Omnia mutantur

Autor (a): Phoenix

Comentários:

Towandabr: Oi querida, obrigada pelos seus elogios, mas não se queixe da minha enrolação para liberar os caps, porque vc sabe que "faz parte do meu show"! É o jeito Phoenix de ser!

Lais:De que lado vc está? Tadinha da Gladys! Brincadeira...continua lendo e matando sua fome de fics, embore espere que ela não termine nunca!

di Roxton: Obrigada Di, continua acompanhando que ainda tem muita coisa pra acontecer!

Cris: Pode crer que essa meada é bem longa viu, como diz João Ubaldo Ribeiro "eu jamais direi em 10 palavras o que eu posso dizer em 1000!" Beijos!

Queria fazer um agradecimento mais que especial à Towanda que colaborou pacientemente com esta escritora chata e cri cri que vos escreve e que tem as idéias mais loucas que se pode imaginar! Obrigada pela paciência e apoio de sempre!

Para as leitoras em geral, um cap maiorzinho para compensar a demora e um barraquinho básico em homenagem a nossas queridas moradoras!

Lady Phoenix

CAPÍTULO 7

O PESO DOS NOMES

Cuidado com os nomes que damos às coisas. As coisas adquirem o peso dos nomes. Cuidado ao chamar de equívoco a melhor das loucuras que já cometemos, ou de erro o amor de que não fomos capazes. Corre-se o risco de perder o orgulho guardado de lastro para as loucuras a cometer e a coragem para ser capaz de amar de novo. Cuidado ao chamar de arrependimento o que na verdade foi tristeza pelo fracasso, ou de bobagem a sensação de ternura que até então desconhecíamos. Corre-se o risco de nunca tentar novamente e de desprezar a delicadeza única de raríssimos momentos perfeitos. Cuidado para não chamar de culpa a expectativa frustrada dos outros sobre nós mesmos, ou de independência a solidão que nos obrigamos a cultivar por falta de escolha. Corre-se o risco de entender-se responsável pelo desejo alheio em vez do seu próprio e de sentir orgulho por nossa incapacidade de conviver. Cuidado para não chamar de discernimento o medo de ser rejeitado, ou de verdade a nossa exclusiva visão das coisas. Corre-se o risco de concluir que ninguém de verdade vale a pena e de viver presos a um lugar onde não cabe ninguém além de nós mesmos.

Retirado do blog, "Megeras Magérrimas", editado pela Ticcia em 16.06.2006 - Categoria: Circunstâncias Circunspectas)

O clique do elevador quebrou o clima mágico que havia se instalado entre o casal, para o qual nada existia naqueles segundos, a não ser eles mesmos e o turbilhão de emoções pelas quais foram absorvidos. Eles se afastaram rapidamente e cada um foi para um canto da sala, fingindo estar fazendo qualquer coisa completamente distante do outro, mas é claro que qualquer observador astuto notaria que algo estranho estava no ar.

Saltando do elevador saiu a senhorita Willians, seguida de Finn. A jovem, pra variar nada notou e sentou-se em uma das cadeiras, com a respiração ofegante devido a longa caminhada, mas para Tessa nada passava em branco e aquela situação não seria diferente, afinal, astúcia era o que não lhe faltava. Ao entrar na sala, ela olhou para um, olhou para outro e soltou um leve sorriso, enquanto balançava a cabeça. Bem que tentou não fazer comentários, mas resolveu jogar a isca, para ver que peixe a morderia:

- Olá amigos! Saí tão cedo e não tive a oportunidade de desejar-lhes um bom dia! Como estão?

Para surpresa de Tessa nenhum dos dois respondeu, e então ela se aproximou de Verônica, para quem sabe, se fazer notar e entender o que justificaria aquele "algo mais" no ar.

- Verônica? Tudo bem?

- Hã? Oh sim, tudo bem... por quê?

- Por nada, só achei vc meio distraída. Eu falei da primeira vez e vc nem ouviu. Aliás, vcs não ouviram, porque Malone também não respondeu...

- Vamos Tessa! Gritou Finn saindo da cozinha, terminando de tomar um copo d'água.

- vamos sim Finn, só estava cumprimentando nossos amigos!

- Oi Vê! Ei, o que é isso na sua perna? Vc se machucou?

- Não foi nada Finn. - Disfarçou a jovem, querendo despachá-la.

- Como nada? Parece que machucou muito!

- Machucou sim, mas já dei uma olhada. Tinha acabado de fazer o curativo quando nós... - Soltou Malone sem querer.

- Quando vcs o que? - Perguntou inocentemente Finn e tanto os olhos dela, quanto os de Tessa, e neste momento até mesmo os de Verônica, estavam cravados em Malone.

- É... quando nós...

- Quando nós ouvimos vcs chegando! - Disse Verônica tentando encerrar aquela conversa potencialmente perigosa.

- Ah sim... - Disse Tessa com um instigante risinho de canto de boca. Ela agora tinha certeza de que seu senso de humor mais uma vez estava certo: algo estava no ar! – Vamos Finn?

- Vamos!

- Até mais tarde amigos...comportem-se!

Aquela frase gelou completamente Verônica e Malone, que ficaram paralisados. A jovem pensou em ir atrás de Tessa saber o que de fato ela queria dizer, mas achou que poderia ser pior, poderia despertar mais desconfiança do que a pesquisadora já parecia ter. Tessa, por sua vez, já estava com a cabeça a mil e não ouviu nem uma palavras sequer do que Finn dizia, e olha que a garota do futuro falava pelos cotovelos. Ela havia voltado à casa para buscar seu caderno de notas, sem o qual ela se sentia quase despida. Como poderia uma pesquisadora não tomar notas? Quis o destino que o fato "científico" mais interessante tivesse acontecido bem mais perto do que ela esperava. Ela não costumava jogar, mas se fosse fazê-lo, apostaria todas as suas fichas nesse casal e na certeza de que Gladys estava completamente fora do páreo. Aliás, será que alguma vez ela esteve de fato dentro?

Quando saíram, Malone e Verônica, absolutamente sem graça, trocaram olhares desconfiados.

- Será que ela viu alguma coisa? - Perguntou Verônica.

- Acho que não... - Disse Malone de cabeça baixa.

- Não sei, ela parecia desconfiada... - Verônica também não conseguia encarar o jornalista.

- Acho que é o jeito dela...

Depois de um tempo silencioso, ele resolveu olhar diretamente para ela e fazer a pergunta que queria de fato:

- O que aconteceu entre nós?

- Me desculpe eu não deveria ter...

- Não estou falando deste beijo, mas de tudo que aconteceu antes.

-Acho que não deveríamos voltar a este assunto.

- Por quê?

-Por um motivo bem simples: vc tem um compromisso e eu não!

- Mas eu preciso saber!

- Por quê? Pra que? De qualquer modo não interessa mais...

- É uma pena.

- O que vc disse?

- Nada... - Disse o jornalista com certa tristeza na voz, um sentimento que ele não sabia de que forma havia se instalado em seu peito, mas que com certeza sabia o quanto incomodava.

Mais uma vez, eles chegaram tão perto e ao mesmo tempo se mantiveram tão longe um do outro. A explosão de sentimentos em seus corações não foi capaz, pelo menos até o dado momento, de aproximar suas idéias. Mas quem sabe o que os acontecimentos futuros estariam reservando?

E assim o dia foi transcorrendo e a atmosfera na casa estava tão densa que quase podia ser tocada. Os dois preferiram ficar cada qual em seu canto; quando, por ventura, precisavam se cruzar, a situação era bastante embaraçosa, e seus olhos não se cruzavam. Era claro o fato de que eles temiam que seus impulsos os dominassem novamente. Tentaram preencher o dia, lendo, ouvindo música, ou escrevendo, mas nenhum dos dois se concentrava em nada e as horas se arrastavam.

Os outros moradores da casa, tanto os antigos, quanto os mais novos foram chegando aos poucos, trazidos pelos últimos raios de sol que se misturavam aos tons fortes do crepúsculo no fim da tarde, mas estavam tão cansados, que nada notaram de diferente. Roxton e Marguerite, vendo o curativo de Verônica, e perguntaram o que havia acontecido, mas ela deu uma desculpa rápida, tranqüilizando-os de que nada grave havia acontecido. Astuta como sempre, a herdeira ficou meio desconfiada, até porque Verônica não era tão hábil em disfarçar seu desconforto, mas preferiu investigar por si mesma e não fez mais perguntas. Logo, logo ela descobriria que a perna de Verônica não era a única parte machucada na jovem.

Assim que chegou, Gladys procurou por Malone, mas não gostou da frieza com que foi recebida. É bem verdade que ele não estava se mostrando o mais caloroso dos amantes, mas desta vez, seu sexto sentido lhe apontava que algo havia mudado. Restava saber o que. Enquanto estavam na varanda, ela se aproximou lentamente e, pela primeira vez desde que haviam se reencontrado, ela tentou beija-lo, mas ele recuou:

- O que houve, Neddy?

- Nada Gladys.

- Como nada! Estou com saudades de vc... quero demonstrar o meu amor e vc se afasta?

- Me desculpe...

- Estou lhe aborrecendo? - Perguntou Gladys, coma clara intenção de demonstrar a sua mágoa e se colocar na posição de vítima.

- Não.

- O que é então?

- Nada, não se preocupe! Só estou um pouco confuso com esta situação...

- Que situação? Aconteceu alguma coisa?

- O que poderia ter acontecido?

- Me diga vc! Ficou aqui o dia todo... sozinho... ficou sozinho, não foi?

- Sim... quer dizer... é...

- Quer dizer o que?

- Não quero dizer nada Gladys... nada. - Disse ele visivelmente irritado.

- Neddy, acho que precisamos conversar! - Finalmente a postura arrogante e prepotente de Gladys veio à tona, e Malone teve a primeira amostra, no Mundo Perdido, da verdadeira personalidade de sua noiva.

- Não, acho que vc precisa conversar... eu não quero isso agora. Com licença.

Malone voltou para a sala deixando atrás de si uma perplexa Gladys. Há algum tempo atrás ele não tomaria tal atitude, deixando a jovem falando sozinha e dando as costas, sem se importar. A pulga que estava atrás da orelha de Gladys, neste momento, cravou suas patas definitivamente e não dava mostras de sair dali tão facilmente. Ela debruçou-se na varanda e se pôs a pensar seriamente no que deveria fazer.

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É fato que todos estavam se esforçando para que a convivência fosse a melhor possível, mas isso nem sempre dava certo, e um belo exemplo disso logo apareceria no jantar. Todos estavam reunidos e degustavam a deliciosa refeição preparada pela jovem da selva, com ajuda de Finn e, quem diria, Marguerite! Falavam sobre amenidades, como sempre, até que Gladys resolveu se pronunciar. Seu incômodo já havia chegado aos píncaros, desde que ela começou a notar que, vez por outra, Malone destinava um olhar para Verônica ao passo que ela, com a mesma discrição, fazia o mesmo, embora seus olhos não se cruzassem.

Sabe aquele comportamento em que quando vc olha, a pessoa disfarça e vice versa? Era assim mesmo! Em uma dessas oportunidades, Malone conversava descontraidamente com Roxton e Verônica distraiu-se olhando para ele, para o modo como sorria, lembrando o quanto ela gostava daquele sorriso. Gladys já não podia se conter:

- E então Verônica... como se machucou?

- Hã... o que?

- Como se machucou?

- Ah sim, eu fui perseguida por alguns raptors...

- E?

- E caí em um despenhadeiro. - Verônica tentava ser educada, mas o esforço necessário era enorme. Não era tarefa fácil ser agradável com Gladys.

- Nossa... Machucou muito? - Perguntou a senhorita londrina, fingindo preocupação com Verônica. Vale ressaltar que ela atuava muito mal, nenhum talento.

- Não foi nada grave... - Tudo que a jovem da selva queria era mudar de assunto e deixar de ser o centro das atenções.

- É claro, vc é muito forte, não é?

- Não se trata de força... só estou acostumada a pequenos acidentes.

- É. neste lugar isso deve ser comum... São tantas coisas rústicas. Me surpreendo cada vez que lembro a quanto tempo vc vive nessas condições, no meio do nada!

Sentindo que na sutileza de Gladys residiam fortes tons de veneno, Roxton achou que era hora de intervir:

- E então senhores, o que acharam da nossa pequena expedição desbravadora?

Bingo! O lorde havia conseguido desviar o assunto e todos conversaram entusiasticamente sobre as peculiaridades do Mundo Perdido. A senhorita Willians era uma das mais animadas, seguida por Finn, que não se cansava de traçar paralelos entre o Plateau e sua vida no futuro. Terminado o jantar, o moradores, novos e antigos organizaram-se para lavar a louça e arrumar as coisas. Os dias na selva acabavam cedo e começavam com os primeiros raios de sol; por isso, enquanto Challenger foi ao laboratório, verificar alguns de seus experimentos, seguidos dos novos exploradores, os demais se dirigiram a seus quartos.

Verônica estava sem sono, por motivos óbvios, e por isso, resolveu ler na espreguiçadeira, brindada pela brisa e o cheiro suave da noite. Apesar de todo esse clima aprazível ela não conseguia relaxar e então pensou que um chá pudesse lhe acalmar e diminuir a angústia que sentia, mas não teve tempo nem de levantar, pois foi interceptada uma intempestiva visita:

- Todos estavam entretidos em desbravar este lugar, e vc, o que fez durante todo o dia?

- Como é que é?

- Sim, porque nesta terra de ninguém não tem nada de interessante para se fazer, e pelo que sei vc ficou fora o dia todo. O que tanto encontra neste lugar para ocupar o tempo? – A voz de Gladys era suave, mas sua intenção claramente não o era.

- Poderia me explicar o que exatamente que dizer com "neste lugar"?

- Oh querida, não se ofenda, eu só quis dizer que em lugares como esse, longe da civilização, deve ser muito difícil viver.

- Difícil... sei...

- Sim, manter sua integridade física, por exemplo... vc se machucou e poderia ter sido algo sério!

- E vc pelo visto preocupou-se muito com o que poderia ter acontecido comigo!

- Como não me preocuparia? A vida fora da civilização é uma coisa impensável!

- Parece se orgulhar muito de viver na civilização não é senhorita?

- Mas é claro! Londres é o centro dos acontecimentos mais importantes!

- Acontecimentos importantes... para quem?

- Para as pessoas que importam! Mas isso vc não compreenderia... - Disse Gladys soltando um risinho maldoso que incomodou deveras a jovem da selva, que a esta altura já espumava. Também neste momento devo comentar que o tom da conversa, como vcs devem imaginar, não era o mais amistoso e, por mais que tentassem controlar o tom da discussão, foi impossível que os demais moradores não ouvissem e acordassem pouco a pouco. No calor da discussão, certamente naquele momento, se o mundo acabasse, elas nem notariam.

- Olha só: não me interessa de onde vc veio, nem que tipo de coisas vc valoriza, mas esta é a minha casa e o mínimo que pode fazer é me respeitar!

- O que eu fiz!

- Vc sabe bem! Eu estava descansando, vc vem aqui, e me enche de perguntas sem propósito!

- Parece descontrolada, mas eu entendo...

- Entende o que? O que vc quer saber de fato? O que pretende com essa conversa?

- Entendo que esteja com raiva de mim, mas sabe que o lugar dele não é aqui!

- Do que vc está falando! - Verônica tentava se controlar, mas os ânimos estavam alterados demais para serem acalmados com facilidade. Imagine duas feras indóceis e multiplique por 1000. Resultado: Verônica X Gladys.

- Do Neddy é claro! Vc está com raiva porque ele é meu noivo e voltará comigo para Londres!

- Vc não entende nada! Vc aparece aqui vindo não sei de onde, sou obrigada a lhe receber e ainda ouvir insultos!

- Insulto é ter que ficar aqui nesta casa improvisada, vendo o modo como vc olha pra ele bem debaixo do meu nariz! Ou seria melhor dizer cobiça ele?

- O modo como eu olho!

- Agora o que vc quer dizer? - Pela primeira vez na discussão, Gladys recuou, como se sentisse realmente ameaçada, afinal ela sabia exatamente do que Verônica estava falando. A esta altura as duas eram observadas por uma platéia atônita diante do espetáculo que se apresentava diante de seus olhos; eles nem ousaram interferir, tão admirados estavam.

- Quero dizer o que vc já sabe, mas morre de medo de enfrentar!

Malone foi o último a se juntar aos presentes e ao vê-lo, Gladys tentou dar um xeque mate, apostando todas as suas fichas:

- Isso é um acinte! Neddy fale alguma coisa!

- É melhor deixa-lo fora disso...

- Por quê? Acha que ele vai dizer na minha cara que gosta de vc? Ele nem sabe quem vc é!

- Não foi o que pareceu de manhã! - "E agora?" Foi o que certamente pensou Verônica quando se deu conta da besteira que havia feito. Diante do silêncio que desabou sobre a cabeça de todos, ela soube que uma resposta precisava ser dada e agora não havia mais pra onde correr.

CONTINUA...

Disclaimer: os personagens aqui citados fazem parte da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World", não sendo, portanto de propriedade do(a) autor(a) desta fanfiction