Crônicas de Amor e Confusão VIII

ISADORA

"Amigo verdadeiro é aquele que nos quer apesar de nada".

Sofocleto.

Capitulo 3: Um Novo Reencontro.

I – O Sonho.

Remexeu-se incomodado na cama. Não sabia se era devido ao calor ou qualquer outra coisa que lhe impedia de continuar a dormir, mas aquele sonho novamente voltara. Há quantos anos não o tinha, ou quem sabe tivesse, apenas não se lembrasse; ele pensou, levantando-se da cama e caminhando até a janela do quarto.

-Sonho / Lembrança-

O dia amanhecera chuvoso e triste. Talvez como reflexo da dor presente em todos aqueles corações. Sobre o campo verde, todos caminhavam em uma fila perfeita, acompanhando o cortejo, enquanto o pequeno garotinho de cabelos azulados abraçava fortemente uma menina quase da mesma idade, de longos cabelos vermelhos.

-Porque papai deixou ela ir? –ela perguntou, agarrando-se fortemente sobre as vestes do garoto, deixando as lágrimas caírem sem parar.

-Eu não sei; ele respondeu com a simplicidade e inocência de sua idade. Mantendo-a entre seus braços, como se isso fosse a única forma de acalmá-la, ela ergueu a cabeça em sua direção e viu-se preso nos orbes azuis quase cinza como o céu naquele dia de tempestade.

-Mas e agora? -Ela murmurou, fitando-o com aflição, como se buscasse em seus olhos os motivos para tudo aquilo.

-Não importa o que aconteça, nunca mais vou permitir que alguém lhe faça sofrer; ele sussurrou, encostando a testa sobre a dela, fechando os olhos.

-Promete? –ela perguntou, em tom esperançoso.

-Prometo, meu coração; ele respondeu num sussurro, sentindo-a aconchegar-se em seus braços. –"Meu coração... Do oceano"; ele completou em pensamentos.

-Fim do Sonho/ Lembrança-

-Devo estar ficando louco; Milo resmungou, passando a mão nervosamente pelos cabelos, desde que começara a treinar para se tornar um cavaleiro aquele sonho o perseguia.

Sempre com a mesma menina, o mesmo dia de chuva e os mesmos orbes que pareciam ser a resposta para todo aquele enigma.

Como sentia falta de Isadora, pelo menos quando ela estava ali podiam conversar. Lembrou-se das vezes em que conversaram sobre isso, naquela época os sonhos não eram tão freqüentes e inquietantes como agora.

Um meio sorriso surgiu em seus lábios. A única coisa que a amazona lhe falara era para procurar pela garota. Seria algo meio insano de se fazer, mas admitia que estava a cada dia mais convencido de que era isso que tinha de fazer.

Passara a vida toda esquivando-se de qualquer relacionamento sério, esperando que a garotinha de cabelos vermelhos como fogo, caísse de pára-quedas em sua vida, mas com o tempo passando e essa possibilidade se esvaindo, acabou por desanimar.

Saiu da janela, caminhando até uma cômoda no canto oposto do quarto. Observou com atenção uma cúpula sobre a mesma, iluminada por uma tênue luz azulada, onde dentro da redoma cristalizada, jazia uma perfeita e bela rosa azul. A ultima que sobrevivera ao tempo.

Com os dias passando e as rosas aos poucos perdendo a vida, ficou com medo de perder as poucas lembranças que tinha da presença da jovem ali. Então, engolindo seu orgulho, perguntou a Afrodite como ele fazia para manter as rosas do jardim de Peixes sempre vivas e bonitas.

Muito a contra gosto conseguira a resposta. Se elevasse seu cosmo a um certo nível, conseguira praticamente impermeabilizar a rosa, criando uma proteção em volta dela. Enquanto o cosmo do cavaleiro existisse, ela continuaria viva, mas também se ele enfraquecesse isso seria refletido nela.

Curiosamente isso dera certo, a rosa ainda sobrevivia e misteriosamente manterá-se viva até mesmo no período que esteve oficialmente morto, em meados a batalha de Hades.

Tocou levemente o cristal, vendo sua mão iluminar-se e a rosa brilhar mais intensa. Era sempre assim quando se aproximava. Ainda se perguntava onde Isadora estava, depois da batalha de Hades não tivera mais noticias da jovem, apenas que ela se estabelecera numa cidade no interior da capital, chamada Campos do Jordão, onde comercializava peças delicadas de artesanato e vivia com tranqüilidade.

Nas cartas que lhe mandava, ela nunca citava como estava realmente depois de tudo que acontecera, mas sempre demonstrava empolgação com alguma coisa nova que estivesse fazendo. A ultima vez que ela escrevera, lhe contara que fazia belas artes numa faculdade da capital. Achou ate irônico, porque ela mesma vivia dizendo que repudiava algumas artes, mas preferiu não comentar.

Perderam o contato completo, depois de dois meses. Quando a Guerra Santa começara. Afastou-se da redoma de cristal, dando um baixo suspiro. Agora as coisas eram outras e as pessoas que conhecera na época, também haviam mudado.

Não pode evitar de rir com esse pensamento. Se alguns anos atrás alguém lhe falasse que um dia veria Kamus de Aquário surtando por causa de ciúmes, ou Guilherme fazendo macarronada na casa do Leo, mandaria internar.

Mas a vida ás vezes é engraçada, da voltas de tal forma que ou lhe passa uma rasteira, ou lhe vira de ponta cabeça, porém tal pensamento apenas o fazia voltar em seu primeiro dilema, aonde poderia encontrar aquela garotinha?

-Droga, quando digo pra parar de pensar nisso, ai que não paro mesmo; o cavaleiro resmungou, enquanto saia do quarto em direção da cozinha, era melhor tomar um copo de água e ver se isso ajudava a conciliar o sono novamente.

II – A Rosa.

Sentou-se na arquibancada do Coliseu, visivelmente cansado. Não conseguira dormir o resto da madrugada, rolara a noite inteira que nem bife a milanesa na cama e o sono que era bom, não veio.

-Que cara é essa Milo? –Aiolia perguntou, sentando-se ao lado dele. Chamara por ele, mas Milo simplesmente parecia não lhe ouvir, imerso em seus próprios pensamentos.

-Uhn? –ele murmurou, virando-se para o cavaleiro. –Oi Leo, disse alguma coisa?

-Estava perguntando porque você esta com essa cara? –o leonino falou, arqueando a sobrancelha.

-Não é nada; Milo respondeu, balançando a cabeça levemente para os lados, tentando afastar os pensamentos e se concentrar no que estava a sua volta.

-Vamos Escorpião, você não me convenceu; Aiolia falou.

-Não é nada mesmo Leo, só to cansado; ele respondeu.

-Isso porque é quarta-feira ainda, já pensou se fosse segunda, depois de uma noitada na Toca do Baco; o cavaleiro brincou.

-Menos mal; ele balbuciou.

-Como?

-Nada, besteira minha; Milo se corrigiu. –Mas e ai, vamos treinar, ou vai me usar como desculpa para não apanhar do Saga; ele provocou.

-Hei, desde quando eu apanho do Saga? –Aiolia perguntou indignado.

-Desde quando você descobriu que eu sou mais forte do que você, cunhado; o geminiano provocou, com um meio sorriso nos lábios se aproximando.

Aiolia serrou os orbes de maneira perigosa, pronto para começar lutar com o cavaleiro ali mesmo, quando um mensageiro entrou no Coliseu, chamando por alguém.

-Quem será que ele esta procurando? –Milo perguntou, voltando-se para Saga e Aiolia. Eles negaram com um aceno.

-MILO DE ESCORPIÃO; a resposta veio a seguir.

-É com você; Saga falou, indicando para que ele fosse até lá.

-Estranho; Milo murmurou, levantando-se do banco e indo até o mensageiro. –Hei, sou eu; ele falou, chamando a atenção do homem.

-Sr Milo, tenho uma entrega para o Sr; o mensageiro falou.

-E o que é? – o cavaleiro perguntou curioso, vendo-o retirar de uma sacola, uma espécie de estojo longo e preto.

-Aqui esta; ele falou, entregando ao cavaleiro. –Com licença;

-Hei espere, quem mandou? –Milo perguntou, mas o mensageiro estava longe de mais para ouvi-lo. –Cara rápido; ele murmurou, com uma gotinha escorrendo na testa.

Voltou-se curioso para o estojo em suas mãos, retirando uma fina fita de cetim vermelho que a envolvia, abriu-a. Arregalou os olhos, surpreso. Dentro do estojo havia uma delicada rosa azul. E ele só conhecia uma pessoa que as fabricava e que poderia lhe mandar como cartão de visitas.

-Hei Milo, o que era? –Aiolia perguntou, aproximando-se curioso.

-Depois a gente conversa, tenho de ir; ele respondeu, rapidamente fechando o estojo.

-Mas...; O leonino mal pode perguntar aonde ele ia, quando o cavaleiro já sumia na saída do Coliseu. -Estranho, o que será que ele recebeu? –Aiolia se perguntou.

-Você vem perguntar pra mim; Saga falou, parando ao lado dele, dando de ombros. –Mas e ai, vai ficar enrolando, ou podemos começar a treinar?

-Puff! Que seja; ele resmungou.

-Cunhado, prometo que não vou bater muito forte; Saga provocou.

-Isso é o que vamos ver, cunhado; Aiolia rebateu.

-Certamente; o geminiano rebateu, vendo a face do leonino ficar vermelha... De raiva.

III – Reencontro.

Subiu as escadas dos templos correndo. Sentindo o coração disparar a cada passo. Abriu a porta num rompante, porém decepcionou-se ao ver o templo vazio como sempre. Respirou fundo, passando a mão nervosamente pela franja rebelde.

-Deve ser só coincidência; ele disse a si mesmo, enquanto fechava a porta de casa, caminhando em direção ao quarto.

Colocou a mão sobre a fechadura da porta, estava prestes a abri-la, quando parou notando algo diferente. Aspirou o ar, sentindo a suave essência de rosas invadir suas narinas, provavelmente deveria ser aquela que estava dentro do quarto; ele pensou, balançando a cabeça.

Por fim abriu a porta, tendo de se segurar na mesma para não ir ao chão, devido à surpresa. Novamente via seu quarto repleto de rosas azuis. Aproximou-se da cama, encontrando um envelope bege com seu nome. Sentindo a ansiedade tomar conta de si, abriu-o rapidamente.

Senti saudades...

Era a única coisa escrita ali, mas que significava muito mais. Olhou para todos os lados, buscando pela jovem de orbes rosados, mas ela não estava ali. Então, onde estaria? –ele se perguntou.

Quando um estalo fez-se em sua mente, fazendo-o deixar o envelope sobre a cama, pegou apenas o estojo e saiu do quarto a passos rápidos, estava chegando a sala da armadura, quando viu a porta do terraço aberta. Sem pensar duas vezes, subiu as escadas correndo.

Viu os longos cabelos verdes esvoaçarem com o vento, as mechas mais escuras continuavam as mesmas. A pele clara, estava agora um pouco mais bronzeada devido ao sol brasileiro.

Caminhou a passos calmos, aproximando-se. Viu-a virar em sua direção. Os orbes rosados ainda como podia se lembrar; ele pensou, abrindo um largo sorriso.

-Milo / Isadora; eles falaram juntos.

Fitaram-se intensamente, como se avaliassem as mudanças que o tempo lhes fizera, por fim aproximando-se, perdendo-se em um forte abraço, que transmitia toda a saudade que sentiam, por todos aqueles anos longe.

-Senti saudades; ela sussurrou, segurando-se fortemente nas vestes dele, sentindo as lágrimas correrem impiedosas por sua face.

-Eu também, muita saudade; ele respondeu, afagando-lhe as melenas.

Quanto tempo havia se passado, muitos anos desde a ultima vez em que estiveram juntos, mas agora, as coisas eram diferentes e os tempos outros.

As Deusas do Destino parecem sorrir. Fiando, tecendo e cortando a extensa tapeçaria da vida, que somente mortais tem o poder de alterar, criando com suas próprias mãos, o Destino.

O que vem a seguir? Somente com tempo e paciência podemos saber, mas o importante é nunca esquecer, que certos laços de amizade, jamais se rompem ou se esquecem.

Amigos verdadeiros são para a vida toda.

Aqui me despeço de todos, deixando minhas mais sinceras saudações e agradecimentos. E espero realmente poder encontrá-los numa próxima vez.

Até breve...

Dama 9