RIOS VERMELHOS: ERDROMSROM.
CAPÍTULO 3 – O Passado inquieto.
"Eu amo quando você sorri, Harry..."
Potter estava com aquele olhar vago para o nada... aquele olhar que conhecera tão bem, ele estava preocupado... muito e estava escondendo o fato. Não havia oclumência que ocultasse sinais que reconhecia com o tempo e experiência... depois de tantos dias e noites... depois... Harry ainda olhava fixamente o nada, por vezes parecia murmurar algo... aquilo o enervava, entraram novamente na cidade... Draco lembrou de parar em uma mercearia, Harry sorriu de leve.
Após uma leve confusão em que Draco temeu que Harry tentasse passar algum galeão para a mocinha do balcão, ambos saíram com o tal picolé... que não era de todo mal...
-Certo Potter... me convenceu... isso é passável.- disse apoiado no carro.
-Quando você se acostumou com a vida aqui Draco?- ele perguntou ainda sem o olhar.
Draco olhou a rua meio vazia no meio da tarde...
-Quando acordei um dia sem medo de ver o Lorde das Trevas...
-Você sempre teve medo dele... mas ainda fala como se fosse um comensal...- disse Harry.
-Você também tinha medo dele.- disse.
Harry ergueu os olhos para o céu... os belos olhos verdes.
-Eu não tinha medo de Voldmort... eu tinha medo do destino... mas... você nunca entendeu... nem quis...
Era um terreno perigoso, e para seu agrado foi o moreno mesmo que mudou de assunto.
-E você Draco... casou-se?
-Eu moro com Isa...- disse e calou-se.
Harry sorriu... olhou-o.
-Fico feliz por você...
-Potter...- disse desviando o olhar...- Meus pais?
-Então você enfim... resolveu perguntar...- disse o moreno com um leve sorriso que foi sumindo devagar.- Seu pai... cometeu suicídio em Aszkaban... sinto... muito.
Draco imaginava mesmo algo assim... sabia por algum motivo que ele não sairia daquela prisão vivo... odiara Harry tanto por aquilo.
-Narcisa...- disse baixo.
-Assassinada...- Harry disse baixo.
Draco o olhou... e não quis perguntar o resto.
-Sinto muito... Draco...
Imaginava mesmo que o Lorde mandaria...
-Ela não me deu escolha.
Olhou-o... Potter olhava o chão.
-Eu tentei ajuda-la... como disse que faria... ela não quis ajuda.
-Você a matou?- perguntou.
-Draco... era uma guerra.
-Você a matou?- voltou a perguntar.
-Não havia escolha naquele momento.
-Você disse que a ajudaria...- murmurou.
- Você disse... que ficaria...- Harry replicou.- Não fui o único a não cumprir promessas.
Os olhos verdes brilharam num pequeno instante, pareciam furiosos, no momento seguinte havia entrado no carro.
-Vamos... você tem uns corpos para me mostrar...
-O que você fez... com ela?
-Acredite... não havia outro jeito...- ele murmurou.
-Saia do carro...- disse com raiva.
-Eu imaginei diversas vezes sua reação...- disse o moreno olhando fixamente para a frente.
-SAI DO CARRO!
Harry saiu... Draco entrou e bateu a porta.
-Só não esqueça...- Harry disse ainda olhando vagamente a frente.- Foi você que nos abandonou.
Draco já acelerara... cantando pneus. Quando ousou olhar pelo retrovisor a calçada parecia estar vazia... mas não via bem.
Era a primeira vez que chorava em anos.
-Porquê faz tanta questão de me salvar?- perguntou baixo o garoto de dezessete anos para o outro.
-Porque algumas pessoas valem a pena.- disse o garoto moreno.
Draco olhava o céu... deitado na grama de Hogwarts... preocupado.O moreno parecia olhar o lago.
-Potter... você sabe... que eu tenho obrigações...
-Diga um preço...
-Preço?
-Você diz que tudo tem preço... dê um preço por você.- o outro virou o rosto e o encarou.
-Quando eu disse que não daria nada para estar contigo... eu disse a verdade Potter...- disse o rapaz loiro.
-Eu odeio... quanto diz meu sobrenome... Draco... - o verde pareceu escurecer.
-Minha mãe Harry...- disse olhando... com um sorriso.- Tire minha mãe de lá e a ponha salvo. Então eu lhe serei...
-Eu prometo cuidar da sua mãe Draco... – disse o outro com um sorriso doce.-Juro.
-Então... eu fico.- disse e sorriu mais voltando a olhar o céu.
Só não esqueça... Foi você que nos abandonou.
Draco freiou o carro em frente a sua casa e enfiou o rosto no volante... soluçando.
-Merda... Merda...- disse ele ainda com o rosto colado no volante.
-Saia da frente sua idiota!- berrara.
-Você... foi a morte de TODOS OS MEUS!- ela berrara insanamente.
Atrás dela... o maldito semi-morto... que não morrera da contra maldição porque a segunda idiota se metera na frente... no meio das catacumbas onde todos se embrenharam... no fim... o grande Lorde das Trevas tinha como escudo, apenas duas mulheres... uma caíra morta.
Bellatriz Lestrange, morrera para salvar seu Lorde.
A paródia daquele dia tinha que acabar.
-Saia daí Narcisa!- Berrara.
Mas ela não ouvia... insana ou sob Império ainda estava em frente á aquele bolo que pertencia a uma morta Bellatriz e um extremamente ferido Voldmort.
A varinha gêmea ergueu-se trêmula, assim como a de Narcisa se erguera., ambas lançaram a maldição mortal.
Harry apertou os olhos... deitado na cama... por tantas vezes reviu aquilo, por tantas vezes pensara... se houvesse outra forma... outra solução.
-Eu tentei.- disse enfiando a mão nos olhos cansados...- Juro que tentei.
Seus cabelos estavam espalhados na almofada... a tanto tempo não revivia aquela dor, que era muito desconfortável... tudo aquilo já havia sido feito, todo aquele martírio... levantou-se retirando a única peça de roupa que ainda vestia.
Enfiou-se na ducha olhando o espelho do outro lado do banheiro... o hotel era luxuoso por isso mesmo o espelho era grande... descobrira isso em suas viagens, quanto maior a riqueza, maior o ego e maior o espelho...
Olhou-se... a quanto tempo parara de se encarar com raiva? Suspirou e balançou a cabeça fechando o Box.
O espelho do outro lado tornou-se um borrão... e tudo ficou embaçado.
Draco abriu a porta... devagar, tenso... a cama grande estava meio que amarfalhada... e as roupas estavam jogadas pelo pequeno sofá em frente ao mini-bar... onde estavam um copo com um dedo de conteúdo amarelado, uma garrafa de vodcka aberta, um pequeno recepiente onde havia mais água que gelo e uma lata de uma bebida energética... o som estava tocando a nova sensação do rock bruxo americano o "Vampire Killer's", um som no banheiro chamou sua atenção... acabou se dirigindo para lá.
-Dizem que não é educado entrar sem bater.- disse ele de frente para o espelho.
Draco ficou preso entre o misto de ficar olhando a pequena figura a sua frente ou virar de costas, como deveria fazer... mas certas coisas... certas lembranças... ficou olhando o corpo seminú de Harry... uma toalha curta na cintura... o resto... Só podia dizer que Harry se tornara ainda mais atraente... muito mais que antes... ainda era pequeno e magro... mas havia algo que o tornava ainda mais...
-Devia fechar essa boca Draco... na nossa idade fica ridículo.- Harry disse voltando a enchugar o cabelo com a outra toalha e passando por ele.- Uma bebida?
Draco se voltou devagar. Agora não havia muito de sorriso engraçado na face séria e um tanto pesada do outro.
-Olha... eu sei que fui embora Potter... certo?
-Certo... passado é passado...- disse ele virando um tanto de Vodcka , no copo préviamente abastecido de energético.- Não é por isso que estou aqui.
Doeu. Engraçado... doeu. Draco aceitou o copo.
-Temos um trabalho a fazer Draco... eu sabia que a notícia seria dolorosa pra você.
-Não eu só... eu...
Harry dera um daqueles sorrisos tristes e empurrara o seu copo, para que se calasse e bebesse, oh Deuses... isso era exatamente o que ele fazia antes...
-Eu...- Draco disse olhando a bebida.
-Você tem que me levar para ver os corpos... é importante.- disse o outro deixando seu copo na mesinha e puxando roupas da mala.
Havia algo que devia falar... mas ver Harry se vestindo... enfiou a bebida boca adentro... desviou o olhar... olhar o outro... nú... e se vestindo... Harry sabia que quando semovia parecia um felino preguiçoso? Como se tudo se resumisse ao ato de se mover lentamente? languidamente até? Não que Harry fosse preguiçoso... mas...
-Vou ao banheiro.
-Eu já termino aqui.- disse o outro procurando algo na mala... com o cinto e camisa abertos.
Draco encarou o espelho, dizendo furioso para aquela parte da sua anatomia não se empolgar... deixara o casaco no carro... no entanto mesmo olhando pra si mesmo no espelho, a lembrança das costas nuas... daquelas coxas e principalmente... daquele traseiro... "Isso não é hora de ter uma ereção vergonhosa por culpa de um caso adolescente..."
Teve vontade de se esmurrar.
Quando começou a se censurar por ser hipócrita?
Mirou a varinha no próprio pulso e fez o feitiço... aquilo iria baixar sua pressão... esperava que não desse sono também.
Melhor que encarar Harry... com... era melhor mesmo que fosse assim.
Potter estava bebendo olhando pela janela... o cabelo arrepiado úmido.
Com uma camisa mais comportada e aquela calça jeans justa. Maldita calça justa.
-Podemos ir.- disse saindo.
Ele pareceu despertar.
-Certo. Vamos.- e pegou a jaqueta.
Harry acostumara com corpos. Depois de tantos... amigos e inimigos... chegou a conclusão de que os desconhecidos eram os piores... engraçado, todos diziam o contrário.
Mas para ele, os corpos conhecidos eram lamentos e alívios. Os desconhecidos traziam a eterna dúvida.
Quem foi você? Bom ou mal? Amado ou odiado?
Quem foi você? Fez algo de bom com sua vida? Ou só a jogou fora?
Era isso que Harry Potter pensava quando via mortos desconhecidos.
Os piores eram os das crianças... Lupin várias vezes dissera que ele parecia literalmente "doente" quando via crianças mortas.
Ficara furioso, porque na época achara que aquilo fora uma "acusação" de fraqueza.
Mas depois, descobrira que sim... sua palidez diante dos corpos de crianças eram quase que uma doença.
Culpa era uma doença.
-Mabel... o que acha?- perguntou Draco na salinha cheia de corpos conservados.
-Não há padrão entre as vítimas.- disse ela.
Uma medibruxa, especialista em corpos... que até disse bem humorada.
-Pelo menos ninguém aqui vai virar vampiro ou zumbi.- disse com um riso.
-Melhor que os trabalhos de sempre hein?- Draco sorriu, com as fichas na mão.
-Você disse que não há padrão?- Harry disse no meio da sala voltando a cobrir o corpo de um homem de meia-idade.
-Nenhum. Parecem ataques aleatórios.
-Pelos deuses.- Harry disse irritado a encarando.
E ela o encarou surpresa.
-Que foi?- perguntou Draco.
-Me ajude a separar as vítimas... as de Avada para direita. As de outros feitiços para a esquerda e deixe as vítimas por armas brancas no fundo.
Os três levitaram os corpos, até que os dois olharam Harry como se dissessem "E daí?".
-Aí está o seu padrão.- disse mostrando o conjunto.
-Sinto Sr.Potter... mas não compreendo.- disse Mabel quando ele se virou para sair.
-A direita você tem unicamente puros-sangue, a esquerda mestiços e todos os outros são trouxas.
A mulher apertou sua varinha. E voltou a olhar...
A porta porque Harry já saíra.
-Como ele sabia?- ela encarou Draco.
Draco estava olhando algumas fichas... deixando o queixo cair assim que confirmava.
-Não sei.- disse entregando as fichas para ela.- Obrigado Mabel.
Encontrou Harry fumando ao lado de seu carro.
-Como sabia?
-Experiência.
-Uma pinóia!
Potter suspirou, e tragou devagar... jogou o cigarro no chão e pisou nele.
-Posso dirigir Draco?
-Me diz...
Harry o encarou, e deu um sorriso... em seguida abriu a porta.
-Senta... e eu explico.
