Gênero: Romance / Humor
Classificação: Yaoi / Slash / Lemon – se não gosta, não leia.
Par: Harry x Draco
Aviso: Harry Potter e personagens pertencem a JK Rowling, todos os direitos reservados. Fic sem fins lucrativos.
Observação: é um universo alternativo e muitas coisas dos livros não aconteceram aqui. E é MPREG com descrições!
Resumo: Universo Alternativo! Pós HogwardsGuerra! Sinto mãe, mas não posso me casar com ela, pois estou, segundo os muggles, com um pãozinho no forno. Só não me pergunte de quem. SLASH! Mpreg!
N/A: achei essa antiga fic nos meus arquivos esquecidos e resolvi posta-la. Espero que gostem! É curtinho, mas só postarei o resto se gostarem.
Parte 1
Draco deixou o banheiro e se dirigiu até a sua escrivaninha, ao lado da cama. Estava banhado e bem vestido e só lhe faltava o perfume. Apanhou-o com cuidado e deu uma borrifada em cada lado do pescoço. As minúsculas gotículas se espalharam pelo ar e lhe impregnaram as vestes.
"Perfeito", pensou com um sorriso de satisfação.
Guardou o perfume em seu malão e olhou pela última vez ao dormitório da Sonserina, já vazio. Com um feitiço, fez suas bagagens levitarem e se encaminhou para fora do castelo.
Várias carruagens partiam carregadas de alunos até a estação de Hogsmeade onde pegariam o expresso para voltarem à suas casas.
Deu mais uma olhada a essa fabulosa escola, onde passou, porque não dizer, os melhores anos de sua vida. Daqui em diante, sabia que os anos passariam monótonos e sem novidades.
Soltou um suspiro de pesar. Mesmo não querendo admitir, sentiria falta desse lugar.
Uma mão foi posta sobre seu ombro, o que o retornou de volta à realidade. Olhou a esse homem, tão sério, que se despedia de forma contida e dura, mas que se dedicou a se despedir, certamente, do único aluno que sentiria falta.
- Boa viagem... – Snape lhe murmurou.
- Obrigado. – sorriu de leve. – A gente se vê em breve.
- Certamente.
Crabbe e Goyle o esperavam pacientemente, talvez até sem saberem porque estavam deixando Hogwarts ou o que afinal faziam ali de pé, enfim, esperavam alguma coisa.
Entrou na última carruagem que restara e esperava, para leva-lo de volta a casa. Em sua mente, até podia ouvir uma música melancólica de adeus, assim como quase podia ver as folhas das árvores balançarem em câmera lenta, como uma despedida sem volta. Tudo tão emocional, tão dramático, até que uma voz chegou-lhe ao ouvido.
- Entra logo furão! Se perdemos o Expresso a culpa será toda sua!
Draco encarou o dono dessa voz tão irritante e se deparou com ninguém menos que...
- Weasel! – soltou enojado. Deu uma olhada ao redor e constatou que estava sentado ao lado de Granger e suas duas pilhas de livros, a sua frente Ron com os joelhos batendo de encontro aos seus e num canto exprimido e de óculos torto, dependurado pelo nariz, o grande Potter. Ficou horrorizado e tentou sair dali, quando seus dois melhores capachos se enfiaram carruagem adentro. - Crabbe! Goyle! Não! – tentou em vão, mas era tarde.
A carruagem deu uma boa abaixada, o fundo quase a tocar o chão. Weasley foi parar montado em uma das pernas de Potter, enquanto ele se chocou com Granger, tão cara a cara que notou que os olhos da muggle eram caramelos ao invés dos castanhos comum, ao qual aparentavam. Os livros que ela levava, e que sinceramente achava ridículo, caíram sobre seu colo.
Crabbe sentou-se ao lado de Ron enquanto Goyle ao lado de Draco.
- Eu avisei Mione... Se você demorasse muito pra coletar essa tonelada de livros, teríamos que ir na última carruagem e sabe-se lá com que tipo de pessoas... – se queixou Ron, enquanto Harry gemia de dor à suas costas, com a perna sendo esmagada pelo peso do melhor amigo.
Hermione não disse uma única palavra, pra falar a verdade ela nem conseguia respirar, pois sentia a respiração de certo sangue puro bem de encontro a seu nariz e se movesse os lábios para falar, não tinha certeza se conseguiria evitar tocar os dele. A coloração vermelha começou a se alastrar por suas bochechas até quase as orelhas.
- Por que esse troço não se move? – Crabbe perguntou estupidamente enquanto Goyle tentava fechar a porta, mas sua banha impedia que conseguisse isso. Resolveu deixar a porta aberta só a segurando encostada.
Snape rodou os olhos, perante a imagem horrorosa da carruagem guinada mais para a direita, onde os dois grandes sonserinos estavam sentados. O lado esquerdo, que era onde Hermione e Harry estavam, praticamente flutuava.
Olhou a seu lado, ao ouvir uma risada de deboche que mais parecia um chiado. Filch se divertia com a cena.
- Desse jeito nunca a carruagem conseguirá andar.
- Concordo... Então é melhor ajuda-los a distribuírem o peso devidamente entre eles... – nisso, rodou nos calcanhares e partiu para dentro do castelo.
- Sempre sobra pra mim – Filch resmungou, agora com a cara de sempre. Abriu a porta mal fechada e encarou o interior da carruagem. – Anda, saiam!
Todos obedeceram, para alívio de quatro deles. Estando do lado de fora, o velho deu uma olhada no tamanho de cada um deles. Estavam altos, corpulentos e banhudos, deu uma atenção à parte para Crabbe e Goyle, altos e gordos. Sorriu sinistramente, para mais pavor dos rapazes e da única moça nesse grupo. Filch então parou os olhos em Hermione e Draco, alterando a vista entre eles e sorriu mais macabro.
- Você – deu um tapa na nuca de Goyle. – Entre e sente-se no fundo. – o rapaz obedeceu. – Você – deu um tapa na nuca de Ron – Sente-se no banco da frente e ao fundo. – o ruivo fez uma careta, pois ficaria de frente a Goyle, mas teve que obedecer. – Você - deu um tapa na nuca de Harry – Sente ao lado do – Harry se apressou a se sentar ao lado de Ron – Aí não, ao lado do outro – Filch rosnou, sendo prontamente atendido, mesmo que para Harry, isso fosse muito ruim, pois sabia que o sonserino a seu lado sofria de gases. – Você – Filch então deu um tapa na nuca de Crabbe – Sente ao lado do cabeça vermelha. – Crabbe riu estupidamente e se sentou, sacudindo um pouco a carruagem, para moléstia dos dois grifinórios ali dentro.
Harry olhou para eles e notou que não havia espaço para mais ninguém se sentar. Ficou com pena de Hermione, lançando à garota um olhar de pesar, pois não sabia como ela iria para a estação e seja qual fosse o modo, teria que ir com Malfoy, aquele que detesta sangue muggle. Ia dizer que cedia seu lugar para ela, quando Filch a chamou.
- Você, sente no colo do cabeça vermelha – Hermione arregalou os olhos enquanto Ron ficava literalmente com a cabeça vermelha, desde o cabelo até o pescoço. – Anda logo! – ordenou mal humorado e ela teve que cumprir a ordem, completamente envergonhada.
Nessa altura, Draco já queria se suicidar, mas mantinha-se frio e inexpressivo. Olhava a tudo com indiferença, mas na realidade queria lançar um crucius em Filch e explodir aquela maldita carruagem com quem fosse que estivesse ali dentro. Voltar a pé para casa não parecia ser uma má idéia.
- E você – disse o velho, com um sorriso de sarcasmo que fez Draco se retorcer por dentro. – Sente no colo do cegueta.
Os olhos verdes se abriram tanto que Hermione pensou que fossem cair de seu rosto a qualquer momento.
- Espera! Eu não vou sentar no colo de ninguém! – Draco protestou indignado. – Muito menos no colo dessa coisa! Eu me recuso!
- Ah, não vai é?
Harry até tentava apreciar a paisagem, mas o peso em seu colo não deixava que se distraísse com qualquer outra coisa senão certo sangue puro. Além do quê, as miradas fixas sobre si dos demais ocupantes da carruagem não estava ajudando muito.
- Ahem! – pigarreou, lançando olhares significativos a cada um deles.
Hermione foi a primeira a notar a indireta e tratou de se endireitar no assento enquanto desviava a mirada para a janela. Má idéia. Ao esfregar o traseiro em seu assento ouviu um estrangulado gemido e sentiu algo meio duro.
Ficou extremamente vermelha e constrangida, esquecendo de qualquer outra coisa.
De Ron, não precisa dizer que seu raciocínio se perdeu no momento em que Hermione resolveu se mexer em seu colo.
Goyle aos poucos desviou sua atenção aos joelhos desnudos da garota à sua frente. Ficou mais interessado em apreciar essa descoberta do que prestar atenção no ocupante ao lado.
Crabbe por fim acabou por adormecer e roncar, com a cabeça caída sobre o ombro de Ron.
Finalmente esquecido dos demais, Harry tentou prestar atenção ao que se passava do lado de fora. Contou quantas árvores havia no caminho enquanto tamborilava no assento com os dedos.
Viu quando a neve começou a cair pouco a pouco e os flocos aumentando. Essa imagem lhe trouxe boas recordações, de quando entrou em Hogwarts, das aventuras que tivera com seus dois melhores amigos e das festas que teve a oportunidade de participar. Ao mesmo tempo veio-lhe a saudade, pois no próximo ano não voltaria a Hogwarts e nem no decorrer de sua vida.
Assim foi seguindo cada pensamento seu, até que a cabeça de certo loiro escorregou de seu ombro e instintivamente fez com que erguesse o braço para ampará-lo.
Olhou a Malfoy que ainda estava desacordado e agradeceu interiormente que fosse assim, pois se ele estivesse acordado, seria bem pior.
Foi justo nessa hora que a carruagem parou. Olhou aliviado à estação, mas o que Hermione disse o fez perder a esperança de se livrar daquele arrogante sonserino.
- Está vazio! O Expresso já partiu. – lamentou desolada.
- O quê? – não pôde evitar pronunciar alarmado.
- O que faremos? – Hermione olhou a todos, menos a Ron.
Crabbe e Goyle deram de ombros, como sempre.
Ron apenas se queixou duas palavrinhas. – Que merda...
Harry apenas conseguiu coçar a cabeça com o braço livre enquanto buscava rapidamente uma solução, sem sucesso.
- Se Malfoy estivesse acordado saberia o que fazer – Goyle tentou dizer algo de útil.
- Ele sempre acha uma solução – Crabbe concordou.
- E eu duvido... – Harry resmungou, dando uma olhada nada satisfeita ao loiro.
Olhos azuis prateados se abriram lentamente. Com um movimento fluido Malfoy se endireitou piscando algumas vezes.
- O que aconteceu? – estava confuso e com dor de cabeça.
- Você levou um golpe na cabeça – Hermione se dignou a explicar.
- Como? – Malfoy parecia ainda perdido, esfregando uma região específica da cabeça.
- Filch – ela respondeu, prestando bastante atenção no loiro.
Draco fez uma careta e fechou os olhos, certamente recordando o que aconteceu. Havia enfrentado aquele velho neurótico e acabou levando na cabeça com um cabresto. A última coisa que lembrava era a dor e a escuridão. Isso era uma infâmia! Ninguém tocava um dedo num Malfoy! E tudo por que se negou a sentar no colo de...
Abriu os olhos piscando nervosamente até enfocar Hermione ao colo de Weasley. Ela ainda prestava muita atenção em seu rosto, como esperando o dilúvio quando se desse conta de onde estava.
Maldito Filch!
Não... Não daria esse gostinho a nenhum deles! Nunca veriam Draco Malfoy histérico, preferia agüentar ao invés de se mostrar perturbado com aquele quatro-olhos.
Respirou fundo várias vezes e deu uma olhada na estação, completamente vazia. Perfeito! Mais isso para estragar seu dia.
Potter estava estranhando que Malfoy não fez nada nem disse nada. Seria que estivesse agüentando ou realmente não se importava em estar em seu colo?
Suspirou perto de sua nuca e isso fez com que o loiro estremecesse. Sorriu, ele estava agüentando calado e aparentando indiferença sendo que na realidade estava molestado.
- Já que despertou, o que sugere que façamos agora que perdemos o Expresso? – provocou, esbaforindo propositalmente nesse pescoço branco.
Malfoy voltou a estremecer e resmungou algo em tom baixo que não entendeu. Depois de alguns segundos, viera a resposta em tom nervoso.
- Não consegue refletir por si mesmo? Pensei que aprendeu a usar seus neurônios nesses sete anos em Hogwarts, mas vejo que estava enganado.
- A culpa não foi minha se certo sangue puro oxigenado resolveu demorar em se arrumar – replicou.
A única que riu pelo comentário foi Hermione.
- O que é oxigenado? – Malfoy finalmente girou a cabeça para encara-lo sobre o ombro, apesar da curiosidade se mantinha ainda incomodado.
- É como se você não tivesse essa cor de cabelo, como se você descoloriu – tentou explicar.
- Tingiu como a Luna Louca faz no cabelo dela, você quer dizer – o corrigiu.
- Não, é tirar a cor, passar água oxigenada para desbotar – Malfoy ergueu uma sobrancelha ainda duvidoso - Esquece... – Harry deu de ombros, pois não saberia como explicar.
Draco passou a mão no cabelo, ainda incomodado. – Que seja, mas meu cabelo é assim, perfeito por natureza. – deu uma olhada burlona ao cabelo de Potter – E não assim, destroçado que nem o seu.
Harry estreitou os olhos e estava pronto para dar uma boa resposta, quando Hermione, ainda muito constrangida em estar sentada no colo de Ron, se intrometeu.
- Poderiam discutir depois de resolvermos o que fazer para voltar pra casa? Não podemos ficar aqui o dia todo. Concordam?
- Simples – Draco rodou os olhos, com enfado. Pegou sua varinha e com um feitiço de direção, ordenou à carruagem – Londres, Beco Diagonal.
No mesmo instante a carruagem voltou a se mover, agora em direção ao destino ordenado, pegando uma das estradas escondida em meio às árvores, paralela a ferrovia.
- Infelizmente, teremos que fazer o caminho mais demorado – voltou a falar, enquanto guardava a varinha. – Ninguém em Hogsmeade nos liberaria a lareira para o Beco Diagonal.
- Por que não? – Harry mantinha a vista cravada nessa cabeleira loira.
- Porque somos alunos de Hogwarts e o correto é chegarmos na Estação nove três quartos, como todos os alunos – exasperou-se frente a ignorância do outro. – Se pegarem a gente saindo pela lareira de algum pub no Beco Diagonal, sem autorização assinada pelo diretor ou por responsáveis isso pode prejudica-los, ninguém se arriscaria.
- Oh... – foi a única coisa que conseguiu dizer. Depois refletiu consigo e arregalou os olhos – Quer dizer que tenho que te agüentar durante todo o caminho?
- Não é nada gratificante pra mim também! – Malfoy retrucou.
Sabia que o caminho seria longo, mas para Harry, estava se fazendo eterno.
Tentou se ajeitar no banco sentindo as pernas já dormentes pelo peso de certo alguém, então esse alguém deslizou uma coxa para cada lado de sua perna esquerda.
O calor naquela carruagem era de matar, seu corpo transpirava e algumas gotas de suor deslizavam pela sua testa e pescoço, empapando os fios negros em sua nuca. Nem parecia que estavam em pleno inverno.
Com um suspiro de incômodo, apenas pôde ver Malfoy escorregando o peso em seu peito e voltando a apoiar a cabeça em seu ombro. Estava dormindo.
Olhou em seu relógio de pulso e constatou que faziam cinco horas de viagem. Se Hermione não tivesse a idéia de mandar Pitch, a corujinha de Ron, avisando que perderam o Expresso e tardariam para voltar, todos na Toca estariam preocupados. E isso já fazia três horas atrás.
Deu uma olhada nos amigos e constatou que o clima entre eles era bem intenso.
Ron cochichava algo no ouvido de Hermione e esta sorria. Notou também que os braços do melhor amigo a rodeavam pela cintura.
Finalmente se acertaram! Só uma situação inusitada como esta para unir corações... Sorriu em aprovação, ao menos os dois se deram bem, já no seu caso...
Franziu o cenho vendo sua própria situação. Estava crente de que não existia ninguém no mundo mais azarado que Harry Potter.
Mais uma hora de viagem e a carruagem parou frente a uma estalagem de madeira perto da estrada. A única casa que existia ali.
- Malfoy! – chamou bem próximo do ouvido do loiro, que sobre saltou assustado, erguendo o corpo e olhando ao redor, com desconfiança. Não evitou rir da cena.
- Nunca mais faça isso – maldisse entre-dentes, apontando a varinha bem no meio da testa do ex-grifinório.
- Pelo visto você desconfia até da própria sombra – observou, sem deixar o tom de deboche.
Draco o ignorou por completo, guardou a varinha de volta ao bolso e desceu da carruagem, esticando o corpo uma vez fora daquele aperto.
- Finalmente! – disse por fim, após todos os ocupantes o imitarem.
- Essa não parece nada com o Beco Diagonal – Ron replicou com desconfiança.
- É uma estalagem para bruxos, coisa que você está longe de entender, já que é tão pobre que quando viaja precisa levar sua tenda nas costas.
Enquanto Weasley e Malfoy discutiam, Harry se entreteve em analisar o local. Era uma casinha bem pequena, de dois andares e toda feita de madeira. No máximo teria uns seis metros quadrados de espaço. Depois seguiu ao loiro e adentrou numa espécie de saguão de recepção.
Malfoy apoiou-se no balcão e deu seu melhor e mais esnobe sorriso aristocrático à pobre funcionária que se derreteu instantaneamente.
- Uma suíte para cada um.
- Oh... – ela ficou um pouco perturbada – Lamento, mas não temos mais suítes individuais, estão todos ocupados... Sinto muito...
Potter rodou os olhos com enfado, a atendente só faltava deitar sobre o balcão e dizer com aquela voz de filme pornô – me possua!
- O que há disponível? – Malfoy voltou a dizer, agora mal humorado.
- Dois quartos simples para duas pessoas. – a moça deu uma olhada na lista e voltou a encarar o loiro com um sorriso sedutor.
Malfoy ficou um tempo com o olhar em branco. Depois, sorriu afetado e se dignou a se queixar – Eu me nego ter que dividir um quarto simples com mais duas pessoas... Acaso acha que eu dormiria numa cama de solteiro? Quem dirá num sofá!
- Vamos Malfoy... Estou todo quebrado e não quero ficar de pé aqui, até você se decidir em alguma coisa – Harry reclamou nitidamente exausto – Só quero dormir...
A moça abriu a boca enquanto suas feições se tornavam de surpresa. – Senhor Malfoy?
Malfoy apenas a olhou de canto.
- Sinto muito! Não sabia que era filho do senhor Lucius Malfoy! Em nossa hospedagem sua família é sempre bem vinda! – ela vasculhou no meio de sua pilha de papéis e logo sorriu totalmente submissa. – Posso liberar uma suíte duplex para que descansem... – e lançou um olhar significativo aos dois rapazes.
Harry ficou um pouco preocupado com essa insinuação mal insinuada, mas qualquer coisa que pudesse raciocinar perante isso foi pro espaço, ao ver através da enorme janela, bem diante dos seus olhos, um homem e uma mulher semi-nus caírem do segundo andar seguidos por um amontoado de malas e roupas.
Enquanto os dois acidentados xingavam e maldiziam do lado de fora da estalagem, a atendente voltou a se pronunciar, falando um pouco mais alto que o normal, para tentar abafar os xingamentos.
- Prontinho! – a recepcionista sorriu ainda mais entregando a Malfoy uma chave antiga – Quarto zero, ao fim do corredor – e apontou à escada que ficava bem ao lado da recepção. – Quarto trezentos e dois e trezentos e oito – disse por vez a Ron e Goyle, entregando respectivamente a cada um, uma chave com os números e indicava um corredor estreito, situado embaixo da escada.
Potter apenas pôde acompanhar com os olhos seus dois melhores amigos se dirigirem ao local apontado, de mãos dadas e felizes. Suspirou ressentido. Bem que queria ver alguma alegria em meio a esse pesadelo.
Crabbe e Goyle também seguiram caminho enquanto ele teve que seguir Malfoy escada acima, para dividirem um quarto.
Ao chegarem no cômodo, notaram que era bem aconchegante e ao centro, uma enorme, macia, perfeita e rica cama de casal arredondada e com um amplo espelho circular situado no teto, sobre a cama. Velas vermelho sangue estavam espalhadas pelo ambiente, tornando tudo mais sensual e quente.
Harry franziu o cenho com repulsa e indignação. Teria que dividir um quanto desse justo com Malfoy. Preferia mil vezes dividir esse quarto com Crabble e Goyle.
Malfoy por sua vez ficou maravilhado com a cama. Nem na mansão chegou a dormir numa dessas, pois seu pai não deixava. Dizia que era cama para amantes e não para um pirralho brincar. Depois descobriu que era usado em bordéis e motéis, onde o marido dormia com a amante e não com a esposa.
Enquanto cada um estava imerso em seus próprios pensamentos, nem notaram que um dos funcionários da estalagem havia entrado com as suas bagagens e as colocado num canto, perto da porta, logo saindo por onde entrou, sem incomodá-los.
- Preciso de um banho – Malfoy disse a si mesmo, e entrou ao banheiro.
Harry apenas se aproximou da janela e espiou pela fresta da cortina. A noite estava tranqüila, bem iluminada pela lua cheia. Seu olhar esverdeado pousou na esfera prateada suspensa imponente ao céu, associando com certo sonserino que agora se banhava a poucos metros de onde estava. Sacudiu a cabeça, mudando de pensamento. Era lua cheia e, mesmo não querendo admitir, Malfoy tivera uma boa idéia em parar nessa hospedaria, caso contrário, correriam o risco de serem atacados por algum lobisomen. Com a menção dessa palavra lembrou-se em Remus Lupin, que ficara de encontra-lo na estação.
Enquanto divagava, no banheiro, o loiro se deliciava com a água morna e espumante. Ficou ali relaxando durante uns bons quarenta minutos até se decidir a sair e dormir. Enxugou o corpo com uma das inúmeras toalhas que a estalagem disponibilizava aos clientes e se cobriu com um fino yukatá de seda negro com um bordado prateado de dragão serpenteando o lado direito do corpo. Saiu do banheiro e se dirigiu diretamente à cama.
Quando o barulho da porta foi ouvido, Harry olhou ao loiro que já banhado, caminhava até a cama. Ficou o olhando admirado pela roupa que vestia, e que se acentuava perfeitamente bem ao corpo levemente esguio e pálido de Malfoy. Ao notar o que fazia, quis se golpear na cabeça, mas isso chamaria muita atenção e comentários zombeteiros por parte do loiro, preferindo então se xingar mentalmente e buscar seu pijama numa de suas bagagens, antes de seguir para o banho.
Demorou meros cinco minutos na ducha e vestindo uma calça de algodão branca e uma regata cor palha, adentrou ao quarto para descobrir que Malfoy havia derrubado todas as almofadas da cama e um lençol, ficando exclusivamente com os travesseiros fofos e a coberta.
Parou perto da cama e encarou o outro, dormindo bem ao centro e ocupando o quanto de espaço conseguia, e isso lhe deu mais raiva ainda.
O fato de não haver sofá era outro detalhe fundamental. Caso fosse dormir, teria que ser exatamente no chão, onde o sonserino fez a questão de amontoar as almofadas e o lençol. E só de pensar em dormir numa superfície fria e dura, depois de estar todo quebrado pela viagem e na manhã seguinte encarar o restante da jornada, lhe fez revolver o estômago e adquirir mais raiva ainda desse esnobe e mimado sangue puro.
- Malfoy... A cama é enorme! – reclamou.
- Nem sonha que dividirei a mesma cama com você – o outro lhe retrucou, enojado.
- E é por isso que eu tenho que dormir no chão? Por que não você?
- Não sou feito para dormir em algo menos que um sinze king. Sou extremamente delicado e você, mais carrasco que um capacho de porta e mais casca-grossa que Crabbe e Goyle, sem dizer, claro, que é meio sangue, dormiria muito melhor no chão do que em uma cama como esta.
Harry apertou os punhos e trincou os dentes. Não dormiria no chão porque um egocêntrico nojento e mimado não suporta dividir o enorme espaço com qualquer outro que julga inferior.
Avançou o curto espaço até a cama e apoiando um joelho no colchão d'água, puxou o cobertor e o travesseiro de Malfoy. Este por sua vez protestou alto, se agarrando na coberta e tentando puxa-la de volta. Essa pequena disputa de forças acabou por se tornar uma briga mais séria, quando Malfoy chutou o estômago do grifinório e este, para revidar, se lançou sobre o outro dando socos e tapas. Estavam praticamente numa luta livre, com direito a chave de braço, tesoura com as pernas e o que mais lhes vinham à cabeça.
Ron e Hermione não deram muita importância ao lugar, tendo um local confortável para dormir e descansar para retomarem a viagem era o suficiente. E pra falar a verdade, eles estavam mais interessados no outro do que no resto.
A garota, sempre precavida, lançou um feitiço de tranca à prova de som, caso alguém tentasse invadir o quarto para roubar ou algo pior, e poderem dormir tranqüilos, sem o barulho que vinha dos demais quartos.
- Pode tomar banho primeiro Mione – o ruivo sorriu.
- Obrigada – ela pegou roupas limpas e se dirigiu ao outro cômodo.
Ron se acomodou numa das camas, aguardando sua vez, enquanto travava uma conversa com a amiga-futura-namorada.
Haviam passado todos esses anos juntos, ele realmente gostando dela, mas sem coragem em se declarar (depois dizem que grifinórios eram tão corajosos). Não que ele não possuía coragem, quando criança era medroso, afinal, era criança, mas quando cresceu, passou a encarar os medos, talvez de uma forma meio estranha, mas o que importa é que ele tinha coragem. Enfrentou situações perigosas ao lado dos amigos, ajudou no que pôde a Harry Potter e mesmo quando achava que não teria coragem alguma, lá no fundo surgia essa faísca tão grifinória. O caso era que com Hermione, não tinha coragem por ela ser exatamente uma garota. E não uma garota qualquer, ela era Hermione Granger, a sabe-tudo, a cética, a racional, a intimidante, a que em seu terceiro ano deu um soco em Draco Malfoy. Só isso já bastava para ficar preocupado em dizer o que sentia e ela não entender.
Era mais fácil discutir com ela do que se declarar. Talvez por ser um Weasley, onde a maior parte da família era composta por homens e sendo o mais novo (a Ginny é a caçula, mas Ron é o caçula dos meninos), sempre acabava levando dos mais velhos o que o tornou um tanto cabeçudo. Aí o tal problema de lidar com uma mulher, tão mais delicada, mais esperta, mais individual, mais séria...
O que no começo do dia achou a tragédia feita pelo loiro azedo, agora chegava a agradece-lo, pois se não houvessem perdido o Expresso, talvez nunca teria rolado nada entre eles.
E sorriu amplamente sabendo que a sorte, disfarçada de furão albino altamente petulante, finalmente batera em sua porta.
Crabbe e Goyle haviam entrado no quarto, sem antes errarem umas três vezes de porta, e agora se acomodavam cada qual numa cama de solteiro. Nem se dignaram a tomarem um banho e trocar de roupa, apenas se largaram no colchão, prontos para roncar a noite toda, mas antes que pudessem pegar no sono, ouviram barulhos vindos do teto e ficaram intrigados, prestando atenção naqueles sons estranhos sem realmente saberem o que seria.
Talvez achassem ser algo sobrenatural, vindo do além-túmulo.
Mas suas hipóteses mudaram, quando ouviram nitidamente a voz de Malfoy. Estavam tão acostumados com as ordens do loiro, que ao reconhecerem o timbre rouco e arrastado, se retesaram e ficaram em alerta, para eventual chamado.
O quarto de número trezentos e oito ficava justamente embaixo da suíte duplex. Uma tubulação de ventilação ligava ambos os dormitórios, sendo que na suíte, era bem vetada, permitindo que o ar puro trafegasse sem problemas e o som do andar inferior era abafado por um feitiço, o que não ocorria com o dormitório em que os dois grandes sonserinos estavam. Sendo de baixo nível, o cliente tinha que enfeitiça-lo para que o silêncio reinasse no cômodo, coisa que ambos os rapazes se esqueceram de fazer.
"haa... você é pesado... hah ahh... se quer fazer... aah... isso... uh... que faça direito... ah aah... seu imbecil... aaai..." – ouviram a voz abafada de Malfoy em meio a uns golpes ritmados que não souberam distinguir o que, mas estava bem claro que era de uma cama.
"cala a boca... hah... Malfoy... aah... eu sei que... ah aaah... você gosta que eu... uh..." – e a voz de Potter morreu no meio da frase, quando o barulho da cama aumentou.
Crabbe e Goyle arregalaram os olhos ao perceberem o que os dois rivais estavam fazendo.
No andar de cima...
Malfoy, que estava sendo sufocado por uma chave de braço e com o corpo imobilizado pelo de Potter, aproveitou que este estava falando e fez um esforço maior, rolando pra ficar em cima e tentar se livrar dos braços do grifinório, que apertavam o seu pescoço. Conseguiu ficar por cima, mas de costa a Potter, que ainda o mantinha preso pela chave de braço. Se debateu como pôde, mas era impossível com a força do moreno, maior e mais musculoso.
Estava começando a ficar vermelho.
E no andar de baixo...
Os sons continuavam mais alto e mais rápidos, alternados por um ou dois golpes violentos, gritos e ofegos.
"se continuar... ah aah... assim... hah haa aah... vamos acabar no chão... aahh ah..." – essa era a voz de Potter.
"não... aah aaaah... agüento... haa... mais... ah aaah..." – esse era Malfoy e de repente, o som foi diminuindo até cessar por completo, ficando apenas os ofegos, agora quase inaudíveis.
"Uhn... finalmente..." – para Crabbe e Goyle, Potter parecia feliz.
Os dois rapazes estavam literalmente de boca aberta, olhos arregalados e sem saber o que fazer.
De volta no andar de cima...
Malfoy demorou alguns minutos até recuperar o ar. Quando já estava melhor, ajeitou seu yukatá, que estava quase totalmente aberto, mostrando seu tórax e suas pernas e arrastou-se para um canto da cama, puxou um dos travesseiros e o cobertor, deixando Potter com o outro travesseiro e o lençol. Se embolou de qualquer jeito e mais exausto que antes, caiu no sono sem conseguir evitar que suas pálpebras se fechassem sozinhas.
Harry manteve a respiração um pouco agitada, depois, feliz pela derrota de seu inimigo, apanhou o lençol do chão, afofou o travesseiro e dormiu totalmente relaxado.
Nada mais se sucedeu durante toda a noite.
Quando o dia amanheceu, todos levantaram cedo para o café da manhã e voltarem à viagem.
Se reuniram no salão de refeições da própria hospedaria e se sentaram numa mesa ampla, com várias cadeiras.
Hermione estava radiante, dormira bem, após uma conversa casual e sem brigas com Ron. O ruivo igualmente se encontrava muito bem disposto a enfrentar a viagem, nem sequer olhou para Malfoy de cara feia, o que era de se espantar.
Essa noite, Crabbe e Goyle apagaram depois de um surto mental ao saberem que Draco Malfoy estava fazendo coisas com seu inimigo declarado, odiado e repudiado meio-sangue. Agora olhavam como dois imbecis ao loiro que estava tranqüilo e renovado depois de dormir e que apresentava uma estranha e mal-escondida marca avermelhada no pescoço.
Notaram que Potter também estava bem relaxado e pronto para encarar o dia. Após desfrutar de seu café com torradas e frutas, o moreno se espreguiçou, erguendo os braços acima da cabeça.
- Hora de ir – ouviram Hermione avisar.
Todos concordaram em silêncio e se dirigiram à recepção onde uma outra moça fazia seu turno. E como a anterior, ela abriu um largo e sedutor sorriso ao atender Malfoy.
- Espero que tenham apreciado nosso estabelecimento e nossa humilde hospitalidade senhor Malfoy – piscou os olhos de modo coquete.
Harry rolou os olhos com enfado. Não sabia o que essas garotas viam nesse loiro arrogante.
- Não foi o que eu esperava, mas reconheço seus esforços – e Harry voltou a se enfadar ainda mais, pelas palavras modestas do sonserino.
- Perdoe-nos por isso, estamos sempre tentando melhorar as estalagens e o atendimento – dessa vez, ela ficou um pouco molestada, mas logo voltou a dar seu sorriso sedutor – Estaremos sempre à disposição, senhor Malfoy.
O loiro nem se dignou a retrucar, pagou tudo deixando alguns galeões a mais, como cachê e se retirou elegantemente até a carruagem que já os aguardavam carregadas com as bagagens.
Voltaram a tomar seus lugares, bem como Filch havia ordenado, pois tentaram trocar de posições e não deu nada certo, e retomaram a estrada rumo ao Beco Diagonal.
Harry tentava apreciar a paisagem, mas Crabbe e Goyle os olhavam como se fossem altamente perigosos. Não sabia se Malfoy havia notado, já que estava absolutamente normal, apreciando o nascer do dia, mas definitivamente estava começando a se irritar com eles.
Agüentou as duas primeiras horas de viagem, mas como os dois robustos sem-cérebro não paravam de encara-lo, chegou ao limite.
- Qual o problema de vocês? – encarou cada um deles de modo bem zangado, preste a xinga-los. – Querem dizer algo?
Os dois negaram ao mesmo tempo, sacudindo a cabeça de um lado a outro enquanto prestavam atenção em Malfoy, talvez esperando que o loiro pensasse por eles, o que, para surpresa de Harry, não aconteceu.
Ron e Hermione estavam se divertindo como nunca, jogando uma espécie caça-palavras, cujas letras corriam num pequeno tabuleiro, e não prestavam atenção em nada ao redor.
Malfoy estava entediado. A viagem era longa e não se podia fazer nada dentro daquela carruagem superlotada. Pela trigésima vez vagou com os olhos pela paisagem, depois pelas coisas que a garota trazia com ela.
Muitos livros de estudo, alguns pergaminhos e revistas. Se interessou por uma em especial e que não conhecia.
- Granger, se importa? – indicou à revista.
- Pode ler – Hermione ficou até surpresa pelo sangue puro estar lhe dirigindo a palavra civilizadamente. Pegou a revista que estava do seu lado e a estendeu a Malfoy.
O loiro a pegou e leu a capa. Era uma revista muggle. Ao invés de rechaçá-la, apenas torceu o nariz, mas a abriu, passando a ler sem muita opção. E em pouco tempo estava numa leitura interessante sobre ditados populares e seus significados, como e em que situação elas são empregadas corretamente.
Harry aproveitou a revista e também lia junto com o sonserino, afinal, estava servindo de banco o tempo todo e também não tinha muito a se fazer. Olhar a paisagem já havia cansado desde a noite anterior.
- Essa frase combina com você – o loiro apontou divertido.
Harry leu. – Pau que nasce torto morre torto... Há há – deu uma beliscada na cintura do sonserino, que se acabava em rir.
Crabbe e Goyle se encararam significativamente, ao ouvirem a menção de pau e em relação a Potter.
- E você é esse aqui – o moreno indicou, agora rindo.
Malfoy leu. – Nem tudo que reluz é ouro. – estreitou os olhos e foi sua vez de dar uma cotovelada no grifinório.
Crabbe e Goyle voltaram a se encarar. Seria que Potter estava elogiando Malfoy? Se fosse, era um modo bem estranho do loiro agradecer, mas lembravam que Draco Malfoy nunca foi grato por nada na vida.
Eles passaram o restante da viagem se lembrando de todos os xingamentos e insultos (talvez nem todos) que os dois inimigos de escola compartilharam nos decorrentes anos e que era tudo, na parca mentalidade e raciocínio lerdo que possuíam, um modo diferente de se elogiarem e dizer coisas belas um pro outro. Estavam meio tontos de tanto pensar e confusos, achando o que era certo em errado e vice-versa.
Quando chegava o horário do almoço a condução entrou na cidade, por uma estrada que nenhum deles conhecia. Era tranqüilo, fora do movimento e nas margens da rua haviam árvores enfileiradas, que se fosse na primavera ou no verão, certamente estariam fartas de folhas, sombreando os poucos passantes.
- Até que em fim! – Malfoy exclamou, feliz por estar perto de casa. Olhou ao casal Granger-Weasley e sorriu apanhando a varinha. – Diga onde mora.
- Pra quê? – o ruivo ficou desconfiado.
- Quer aparecer nesse estado lá do Beco Diagonal? Fora que passaríamos dentro da cidade e logicamente, do movimento. Só dei uma direção à carruagem, daqui, cada qual fala seu endereço para que ela nos deixe na porta de casa – pronunciava tudo como se fosse óbvio.
- Certo – Ron fez uma careta de desagrado. – A Toca.
Malfoy fez o feitiço e a carruagem pegou um outro caminho. Em menos de vinte minutos, estavam parando frente à casa dos Weasley.
- Até mais Harry! Até nunca mais Malfoy! Até um futuro muito distante Crabbe, Goyle – e Ron saltou da condução assim que Hermione desceu.
- Quando chegar em casa me avisa Harry – a garota acenou para o amigo – Se cuidem rapazes – ela tratou de se despedir dos demais, num todo. Ficaria na Toca e voltaria pra casa via flú.
- Acho que vou ficar por aqui também! – Harry se precipitou. Não queria seguir sozinho com os três sonserino, seria demais para agüentar.
Malfoy sentou-se no banco, saindo de seu colo, e o moreno rapidamente desceu, acompanhando os dois melhores amigos.
- Até – se despediu curto e grosso.
O loiro nem respondeu a nenhum deles, passando a se ocupar com suas próprias unhas. Os outros dois rapazes acenaram, exclusivamente a Potter, ainda muito estranhos.
Assim, o trio pegou suas bagagens e viu a carruagem partir sumindo em seguida. Finalmente o pesadelo havia acabado. Chegara inteiro na Toca e aproveitaria para se divertir com a família de Ron antes de ir a antiga residência dos Black, lugar onde resolveu se estabelecer, longe dos Dursley.
- Minha maravilhosa casa! – Draco sorriu ao pisar na grama do jardim dos Malfoy.
Se ficasse mais um minuto dentro daquele minúsculo transporte, morreria. Crabbe e Goyle estavam a seu lado, havia mandado a carruagem de volta a Hogwarts e agora entrava na mansão.
Seguiu até a sala de visitas e ali encontrou sua mãe, bordando para passar o tempo.
- Cheguei – avisou num sorriso, sendo recebido carinhosamente pelos braços materno que o envolveram num abraço apertado.
Narcissa era uma mulher firme e de caráter rígido. Não era mulher de receber ordens e sim de mandar. Seu semblante e os modos autoritário a fazia um pouco rude e esnobe, mas assim mesmo era uma bela e delicada mulher.
- Seja bem vindo. Como foi de viagem? – começou um assunto sem realmente dar importância.
- Cansativo... – o filho se resumiu, também sem interesse.
- Vejo que Vincent e Gregory almoçarão aqui – ela observou os outros dois rapazes, que se mantinham afastados e silenciosos.
- Olá senhora Malfoy – disseram em uníssono, para irritação da matriarca que torceu o nariz, com desagrado.
- Não melhoraram nada nesses anos todos em Hogwarts – ela comentou consigo mesma, logo desviando sua atenção de volta ao filho e o colhendo pelo braço para irem a sala de jantar. No caminho, avisou a uma elfa a arrumar mais dois lugares na mesa.
Enquanto almoçava, Narcissa tratou de inteirar o filho das novas responsabilidades que teria. Sem o patriarca, era ela quem dirigia os negócios da família e conseqüentemente, fazia o trabalho do marido, entre eles, o dote.
- Sei que está cansado, mas não tem como adiar esse assunto tão importante, agora que você já se formou e dentro de alguns meses ficará de maior.
Draco perdeu a fome no instante que ouviu sua mãe. Sabia muito bem do que ela estava falando e sinceramente não queria ter aquela conversa, mas como era Narcissa Malfoy, a esposa dedicada e eleita ao aclamado Lucius Malfoy, não teria escapatória.
- Margot está ansiosa para o casamento – ela continuou, ignorando a cara enjoada do filho. – Sua família é riquíssima e de puro sangue, uma das mais antigas da França.
- Mãe... Eu nem a conheço! – tentou protestar, recebendo um olhar irritado da mulher.
- Não seja por isso, ela lhe mandou uma foto – e com um estalo de dedos finos e unhas bem feitas, um elfo doméstico apareceu e deixou sobre a mesa, frente a Draco, algumas fotos.
Sem muito interesse o loiro pegou a primeira e olhou, logo derrubou a foto, chocado.
Margot era uma loira de olhos muito grandes e nariz ultrafino e empinado além do natural, era como se ela tivesse feito uma cirurgia que deu errado, boca grande de lábios carnudos e um par de melões onde deveriam ser os seios, era tudo exagerado que chegava a ser vulgar. Ficou horrorizado e afastou o monte de fotos de seu campo de visão. A antes perda de apetite se transformou numa ânsia de vômito.
Nunca se casaria com aquilo! Estava escandalizado por saber que sua mãe lhe atara com uma criatura como aquela.
- O que achou?
- Horrível! – fez uma careta de nojo. – Prefiro me unir em matrimônio com um duende!
- Você se acostuma – Narcissa simplesmente respondeu, sem dar caso.
- Mãe! Como quer que eu me case com... Isso! – ficou encarando a foto como se ela fosse saltar dali a qualquer momento para atormenta-lo em carne e osso.
- Não seja dramático, é apenas uma união. Sangue puro com sangue puro. Herdeiros únicos e renomados sobrenomes desde épocas antigas.
- Não. Vou. Me. Casar. Com. Essa. Criatura. Dos. Infernos! – disse bem nitidamente.
Narcissa suspirou, finalmente encarando o filho nos olhos e o analisando minuciosamente que chegava a dar calafrios em Draco.
- Me dê um bom motivo para que eu concorde em não te unir com ela – desafiou, erguendo uma sobrancelha.
Draco engoliu em seco. Não vinha nada em mente para considerar uma boa desculpa. Não sabia o que fazer nem em como se safar dessa união forçada.
- Amanhã ela virá para o jantar e a oficialização de seu casamento. O dote de meio milhão de galeões já está separado em sua conta, para que possam viver confortavelmente, assim como queria teu pai – e ela sorriu com superioridade, nitidamente se sentindo vitoriosa.
A mente de Draco trabalhava como nunca, buscando algo que o livrasse desse terror, até que lembrou da revista muggle de Granger. Associou o que leu ao seu estado atual, ao mundo bruxo e honra das tradições dos aristocratas. Só existia uma forma de adiar esse casamento e retardar o máximo que conseguisse a fim de ter tempo para buscar algo mais sólido.
Tossiu, tampando a boca com a mão e olhando a mãe, soltou a sua única escapatória, rezando para que desse certo.
- Sinto mãe, mas não posso me casar com ela, pois estou, segundo os muggles, com um pãozinho no forno. Só não me pergunte de quem.
Tudo isso dito com classe, em voz baixa, se controlando para não engasgar em nenhum momento e aguardou o resultado.
Narcissa o encarava petrificada. Depois que a informação foi chegando ao cérebro e fazendo sentido, soltou um grito agudo que estremeceu toda a casa e caiu da cadeira, desmaiada, mais branca que uma peça de porcelana.
Draco permaneceu imóvel, tentando processar o que acabou de acontecer, também achou que perdeu metade da audição, enquanto crispava as mãos bem forte tentando acreditar que realmente tivera a coragem de dizer aquilo.
Era um mentiroso compulsivo. Vivia mentindo para os professores e colegas de estudo. E quantas não foram as inúmeras vezes que mentiu para seu pai... Para Snape e sua mãe... Mentia até para os elfos domésticos!
- Draco – Goyle chamou, ainda assustado e apontando para o lugar vago, onde outrora estava a matriarca Malfoy. – Draco!
- Que? – o loiro finalmente o olhou, lembrando-se que os dois obesos sonserinos estavam todo o tempo na mesa, junto com eles.
- Você matou sua mãe! – Crabbe estava horrorizado, não se atrevendo a olhar para o corpo de Narcissa, estirado no chão.
- É claro que não! – estava irritado e com dor de cabeça. – Ela apenas desmaiou.
Relaxou as mãos que ainda apertava nervosamente e as levou até a cabeça. Não queria dizer essa mentira, porém, sua mãe o obrigou a mentir. Se alguém tinha culpa pelo que acabou de fazer, esse alguém era ela, com certeza. Agora teria que pensar rápido enquanto ela ainda não acordava. Tinha que manter a mentira e seguir até o fim, assim escaparia de um casamento forçado e fracassado.
- Draco! Draco! – Goyle voltou a chamar.
- O que foi agora, criatura? – apertou os dentes, tentando ter paciência.
- Por que você disse a sua mãe que estava com um pãozinho no forno? Acaso andou cozinhando? – perguntou estupidamente.
- Eu não sabia que você cozinhava Draco! – Crabbe riu.
Malfoy bufou inconformado. Pensando bem, não teria como os dois retardados saberem do que estava falando, pois era um ditado muggle, já sua mãe, mesmo sendo sangue puro e nunca freqüentou nada muggle, saberia do que se tratava, era esperta e inteligente. Voltou a olhar aos dois pastelões e pensou melhor, abrindo um cínico sorriso. Se queria confirmar que o que disse era verdade, afinal, conhecendo Narcissa como conhecia, ela iria querer que provasse que era verdade e não uma trama. Apostaria nesses dois e faria com que eles confirmassem que sabiam e que era a pura verdade.
- Eu quis dizer que estou grávido – disse com calma e bem devagar, para que eles entendessem o que estava dizendo. – Entenderam? Pãozinho no forno... É igual a... Gerando uma criança na barriga... Alôo! Draco Malfoy está esperando um filho bem aqui – e apontou para a própria barriga.
E a bomba explodiu. Viu como os dois arregalavam os olhos e a boca de modo bem divertido, mas se manteve sério, para eles não acharem que era zoeira só para vê-los bancarem os palhaços, como de costume.
- Co-como o filho do vizinho? – Goyle tentou comprovar que não estava entendendo errado.
- Aquele que o pai expulsou de casa por esperar um bastardo? – Crabbe também sabia dessa história e da boca do próprio loiro que voz falavam. Na época, Malfoy havia rido muito pela desgraça que se abateu sobre a família ao lado.
Draco fez uma careta ao se lembrar dessa história, mas confirmou com a cabeça, bem lentamente, pois precisava, por enquanto, que eles o ajudassem nessa farsa.
Ambos os sonserinos se entreolharam significativamente, acreditando em cada palavra do loiro e já sabendo como aconteceu.
- Ooh... – Narcissa gemeu, levando uma mão na testa e tentando colocar as idéias no lugar.
- A senhora está bem? – Draco se prontificou a ajuda-la a se levantar e se sentar de volta a cadeira.
- O que aconteceu?
- A senhora desmaiou.
- E você me largou no chão? – ela o olhou desconfiada.
- Foi agorinha mesmo, a senhora caiu e logo recobrou a consciência – mentiu de novo.
Então tudo fez sentido para a mulher. A conversa, o casamento, a negação e a catástrofe... Segurou fortemente ao pulso do filho, e o encarou bem dentro dos olhos. Ela estava irada.
- Você está mentindo – sibilou de um jeito que daria inveja a Lucius. – Você não pode ter sido tão estúpido para engravidar.
Draco engoliu em seco e deu uma discreta olhada a Crabbe e Goyle, que prestavam atenção na conversa com uma nítida cara de pena. Esse detalhe fez o sangue de Draco subir, pois nenhum Malfoy precisa da compaixão e da lástima dos outros.
Notando o olhar do filho, Narcissa sorriu triunfante ao notar, pela primeira vez depois que essa conversa havia começado, a existência dos dois rapazes. Se era mentira, certamente Crabbe e Goyle delatariam, contando que não sabiam esconder nem mentir. Soltou o braço do filho e voltou-se elegantemente aos dois morenos sonserinos.
- Digam-me meus queridos... É verdade que o meu filho está... – torceu o nariz com repulsa – Esperando um filho?
Os dois concordaram plenamente assim que foram questionados. Eles acreditavam tanto que nem mesmo Draco sabia como foi que conseguiu convencer aquelas duas bestas. Olhou para sua mãe e deu um sorrisinho afetado assim que ela o olhou.
Narcissa não estava convencida, estreitou os olhos e voltou a questionar os dois rapazes. – Se isso é verdade, quem é o pai?
Draco ficou branco e para assombro de mãe e filho, eles responderam sem duvidar e em alto e bom som.
- Harry Potter!
Draco ficou sem fala, encarando os dois retardados como se eles não podiam ser eles, talvez podiam, pois somente Crabbe e Goyle eram capazes de dizer um absurdo desses. Negou com a cabeça. Seu plano foi por água a baixo, totalmente arruinado pelos dois jegues que lhe lançavam olhares de pesar e imploravam perdão pelo que disseram, então, ouviu outro barulho. Ao olhar, sua mãe estava caída no chão, desmaiada pela segunda vez e a dor de cabeça aumentava gradativamente.
- Agora sua mãe morreu? – Crabbe voltou a perguntar.
- Não... Ela apenas desmaiou – Draco voltou a responder, sem ânimo para mais nada.
Ficaram em silêncio durante alguns minutos, até Draco voltar a perguntar, dessa vez, tentando saber de onde essas duas criaturas foram relacionar o nome do odiado Potter num assunto tão delicado que tratava de gravidez.
- Como, por Merlin, vocês chegaram à conclusão que o pai do meu suposto filho é o energúmeno do Potter?
- A gente ouviu vocês no quarto da hospedaria – Goyle sorriu amplamente.
- Não sabíamos que vocês faziam sempre isso, mas aí a gente pensou e chegamos à conclusão que é um jeito estranho de se dizerem coisas bonitas – concluiu Crabbe, feliz da vida por terem raciocinado tudo isso e sozinhos.
Draco ficou inconformado. Ia dizer pra eles nunca mais tentarem pensar por conta própria, quando ouviu a voz de Narcissa rugir bem ao seu lado.
- Draco Lucius Malfoy! Você desonrou a nossa família! – pelo visto, ela havia acordado bem quando os dois sonserinos contavam o que Draco e Potter ficavam fazendo.
Agora sim, se antes não tinha noção se estava ferrado, dessa vez tinha certeza absoluta.
Para uma família tradicional, é fundamental que se casem legalmente no papel e que ambas as partes cumpram com seus deveres e acima de tudo, respeitem a pessoa ao qual se uniram.
Na aristocracia bruxa, ou seja, entre os bruxos de linhagem antiga de puro sangue, o laço familiar é o mais importante. Mais importando do que status e finanças. Nunca a parte passiva da relação comete adultério, é como se imprimisse em sua pele a ferro em brasa que desonrou o nome e a linhagem. O que não ocorre com a parte dominante que pode ter vários amantes e há aqueles que possuem até mesmo duas famílias. Para essas pessoas que decidem ter mais de uma família, é obrigatório mantê-las devidamente, com regalias, status, honra e poderio como na outra. As obrigações aumentam e tem que arcar com todas as conseqüências. É exatamente por isso que muitos lordes renomados não fazem vínculos com mais de uma parceira ou parceiro, preferindo colecionar amantes.
O relacionamento entre pessoas do mesmo sexo é comum e muitos são os que formam esse tipo de parceria. Cabe lembrar que não na aristocracia, pois o passivo da relação perde o nome para o dominante. Assim, nenhum patriarca deseja que sua linhagem e seu sobrenome sejam apagados ou diminuídos dessa forma, seria uma vergonha.
A gravidez masculina também acontece, mas muito raramente e são poucos os que se expõem publicamente nesse período.
Se o dominante morre, é afastado por motivos incontestáveis ou se divorciam, o lado passivo toma o lugar do dominante e assim, o poder e a direção dos negócios, além claro, da organização e da ordem familiar que é função do lado passivo.
Draco franziu o cenho. Sua mãe lhe obrigara a ler os conceitos básicos de um relacionamento na aristocracia. Agora entendia porque ela disse que ele havia desonrado a família. Como dizia no livro, ele era o passivo da relação, seu sobrenome ficaria em segundo plano, pois o nome principal seria do parceiro dominante, ou seja, no seu caso, era Potter. Pôs um semblante ainda mais retorcido em seu rosto.
Se estava grávido, ele era o passivo, invariavelmente... Deveria ter pensado nisso antes de dizer aquela mentira a sua mãe. Quando foi tentar se corrigir, já era tarde. Narcissa acreditava agora em Crabbe e Goyle e na mentira que inventou e não na verdade verdadeira.
Fechou o livro e o atirou contra a mesa, derrubando alguns pergaminhos. Conhecia aquela mulher severa e determinada, seria difícil tentar faze-la enxergar a realidade. Bem, era só esperar. Se estivesse grávido, sua barriga cresceria, mas como não estava, isso nunca aconteceria e ela iria finalmente perceber. E estava livre, por enquanto, do casamento arranjado com aquela garota vulgar.
Nesse momento Narcissa entrou na biblioteca, com os lábios espremidos e o olhar gelado.
- Já leu o que mandei? – Draco apenas afirmou com a cabeça. – Viu no que nos meteu? Seu pai ficaria decepcionado com você.
- Mas ele não está aqui... Nem sei se um dia voltará – murmurou de mal-humor.
- É por isso mesmo que é meu dever, não deixar que nossa família seja ridicularizada como aconteceu com nosso vizinho.
Draco voltou a fazer uma careta em desagrado e perguntou com enfado. – E o que sugere mamãe?
- Terá que se casar com aquele indivíduo, por mais que me doa ter ele em nossa família, mas será feito.
- Quê? – Draco ficou pasmo, não podia ter ouvido o que ouviu. Era um pesadelo, era pior do que pensava! – Não pode fazer isso!
- Está decidido! – ela o interrompeu, muito nervosa. – Você cometeu esse erro e agora terá que corrigi-lo da única forma possível. – ela fez uma pausa, para dar mais tensão às palavras. – Se casando e honrando o nome do pai do seu filho e não rebaixando a memória de Lucius nem de nossos ancestrais.
- Não mãe! A senhora não pode fazer isso! – se desesperou.
- Já estou fazendo! – e girando nos calcanhares, como Snape sempre fazia, ela deixou a biblioteca com determinação e revolta mal disfarçada. Era difícil, mas teria que ver seu filho único unido com o tão vulgar mestiço amante de muggles e que derrotou o mestre de todos os magos que presa pela pureza do sangue e do nome.
Ron entrou no quarto silenciosamente, dando uma olhada no amigo que ainda dormia. Levava consigo um copo cheio de água gelada e sem conseguir controlar direito as risadas, se aproximou da cama do dorminhoco. Ergueu o recipiente sobre o moreno e antes que pudesse derrama-lo, foi surpreendido, quando Harry se virou em sua direção e lhe empurrou o copo.
Hermione, que ajudava a senhora Molly e Ginny na cozinha, ouviu o berro de Ron seguido da gargalhada de Harry.
- Eu avisei que não conseguiria – ela negou com a cabeça. Ron era sempre tão criança.
- Meninos! Desçam agora para o café da manhã! – berrou a senhora Molly, no pé da escada.
Antes que a cozinha enchesse de gente, Ginny se aproximou da amiga para conversarem.
- Você acha que o Harry me pedirá em casamento? – sua pergunta saiu tão casual que Hermione até se surpreendeu, mas ao olhar à ruivinha, notou o vermelho que dominava suas bochechas.
- Bem... Quando você terminar Hogwarts, eu acho.
- Então demorará tanto assim? – ela fez uma careta, decepcionada.
- Nem tanto, apenas uns dois ou três anos – Hermione a consolou, apoiando a mão em seu ombro. – Veja pelo lado bom, Ginny, vocês poderão o ano que vem namorar firme e sem dúvida, se ele não te pedir em casamento, te pedirá em noivado.
A ruiva abriu um largo sorriso. Seria mais gratificante noivar antes de casar, mas logo voltou a arrumar a mesa, quando os rapazes entraram na cozinha. Lançou um discreto olhar de alegria a amiga, que lhe retribuiu da mesma forma, e se sentou ao lado de Potter.
Harry não havia ido à casa dos Black por pedido do senhor Arthur que lhe convidou em nome de todos, a passar o fim de ano com eles. Avisou a Remus sobre isso e ali estava, feliz da vida pela alegria que essa farta família lhe dispensavam.
Deu uma olhada em Ginny, tão mais crescida, mais desenvolvida e determinada que apenas o rostinho meigo e o cabelo vermelho lhe lembrava a menina tímida dos Weasley. Estava seriamente pensando em pedir a garota em namoro, pois era nítido que tinha interesse por ela e ela por ele. E seria hoje.
Pigarreou, para chamar a atenção da barulhenta família e prontamente tudo se silenciou. – Bem... Eu tenho algo muito importante a dizer... – olhou à garota, que já corava até a raiz dos cabelos, prevendo o que seria. – Eu...
Uma bela e grande coruja parda o interrompeu, adentrando a janela e sobrevoando a mesa. Todos ficaram espantados, olhando ao animal desconhecido que levava um rolo de pergaminho numa das patas. A ave a largou sobre o prato de Potter e sem perder tempo, sumiu por onde entrara.
Harry ficou mudo, olhando ao pergaminho que era atado por uma fita de cetim preta. Os restantes dos ocupantes da mesa aguardavam em expectativa o que seria aquilo.
- Não vai abrir Harry? – Ron lhe cutucou, muito curioso em saber do que se tratava e quem havia enviado aquilo ao amigo.
Obedecendo às palavras do ruivo, Harry apanhou o papel e o desatou. O rolo se desfez desvendando uma singela caligrafia feminina. Ginny esticou o pescoço, para ler a novidade junto com o moreno.
Prezado senhor Harry James Potter,
Venho através desta, reclamar algo de suma importância o qual, certamente, não lhe é de conhecimento, visto que se trata de uma família miscigenada.
Necessitamos de sua honrada presença, amanhã, às vinte horas, para tratar do dote matrimonial ao qual está sujeito a ofertar para que se enlace o quanto antes, visto que não se há tempo suficiente, pois em jogo se encontra a honra e o nome de ambas as famílias envolvidas.
Na aristocracia, qualquer "mancha", por menor que ela seja, arrastará vergonhosamente por gerações, o que, obviamente, o senhor não desejaria que acorresse com o sobrenome Potter.
Assim é para conosco, pois igualmente prezamos nossa família.
O restante a ser tratado se discutirá corretamente, em presença de ambos os noivos e por fatores incontestáveis sua presença é obrigatória e a de uma testemunha legal.
Caso se omita a comparecer, tenho que lhe conscientizar que tomarei as devidas providências quanto a esse ato injurioso.
Esteja pronto no horário determinado, pois faremos questão de lhes enviar uma condução para que os tragam devidamente ao nosso encontro.
Atenciosamente, Narcissa B. Malfoy.
A carta terminava com uma assinatura e o brasão dos Malfoy.
- O que significa isso? – Ginny gritou, ficando com uma coloração verde. Como, por Merlin, Harry havia se noivado com alguém e era convocado para tratar dos detalhes do matrimônio?
- O que foi? O que aconteceu? – Hermione ficou surpresa, assim como o restante da família Weasley.
- O que está escrito Harry? – Ron sacudiu o amigo pelo ombro, pois estava muito chocado com o que acabara de ler.
Potter ficou mudo, sem entender absolutamente nada do que acontecia. Ginny saiu correndo da mesa, subiu as escadas e se trancou em seu quarto.
- Accio carta – o pergaminho foi quitado da mão de Harry, pairou sobre a mesa até a mão da senhora Molly. A mulher leu linha por linha, seus olhos se abrindo mais, conforme avançava na leitura, até que derrubou o papel e, perplexa, olhou para o rapaz que ainda se mantinha em estado de choque.
Fred aproveitou e pegou a carta, que logo foi sendo passada de mão em mão e seu conteúdo caiu ao conhecimento geral.
- Que loco! – George foi o primeiro a falar, desencadeando uma série de discussões sobre o assunto.
- Quando isso aconteceu? – perguntou Fred, com cara de deboche.
- Meus parabéns Harry! – sorriu Bill.
- Então era isso que ia nos dizer? – o senhor Arthur estava bem alegre, pela notícia, mesmo não entendendo porque o nome da senhora Malfoy aparecia no meio. Desde quando os Malfoy tinham filha?
- Harry, isso é uma brincadeira não é? – Ron praticamente implorou para ouvir um sim.
- Não parece brincadeira – Hermione veio a cortar suas esperanças. – Parece mais uma ameaça, como se Harry não quisesse se casar, ou algo do gênero – disse cética.
- Eu não sei o que significa isso – Harry se pronunciou, por fim e extremamente baixo. – Não sei porque Narcissa Malfoy me mandaria uma carta desse tipo, com essas palavras...
Percy estava com o papel e relia atentamente as palavras. – A senhora Malfoy parece falar em sério e se assim for, é bem grave a sua situação - todos encararam atônitos ao metido Weasley que analisava criticamente a carta de Harry. – Acho melhor comparecer nessa reunião e se inteirar corretamente do que se trata.
- Eu não irei numa reunião com a mãe de Draco Malfoy, esposa do condenado Comensal da Morte Lucius Malfoy e acima de tudo, tratar de um matrimônio com sei lá quem! – se negou redondamente e de mal-humor. Essa família arrogante só servia para lhe trazer dor de cabeça.
Percy ergueu ambas sobrancelhas. – Não sei não Harry... Ela parece ter certeza de que pode te ferrar e bem feio.
Potter mordeu o canto da boca, pensativo e irritado. Certo, iria ver o que esses loucos queriam. Pegou sua xícara de café e bebeu um gole, para tentar se esquecer dessa doideira até amanhã.
As badaladas do relógio ecoaram pela Mansão Malfoy.
Draco se encolheu na poltrona, totalmente medroso. Era como num filme de terror. O som das gôndolas que balançavam de um lado a outro, o ponteiro marcando exatamente a hora derradeira, o calafrio percorrendo sua espinha, o tremor das pernas e a garganta retendo a respiração.
Se culpava interiormente por ser tão mentiroso, por não pensar direito nas conseqüências de seus atos. Queria apenas se safar da forca de um modo fácil. Tinha culpa? Claro que não tinha! Sempre conseguiu escapar das conseqüências, só não entendia porque dessa vez deu tudo errado... Tudo terrivelmente errado...
Eram oito em ponto e como se tratava de Narcissa, sabia que Potter já se encontrava no escritório que pertenceu ao seu pai e que agora era local de reunião de sua mãe e um mago-maior, responsável pelo matrimônio bruxo.
Não... Potter não seria idiota de comparecer numa reunião com qualquer membro da família Malfoy e por um motivo que desconhecia. Ele não seria tão idiota assim...
Esse pensamento o consolou bastante e o fez se endireitar na poltrona.
E se Potter se negasse como um legítimo grifinório que era, sem se importar com as conseqüências, que sabia, sua mãe teria ameaçado, não haveria nada a se fazer. Sua mãe lhe obrigaria a fazer um exame para arruinar com Potter, e quando fizesse esse exame nada constaria a não ser que era puramente virgem na parte traseira e, assunto encerrado.
Esse novo pensamento lhe revigorou a auto-estima. Se levantou da poltrona e se olhou no espelho, alinhando as vestes e o cabelo.
E a única coisa que restaria, depois dessa confusão toda, seria o casamento com a peitos de melões. Torceu o nariz em desagrado ao se lembrar dela. Do que inventar barbaridades, como dessa vez, preferiria envenena-la ou enlouquece-la a ponto dela nunca mais sair do St. Mungus. E até sua mãe achar outra pretendente para ocupar o lugar dessa, demoraria bastante tempo o que lhe proporcionava melhor plano, ou quem sabe, arrumaria alguém por conta própria.
Uma batida na porta desviou-lhe dos pensamentos.
- Entre.
Com sua ordem, um elfo apareceu em seu quarto. – A senhora requer a presença do senhor no escritório, senhor. – dizendo, desapareceu.
Draco pestanejou. Por que sua mãe queria que fosse ao escritório? Não tinha tempo de pensa, pois se Narcissa exigia sua presença, teria que comparecer nesse exato momento à sua presença.
Caminhou nervoso pelos corredores da mansão, até chegar no local mais detestável de sua moradia. Bateu levemente na porta e abriu para entrar.
- A senhora me chamou?
- Aproxime-se e sente-se.
Draco gelou. Haviam duas cadeiras de espaldar alto frente à mesa de escritório onde sua mãe, elegantemente e arrogantemente se encontrava apoiada e ao seu lado, de pé, o escrivão da família. Numa dessas cadeiras estava ninguém menos que Harry Potter (desgraçado que de tão burro viera para se ferrar e ferrar quem fosse) e a seu lado, de pé, se encontrava Remus Lupin.
Demorou quase meia hora para conseguir raciocinar, caminhar a pouca distancia até a outra cadeira, onde se sentou, rígido como uma pedra preciosa, pois, Malfoy nunca poderiam se comparar a algo menos valioso.
Encarou sua mãe com suplica no olhar, mas ela o ignorou completamente, e pelo contrário, passou a falar de modo frio, olhando diretamente a Lupin.
- Agora que estamos todos presentes, podemos tratar do assunto.
- E o que seria tão importante a ponto de exigir que Harry viesse a esta reunião?
- Para que assine a documentação matrimonial, lógico – ela retorquiu de modo enojada.
- E com quem exatamente? – Harry teve que perguntar, já que havia notado que não tinha a presença de nenhuma garota ali no escritório.
Narcissa o olhou com asco, erguendo o nariz aristocrático mais acima do que já estava, depois se prontificou a ignora-lo, estendendo a Lupin o tal documento para ser assinado.
- Harry tem razão, não assinarei nada sem antes saber que loucura é esta. – Remus estava muito confuso com tudo isso.
- A questão é bem simples... – interveio um homem de avançada idade, o qual se lembrava muito a Dumbledore, e que nenhum dos rapazes conhecia. Este era o mago-maior que validava o vínculo familiar entre os casais. Também não souberam por onde ele havia entrado. – Todos desejam o mesmo.
Os olhinhos brilhantes fitaram cada um deles, com simpatia e demonstrando alta confiança. Assim como sua presença acalmou os ânimos de todos e fez com que pensassem com mais clareza e principalmente, com o coração.
Não sabia se por magia desse ancião, ou por eles mesmos, mas cada qual entendeu a mensagem desse feiticeiro de modo bem particular.
Narcissa deixou a rispidez, e de fato, descobriu que não pensava que essa união fosse uma tragédia. Se Draco se unisse ao maior bruxo da época, elevaria o status da família e certamente, amenizaria as más línguas da sociedade bruxa num todo, que sabia, desprezavam o nome Malfoy e tudo relacionado a eles. Essa marcação sobre seu filho e praticamente o restante da geração futura, seria esquecida.
Ao perceber o que passava na mente da matriarca, o velho feiticeiro aprovou com a cabeça.
Remus começou a entender o que os traziam àquela casa e em presença da família Malfoy. Era em relação a Harry e Draco, e esse seria o tão esquisito matrimônio que o rapaz de óculos precisava oficializar. Olhou aos dois, e sorriu. Eles se combinavam como pólos opostos, se atraindo e se unindo invariavelmente. Bem que estranhava o comportamento deles em Hogwarts, sempre se cutucando, chamando a atenção e não podendo passar um dia sem provocar o outro.
E Harry observava o arrogante loiro a seu lado, tão auto-suficiente, tão metido e tão... Draco... Desviou os olhos para cima da mesa, se negando a pensar qualquer outra coisas de Draco Malfoy, o ser mais pé-no-saco que já conheceu na vida. Preferia mil vezes ser atingido na cabeça por um Avada do que se unir a essa criatura.
- Ele será um companheiro passivo, sua família levará seu sobrenome e terá a oportunidade de criar um lar. E como passivo, ele sempre lhe seguirá por todos os caminhos que escolher, assim como manterá a honra do sangue e do nome, e nunca cometerá uma imprudência sem pensar – o velho ancião lhe confidenciou baixo, olhando bem dentro de seus olhos. – E é exatamente essa união que seu coração busca...
Harry abriu e fechou a boca várias vezes, sem saber o que dizer. Como assim, era o que seu coração buscava? Desde quando buscava a Malfoy? Se lembrou de Ginny, ela sim, era alguém que buscaria na vida, formaria uma família, compartilharia dos momentos, mas seu coração parecia não querer compartilhar do mesmo pensamento. Não sentia amor por Ginny, não sentia atração e nem alegria em partilhar a vida com ela.
Enquanto estava pensando essas coisas, nem se deu conta que assinava o documento.
Vendo que Harry assinou, Remus não tinha mais do que reclamar ou se negar, a não ser, assinar também, e foi o que fez. Narcissa seguiu, assinando na linha demarcada.
O velho mago sorriu amplamente e juntou as mãos de modo divertido, só faltava a assinatura do outro rapaz e selaria o vínculo e os nomes numa união perfeita.
Porém...
Draco mantinha-se horrorizado com o que acabava de ver. Se negava aceitar que Harry Potter, seu inimigo mais peçonhento, estivesse aceitando um absurdo desses. Sua mãe só pode ter enfeitiçado aquele verme asqueroso que se diz inteligente. Notou que alguém estava entrando em sua mente e logo desviou o olhar para o velho idiota, com olhinhos brilhantes, barba e cabelos brancos que lhe sorria como um babaca. Ele lhe lembrava tanto a Dumbledore que teve mais repulsa ainda.
"Sai de mim, clone maldito!" – ao ouvir esse pensamento de Draco, o velho feiticeiro enrugou as grossas pestanas. – "Prefiro morrer pobre a me casar com o retardado do Potter. Minha mãe também é uma doida desvairada... Onde já se viu, unir o próprio e único filho com alguém como Potter? Tudo por causa de uma mentirinha inofensiva... Se ela continuar com isso, juro que a interno no St. Mungus" – ao se inteirar disso, o velho ergueu uma sobrancelha bem ao estilo Malfoy. Draco o olhou de esguelha – "Que está olhando seu gnomo caduco altamente desenvolvido? Nem pense que vou assinar esse documento e perder minha vida e dignidade ao lado de um energúmeno que se acha gente. Hum... Agora que me formei, posso ir para a Austrália, conhecer os cangurus e trabalhar de historiador... Nem quero imaginar a cara de todos, quando souberem que minha aula favorita era História da Magia e que eu passava os horários vagos discutindo sobre a cultura bruxa no oriente com o professor Binns".
O feiticeiro ficou escandalizado. Aquele rapaz loiro não tinha nada de coerente e sentimental na cabeça! Era um arrogante, egocêntrico e mimado! Nem com sua magia de conciliação e harmonia, que aprendeu com um dos discípulos do grande e renomado Merlin, conseguiu fazer com que essa criatura pensasse com o coração e abrisse sua mente para o que de fato necessitava. E ainda ousava a xinga-lo, mesmo que mentalmente, isso era uma afronta! Se vingaria desse ser desprezível de um modo bem especial... Mas primeiramente...
- Imperius... – sussurrou em direção ao loiro.
Draco arregalou os olhos quando percebeu que não tinha domínio da própria vontade. Viu estático e sem fala, como sua própria e delicada mão pegava a pena, molhava no tinteiro e assinava o documento. Assim que o bico da pena deixou o pergaminho, uma magia se desprendeu dele, selando-o e unindo Potter e Malfoy, até desaparecer.
- Está feito! – o velho bateu palmas, sorrindo como uma criança. – Agora me vou e... – guinou um olho para Draco, que ainda o encarava assombrado. – Terá de aprender a ser humilde de um modo bem... Inesperado...
Assim, o mago-maior sumiu da mesma forma que apareceu, deixando a todos ainda muito impressionados com tudo.
- O que aconteceu aqui? – Narcissa foi a única que se expressou em voz alta, sendo acompanhada pelos demais, que negaram com a cabeça, sem compreender.
- Droga... – Harry praguejou baixo, ao notar o que fez. Aquele velho era uma farsa! Enfeitiçou a todos para que assinassem aquele papel. Uma vez consciente de seus atos, sentia que estava literalmente ferrado.
Se levantou indignado e estava a se retirar, quando ouviu a voz áspera de Narcissa.
- Espero que seu dote seja aceitável, pois é a obrigação do futuro patriarca sustentar a família. Quanto a meu filho, só desejo-lhe a felicidade.
Harry não entendeu muito bem e deu de ombros, mas quando foi deixar a Mansão Malfoy, notou o quanto sua vida estava de cabeça pra baixo.
Draco o seguia amuado e totalmente infeliz. Estava com raiva também, mas a pena que sentia de si mesmo era mais forte.
- O que está fazendo Malfoy? – perguntou com receio.
- Ainda não entendeu Miolo-de-pão? – não conseguia mais xingar o outro e isso o fez mais amuado ainda. Sua vida seria um pesadelo dali em diante!
Continua...
