Capitulo 2 - A Academia Ninja
Não que se lembrar de seus anos de academia fosse algo bom, ou algo que merecesse ser lembrado. Na verdade, aqueles estavam entre os piores anos da vida do garoto. Mas, graças aquela época, ele havia formado seu caráter.
Ele era sem dúvida um garoto estranho, lembrava que seu jeito, sua roupa, e até mesmo seu cabelo não eram muito comuns. Não que isso havia mudado, mas as coisas são sempre mais cruéis quando se é mais jovem.
Lee não podia usar nem Ninjutsu e nem Genjutsu, e esse era o maior motivo pelo qual ele era humilhado. Todos os treinamentos dessas técnicas ele tinha que assistir de longe, calado, enquanto as outras crianças apenas apontavam e riam dele. E seu Taijutsu era ruim, abaixo da média. Mas apesar de suas dificuldades, ele nunca havia gostado de ser subserviente, e na maior parte das vezes que se dirigiam a ele como "perdedor", "lixo", "fracassado", ele respondia. Ao se ver no meio de uma roda de garotos que zombavam dele, após repetir diversas vezes que poderia ser um ninja mesmo sem aquelas técnicas, acabava perdendo a cabeça. E como um animal assustado, se jogava agressivamente em cima de quem havia começado aquela tortura. Fazia isso, mas sempre apanhava, pois as outras crianças sabiam bem Taijutsu, dominavam Ninjutsu e um pouco de Genjutsu. Ele não. Ele sempre se machucava. O mais cruel é que os senseis não se davam ao trabalho de interferir na dose de tortura diária que os coleguinhas davam a ele, e apenas tratavam de observar de longe o espetáculo. Não era raro Lee parar na enfermaria, e sofrer mais ainda com os olhares dos senseis, que o julgavam apenas pelas notas e o olhavam como se fosse uma criatura digna de pena.
Mas ele era uma criatura digna de pena. Isso era o que mais doía em seu coração, e aquele pensamento era o que lhe fazia chorar todos os dias, enquanto voltava sozinho para o que poderia ser chamado de casa. Por não ouvir quieto os comentários a seu respeito, ele era esquentado. Ele tinha sangue quente. O "perdedor de sangue quente", como era o tão odiado apelido que ele carregava. E os professores reclamavam dele brigar, e o pediam para ouvir tudo o que lhe fosse dito de cabeça baixa, e para que aceitasse a humilhação e sua condição de inferior.
Mas um dia um professor ficou com pena do garoto, e foi conversar com ele. Ou talvez ele simplesmente queria se livrar do estorvo que era protegê-lo, e decidiu fazer algo para aliviar a própria consciência. Diante de um garotinho machucado por outra briga, que esfregava as lágrimas dos olhos ele disse;
-"Ei.. Talvez se você treinar mais um pouco pode melhorar seu Taijutsu.. Depois da aula, pode ficar no horário da noite e treinar um pouco nos troncos do pátio."
Lee soluçou mais algumas vezes, até parar de chorar e fitou um pouco o Chuunin que estava em sua frente. Após pensar por algum tempo, abriu um leve sorriso e concordou com a cabeça, dizendo uma resposta em tom tímido "Osu..".
Ele ainda estava sentindo um pouco de dor, pois havia encarado três garotos na última briga, e os três fizeram questão de dar o troco. Mas isso não o impediu de levantar de onde estava, e andar até os troncos de treinamento. Será que treinar realmente poderia ajudá-lo? Ele se sentia tão triste e inferior ultimamente.. Ele sentia tanta raiva de tudo que estava passando.. Porque com ele, porque só com ele? Lee olhou para o tronco e deu um soco com toda força que possuía. Doeu. Depois ele deu mais um, e outro, e outro. E cada um desses fazia as suas mãos doerem. Provavelmente estava batendo acima do que seu corpo permitia. Tão poucos socos e uma dor tão intensa? Ele era mesmo um fracassado! Lee sentou no chão e olhou para as próprias mãos, que estavam vermelhas. Ele se apavorou ao olhar aquilo, e parou de treinar. Abaixou o rosto e aceitou sua condição de inútil. Parou de treinar aquele dia.
Passado alguns dias, ele tentou novamente. Conseguiu ficar um pouco mais de tempo, mas logo a dor se tornava tão intensa que o fazia choramingar. Outra derrota, e mais tristeza! De nada adiantava aquele treino inútil. Mas apesar de desacreditar em sua própria vocação, ele continuava tentando. E mais e mais, quase que imperceptivelmente conseguia aumentar a força e resistência de suas mãos. Estava pagando por isso; ficava cada vez mais doloroso escrever durante as aulas com as mãos sendo machucadas quase que diariamente. Mas precisava ser feito.
Por esse fato de estar treinando, superando seus medos e conhecendo suas virtudes, Lee começou a mudar vagarosamente seu jeito de ser na academia. Não era mais o garoto tímido, sempre de cabeça baixa e olhar apavorado que sentava no fundo da sala, desejando ser invisível. Ele começava a levantar o semblante, e a ganhar um ar mais feliz. Não ficava mais assistindo às aulas de Ninjutsu e Genjutsu e se lamentando; agora ele aproveitava esses momentos para treinar mais um pouco seu corpo para o Taijutsu.
Ele notou que havia passado a vida inteira com pena de si mesmo, e agora começava a aprender a cultivar um certo orgulho. E jurou que nunca mais se sentiria inferior. E começou até a achar que havia ficado mais forte.. Doce ilusão. Os garotos tinham dado um tempo com o Lee, mas logo se espalhou o comentário de que ele não estava mais agindo como o saco de pancadas da turma.
Era um dia normal, e Lee caminhava devagar até a porta do colégio. Como era horrível o sentimento de adentrar naquele matadouro com os próprios passos.
Mas o garoto de roupas chinesas mantinha um olhar bem mais confiante, apesar de ter que engolir a seco toda vez que ouvia o sinal chamá-lo para a clausura da sala de aula. Lee continuava sentando no fundo, mas agora seu maior motivo era porquê não queria que o sensei notasse sua dificuldade de escrever, e até mesmo de fechar as mãos, e igualmente notar as bandanas que as envolviam. Ele se sentia feliz ao olhar as mãos trêmulas segurando erroneamente o lápis, pois era sinal de que estava conseguindo treinar.
Mas aquele dia não era igual os outros. Um dos garotos briguentos da sala havia se sentado próximo a ele, só para ver a reação. Ele sentiu seu coração apertar de medo mais pensou;
- "Eu.. preciso acreditar que sou forte! Não tenho medo!"
O garoto no entanto, virou para ele depois de um tempo e disse em meio a um sorriso cruel;
- "Fracassado de sangue quente, você anda com o nariz muito em pé ultimamente. Se não lembrar qual é seu lugar "nóis vamo te dá" um corretivo.."
Lee usou todas as suas forças para continuar escrevendo e ignorar aquilo; era o mais sensato que podia fazer.
Passaram-se mais algumas aulas, e o garoto via uma movimentação estranha na sala, e algumas crianças apontando para ele e rindo. Jogaram alguns papeizinhos no Lee, mas o sensei logo reclamou e mandou que parassem. Foi então que o sinal do recreio tocou; provavelmente a pior hora do dia na opinião do garoto. Ele abaixou o rosto e fingiu estar copiando mais alguma matéria, cobrindo com a franja os olhos. Depois que todas as outras crianças saíram, o sensei esperou um tempo e perguntou;
- "Não vai sair, Lee-kun?"
- "Não, preciso.. Copiar o resto da matéria." – Disse ele olhando para a folha de caderno em branco na mesa.
- "Sabe que não pode ficar na classe. Depois você faz isso. Lee-kun, vá brincar com seus amiguinhos.."
- "Osu.." Disse desanimadamente o garoto enquanto caminhava para fora da sala. "Brincar com seus amiguinhos". Aquilo já era cinismo; todos os senseis sabiam que Lee não tinha um único amigo. Com a cabeça baixa, ele deixava a franja cobrir novamente seus olhos enquanto pegava um onigiri (Bolinho de arroz japonês) na mochila. Ele se preparou para comer quando viu o mesmo garoto que havia o ameaçado na sala se aproximar, com vários outros. Nenhum deles parecia amigável.
Lee sentiu suas pernas tremerem de medo, e levantou os olhos ainda de cabeça baixa afastando o lanche da boca.
- "Heh. Parece que todo aquele jeito de importante era só fachada, não é mesmo, fracassado? Vamos, você é um nada que não vai treinar Ninjutsu na próxima aula. Dá o seu onigiri aqui, que eu estou com fome!"
Tudo era só fachada? Lee não tinha mudado nada? Não podia ser. Ele olhou para as suas mãos enfaixadas e levantou num ímpeto do banco, franzindo a testa apesar de ainda demonstrar certa insegurança no olhar.
- "Eu.. Eu não tenho medo! Eu preciso comer para treinar Taijutsu! Saiam daqui!"
- "Ora ora.." – Disse o organizador da bagunça em meio a risada dos amigos – "Parece que o fracassado de sangue quente ganhou alguma confiança.. Mas.. Cale a boca fracote, para de bancar o bom porque dá pra ler na sua cara que tudo que você queria era estar escondido em um buraco bem longe! Fraco!"
- "Eu não sou fraco! Não sou fraco! Não sou! Eu estive treinando todo esse tempo e agora as coisas não vão ser como antes!"
Lee investiu contra o oponente com os punhos cerrados, e mirou um soco forte na barriga do garoto. Acertando, o garoto olhou para baixo e recuou um pouco. Logo depois olhou para Lee, abrindo um largo sorriso.
- "Isso é tudo? Não doeu nada."
Lee não podia acreditar em seu ouvidos. Nada? Nada havia mudado mesmo?
Aquilo não era verdade. Ele podia ser fraco, mas nunca ia abaixar a cabeça. Nem que morresse iria obedecer um cara daquele. Lee pegou o onigiri novamente, e o jogou no chão, pisando em seguir e misturando a pasta de arroz com terra. Olhava desafiadoramente para o oponente.
- "Você não vai me humilhar.." – Pensou Lee
O garoto olhou incrédulo para o que vira; parece que realmente o "fracassado" havia mudado. Ele olhou com raiva e deu dois socos na barriga de Lee, que recuou bastante com a dor após soltar um barulho quase inaudível. Depois levou um dos braços ao lugar que havia sido atingido.
- "Fracassado de sangue quente! Fracassado de sangue quente! Eu quero tirar da sua cara esse ar confiante que arranjou! Vamos, garotos."
Ele rangeu os dentes e avançou irracionalmente contra aquele que o ofendia; tomando novamente sua postura de "sangue quente". Não demorou muito para que dois outros garotos segurassem os seus braços, enquanto o líder o esmurrava impiedosamente. Ao sentir aqueles socos na barriga, aqueles chutes na perna, seus braços sendo puxados dolorosamente para trás, não demorou muito para que as lágrimas voltassem a correr pelo rosto do garoto. Olhava apavorado para todos aqueles seres rindo e se divertindo em poder socá-lo. Depois de levar dois ou três socos no rosto do líder da brincadeira, jogaram ele no chão.
Humilhado, ficava se sustentando com dificuldade diante do garoto que havia batido nele, de joelhos e cabeça baixa, enquanto sentia o sangue quente de seu nariz quebrado escorrendo junto com suas lágrimas. Olhava para baixo, para suas mãos que já haviam perdido as bandanas, Estavam machucadas pelo treinamento, e não pela surra, e vários vergões vermelhos a cobriam, junto com alguns hematomas.
- "Então você realmente treinou? Vou fazer você se arrepender disso!"
O garoto começou a pisar em uma das mãos de Lee enquanto ele gemia de dor apavorado. Ele não conseguia nem mais pensar direito quando ouviu uma voz interferindo na briga.
- "Não bateram nele o suficiente? Será que o ego de vocês é tão fraco que precisam ficar batendo tanto assim em um perdedor?"
Lee engoliu seu choro enquanto continuava fitando suas mãos machucadas.
- "N.. N-não sou perdedor.." – Disse com dificuldade, enquanto tossia um pouco de sangue.
- "Você.. Está tremendo, chorando, de joelhos, com o nariz quebrado. Fez um treinamento fraco e acha que mudou algo." – A voz que interferiu adquiria mais cinismo em cada palavra – "Os fracos morrem no lugar dos fortes e importantes, ou vivem apenas para serví-los. Você não é nada além de um perdedor, que persegue um sonho infantil de se tornar ninja. Os senseis nunca tiveram coragem de te dizer; mas sem Ninjutsu e Genjutsu você não vai nem se graduar na academia."
Antes que ele terminasse de falar, Lee tentou se colocar de pé de novo, estendeu um pouco mais o corpo, e cambaleando ergueu os braços a fim de dar um murro naquele que o desacreditava. Este logo segurou o punho machucado e o apertou sem um pingo de piedade. Lee soltou um urro de dor e tentava ver, ofegante, quem era o garoto havia o bloqueado com tamanha facilidade. Olhou fundo no rosto do oponente, que o fitava com um desprezo terrível. Sentiu um medo maior ainda ao olhar a frieza que transbordava daqueles olhos. E a raiva, que estava estampada naqueles olhos brancos. Brancos como a paz.
17/02/06 Oh, esse capítulo está enorme. Eu atualizei rápido porque já tinha feito uma parte. Bom, vamos esperar que eu continue sendo responsável para atualizar isto daqui.. E mandem Reviews, ou o Lee vai sofrer mais! Gargalhada fatal
