou um sorriso, meio amarelo, mas um sorriso, enfim.
- Deve estar sendo difícil para ele não é?
- Deve. Disse Verônica com certa raiva na voz, como se algum ressentimento estivesse por trás daquela resposta educada, mas longe de ser sincera.
- Olhe Verônica, é seu nome não é?
- Sim.
- Eu sei que acabamos de nos conhecer, mas vou tomar a liberdade de lhe dar um conselho. Não tenha raiva dele, nem de sua falta de memória.
- Eu não estou com raiva!
- Vamos mudar as palavras então. Não fique magoada com ele. Essa falta de memória deve ser passageira e ele não tem nenhuma culpa sobre ela. Logo vcs poderão conversar melhor.
- Conversar...
- Devo supor que é isso que você quer, ou estou enganada?
- Tem razão senhorita Willians, acabamos de nos conhecer e agradeço seu conselho, mas acho que o problema aqui não sou eu, mas ele. Sei o que quero, enquanto ele, além de ter partido enquanto eu estava fora, só apareceu agora porque foi encontrado sem memória! Quem me garante que ele queria de fato voltar?
- Feliz ou infelizmente, não há garantias para nada nesta vida. Mas acho que o medo não será um bom conselheiro para você.
- Medo?
- Sim Verônica. A ausência diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes, assim como o vento apaga as velas, mas atiça as fogueiras. Se eu fosse você, se acha que ele vale o esforço, não desista.
Dizendo isso, a senhorita Willians voltou para a mesa, mas as palavras dela continuaram a ecoar na mente de verônica. De inicio ela teve a atitude natural de uma pessoa magoada cuja última coisa que quer no mundo é ouvir conselhos de uma estranha, mas depois de um tempo ela percebeu que aquela estranha talvez tivesse sido a única pessoa a tocar na questão de fato. Que Malone havia ido embora, isso era uma fato, mas estava ali de volta e não importava o porquê, nem as circunstancias. Ela queria uma segunda chance, uma nova oportunidade e isso lhe havia sido dado: porque desperdiçar tudo isso por orgulho? Sim, orgulho. Era isso que sentia: orgulho ferido por ele estar ali com Gladys e não lembrar dela. Sentia-se diminuída naquela situação, mas isso só servia para piorar as coisas.
Quem sabe não seria hora de parar de olhar apenas para o seu próprio umbigo e ter pena de si mesma e se colocar no lugar de Malone, pelo menos uma vez? Pensando com o máximo de frieza que a situação permitia, Verônica chegou à conclusão de que certamente Malone não era habilidoso em falar sobre seus sentimentos, mas ela também não havia sido, e cá pra nós, aquele papo de manter a amizade para prolongar o relacionamento foi o golpe de misericórdia! É, concluiu a loira, a hora é agora! Pensando isso ela se retirou para seu quarto. Lá, as coisas costumavam ficar mais claras.
Gladys bem que tentou disfarçar a torcida de boca que deu para a comida, mas com a fome que estava não podia se dar ao luxo de escolher muito. Depois de provar o primeiro pedaço, e atacar os outros ferozmente, ela subitamente perdeu o apetite ao notar que Malone, que apenas beliscava, resolveu sair da mesa e ir em direção à varanda. Ela fez menção de segui-lo, mas Marguerite, providencialmente puxou conversa com ela e lhe roubou a atenção, forçosamente.
Mais tarde, na sala da casa da árvore:
A senhorita Willians estava realmente interessada em ajudar Malone a recuperar sua memória, mas antes que vocês pensem que tal interesse tinha algo de romântico, eu aviso que não. Na verdade, vendo a tristeza de Malone e de Verônica e o modo como, mesmo sem memória, ele olhava para ela, a pesquisadora sentia que havia algo importante entre ele e a jovem da selva e que isso não poderia ser desprezado.
Deste modo ela conversou com Roxton e Challenger e perguntou se não haveria algo essencialmente de Malone, ou seja, algo com que ele tivesse uma ligação especial:
- O que vocês tem de mais marcante do sr. Malone?
- Como assim?
- Eu quero saber se vocês tem algo que tenha uma significação forte de sua relação com ele.
- Hum... deixe-me ver...
- A senhorita quer, dizer, algum presente, ou coisa assim?
- Isso, algo que seja realmente significativo.
- Bom, tem os diários dele.
Os exploradores nem pestanejaram e ao mesmo tempo afirmaram que os diários de Malone eram sua marca maior, aquilo que tinha sua essência. A mulher então sugeriu que eles, como seus amigos, lhe sugerissem sutilmente que lesse os diários, de modo que pudesse se situar melhor. Mas ela ainda queria mais, alguma coisa que pudesse causar um impacto maior. Foi aí que Finn, providencialmente, lembrou de um detalhe essencial, que passou quase despercebido pelos outros:
- As cartas!
- O que?
- As cartas Roxton! As cartas que Malone deixou quando foi embora!
- Ele deixou cartas?
- Sim, deixou uma para um de nós, diretamente relacionada com cada um, acho que isso é especial, não?
- Mais que especial! Pode ajudar muito a trazer-lhe a lembrança da relação com vocês!
- Vocês se importariam em me emprestar essas cartas para que eu converse com ele?
- Claro! Qualquer coisa para ajudar Malone!
- Eu só não sei se Verônica vai querer entregar a carta dela...
- Porque não?
- Porque até hoje, nem nós sabemos o que ele escreveu para ela!
- Bom, vamos começar com o que temos, depois eu converso com ela e vejo o que consigo...Minha intuição me diz que ela vai concordar! Disse ela com um sorriso esperançoso, que chegou a alegrar um pouco o coração dos demais exploradores.
- Está bem. Concordaram todos.
Enquanto uma espécie de "conspiração do bem" começava a se configurar para ajudar Malone e Verônica, Gladys se resguardava em seu novo quarto, e enquanto arrumava suas coisas, os pensamentos giravam em sua mente:
"Quanto tempo ele perdeu escrevendo sobre ela...e quanto a mim? Algumas linhas escritas, provavelmente com pressa e desprezo, questionando o porque de ter mantido um relacionamento infeliz por tanto tempo. Nada me falta, mas a despeito disso, ele a prefere em detrimento a mim. Ela é rude, não tem modos, não conhece nada além deste mundo selvagem. Eu sou fina, elegante, educada...gastei tanto tempo, investi tanto nesta relação e é assim que ele me trata? Mas as coisas voltarão a ser como antes, eu não costumo perder e não me interessa através de qual meio ele venha a ser meu de novo, eu o quero de qualquer jeito. Se estiver em meu caminho, pior para ela. Sou a chance de ascensão que ele tanto quer, ela é apenas um desvio no caminho brilhante que ele vai trilhar, com certeza, ao meu lado"
A desculpa para se recolher foi a necessidade de descanso, mas na verdade, ela aproveitou o precioso momento para esconder os elementos que lhe ameaçavam muitíssimo.
CONTINUA...
OBS:
Devo confessar que tive uma quase irresistível tentação de fazer uma piadinha (mais uma!) no meio da fic no trecho: Mais tarde, (na sala da justiça, ops!), na sala da casa da árvore. Meu senso critica barrou a piadinha, mas eu dei um jeito de colocar ela aqui. Finjam que foi engraçado, meu ego agradece!
Disclaimer: os personagens aqui citados fazem parte da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World", não sendo, portanto de propriedade do(a) autor(a) desta fanfiction
