Pela primeira vez em muito tempo a Toca do Baco estava no mais completo silencio. Chegava até a ser estranho, mas havia um grande motivo para isso.

-Hei, para de me cutucar; Aioros resmungou.

-Não fui eu; a voz de Milo soou com um baixo sussurro.

-Fiquem quietos; Aishi reclamou.

-Ma petit, tem certeza que isso vai dar certo? –Kamus perguntou, hesitante.

-Claro que sim, acha que eu e Ariadne trabalhamos tanto pra que? –Dionísio perguntou emburrado.

-Hei não precisa me chutar; o aquariano reclamou, ao receber um chute de alguém.

-Não fui eu; o ruivo falou, assoviando inocentemente.

-Kamus, abaixa esse cosmo, vai matar a gente de frio aqui; Saga reclamou.

-Já podemos acender a luz, não é legal ficar esse monte de gente amontoado aqui no escuro, alem do mais, eu tenho uma reputação a zelar; Milo pediu, em tom de suplica.

-O que quer dizer com isso, impiasto; Guilherme vociferou.

-Calma amor, deixa ele; Yuri falou, dando-lhe um beijo estalado na bochecha, fazendo o cavaleiro ficar escarlate, mesmo no escuro.

-Uhnnnnnnnnnnnnnnnn; todos murmuraram, com sorrisos nada inocentes na direção do casal.

-Fiquem quietos, elas estão chegando; Ilyria avisou, abrindo uma frestinha na cortina da janela.

-Todos em seus lugares? –Saori perguntou, ouvindo um murmúrio de assentimento de todos.

-Uhn! Uhn! Uhn! –o capricorniano resmungou, tentando chamar a atenção.

-Shura, fica quieto, não tenho mais fita isolante para colar na sua boca; Mú avisou, como se fosse a coisa mais normal do mundo, sair amordaçando um cavaleiro de ouro por ai.

-"Até ele"; o cavaleiro pensou, arqueando a sobrancelha, lembrando-se de que todos aprontaram aquela para si, tudo porque batera o pé se recusando a contar aquilo; ele pensou.

-Fiquem quietos logo; Saori mandou.

Todos ficaram imóveis ao ouvirem a porta se abrindo. E três vozes animadas soarem na entrada.

-Estranho, porque ta escuro aqui? –Silvana perguntou, enquanto era delicadamente empurrada pela autora das crônicas, para dentro da Toca.

-Não é nada, deve ser um fuzil queimado; Margarida tentou justificar, entrando junto.

-Isso mesmo, o Dionísio já deve ter ido arrumar; Jéssy falou, com o sorriso mais inocente que conseguiu fazer.

-Uhn! Uhn! Uhn!

-Vocês ouviram isso? –Silvana perguntou desconfiada.

-Cof! Cof! Cof! –Margarida fingiu uma tosse repentina. –Acho que vou ficar resfriada, deve ser isso, fico tossindo a qualquer momento; ela tentou justificar.

-Ahn! Vocês não estão aprontando algo, estão? –Silvana perguntou desconfiada, lembrando-se de como as duas apareceram do nada em sua casa, lhe arrastando para a Toca do Baco, no momento em que mais queria ficar em casa. O que lhe soou de certa forma meio suspeito.

-Nãooooooooooooooooo; as duas ficwriters falaram, prontamente.

-Então porque esse silêncio todo? –ela perguntou, ainda mais desconfiada.

-Bem...; Jéssy balbuciou, por onde iriam começar. –A culpa é toda do Shura; ela falou a queima roupa.

-O que? –Silvana quase gritou.

-Olha, a Jéssy deu duas opções para ele, mas ele foi muito teimoso. Dizendo que o que tínhamos planejado ia ficar meio impróprio para o horário e que a outra opção ele não queria que todos ficassem sabendo; Margarida explicou.

-Isso mesmo, a gente queria fazer uma surpresa. E de quebra fazer a alegria da mulherada que acompanha as crônicas, mas ai você sabe, recebemos algumas cartinhas com ameaças de morte, lenta e dolorosa de alguns dourados, então fomos obrigadas a reconsiderar; Jéssy falou, tentando não rir, ao imaginar o complô que Kamus, Saga, Aiolia e Guilherme estavam armando quando souberam que suas respectivas namoradas, ficaram bastante empolgadas com a festa surpresa na Toca.

Todos ficaram em silencio sem se mexer, quando a temperatura começou a baixar novamente.

-Ai; Kamus gritou, quando Saga propositalmente pisou em seu pé. –Porque fez isso idiota?

-É impressão a minha ou eu ouvi a voz do Kamus? –Silvana perguntou, voltando-se para as duas.

-Impressão a sua; Margarida falou.

-Uhn! Não sei; ela murmurou. –Eu conheço vocês duas, a julgar pela Jéssy ela adora colocar o Shu em certas situações que é melhor não comentar, mas o que vocês fizeram com ele? –Silvana perguntou, se conhecia bem aquelas duas, o que tinha absoluta certeza de conhecer, sabia que o pobre cavaleiro não pudera contra as duas juntas.

-Bem...; as duas balbuciaram.

-SURPRESA. FELIZ ANIVERSÁRIO;

Todos gritaram, quando as luzes se acenderam, balões foram estourados e uma infinidade de pessoas aproximava-se da ficwriter para cumprimentá-la.

-Ahn; Silvana murmurou, piscando confusa, tentando assimilar a idéia.

-Acho que a ficha não caiu; Jéssy comentou, com uma gotinha escorrendo na testa;

-Não mesmo; Margarida falou, balançando a cabeça levemente para os lados.

-Vocês...; Ela começou, aproximando-se das duas.

-Bem, as surpresas ainda não acabaram; as duas falaram com um sorriso maior que o do gato da Alice.

-MÚ, MOSTRA PRA ELA; Jéssy gritou, chamando pelo ariano.

-Ahhhhhh seu idiota; Shura gritou, quando o ariano arrancou dos lábios dele a fita isolante que fora usada para fazê-lo ficar quieto.

A parede de pessoas que escondia o cavaleiro se desfez. Mostrando-o lindo, sarado e maravilho. Vestido completamente de preto, com seu charme natural, reforçado pelos dois primeiros botões da camisa abertos, os cabelos arrepiados levemente umedecidos e para fechar com chave de ouro, um nada discreto laço vermelho em sua cabeça. Enquanto permanecia delicadamente escoltado por Mú, para que não arrumasse uma oportunidade de sair correndo, antes de dar o presente da aniversariante.

Silvana arqueou a sobrancelha, sem saber o que fazia primeiro. Jogava o cavaleiro dentro do carro e levava pra casa. Ou se tentava matar uma das ficwriter por ter-lhe aprontado essa. Embora a surpresa não tenha sido ruim, já que acaba levando o Shura pra casa no final.

-Vamos, começa a contar; Mú falou, colocando a mão sobre o ombro dele, empurrando-o pra frente.

-Mas...; Ele falou, com os orbes brilhando suplicando para alguém tirá-lo dali.

-Shura, a culpa foi sua; Jéssy falou numa calma tão assustadora que Shaka saiu de fininho, antes que Aaliah acabasse gostando da idéia e sobrasse pra ele. –A gente tinha pensado só em te colocar dentro de uma caixa de presentes gigante, com uma tanguinha de streeper, uma gravatinha borboleta, e te fazer dançar aquela musica It´s Raining Man, mas você que complicou tudo; a ficwirter falou, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Não era, mas quem se importa... XD

-Ahhhhhhhhhhhhhh; algumas garotas murmuraram em tom de reprovação.

-Até você Marin? –Aiolia reclamou, surpreso.

-Bem, festa é festa né. Só to dando um apoio moral pras garotas; a amazona falou, voltando-se para ele com um olhar inocente.

-Bem, avaliando por essa perspectiva; Silvana começou, com um largo sorriso, que fez até Kamus de Aquário gelar. –Começa logo;

-Sil, por favor, você que diz me amar do coração, me tira dessa; ele pediu, enquanto todos já começavam a se acomodar em varias mesas, deixando apenas algumas cadeiras no centro para as ficwriters e o 'presente'.

-Shura; Jéssy e Margarida falaram serrando os orbes perigosamente.

-Ta certo, vocês venceram; ele falou, sentando-se na cadeira.

-E você tinha alguma duvida de que isso não ia acontecer? –Saga perguntou sarcástico.

-Hei, o aniversário da Jéssy ta longe, mas você não escapa da próxima; Shura falou, lançando um olhar mortal para o geminiano. –E não adianta se esconder atrás da Saori, Aioros. Porque não me esqueci que você também está envolvido nisso; ele completou.

-Vamos começar logo; Jéssy falou, vendo que os dois cavaleiros pareciam querer se esconder em baixo da mesa.

-Se vocês querem assim, vamos lá então; ele falou, dando um suspiro.

Abriu um sorriso charmoso, arrasa corações. Passou a mão levemente entre os fios arrepiados, jogando algumas gotículas de água sobre o chão. Acomodou-se melhor na cadeira. Pronto pra começar.

-Acho que não precisa fazer pose pra contar uma historia; Kamus resmungou, vendo Aiolia e Guilherme concordarem.

-Deixa ele, quando acabar nós acertamos as contas com ele, por causa daquele lance do streeper; Guilherme falou, com um sorrisinho diabólico, vendo os dois concordarem.

-Silvana, esse é o presente de aniversario que a Jéssy achou que mais se adequava a você. Espero que goste; Shura falou.

Todos assentiram, quando ele começou a contar.


... Crônicas de Amor e Confusão IX - AVASSALADORAS...

Capitulo 1: De Volta a Terra Natal.

I – O Convite.

Lançou um olhar demorado para o papel que tinha em mãos. Fechou os olhos, dando um suspiro cansado. Nossa! Quanto tempo já se passara; ele pensou.

Em cada janela

Uma luz acesa

Observou atentamente as luzes da cidade se acenderem da janela do quarto, nunca iria imaginar que voltaria ali, daquela forma.

Em cada coração solitário

Uma incerteza

-Shura, ta pronto? –Milo perguntou, entrando despreocupadamente no quarto do cavaleiro, enquanto terminava o laço da gravata.

-Milo, eu não sei; ele confessou, voltando-se para o cavaleiro.

Aqui dentro o tempo

Parece que não tem mais fim

-Olha; Milo começou, sentando-se na beira da cama. –Sou péssimo para esse tipo de coisa, mas sabe que pode contar comigo cara; ele completou.

-...; Shura assentiu, foi exatamente por isso que estava ali; ele pensou.

-Lembrança-

-Dia difícil, Shura? –alguém perguntou, sentando-se ao seu lado, nas escadarias de Capricórnio.

-Uh! –ele murmurou, virando-se e deparando-se com o olhar curioso de Milo sobre si.

-Aconteceu alguma coisa? –Milo insistiu. –Dificilmente te encontro por aqui, ainda mais com essa cara; ele comentou.

-Que cara? –Shura perguntou, arqueando a sobrancelha.

-De conformado; ele respondeu com simplicidade, vendo-o voltar-se para si surpreso.

-Como?

-Parece que você perdeu uma batalha e se conformou com a derrota; ele explicou. –Resumindo, você com essa cara, acaba de admitir que não existe nada que possa mudar o que você ficou sabendo, por meio disso ai; Milo completou, apontando o envelope que ele tinha em mãos.

Shura suspirou cansado. Preferia mil vezes o Milo abusado e atrevido, do que aquele que parecia ter o poder de ler sua mente.

-Talvez; respondeu, vagamente.

-Quer falar sobre isso? –Milo perguntou.

-Adiantaria?

-Não se isso for um convite de casamento; Milo brincou, porém parou assustado ao vê-lo assentir. –Por favor, não diga que isso é um convite de casamento, de alguma garota que você já foi apaixonado?

-Você tem certeza que treinou em Milos, porque poderia muito bem fazer um estagio para profeta em Delfos; Shura falou, sem conseguir evitar o sarcasmo impregnado na voz.

-...; Milo abriu a boca, mas não conseguiu emitir som algum.

-Fim da Lembrança-

Aqui dentro o tempo

Parece que não tem mais fim

-Não vou te deixar voltar para a casa sem ao menos falar com ela; Milo continuou.

-Ela deve achar que estou morto; o cavaleiro falou, passando a mão nervosamente pelos cabelos.

-Mais um motivo para irmos. Creio que foi por isso mesmo que a sua mãe te enviou o convite; o Escorpião falou.

-Sabe, fico pensando se as coisas não seriam diferentes, se-...; Ele não completou, deixando as palavras morrerem em seus lábios.

E lá fora agora

Alguém espera por mim

-Agora você nunca vai saber; Milo falou, paciente.

-Você não é a primeira pessoa que me fala isso; Shura murmurou com um sorriso triste.

-Quem foi à outra? –ele perguntou, curioso.

-Shina; Shura respondeu, ignorando a surpresa dele.

Se as coisas são como devem ser

Avassaladoras serão

Nossas vidas

Então

-Existem coisas que não tem como sabermos, sem vivê-las antes; ele completou, lembrando-se de quais eram as circunstancias que fizeram a amazona lhe falar isso;

-Concordo com ela; Milo balbuciou. –Você nunca vai saber se realmente era para você estar naquele altar esperando a Silvana entrar ou não; ele completou.

-...; Shura assentiu, com um olhar perdido.

Quando eu não caibo em mim

O mundo cabe na palma da minha mão

-Agora vamos logo, que ainda hoje pegamos o avião de volta; Milo falou se levantando.

-...; Shura assentiu.

Talvez fosse uma loucura o que estava fazendo, mas pelo menos precisava enterrar parte daquele passado de vez. Sem arrependimentos.

Fechou os olhos por um momento, lembrando-se da imagem sorridente de uma garotinha de cabelos castanhos que caiam numa cascata cacheada até o meio das costas e orbes de mesma cor. A via correr até si, normalmente com uma flor entre as mãos delicadas, tentando lhe arrastar para brincar no jardim.

Observou-se uma ultima vez no espelho, vestia um tenro preto de linho com uma camisa branca, optou por não usar gravata, apenas a gola da camisa já parecia lhe sufocar.

-Lembrança-

O dia amanhecera ensolarado, as duas crianças andavam a passos rápidos pela rua, enquanto as mães tentavam alcançá-los, ou pelo menos, tentar acompanhar o pique dos dois, que pareciam nunca se cansar.

-SHURA. SILVANA; As mães os chamaram.

-Essas crianças; uma das Sras falou, suspirando cansada.

-O Shura sempre se deu bem com a Silvana, Emilia. É normal que ele fique mais agitado quando estão juntos; Rosário falou paciente.

-Eu sei; Emilia falou sorrindo. –Mas sabe, ainda estou pensando naquilo;

-O que? –Rosário perguntou ao ver o olhar desanimado da amiga.

-Que Miguel quer levá-lo para estudar na Grécia; ela explicou.

-Talvez seja bom para ele; Rosário falou.

Sabia que desde que a amiga perdera o marido há pouco tempo, deixando o garoto e mais duas meninas com um ano de diferença cada uma, ela teria de lidar com algumas coisas, por vezes difíceis de serem explicadas.

Miguel o padrinho de Shura, sugerira levá-lo para a Grécia. Alegando que seria melhor para o garoto, teria melhores condições de estudar entre outras coisas. Mas a mãe do menino ainda relutava em deixá-lo ir. Seu sexto sentido de mãe, lhe dizia que deixar o pequeno ir, era o mesmo que entregá-lo aos chacais, deixando-o longe de seu colo e de sua proteção.

-Eu o queria aqui comigo, mas Miguel me disse que vai ser melhor pra ele; Emilia falou, dando um suspiro triste.

-o-o-o-o-

-Você vai para a Grécia, não é? –Silvana perguntou, sentando-se em um balançando na praça central, deixando as perninhas penderem despreocupadas pelo ar.

-Minha mãe não falou nada ainda; Shura respondeu, sentando-se ao lado dela.

-Posso ir com você? –ela perguntou, inocentemente.

-Não; ele respondeu, prontamente.

-Porque? –a garotinha perguntou, com os olhos marejados, fazendo beicinho.

-Porque não quero nenhum pervertido tentando te atacar; ele respondeu, cruzando os braços na frente do corpo com ar emburrado, porém com a face levemente corada.

-Sério? –ela perguntou animada, vendo-o assentir.

-Sério; ele respondeu, num resmungo, sentindo a face ficar escarlate no momento que a garotinha saltou do balanço, saltando sobre si. Fazendo com que ambos fossem ao chão. –Silvana; Shura falou, assustado com a reação da jovem, que apenas lhe deu um beijo suave sobre a bochecha.

-Fim da Lembrança-

Cada passo que repito

Não é igual ao de antes

-"É melhor eu ir logo, antes que desista"; ele pensou, saindo do quarto, com um sobretudo pendurado no braço.

Encontrou com Milo lhe esperando na frente do elevador. Somente o Escorpião para lhe deixar fazer uma loucura daquelas, mas agradecia a ele, talvez pudesse se arrepender mais tarde por não ter pelo menos tentando.

Continua...