Domo pessoal
Dessa vez quem aparece para fazer a abertura de Crônicas de Amor e Confusão VIII sou eu, é isso mesmo. Dama 9 em pessoa.
Bom, sei que muitas pessoas já me questionaram sobre isso, alguns até acharam que eu estava torturando e abusando do pobre do Milo, mas vocês sabem, tudo é por um propósito maior (ignorem meu sorrisinho MdM, please).
Então, pensando nas inúmeras fãs dele, resolvi explicar na integra como ele e a Isadora se conheceram, espero que não fiquem bravos comigo, mas nem tudo é o que parece ser e vocês vão notar isso no decorrer da historia com as surpresas e fatos reveladores que mudaram definitivamente a vida do Escorpião.
Antes de iniciarmos mais essa crônica, só gostaria de avisar, ela se passa em meados a batalha de Crônicas, quando Milo enfrenta pela primeira vez um dos espectros e ele é nada mais nada menos do que o Príncipe Heitor, um dos maiores heróis gregos que lutaram para defender os portões de Tróia.
Sinceramente espero que gostem...
Boa leitura!
Nota: Os personagens de Saint Seya não me pertencem, apenas Isadora é uma criação única e exclusiva minha para essa saga.
"O amor é a única força capaz de transformar um inimigo num amigo".
Martin Luther King Jr.
Crônicas de Amor e Confusão VIII.
ISADORA
I – Era de Caos.
Passou a mão insistentemente pela testa, tentando afastar os fios azuis que teimavam em cair sobre seus olhos. Sentia o corpo todo dolorido. Nunca mais iria subestimar outro adversário como aquele. Não negava que se Heitor estivesse em boas condições e soubesse pelo que lutar, seria um oponente invencível.
Era realmente uma pena que um grande herói mítico como ele, houvesse se reduzido a mais um espectro de Chronos invocado por Céos para essa nova Gigantomaquia.
-Pelos deuses, preciso de um banho; Milo murmurou, enquanto a passos lentos atravessava o bosque que ligava o Cabo ao santuário.
Ainda sentia seu braço arder devido a um corte que fizera, mas isso era pouco do que poderia estar reservado para o fim. A cada novo dia que passava, o cosmo de Chronos ficava mais aterrador e o nível dos espectros enviados estava aumentando; ele pensou, lembrando-se que no dia anterior Aiolia fora mandado a Minos enfrentar o juiz do inferno e o minotauro, a tendência agora era só piorar.
-VAI PAGAR POR ISSO, AMAZONA; estancou surpreso, ao ouvir acompanhado dessa voz, um grito feminino de dor, não muito longe de onde estava.
-O que esta acontecendo? –ele se perguntou.
Como gostaria de estar em condições de correr, mas depois de tudo aquilo, seu caminhar resumia-se a tentativas frustradas de passos rápidos, porém não podia deixar que alguém em perigo ficasse sem receber ajuda.
-o-o-o-o-
Respirou fundo, não poderia se deixar levar pelo cansaço e deixar de treinar. Olhou para os lados notando estar sozinha naquela parte do bosque. Ótimo; ela pensou, sentando-se em baixo de uma arvore, cruzando as pernas, na típica posição de lótus.
Estendeu as mãos para frente, elevando seu cosmo lentamente. Do chão gramado um delicado brotinho começou a formar-se, aos poucos tomando a força de uma bela rosa vermelha.
-Ora. Ora. Uma amazona por aqui; ouviu uma voz debochada a sua frente, enquanto abria os olhos rapidamente, vendo que quem falara acabara de pisar sobre a rosa, destruindo-a.
-O que quer? –Isadora perguntou, num tom frio de voz, pouco característico de sua personalidade.
-Mestre Ares já avisou que não quer amazonas nos limites dos cavaleiros; Marco um dos aspirantes a cavaleiro falou, com seu habitual tom prepotente.
-Não estou vendo nenhum cavaleiro por aqui, ou você vê? –a jovem de melenas verde-claras perguntou, levantando-se.
-Vai pagar caro por essa afronta amazona; ele falou, preparando-se para atacar.
-Eu não faria isso se fosse você; ela avisou, na melhor das 'boas' intenções.
-Porque, vai me matar com uma rosa? –Marco perguntou debochado, ignorando completamente a possibilidade disso realmente acontecer, ao tomar como base o próprio cavaleiro de ouro de Peixes, que há pouco tempo retornara ao santuário e no teste final dizimara pelo menos dez aspirantes que pretendiam concorrer à armadura, embora nenhum deles tenha sido grande adversário.
-Talvez; ela falou vagamente.
Momentos depois os dois enfrentavam-se numa luta ferrenha. Socos, chutes, voadoras. Os golpes eram violentos e pesados. O que surpreendeu o cavaleiro fora o fato daquela amazona ser bem mais forte do que pensara, embora tivesse certeza de que ela era novata no santuário.
-Vou acabar com você garota; ele vociferou, afastando-se rapidamente, para aumentar a intensidade da investida.
-Idiota; Isadora rebateu, porém não contava que num rápido movimento as unhas da mão direita dele, se alongarem, precisamente a do dedo indicador e do meio, como se fossem presas. Com agressividade, cravou as unhas sobre o abdômen da jovem na lateral direita.
Sentiu uma dor latejante, os olhos ficaram marejados, mas não pretendia dar o gosto a ele de chorar; ela pensou, respirando com dificuldade, sendo prensada contra o troco de uma arvore.
-Aonde esta toda aquela prepotência, garota? –Marco perguntou, sentindo aos poucos sua mão ficar completamente coberta por sangue.
-...; Entreabriu os lábios para rebater, porém a voz simplesmente não saiu.
-Já que você vai morrer mesmo, não fará mal algum eu ver seu rosto, não é; ele comentou, levando a outra mão sobre a mascara de prata.
-N-não ouse; Isadora falou, sentindo um filete de sangue escorrer pelo canto dos lábios.
-Você não pode me impedir; ele rebateu.
-Posso morrer, mas vou te levar comigo; a jovem falou, segurando lhe a mão, antes que a mascara caísse.
-O que? –Marco perguntou surpreso, sentiu o punho doer devido à pressão dos dedos da jovem sobre ele.
Ergueu a cabeça deparando-se com a mascara de prata, engoliu em seco, poderia ser uma mascara inexpressiva, mas conseguia sentir o olhar dela e o cosmo aterrador que mal sentira, manifestar-se de maneira devastadora.
Uma forte explosão aconteceu, jogando-o para a outra extremidade daquela clareira, batendo as costas contra uma arvore. Isadora caiu de joelhos no chão, levando uma das mãos ao abdômen para estancar o sangue.
-Acha que isso pode acabar comigo, amazona? –ele perguntou, levantando-se e passando a mão pelo canto dos lábios.
Mal deu dois passos varias eras brotaram da terra, envolvendo o corpo dele, momentos depois, o corpo inerte e sem vida caiu sobre o chão, com uma rosa branca cravada no peito.
Fechou os olhos pedindo aos deuses que tudo aquilo não passasse de um pesadelo e que aquilo não houvesse realmente acontecido; Isadora pensou, sentindo o corpo pesar. A realidade atingiu-a de forma aterradora, será que seria sempre assim, matar para sobreviver, como animais? –ela se perguntou, sentindo as lágrimas rolarem por seu rosto.
O corpo ficou mais pesado, fazendo-a pender para frente, indo de encontro ao chão, porém a queda nunca veio, um par de braços fortes a ampararam, impedindo a queda.
Tudo ficou escuro, não sentia mais nada. Caindo assim na inconsciência, completamente.
-o-o-o-o-
Sentiu a cabeça latejar, as imagens de tudo o que aconteceu voltou a sua mente, fazendo as lagrimas caírem impiedosas. Levou uma das mãos sobre a face, sentindo a prata fria sobre a pele.
Arregalou os olhos, era pra ter morrido; Isadora pensou, levantando-se rapidamente.
-Ai; ela gemeu, caindo novamente sobre a cama. Apertou os olhos, sentindo novamente a dor sobre o abdômen.
Instintivamente levou uma das mãos até lá, notando que a ponta dos dedos ficara levemente avermelhada, pelo visto ainda sangrava; ela pensou.
Tentou olhar a sua volta, mas não conseguia mover-se sem sentir dor. Estava em um quarto, mas aonde? E de quem? Sendo que a ultima coisa que lembrava era de ter lutado contra um dos novos aspirantes a cavaleiro do santuário, que por sinal, era devoto praticante das crueldades de Ares, ter conjurado uma rosa e o acertado, mais nada.
Respirou pesadamente, não podia ficar em um lugar que não conhecia, muito menos sem saber quem lhe salvara, ou pior, se realmente estava salva.
Embora a verdade doesse de mais, tinha noção da realidade e da dor que sentia por ter acabado com a vida de alguém. Mesmo sendo em legitima defesa, não admitia que ninguém, uma pessoa comum ou cavaleiro/amazona, fizesse tal coisa, embora estivessem em tempos de guerra e a morte de alguém fosse até fato normal em meio a esse cenário tétrico, não conseguia admitir que havia feito algo tão desumano.
Levou a mão aos lábios tentando abafar um soluço. Respirou fundo, tentando recuperar-se.
Prendeu a respiração ao ouvir vocês exaltadas vindo de outro cômodo.
-o-o-o-o-
-Você tem a mínima noção do quanto é irresponsável, Escorpião? –o homem mais próximo de Deus falou, alterando o tom de voz.
-Shaka, eu realmente não me importo com a sua opinião; Milo respondeu, mantendo-se confortavelmente sentado num dos sofás da sala principal de seu templo, enquanto o cavaleiro jazia em outro.
-Oras; ele exasperou.
-Não iria deixá-la morrer, não importa o que você diga; Milo falou, com a voz bem mais calma que a de Shaka.
-Se mais al-...;
-Ninguém vai saber se você não contar; ele o cortou, como se fosse a coisa mais obvia do mundo.
-Não vou compactuar com as suas irresponsabilidades; Shaka falou, veemente.
-Ah, você vai sim; Milo falou, levantando-se e parando em frente ao cavaleiro com um olhar perigoso. –Estou pouco me lixando para essa sua falsa moral e o patético do Ares, sabe, ainda me pergunto, quem é mais traidor, Aioros por tentar matar Athena ou vocês que não passam de cães hipócritas que abanam o rabo quando o Ares bate o pé; ele falou, seco.
-Não sabia que era dado a copiar frases dos outros; Shaka rebateu sarcástico, porém a uma fração de segundo de mandar o cavaleiro para um dos infernos de Virgem.
-Pelo menos nisso o Mú tem razão, é a realidade do que somos; Milo falou, lembrando-se que fora exatamente isso que o ariano lhe dissera no dia que deixara o santuário, após a morte de Shion, quando Ares fora anunciado como novo Grande Mestre no lugar do 'irmão'.
-Não pode mantê-la aqui; o virginiano avisou.
-Mas vou; o Escorpião rebateu em desafio. –E ela vai ficar sob a minha guarda até que esteja recuperada;
-Impossível, é loucura; ele exasperou.
-Shaka, vamos deixar algo bem claro aqui; Milo começou, passando a mão displicente pelos cabelos. –Esse templo é meu, quem a salvou fui eu e quem manda aqui sou eu. Essa é a minha prerrogativa. Isso não lhe diz respeito e só mais uma coisa, meu caro Shaka, conte isso a alguém e vou te deixar tão furado que as servas do templo do Ares vão te confundir com uma peneira; ele falou em tom ameaçador.
-Isso é uma ameaça, cavaleiro? –Shaka perguntou, embora os orbes estivessem fechados, o cosmo elevou-se perigosamente.
-Promessa, não sou de ameaçar Shaka, mas é melhor dormir de olhos abertos se andar falando alguma besteira por ai; Milo falou, encaminhando-se para a porta e abrindo-a. –Tenha um bom dia; ele completou, com um sorriso radiante, como se aquela discussão não houvesse acontecido.
-É melhor tomar cuidado Milo, dessa vez, pode ter sido eu a ver você trazendo uma amazona para Escorpião, mas da próxima pode ser outra pessoa que não seja tão condizente assim com você; ele falou, saindo a passos rápidos do templo de Escorpião;
-Sabe Shaka, to pagando pra ver; ele rebateu, despreocupadamente. Poderia ser pretensão demais agir daquela forma, mas não podia permitir que aquela garota morresse sem tentar ao menos ajudá-la.
Agora quem ele pensava que era, alguém que se diz o homem mais próximo de Deus, mas que matava friamente, como um demônio. Queria lhe dar alguma lição de responsabilidade, definitivamente não se importava de ter de enfrentar nenhum daqueles cavaleiros para mantê-la protegida em seu templo.
Fechou a porta entrando no templo novamente, era melhor ir ver como ela estava; ele pensou, lembrando-se que encontrara a amazona praticamente morta, ela teve muita sorte.
Abriu a porta lentamente para não fazer barulho algum, só um pouco mais de tempo e seu cosmo já estaria restabelecido e poderia curá-la, já que conseguira apenas fazer um pequeno curativo para estancar o sangue e impedi-la de morrer.
Deparou-se com a amazona ainda deitada na mesma posição que a deixara, porém a camisa que ela usava estava com uma mancha vermelha, prova de que ela tentara se mover, mesmo que inconsciente e o corte voltara a abrir.
Aproximou-se da cama, sentando-se na beira da mesma. Sobre o criado mudo estava uma bacia com água morna e ataduras para curativos, suspirou cansado, provavelmente ela ficaria com febre, se já não estivesse; ele pensou, levando a ponta dos dedos até o pescoço da mesma.
-Não esta com febre ainda; Milo murmurou.
Voltou-se para ela, era melhor refazer o curativo, antes que o sangue secasse e acabasse colando sobre a pele e causasse um ferimento maior sobre os pontos sensíveis.
Delicadamente, abriu os botões de baixo da larga camisa que ela usava. Só esperava que ela não tentasse matá-lo depois por ter trocado-lhe as roupas; ele pensou, como ótimo conhecedor do temperamento de uma amazona, não pode evitar engolir em seco.
-O q-que es-ta fa-zen-do? –Isadora perguntou, retendo-lhe a mão.
-Esta acordada; Milo falou surpreso.
Para alguém que estava quase morta a momentos atrás, ela parecia bem forte ao impedi-lo de se aproximar agora.
-Quem é você? –ela perguntou, com a voz num sussurro fraco.
-Calma, você esta segura aqui; Milo respondeu, com um olhar sereno, transmitindo-lhe confiança. –Agora me deixe cuidar de você e quando se recuperar, nós conversamos; ele completou.
Ela aquietou-se, vendo-o abrir os últimos botões da camisa na altura do abdômen sem mais resistências e retirar as faixas que havia colocado anteriormente, mas que agora estavam banhadas de sangue.
-Como é seu nome? –Milo perguntou, enquanto colocava as faixas sobre o criado, pegando dentro da bacia de água morna um pano úmido e torcendo.
-Isa-do-ra; ela respondeu. –Ai; ela gemeu, levando as mãos instintivamente sobre o machucado, mas Milo deteve-lhe a mão.
-Desculpe, não queria machucá-la; ele falou, ao ver que acabara pegando um ponto mais sensível.
-Não há porque se desculpar, você aqui cuidando de mim, quando era pra eu simplesmente estar morta; Isadora respondeu com a voz chorosa.
-Não pense nisso agora; Milo pediu, tentando acalmá-la, se ela ficasse agitada só pioraria as coisas.
-Como não pensar? –ela perguntou, num tom aflito de voz, ao pensar em tudo o que acontecera.
-Mas me diz uma coisa, sua mãe lhe deu esse nome por ser fã da Isadora Duncan? –ele perguntou, tentando desviar-lhe as atenções.
-Uhn? –Isadora murmurou, confusa.
-A bailarina; Milo completou.
-...; Isadora assentiu. –Minha mãe tinha uma certa fixação por ela, digamos que isso alimentasse o senso narcisista dela; ela respondeu, com um 'Qzinho' de sarcasmo.
-Como? –o cavaleiro perguntou, confuso.
-(...) Meu corpo é o templo da minha arte. Eu exponho-o como altar para a adoração da beleza; Isadora falou com ar solene.(...) –Era a frase preferida dela;
-Agora eu entendo; ele murmurou, pelo pouco que conhecia da historia da bailaria, sabia de sua fama de 'Afrodite' entre mortais, devido a suas celebres frases, talento e devoção ao divino feminino.
Não demorou muito para colocar um novo curativo, optou por deixar aquela parte da camisa ainda aberta, até que pudesse ser trocada. Levantou-se da cama, com o intuito de se afastar, mas a mão de Isadora segurou-o pelo braço, impedindo-o.
-Obrigada Sr; ela sussurrou.
-Pode me chamar de Milo e não precisa agradecer, o melhor que você pode fazer é melhorar; ele respondeu, com um olhar calmo.
-...; Isadora assentiu, viu-o voltar-se para os pés da cama, puxando uma fina colcha, cobrindo-a.
-Vou arrumar alguma coisa para você comer, não tente levantar ou se mexer; ele avisou.
-Não é necessário, eu já estou bem; ela falou prontamente, tentando se levantar, mas parou, respirando fundo ao sentir a dor retornar.
-Eu disse, é melhor ficar deitada e sem mexer; Milo falou, pacientemente. –Já volto, se precisar de algo só me chamar que eu venho logo; ele completou.
-...; Isadora assentiu, acomodando-se melhor na cama, vendo-o se distanciar, deixando a porta do quarto aberta, para caso ela chamasse conseguisse ouvir de qualquer lugar do templo.
Fechou os olhos, deixando-se cair no sono, como o cavaleiro mesmo dissera, era melhor parar de pensar agora e apenas se recuperar. Se as Deusas do Destino quiseram que sobrevivesse, deveria ter um propósito se não teria morrido, agora só queria esquecer de tudo.
Continua...
