Omnia mutantur
Autor (a): Phoenix
Comentários:
Olá queridas leitoras, em especial Cris, Towanda, Lais, Jess e Rosa, que deixaram reviews lindos e que ainda têm a paciência de ler as minhas fics que nunca têm previsão de caps novos! Será que vcs ainda lembram desta fic ou já se cansaram de esperar que minhas recorrentes fases "easi" me abandonem e que eu finalmente possa terminar esta história quase sem fim! Bem, de qualquer forma, aqui está o cap 8...espero que gostem!
Obs: Sinto-me muito honrada em ter uma fã de M&R como leitora! Um beijo Jess!
CAPÍTULO 8
Uma pérola é um templo construído pela dor
em torno de um grão de areia.
Que anseios construíram nossos corpos,
e em volta de que grãos?"
Khalil Gibran
- Como... assim... de...manhã? Perguntou Gladys com os olhos flamejantes em cima de Malone.
Nada. Nem uma só palavra pronunciada para o bem ou para o mal, e o mal estar na casa da árvore só aumentava. Os nossos exploradores nem ousavam se entreolhar, tamanho o constrangimento que a situação havia instalado. É certo que eles também estavam ávidos para saber o que havia acontecido de manhã, mas quem ousaria se meter? E mais que isso: como poderiam deixar Verônica em uma situação mais constrangedora do que ela já estava? A tempestade que se anunciava não precisava de mais ventos pra que se tornasse um furacão, com o risco de varrer tudo em sua frente. Sabe-se lá que conseqüências poderia ter.
Rápida e precisa como uma flecha disparada por um experiente arqueiro, Tessa finalmente interveio:
- Vamos manter a calma, certo. Acho que vcs duas estão um pouco nervosas e precisam se acalmar antes de conversar sobre qualquer assunto.
- Senhorita Willians, acho que este é um assunto sobre o qual não tem nada a contribuir, por isso...Disse Gladys tentando fingir, sem nenhum sucesso, uma delicadeza que na verdade não lhe era peculiar. A voz era suave, mas o conteúdo era amargo.
Enquanto isso acontecia, em paralelo, uma conversa acontecia entre os biólogos:
- E então hein..parece que o jornalistazinho desmemoriado é mais esperto do que parece! Disse Straiton fazendo uma careta maliciosa para seu colega de profissão e aventura.
- O que disse senhor? Perguntou Roxton, deixando o homem tão sem graça quanto possível.
-Oh, nada... apenas pensei alto... Disse ele com um risinho sarcástico.
- Acho que deveria ter mais cuidado com seus pensamentos! O caçador endureceu ainda mais a voz.
- Senhor Malone... Por que não diz algo a respeito e acaba com essa situação? Disse Smith, o também biólogo, disposto claramente a colocar mais lenha na fogueira.
- Na verdade acho que ninguém tem muita coisa a contribuir, o melhor é cada um voltar para o seu quarto e dormir... aliás, eu estou morta de cansaço! É contra a minha natureza acordar cedo, muito menos de madrugada! Marguerite disparou a falar e enquanto fazia isso, se aproximava de Verônica e ia conduzindo a amiga para o quarto. É claro que sua atitude tinha um propósito e seus amigos perceberam isso de cara: ela queria tirar Verônica dali o mais rápido possível, pois, mesmo sem saber o que havia acontecido de fato, a verdade que aquele estava sendo um período bastante difícil e como amigos, cabia a eles ajudar no que fosse possível. Ainda espumando de raiva, Verônica aceitou a ajuda da amiga, até porque o que ela diria? As palavras saltaram de sua boca antes que ela pudesse fazer qualquer julgamento e se conter; jamais colocaria Malone em uma situação desconcertante e sentia-se até um pouco culpada pelo deslize que acabara de cometer.
Pouco a pouco as pessoas foram saindo da sala, embora o burburinho ainda permanecesse; os novos aventureiros bem que gostaram do começo do barraco, afinal, achavam, em sua mente machista e pequena, que briga de mulher era algo extremamente interessante e até mesmo excitante, mas Challenger e Roxton cuidaram de dissipar a conversinha e fazer com que todos voltassem para seus quartos de uma vez. Tudo conspirava para que Gladys também se acalmasse e finalmente fosse dormir, mas ela estava deveras furiosa para isso. É claro que não havia ficado satisfeita com o desfecho da situação, visto que deixar as pessoas desconcertadas não era problema algum para ela; na verdade, este era seu passatempo predileto, demonstrar como podia ser cruel e espezinhar as pessoas que considerava inferiores. Vocês hão de convir que com um ego desse tamanho, ela considerava toda e qualquer pessoa inferior, até mesmo Malone a quem ela proclamava aos quatro ventos amar, mas que na verdade, não passava de mais um elemento de adorno da sua vaidade. Ela esperou que todos se recolhessem e quando malone ia saindo, ela o deteve um pouco mais.
- Eu poderia falar com vc? Disse ela segurando-o pelo braço quando ele fazia menção de se retirar. Ficar a sós com ela era o que ele menos queria naquele momento.
- Gladys... acho que deveríamos seguir os demais... tarde. Disse malone tentando não ser grosseiro, mas sem nenhum vestígio de paciência naquele momento. Pra falar a verdade, Malone havia chegado em um momento em que começava a questionar que tipo de relacionamento tinha com Gladys; se realmente era algo que lhe deixava feliz; a cada palavra ou atitude dela, ele achava que as coisas não eram bem assim.
- Não vai demorar... só quero lhe dizer uma coisa.
- O que?
- Isso que aconteceu aqui... não foi minha intenção!
- Não importa Gladys, eu acho que já foi o suficiente por hoje.
- Estou tentando explicar as coisas, mas vc não quer me ouvir... e eu que deveria pedir explicações aqui.
- Gladys...! Pela entonação de sua voz, ela percebeu a irritação do jovem e que, portanto aquele não seria o momento de atacar e sim, recuar, para ganhar mais tempo a fim de montar sua estratégia. Ela perdia terreno, isso era fato, por isso precisava ser rápida para recuperar o tempo perdido.
- Está bem, está bem... só quero que vc saiba que se há alguém preocupada com vc, este alguém sou eu. Isso é claro para mim, mas queria ter certeza de que isso também é um fato para vc e que transparece pela dedicação que lhe devoto. Não acredite em tudo que vir ou lhe disserem... por trás de uma feição angelical, pode haver um grande mal a espreita.
- Gladys, boa noite.
Dizendo isso, o jornalista finalmente pode se recolher a seu quarto, e enquanto andava, Gladys o observava, não admirando com amor ou desejo o homem que tanto queria para si, mas imaginando que, se não pudesse tê-lo por amor, como a cada momento ficava mais evidente que não seria, teria que apelar para sua compaixão, ou melhor dizendo, para seu remorso. Para isso não mediria esforços, não se importando o que fosse necessário fazer ou quem fosse necessário atingir. Gladys era uma mulher ferida em seu orgulho e pessoas machucadas são perigosas, porque elas sabem que podem sobreviver.
Malone, por sua vez, a ouviu silenciosamente, mas as palavras que não pode ou quis expressar, faziam a maior balburdia em sua mente e, quando se debruçou na janela de seu quarto, sentiu um vento gelado lhe percorrer a espinha. Suas mãos começaram a sua respiração tornou-se ofegante aliada ao coração disparado, fazendo-o sentir que sua cabeça rodava em uma ciranda desvairada. O que Tessa teria visto? E se Gladys soubesse, como reagiria? Deveria contar a ela? Conversar com Verônica? Deitou-se na cama com todos esses pensamentos que lhe pesavam toneladas, mas o cansaço foi mais forte e ele adormeceu. Teve uma noite agitada, como as que se acostumara a ter nos últimos dias e o pedido que fazia todas as noites, mais uma vez lhe fora negado: nenhum sonho que pudesse lhe trazer alguma lembrança lhe foi concedido por Morfeu.
Na manhã seguinte o clima diplomático reinou na casa; ninguém tocava no ocorrido, embora os olhares denunciassem que as interrogações continuavam presentes. Gladys foi a última a levantar, não porque tivesse dormido demais, mas porque aquele seria o primeiro dia de sua encenação teatral. Apesar da noite em claro, lavou o rosto com água fria e maquiou-se de modo a parecer muito bem; escolheu com cuidado seu melhor sorriso e dirigiu-se à mesa. Foi amável com todos, especialmente com Malone, a quem começou a demonstrar uma postura de subserviência, como via tantas mulheres agirem e por tanto tempo criticou. Já havia definido que naquele momento do jogo, essa seria a melhor tática; pelo menos por enquanto.
Como de costume, após o café, cada um dirigiu-se a suas tarefas. Malone bem que queria ficar em casa, pois não tinha vontade de fazer nada, mas com receio de dar margem a comentários depois dos acontecimentos do dia anterior, achou que não seria tão ruim assim, aceitar a idéia de Gladys de dar um passeio. Eles ouviram atentamente todas as instruções sobre por onde deveriam ir e o que deveriam evitar e foram rumo ao lago; era a oportunidade que ela precisava. Durante o caminho, foram conversando sobre diversas coisas, quase todas suscitadas por Gladys e basicamente falavam de Londres, assunto comum aos dois. Ela o atualizava com as noticias que havia trazido do velho Mundo e ele até conseguia sorrir diante da constatação de coisas familiares. Chegando na beira do lado, sentaram-se à sombra de uma grande árvore e, bem no meio da conversa uma manga caiu, quase a seus pés. Estava madura e suculenta e Ned apressou-se em pega-la. Instintivamente limpou a fruta na camisa e começou a descascá-la com a pequena faca que trazia na cintura; fechou os olhos como quem tem subitamente uma doce lembrança e levou-a á boca, sorrindo de satisfação ao sentir o sabor adocicado da suculenta manga. Antes que pensasse qualquer coisa:
- Manga! A fruta preferida de Verônica!
- Ned, vc ficou louco?
- Hã! Como se despertasse de um sonho bom, Malone abriu os olhos e se deparou com uma atônita Gladys.
- Como vc pega uma fruta desconhecida, proveniente deste lugar selvagem e come! Vc quer se envenenar?
- Desconhecida? Mas é manga Gladys!
-Não temos disso em Londres!
- É verdade! Eu lembrei!
- Lembrou? De que? Agora? Como?
- Wow! Calma Gladys! Eu lembrei que isso é uma manga, uma fruta deliciosa, a preferida de Verônica!
Ele repetiu a frase que cortou Gladys como uma afiadíssima adaga. Se ele não estivesse feliz como uma criança diante dos presentes de natal, teria notado o arquear de sobrancelhas que ela acintosamente fez.
- Que mais?
- Que mais o que?
- De que mais vc lembrou?
- Nada! Mas não acha incrível que eu tenha me lembrado de algo quando nem esperava!
- Claro...
- È isso! Preciso sair mais da casa...fazer coisas que eu costumava fazer! Vou falar com Roxton e o cientista... Challenger! Acho que poderão me ajudar!
Diante da euforia de Malone, Gladys só conseguia repetir para si mesma "paciência...". Logo uma das tantas virtudes de que ela carecia, seria sua saída e agora sua melhor aliada. Durante toda a madrugada ela maquinou o que faria dali em diante e não poderia por tudo a perder por causa de um imprevisto, por mais desagradável que ele fosse. Naquele momento, enquanto Malone se deliciava com a manga, um filme passou na cabeça da jovem aristocrata: depois de dias de caminhada exaustiva, calor intenso, acomodações nada agradáveis e comida exótica, gladys já estava quase sem esperanças de encontrar Malone; na verdade já havia amaldiçoado o dia em que havia conhecido o jornalista e se apaixonado, a seu modo, por ele.
E aqui creio que possa estar tocando em uma questão polemica: o amor de Gladys por Malone; algumas de vcs podem achar que isso que ela sentia poderia ser qualquer coisa menos amor, mas quem somos nós para julgarmos com precisão os sentimentos de alguém? Além do mais os sentimentos, por serem próprios de seres humanos, não são perfeitos de modo que o amor não escaparia de seus desvios. E se o amor tiver duas faces? Uma bela e generosa, ideal, mas outra mesquinha, cruel e egoísta? Quem sabe em que momento cada face aflora, diante de que circunstancias um pode tomar o lugar da outra?
Assim como nós somos 100 por cento bons nem maus, também nossos sentimentos são ambíguos muitas vezes e o que parece ser apenas bom, pode também ter suas ervas daninhas. Acho que as mulheres talvez entendam melhor desse assunto visto, que, na maioria das vezes esta luta entre bem e mal é travada em seu peito. Que mistérios guarda uma mulher e de que coisas ela é capaz?
Quando finalmente a expedição achou Malone, ele estava desmaiado; parecia fraco e desidratado e com alguns hematomas. Os aventureiros recolheram suas coisas e Gladys reclamou para si a incumbência de cuidar dos pertences dele. Perscrutando sua mochila, achou os diários que ele havia levado, inclusive a carta que seria para Verônica. Por motivos óbvios, ao descobrir que ele havia perdido a memória, ela devolveu os pertences, mas não os diários e agora tinha certeza de que esta havia sido a decisão mais acertada.
Gladys achou-se imensamente astuta ao encontrar os diários de Malone e esconder para que ele não tivesse nenhuma referencia dos amigos, especialmente de Verônica. A amnésia dele, na verdade, foi mais do que ela poderia esperar, de modo que ela considerou um verdadeiro golpe de sorte. Sem memória e sem nenhuma prova material que pudesse trazer à tona suas lembranças, seria fácil leva-lo de volta para Londres e recuperar sua vida de antes.
Mas agora a ponta do iceberg parecia começar a emergir e ela teria que ser rápida antes que fosse tarde demais.
CONTINUA...
Disclaimer: os personagens aqui citados fazem parte da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World", não sendo, portanto de propriedade do(a) autor(a) desta fanfiction
