Casais: Trowa x Quatre, Heero + Relena.
Resumo: Como agir quando se descobre novos sentimentos? Fic baseada no especial em mangá "Batalha pela Paz", preenchendo os espaços soltos. Algumas referências ao GW – Episode Zero. Romance, Boy's Love e um pouco de angust. Fic dividida em duas partes.
Spoilers: Só se você não tiver lido o mangá de Gundam Wing – A Batalha pela Paz e o GW – Episode Zero.
Verão de 196 Depois da Colonização, Colônia L3.
Procurou pela cama a mão menor e delicada. Encontrou-a e abriu os olhos para constatar um fato: eram as mesmas mãos alvas com dedos delicados e arredondados que conhecia. Colocou a sua mão morena e maior sobre a outra e entrelaçou seus dedos calejados e longos com os da outra mão, notando o contraste entre elas.
Aproximou-se ainda mais do corpo a sua frente que aparentava ser frágil como um cristal. Mas ele sabia que ali habitava uma lama forte e determinada. Abraçou o corpo com força e depositou um beijo suave no ombro descoberto, ouvindo um gemido em seguida.
- Hmm... Trowa ... – falou o rapaz de aparência delicada que ainda sonolento e sem abrir os olhos.
- Bom dia, Quatre – respondeu suavemente a ele admirando com os olhos verdes calmos e sentindo o perfume dos cabelos platinados levemente ondulados da figura que estava em seus braços, dando-lhe em seguida, novamente, um leve beijo no mesmo ombro descoberto.
Quatre ao ouviu a voz calma foi abrindo os olhos aquamarinha e vendo que a sua mão estava entrelaçada a outra já tão familiar a ele. Desfez o entrelace e virou o corpo vagarosamente, encontrando os olhos verdes que o olhavam de forma serena. Sorriu ao constatar um fato, Trowa havia mudado.
- Duo foi para a Terra... – falou Trowa puxando o corpo de Quatre para mais próximo de si.
- Eu sei, foi comunicar Heero sobre Vulcanus! – Quatre sorriu e em seguida, beijou os lábios carnudos e avermelhados do moreno.
Foram entreabrindo os lábios procurando mais contato. Trowa invadiu a boca do loiro com a língua, recebendo logo em seguida resposta. Uma dança frenética de línguas iniciou-se, fazendo com que ambos entreabrissem ainda mais os lábios dando a impressão que iriam se devorar com aquele beijo.
Só se separaram quando o ar nos pulmões tornou-se escasso a ambos. Quatre levou uma das mãos ao rosto de Trowa, desenhando um caminho imaginário com o dedo indicador pela face do moreno, fazendo com que Trowa suspira-se e fechasse os olhos devido ao toque.
- Não! – reclamou Quatre.
- O que foi? – assustou Trowa com a súbita exclamação.
- Não quero ficar sem ver os seus olhos... Dão-me conforto, força! – o loiro encarou moreno enquanto sorria.
- Então me deixe acompanhá-lo... – propôs Trowa esperando ser atendido, mas sendo imediatamente calado pelos dedos de Quatre.
- Não preciso, eu já disse que vou só! – Quatre interrompeu com a fala firme, mas ainda aparentando a mesma doçura tão característica dele – Tenho certeza de que é só uma lenda, só vou confirmar isso! – terminou sorrindo para Trowa.
- Mas e o Gundam? Não quer levá-lo junto? Eu ficaria mais tranqüilo... – propôs novamente o moreno ao loirinho.
- Não preciso do "camelo" para isso! – Quatre deu uma leve risada ao comparara o seu Gundam Sandrock com o animal.
- Tudo bem, "príncipe do deserto". Vamos nos levantar para você começar a sua aventura? – disse sorrindo Trowa.
- Claro! – sorriu novamente o loiro, avançando em seguida sobre os lábios do moreno e iniciando novamente mais um dos beijos ofegante que tanto trocavam ultimamente após o fim da guerra.
Aquela guerra... Ninguém imaginava que tantos morreriam e sofreriam ao fim dela. Mas tinham certeza que alguns haviam despertado sentimentos que antes eram desconhecidos. E entre eles estavam Trowa e Quatre.
Trowa que sempre fora solitário desde a infância e nunca confiara em ninguém, viu a barreira que erguera em torno do seu coração ser destruída dia-a-dia após ter conhecido o jovem loirinho.
Da infância como órfão e vivendo entre mercenários em L3, uma colônia que abrigava muitos latinos até ao ápice da adolescência, passando por todo aquele período de caos que fora a última guerra.
Trowa viu que recebeu dois presentes majestosos na noite de natal, o primeiro foi constatar que finalmente a paz tão almejada entre colonos e terrestres foi alcançada, e a outra estava agora em seus braços.
- Mi Dios y mi cruz, meu anjo… (1) – Trowa sussurrou no ouvido de Quatre. Depois lhe beijou a testa antes do loiro sentar-se na beirada da cama, espreguiçando-se.
Quatre se levantou da cama e caminhou até o banheiro procurando inspiração e forças para enfrentar a "aventura" que teria naquele dia.
Tanta coisa havia mudado na vida de Quatre, da descoberta que era um bebê de proveta, o seqüestro pela Tropa de Maguanak, a aliança com o Instrutor H, até conhecer Trowa.
Nem em seus mais tênues sonhos em L4, a colônia industrial presidenciada por sua família de origem árabe – os Winner -, Quatre esperançaria um futuro como aquele que agora vivia.
"Mi Dios y mi cruz". O árabe sabia muito bem o significado daquela frase. Para o latino, Quatre era como a salvação para todo o seu sofrimento, e ao mesmo tempo, ele sabia que nele, Trowa podia devotar todo esse sentimento novo, era no loiro que o moreno procurava forças para seguir em frente e acreditar no amor.
Amor. Era algo tão sincero e puro que o loiro também dedicava ao moreno como se aquilo fosse uma razão de viver. E naquele tempo para ambos, esse sentimento foi o que deu a eles a garra para continuar lutando e ansiando por um futuro no qual eles vivessem juntos, como este, que por enquanto, agora estava se concretizando.
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Texas, América do Norte.
Após destruírem uma fábrica clandestina de Móbile Dolls e terem feito uma refeição rápida em uma lanchonete qualquer, Heero e Duo saíram à procura de algum lugar para dormir.
Já de noite, em algum quarto de hotel em beira de estrada, encontravam-se os dois conversando sobre os últimos acontecimentos pós-guerra.
Heero estava na Terra executando aquilo que sabia fazer melhor: uma missão, esta que se delimitava em destruir as fábricas suspeitas de produzir Móbile Dolls. Enquanto que Duo havia chegado a pouco tempo do espaço, trazendo notícias de sues convívio com Trowa e Quatre na colônia L3 e informando sobre Vulcanus.
- Quatre vai averiguar sobre a existência de Vulcanus? – indagou Heero.
- Pois é! O loirinho cismou que tinha que averiguar enquanto que Trowa implorava em ir com ele. Os dois estão mais afinados do que nunca! – sorriu largamente - Se era assim, o que eu ficar fazendo lá? – relatou Duo.
- ...
- Ei, e a Relena? – perguntou entusiasmado Duo.
- O que tem ela? – questionou Heero frio com a expressividade característica.
- Você não vai mesmo atrás dela? – retrucou Duo.
- Não – respondeu Heero frio novamente.
- Qual é? – perguntou um Duo chocado - Eu pensei que depois de tudo aquilo você estivesse sentindo algo...
- Por Relena? – interrompeu Relena.
- É ! – exclamou Duo com vibração erguendo as palmas da mão fechadas.
- Não. Tenho outra pessoa em mente... – Heero falava isso enquanto avançava como um felino para cima de Duo.
- Ei, ei, ei, o que você pensa que tá fazendo? – Duo perguntava com olhos arregalados, enquanto de encolhia na cama mostrando a expressão de espanto devido à atitude de Heero (2).
- Hehehehehehehe... – gargalhava Heero como os olhos fechados, enquanto escondia a face com uma das mãos.
- Ei! Qual é a graça? – perguntou Duo com a cara ainda mais assustada.
- Nada. Só queria saber se eu tinha a capacidade conquistar alguém e também... Se você ficaria constrangido com isso! – ironizou Heero.
- E me usou como cobaia? – irritou-se Duo, mas aproveitou para provocar - Hmm... Se preparando para seduzir a futura vice-ministra Darlian, não é?
- ... – Heero ficou com as faces rubras com o comentário do companheiro de quarto.
- Eu sabia! Joguei verde para colher maduro! Hahahahahaha... – Duo dava gargalhadas de vitória ao constatar suas suspeitas de que talvez o soldado perfeito estivesse apaixonado (3).
Durante a guerra, nunca foi desconhecido para ninguém que Relena nutria sentimentos pelo soldado perfeito ao ponto de muitas vezes procurá-lo pelo mundo afim de simplesmente "matar as saudades". Mas o que impressionou foi a mudança de Heero.
Heero Yui, também conhecido como "soldado perfeito" e comparado muitas vezes com uma máquina, foi criado pelo Dr. J em L1 para não possuir nenhum sentimento ou emoções, via-se aos poucos mudando. Uma mudança que apenas os amigos mais próximos percebiam, entre eles Duo.
Não era uma mudança de gestos ou atitudes, Heero continuava ainda sério e talvez, rude com as pessoas, mas agora aparentava confiar em alguém e sabia que podia demonstrar os seus sentimentos que estavam reprimidos dentro de si.
Já Relena, nunca escondeu o seu amor pelo soldado perfeito, ao ponto de propor a ele um acordo: "Prometa que eu serei a última pessoa que você irá matar!" e ele aceitou dizendo as palavras já tão identificadas como suas: "Missão aceita!" Mas o que nunca passou despercebido era o sentimento que carregavam aquelas palavras: nas de Relena havia determinação e afeto; nas de Heero, esperança e desejo de mudar o seu próprio destino.
- Vou investigar sobre Vulcanus – falou Heero.
- Como? – indagou Duo.
- Estou indo procurar informações aqui na Terra – o soldado perfeito falou isso se dirigindo ao laptop.
- Bah! Você é muito frio! Vou dormir! Boa noite! Bye! – despediu-se Duo, deitando-se na cama.
Heero não se despediu de Duo, apenas sorriu satisfeito por constatar que agora tinha um amigo, alguém em quem confiar. Enquanto procurava informações sobre Vulcanus, uma imagem de Relena veio a sua mente.
- Relena... – sussurrou consigo.
Indagou-se do tamanho da importância que a garota tinha adquirido na sua vida. De mero objetivo de missão, o assassinato dela, até a algo que ele não sabia como julgar.
Ele compreendia que agora ela tinha um papel especial na cultivação da paz no coração dos homens, talvez por isso, para ele entender o que sentia pela futura vice-ministra fosse tão conflitante.
Não sabia distinguir se era admiração ou se já tinha alcançado os padrões que Duo havia comentado: paixão. Mas não importava qual fosse, talvez ele ainda continuasse a ser quem era, por puro medo de mudar.
Refletiu muito sobre isso e olhou no relógio, já era madrugada. Por mais que fosse um soldado, ainda era humano e precisava dormir. Amanhã seria outro dia, e tinha decidido que iria a Europa investigar.
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Cargueiro espacial de Howard, após a batalha no espaço.
Após o confronto do Gundam Sandrock contra Heavy Arms e Death Scythe, os pilotos se refugiaram no cargueiro de Howard, onde anteriormente estavam guardados os Gundans. Quatre que parecia bastante alterado foi mantido em solitária em um quarto. Suas ações não condiziam com o garoto de caráter dócil que saiu à procura de Vulcanus.
Ele se debatia, ofegava muito e dizia palavras desconexas, tais como: "Pela nobre missão...", "Ah... Tenho que ir...". Parecia sofrer muito, alternando estados de pura histeria com calma. Mas quem mais se angustiava era Trowa. Ele se sentia impotente com o estado de Quatre, pois sabia que quando ele estava em crise, não era capaz de fazer nada.
- Quatre, acorde! - dizia Trowa segurando o loiro pelos ombros enquanto este se debatia na cama.
- Não! Está me atrapalhando... – gritou Quatre enquanto se debatia.
- Quatre, por favor, controle-se! – pedia Trowa já com os olhos lacrimejando ainda tentando controlar o piloto árabe.
- Sai da frente, Trowa!
- Duo! O que você vai fazer? – assustou-se Trowa com a súbita aparição de Duo.
- Sai da frente, Trowa! – Duo agora demonstrava uma frieza que só era visível quando pilotava o seu Gundam.
- Duo, o que você vai fazer com essa seringa? – Trowa olhava para o objetos na mão de duo com medo e aflição.
- É cloridato de amitriptilina 4. Vou aplicar no Quatre. Agora... SAI DA FRENTE, TROWA! – Duo avançou para cima deles com determinação.
- Não! Eu vou cuidar de Quatre! – Trowa pestanejou e empurrou o corpo de Duo para trás.
- Hunf! Trowa é pro seu próprio bem – falando isso ele socou o rosto do moreno, o fazendo cair para o outro lado da cama – e pro seu próprio bem, Quatre – terminou de pronunciar isso aplicando a seringa no braço do loiro.
Recuperado do soco, Trowa se levantou rapidamente e avançou para cima de Duo, segurando-o com força pela gola da camisa.
- O QUE VOCÊ FEZ? SEU DESGRAÇADO! – gritou o moreno sacudindo o corpo de Duo.
- Trowa...
- Quatre! – surpreendeu-se Trowa, largando Duo e socorrendo imediatamente o loiro, agarrando as mãos dele com força.
- Desculpe... – o loiro apertou a mão do moreno sorrindo – E... – pausou para respirar – Obrigado... – despediu-se de Trowa fechando os olhos adormecendo em seguida.
Trowa soltou as mãos de Quatre repousando-as ao lado do corpo do loiro. Beijou-lhe a testa, levantando o rosto, encarando um Duo abatido e aflito.
- Não precisa dizer nada – Trowa dirigiu a fala a ele.
- Me desculpe... – Duo queria o perdão do moreno.
- Você fez o que eu deveria ter feito, não precisa pedir desculpas! – consentiu Trowa entendendo o que Duo queria dizer.
- Você gosta muito dele, não? – perguntou Duo.
- Sim – sorriu Trowa levememente olhando pro loiro que dormia na cama ainda ofegando muito.
- Você pretende ficar com ele depois que tudo isso acabar? – questionou Duo já imaginado a resposta.
- Só o tempo irá dizer... – respondeu Trowa, que se sentia incomodado com aquela indagação do outro piloto.
- Entendo... Vou procurar Sally, ela é uma ótima médica! Cuide de Quatre, por enquanto, ele precisa de você – Duo saiu andando e retirou-se do quarto fechando a porta.
Trowa acompanhou a saída de Duo do local, virando o seu olhar agora para o corpo adormecido sobre a cama. Quatre ainda ofegava muito e agora aparentava está com febre (4).
O moreno cada vez mais se sentia culpado por tudo aquilo: primeiro deixou o loiro sair sozinho, e depois se culpou pelo sumiço dele e por não ter tido a oportunidade de ir procurá-lo. Depois a súbita aparição dele, naquele estado, transtornado, e agora sentia-se impotente e amargurado por ver Quatre naquela cama.
Saiu do quarto indo ao banheiro pegar uma tigela com água e uma pequena toalha. Era a única coisa que podia fazer enquanto aguardava a chegada de um médico. Voltou ao cômodo e percebeu que Quatre além de ofegar, suava e tremia bastante. Procurou cobertores para envolver o corpo que agora aparentava ainda ser mais frágil. Cobriu-o e colocou o pano molhado sobre a testa do loirinho.
- Quatre, por favor, agüente firme, seja forte! Você me dá tanta força com as suas palavras gentis e o seu sorriso amável. Sempre cuidando de mim... – Trowa deu uma pausa sentindo as primeiras lágrimas surgindo no canto dos olhos – Quando eu perdi a memória, como eu pude esquecer de você, como eu pude esquecer quem me era mais caro, quem eu mais... – pausou novamente, agora chorando compulsivamente, abraçando o corpo do loiro que ainda tremia e ofegava bastante – Eu prometo que por hoje, vou cuidar de você, mi Dios y mi cruz, meu anjo – encerrou o monólogo trocando o pano úmido e depositando um beijo nos lábios finos e delicados que agora tremiam por causa da febre.
continua...
(1) Mi Dios e y Mi Cruz, é nome de uma música da dupla espanhola (eu acho, não lembro) Donato & Estefano (os cantores daquela música: "estoy enamorado..."). Ainda vou fazer uma songfic com essa música (Mi Dios...), ela é a cara do Trowa e do Quatre.
(2) Peguei vocês! Achavam que eu ia colocar um momento Heero x Duo, não é? Fica para uma próxima fic!
(3) Eu sempre imaginei o Duo dizendo isso!
E eu sei que tem gente que vai me matar por isso. Mas eles são tão lindos juntos! (eu amo casais problemáticos!).
(4) Cloridato de amitriptilina, uma substância usada em tratamentos contra depressão, um dos efeitos colaterais pode ser a sonolência e a febre que Quatre apresentou.
