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Sozinhos, havia tanto o que dizer, contanto mal conseguiam falar. Mesmo que conseguissem manter seus lábios separados por mais que poucos segundos, era difícil saber por onde começar; fácil esquecer as dúvidas que os haviam atormentado agora que estavam nos braços um do outro.

Parecia que o mundo havia girado milhares de vezes até que eles finalmente se reencontrassem no lugar certo. Sentiram que podiam respirar novamente, como se a dor no peito fosse física e houvesse desaparecido no momento em que puderam acreditar que havia ao menos uma chance de continuar de onde haviam parado.

"Senti tanto a sua falta" ele sussurrou em confissão ao pé do ouvido dela, acariciando o seu rosto com cuidado quase excessivo como se tivesse medo que pudesse quebrá-la. "Quis fazer isso desde que te vi hoje" e mostrou que "isso" eram beijos demorados. "Nem acredito que podemos fazer isso."

"Imaginei que você fosse gostar da surpresa" ela mordeu o lábio inferior enquanto seus olhos se recusavam a parar abertos, como se estivesse em transe.

"Surpresa mal descreve. Vem, me conta tudo, como aconteceu?" ele se sentou na cama, esticando a mão para que ela o seguisse.

Vampira se sentou de frente para ele, com as pernas dobradas. Levou alguns segundos para falar, como se tentasse decidir como contar já que não havia feito isso antes. "Não foi um momento mágico de epifania" soltou o ar rápido em uma tentativa fracassada de rir antes de continuar; sua expressão um tanto séria. "Foi trabalhoso, cansativo e muito frustrante. Eu continuei as sessões com o Professor por meses..." depois que você partiu ficou implícito, embora não fosse uma acusação; era apenas como as coisas eram. Ela fez uma pausa, lembrando-se de quantas vezes pensou em desistir e aceitar que seus poderes não tinham conserto após deixar o escritório do Professor se arrastando, por vezes, mal conseguindo parar em pé de tanta exaustão. Após ela perguntar, o Professor lhe havia explicado como era possível, mesmo deitada, se sentir fisicamente exaurida ao lidar com sua mente, mas Vampira nunca entendeu realmente – talvez apenas telepatas compreendessem como um todo.

De qualquer forma, afastar teias de aranha de sua mente e transitar por caminhos que levavam a eventos importantes de sua infância não eram experiências fáceis. Havia mentiras demais. A parte mais difícil havia sido encarar, repetidas vezes, o momento em que seus poderes se manifestaram. "Até que o Professor finalmente descobriu qual era o problema. Aparentemente o trauma de quando as minhas habilidades se manifestaram foi grande demais" ela esfregou os braços com as palmas das mãos; a lembrança sempre lhe causava um arrepio. "Esse trauma fez com que eu erguesse uma barreira que ficava ligada o tempo todo. A cada pessoa que eu absorvia eu criava uma nova barreira. Elas impediam que meus poderes se desenvolvessem."

"Você teve que derrubar cada uma delas?" ele perguntou, lembrando-se de como Vampira teve de apagar cada uma das psiques presas em sua mente e de como ela havia descrito o processo como doloroso.

Vampira abanou a cabeça afirmativamente. Não havia sido tão demorado ou angustiante quanto com as psiques, mas havia exigido muito esforço dela. "Ainda é recente. Faz poucas semanas que consegui realmente controlar a absorção involuntária. Ainda exige concentração, mas está cada vez mais instintivo manter desligada. Sinto que estou chegando ao cem por cento."

"Vou te ajudar a chegar lá."

Ela mordeu o lábio para não sorrir da maneira como ele fez soar sujo. "Você está mais para distração."

"Eu sei. Olha só para mim" disse em um tom afetado e se inclinou na direção dela para roubar mais beijos.

Vampira enrijeceu o corpo para manter a absorção desligada, mas durou apenas um segundo e ela relaxou. Sentia-se embriagada sempre que ele se aproximava, mas sentir o seu toque era indescritível. Embora estivesse ciente da maciez e umidez de seus lábios e língua, dos dedos da mão acariciando seu pescoço e cabelo, disparando arrepios que desciam e subiam pela espinha, era como se seu corpo tivesse perdido a forma física. Mesmo quando ele se afastou e voltou à posição anterior, levando-a consigo, Vampira ainda podia senti-lo por toda parte.

Ela se acomodou no abraço dele, o rosto deitado entre o ombro e peito dele, acompanhando o peito dele subir e descer lentamente. "A parte que mais senti falta foi da sua modéstia" ela disse em chiste antes de seu tom voltar à sobriedade anterior. "Você me pegou de surpresa, quase perdi o controle" e virou o rosto para cima levemente, para olhá-lo nos olhos.

As feições do rosto dele suavizaram em compreensão e o aperto do seu abraço aumentou. Lembrava-se claramente do quanto havia sido árduo lidar com o surgimento dos seus poderes, como parecia que eles estavam prestes a se descontrolar a qualquer momento. As primeiras semanas haviam sido angustiantes para Remy, que mal dormia, pois temia que pudesse explodir a casa inteira. Mais tarde, esse pensamento seria ridículo, mas na época havia sido um medo real. "Sei como é. Você só precisa de prática" o que foi um pretexto para beijá-la mais uma vez.

"Eu tive ajuda" ela comentou, lembrando-se com carinho de como Wolverine, Kurt, Kitty e até mesmo Jean haviam servido de cobaia na prática de seus poderes. Vampira havia aceitado ajuda apenas após ter se sentido confiante o bastante de que não iria machucá-los. Graças ao auxílio e apoio de seus amigos, ela foi capaz de desenvolver alguns truques que seus poderes lhe permitiam, tal como absorver um pensamento específico, uma característica física ou apenas a habilidade mutante. Foi divertido atravessar paredes por alguns minutos, ela pensou, o que levou à outra memória, de quando a habilidade emprestada de Kitty se esgotou e Vampira bateu a cara em uma parede. Ela contou a Remy e os dois riram juntos.

Gambit escondeu bem a culpa de não ter podido fazer parte de um acontecimento tão importante para ela. Ele devia ter estado ao seu lado, dado todo o apoio que ela merecia. Mesmo com o remorso, ele enxergava o quanto ela era forte e determinada, e tinha o apoio incondicional de quem considerava família.

"Vou compensar" ele disse antes de girar o corpo, deitá-la na cama e lhe cobrir de beijos. Apesar do tom leve de suas palavras, o sentimento era verdadeiro, se esforçaria para compensar sua ausência de todas as formas que pudesse.

Apesar de desejarem deixar tudo de lado e se refugiar em um mundo apenas deles, os dois estavam cientes de que havia obrigações a cumprir. Vampira não iria simplesmente sabotar a missão que a havia levado até ali enquanto Gambit sabia o quanto estava em jogo e que dependia deles.

Sairiam para investigar naquela tarde, mas antes Gambit mostrou a ela as informações sobre o Útero Negro que seu pai havia lhe ajudado a encontrar. Vampira não reconheceu o nome; nunca ouvira nada sobre aqueles eventos. Se um caso tão macabro quanto aquele tivesse ocorrido em dias atuais, em tempos de informação instantânea, talvez tivesse obtido repercussão nacional, mas aquele era antigo, obscuro e regional.

"De que forma você acha que isso está conectado ao lugar que o Logan descobriu?" ela perguntou, franzindo o cenho, após analisar os recortes e afastar o mal-estar que aquela história lhe causou.

Gambit engoliu com força e cerrou a mandíbula antes de dizer. "Acho que Wolverine está certo quanto a Essex ter usado as instalações no Nova México. Ele deve ter fugido para lá depois do julgamento" apontou para uma das fotos. "As datas coincidem. E se os experimentos que ele fez nesse lugar no Novo México forem uma ramificação do que ele começou aqui?"

Se os palpites de Gambit estivessem corretos, significaria que Essex voltara para Nova Orleans em algum momento, anos mais tarde. Também não descartaria a possibilidade de suas origens estarem conectadas ao vilão de alguma forma, mesmo que essa conjectura o fizesse estremecer.

"Essa mulher" ele continuou ao apontar para uma outra foto no jornal. "Amanda Mueller. Encontrei diversas informações sobre ela, mas nada sobre sua morte."

Vampira encolheu os ombros. Não parecia achar a informação relevante. "Esse caso foi há décadas, Remy. Não acho que devia ser tão difícil sumir do mapa. Ainda mais depois do escândalo, ela deve ter trocado de nome e desaparecido."

"Essa é a possibilidade mais óbvia e provável, mas quando Essex está envolvido nunca se sabe."

"Peraí, você acha que Essex pode ter se envolvido na morte dela ou a encobertado de alguma forma... ou está sugerindo que ela ainda está viva?"

Gambit estava ciente da improbabilidade do que sugeria, contudo aprendera a nunca descartar possibilidades enquanto não houvesse provas do contrário. "Essex pode ter alongado a vida dela como fez com ele mesmo... talvez ela fosse mutante. Quer dizer, pra Essex ter se interessado nela, na prole dela, Mueller tinha que ser mutante."

"Concordo que ela era mutante, mas..."

Ele a encarou com lucidez. "Tem que haver algum motivo para o que ela fez, Vampira. Essex estava envolvido, deve ter concedido alguma coisa a ela para que lhe entregasse os próprios bebês. Deve ter havido algum tipo de recompensa."

"A recompensa pode ter sido dinheiro."

"Ela vinha de família abastada e se casou com um homem rico. Não foi simplesmente por dinheiro."

Vampira relutava, mas estava começando a aceitar a possibilidade ou ao menos cogitá-la como possibilidade. "É um tiro no escuro, mas não é completamente implausível. Acho que vale a pena tentar."

"Se ela ainda estiver viva, deve ter alguma pista que possa nos levar a Essex. Talvez a gente possa descobrir o que ele pretendia ao reabrir as instalações."

"Wolverine não encontrou nada lá."

"Pois é, mas podemos tentar descobrir o motivo de Essex ter voltado lá" quem sabe não pudessem obter alguma informação sobre suas próprias origens, ele pensou, sobre seus pais verdadeiros.

Remy quase se sobressaltou ao sentir o calor da pele macia da mão dela sobre a sua. Havia se perdido em pensamentos por um tempo mais longo do que havia se dado conta.

"Onde você entra nisso?" ela perguntou com ternura.

Ele chacoalhou a cabeça, sentindo a garganta embargar. "Não sei ainda."

"Eu estive pensando" ela tentou soar alegre e otimista. "Podíamos fazer uma busca em hospitais, começar pelos centrais e expandir, até encontrar onde você nasceu."

Os cantos da boca dele se crisparam em um sorriso triste. Ela fazia soar tão simples. "Eu não sei se nasci mesmo aqui, Vampira."

"Mesmo assim temos que tentar."

"Eu... já tentei. Quando retornei, a primeira coisa que fiz foi investigar hospitais. Já cobri quase todos os hospitais maternidades da cidade e não encontrei nada sobre um bebê abandonado ou um de olhos negros."

Embora não soubesse se havia mesmo nascido em Nova Orleans, Remy decidiu investigar registros da época de seu nascimento, dois anos a mais e a menos. Porém não havia obtido êxito. Sequer encontrara pistas que pudesse seguir. Nesse meio tempo, sua busca em hospitais continuava sem dar frutos, tanto que havia semanas que ele não investigava. Se Essex estava de fato envolvido com seu nascimento, ele provavelmente havia sido trazido para Nova Orleans. Talvez essa resposta estivesse nas entranhas das instalações no Novo México.

As feições no rosto dela se entristeceram, mas ela tentou disfarçar. "Faltam quantos hospitais para investigar?"

"Três ou quatro."

"Então vale a pena tentar. Vamos averiguar esses que faltam antes de descartar e tentar outra abordagem."

O sorriso reconfortante dela estranhamente atingiu seu propósito. "D'accord. Mas primeiro precisamos descobrir por onde Dentes-de-Sabre andou."

Estavam de saída quando foram convencidos por Mattie a ficar para o almoço. Não foi necessária muita persuasão, pois o cheiro de comida caseira foi o suficiente para convencê-los. Foram apenas os três à mesa, já que Jean-Luc teve de se ausentar às pressas, enquanto Henri – como Remy havia explicado à Vampira quando ela lhe perguntou quando iria conhecer o seu irmão – estava na Europa a negócios, sem previsão de retorno. Fizeram a refeição em meio a uma conversa leve, e os dois saíram para cumprir a missão menos de uma hora mais tarde.

"Vamos caminhando" Remy sugeriu entrelaçando os dedos nos dela. Vampira sorriu. "Tenho um amigo que pode nos ajudar."

Fizeram uma caminhada longa, mas bastante agradável; não estava muito quente e havia uma brisa fresca. Após percorreram mais de vinte quarteirões, Remy parou em frente a uma lojinha de cupcakes chamada Sugar Muffins.

"Eu comeria um cupcake" ela gracejou, sorrindo.

Claramente o lugar era apenas fachada. O que procuravam era um depósito no subsolo. Mercado negro.

Ignorando a plaquinha de 'estamos fechados', Remy empurrou a porta e os dois entraram. Remy passou pelo balcão e bateu em uma parede, que, na verdade, era uma porta. Instantes mais tarde, um homem grandalhão de cavanhaque surgiu através dela.

"Remy, você não me disse que conhecia o John Goodman" Vampira disse, rindo.

O homem não pareceu impressionado. "Nunca ouvi essa antes" disse em um tom monótono. Ele poderia ser facilmente o sósia do John Goodman dos anos noventa, semelhança que não costumava passar despercebida, o que tornava cada piada sobre isso uma amolação para ele. "Ela é confiável?"

Vampira percebeu que havia começado com o pé esquerdo e preferiu ficar quieta desta vez. A expressão de Gambit respondeu à pergunta. Os três entraram e a porta-parede se fechou. "Preciso da sua ajuda, Fence."

"Também nunca ouvi essa" puxou a cadeira com rodinhas que estava na frente de um computador e se sentou. "O que estamos procurando?"

Vampira telefonou para a mansão e pediu os dados que o Cérebro continha a respeito de Destes-de-Sabre. Assim que recebeu as informações, mostrou a tela do celular para Fence.

"Aparenta ser um rapaz muito agradável" ele disse, virando as rodinhas da cadeira até estar de frente para a tela do computador. Martelou o teclado por alguns minutos antes de dizer: "Nada ainda. Vou precisar de mais tempo."

Gambit e Vampira abanaram a cabeça. Nenhum deles imaginou que Destes-de-Sabre seria encontrado tão facilmente, mesmo por um gênio de tecnologia como Fence. O cretino era sorrateiro e quase não deixava rastros.

"Já que estamos aqui" Gambit continuou. "Gostaria que você fizesse uma segunda busca" retirou o celular do bolso e mostrou uma foto da foto preto e branco do jornal.

Diferentemente de Destes-de-Sabre, Fence pareceu cético em relação à procura de Amanda Mueller. "Ela já deve ter virado presunto há décadas" Gambit insistiu e Fence nunca deixaria de aceitar um desafio. "Pode deixar comigo. Te ligo assim que conseguir algo" voltou-se para a tela do computador novamente. "Ah, Gambit" disse sem se voltar para trás antes dos dois saírem. "Te mando a conta junto."


Ainda era cedo, meio da tarde quando deixaram a loja-fachada. Tudo que poderiam fazer agora era esperar o retorno de Fence. Vampira sugeriu então que fossem procurar nos hospitais que faltavam, mas Gambit se esquivou, alegando que seria preferível se focar em uma tarefa por vez. Vampira soube que era um argumento fraco, mas se contentou com a resposta. Não era difícil entender que ele sentia medo de não obter respostas nos poucos lugares que faltavam para procurar e estava adiando o momento inevitável. Ela o apoiou e propôs que fossem para um lugar onde pudessem simplesmente sentar para conversar.

Pararam em um bar quase vazio, que tocava música de fundo agradável. Pediram algo para beber e se sentaram numa mesa mais ao fundo.

"Não vamos ser atacados de novo, né?" ela gracejou assim que ambos estavam acomodados. Apesar das mentiras do momento e da confusão de sentimentos posteriormente, havia afeto nas lembranças do dia em que Gambit a havia colocado à força em um trem rumo à Nova Orleans. A lembrança de que haviam se sentado a uma mesa parecida com aquela, em meio ao Mardi Gras, sempre colocava um sorriso no seu rosto.

"Non" ele respondeu com um sorriso que indicava que ele sabia exatamente o que ela estava pensando. "Se você não notou, chérie, recebemos Assassinos na nossa casa esta manhã."

"Mas isso é bom, não é?"

Gambit deu de ombros. "Deveria ser, mas... nunca se sabe quando as coisas vão mudar. Quando se diz respeito ao relacionamento entre os Clãs, é sempre imprevisível. Enquanto houver lucro ao trabalhar juntos as coisas vão se manter calmas. Da última vez que meu pai esteve perto de conseguir uma trégua, o idiota do Julian o sequestrou."

"Eu nunca entendi o que esse tal Julian pretendia com isso."

Gambit também não. A única coisa de que tinha certeza era que Julian era imprevisível, e que isso o tornava perigoso. "Julian é louco" contentou-se em dizer. "O pai dele, o Marius—"

"O homem que vocês receberam hoje?"

Gambit abanou a cabeça afirmativamente. "Após Marius ter visto o que o filho desmiolado tinha feito, tentou negociar, mas como meu pai garantiu que eles não sairiam impunes, já que haviam infringido as regras dos Clãs, foi mantido lá por mais três dias até que Marius decidisse o que fazer ou convencesse meu pai a cooperar."

"Mas nós chegamos primeiro."

Ele retribuiu o sorriso satisfeito dela. "Oui, nós chegamos."

"E o que aconteceu depois?"

"Meu pai conseguiu a vantagem e esse foi o início da trégua de paz atual."

Trégua que havia sido acordada há pouco tempo após meses exaustivos de negociação. Mesmo após a paz ter sido aparentemente alcançada, parecia continuar no fio da navalha.

Vampira baixou os olhos e estudou o copo na mesa à sua frente, de repente tímida. "A moça de hoje de manhã é irmã do Julian?"

Gambit fez que sim com a cabeça, porém não disse mais nada. Não teve coragem de contar sobre seu quase casamento com Bella Donna. Não queria que o breve relacionamento que teve com a filha de Marius parecesse maior do que de fato fora. Havia também certa vergonha velada por quase ter sido manipulado a se casar. Vampira também havia sido títere nas mãos de sua família adotiva, portanto, se houvesse alguém que o compreenderia seria ela; ainda assim ele se acovardou e não revelou nenhum outro fato a ela.

Vampira cogitou perguntar sobre eles terem namorado, mas percebeu que não precisava disso. Mattie havia lhe contado o suficiente. Se o questionasse, correria o risco de parecer insegura, sendo que sentia apenas curiosidade, queria apenas saber mais sobre Gambit. Contanto, sabia que com ele não adiantaria perguntar. Remy era mais honesto e sincero quando se sentia confortável e não quando era questionado. Mais uma característica que os dois tinham em comum, ela notou.

"É bom estar aqui de volta" ela comentou para mudar de assunto, "mas também meio estranho, como se o tempo tivesse parado e tivéssemos feito uma viagem em um vagão de carga hoje mais cedo."

"Naquele dia eu não poderia ter feito isso" e 'isso' havia virado sinônimo para os seus lábios juntos. "O que é engraçado, chère?"

"O seu sotaque está tão forte" ela respondeu rindo.

"É inescapável" ele disse, sorrindo.

Vampira compreendia. Adorava aquela cidade, pensou de forma melancólica, de repente não encontrando razões para querer partir. Em um ato egoísta, desejou que sua missão não acabasse.

No fim de tarde, o bar começou a encher, afinal era sexta-feira. Vampira preferiu ir embora antes que lotasse, pois, apesar do controle adquirido, lugares abarrotados ainda a deixavam um tanto nervosa.

"Tem um lugar pra onde vou quando não quero voltar para casa" ele mencionou.

Caminharam por mais algumas quadras e chegaram a um prédio residencial, ainda dentro da região central. Subiram até o oitavo e último andar. Gambit abriu uma porta e a convidou para entrar. O apartamento era pequeno e convidativo, refletia a personalidade dele mais que seu quarto na casa onde cresceu. Ali havia alusões aos seus gostos e hobbies. Discos retro, pôsteres e livros.

Vampira olhou ao redor brevemente e se voltou para Remy quase surpresa. Então abriu um sorriso enorme. Mais tarde ele lhe confessaria que nunca havia levado ninguém ali; contudo, Vampira soube disso naquele momento.

"Você não mentiu quando disse que tínhamos gosto semelhante para livros" ela disse antes de acrescentar em tom triunfante: "Sabia que você era fã de Harry Potter."

Ele encolheu os ombros, sem negar. Então, esparramou-se no sofá e a convidou a fazer o mesmo. Vampira deu passos hesitantes antes de se sentar um tanto afastada dele. Gambit escorreu para mais perto e colocou o braço ao redor dos ombros dela. Sentiu que ela estava um tanto escolhida e rígida.

"Onde nós estamos?" ela perguntou ao erguer os olhos até os dele.

"Ainda em Nova Orleans" ele gracejou, mas Vampira o encarou com seriedade.

"Você sabe que não foi o que eu quis dizer, Remy."

Mesmo com os poderes sob controle, Vampira não havia ficado com mais ninguém, sequer cogitara ou desejara isso, embora não soubesse quando iria revê-lo tampouco o quanto tudo poderia ter mudado. Não esperava o mesmo dele, não haviam feito promessas, mas...

"Mas... eu não quero ter você por alguns dias e depois ir embora sem saber quando vou te ver de novo."

Ele deitou as mãos nos lados do rosto dela. "Nós não podemos nos focar apenas no agora?"

"Não quero continuar vivendo de migalhas."

"Nossos momentos juntos não são migalhas."

"Eu sei" seus olhos lacrimejaram. "Não foi o que eu quis dizer. Eu só quero mais. Talvez a gente possa encontrar um meio-termo."

"Qual seria esse meio-termo?"

Vampira acreditava que o lugar dele era com os X-Men, apenas se ele se desse essa chance. Entretanto, deu de ombros. No fundo, sabia ser uma sugestão egoísta, pois entendia a vida dele ali, agora mais do que nunca.

"Nós vamos pensar em algo. Não vou te perder dessa vez" ele disse com a voz rouca e intensa.

Remy não era dado a confissões românticas a não ser que fossem caluniosas, que tivessem um propósito ou ganho próprio; contudo, não havia nada de insincero no que dizia. Ele simplesmente não estava disposto a perdê-la novamente. Mesmo com a promessa tendo sido feita no calor do comento, ele iria encontrar um jeito. Deu-se conta de mesmo que os poderes dela não estivessem sob controle e eles não pudessem se tocar intimamente, ainda assim, ele não estaria preparado para ficar longe dela. Essa compreensão o inundou de medo num primeiro momento, mas rapidamente se tornou serenidade, pois pela primeira vez em sua vida ele tinha certeza de algo, tinha a certeza de que lutaria por ela até o fim.

Vampira o encarou séria e melancolicamente antes de se inclinar e abraçá-lo. Não havia espaço para mentiras quando lia os seus olhos. Olhos antes tão misteriosos e indecifráveis, mas que agora eram sinceros e transparentes. Escorregou lentamente para fora do abraço dele, olhando-o nos olhos e através, os cantos dos lábios contorcidos. Ele afastou uma mecha de cabelo do seu rosto, sorrindo, e ela novamente não conseguiu evitar morder o lábio inferior.

Novamente suas bocas estavam presas, agora com mais urgência que nas anteriores. A boca dele desceu para explorar o pescoço dela e além. Ela retirou a própria camiseta e então a dele. Num primeiro momento exigiu muito de sua concentração; ainda havia receio de seus poderes funcionarem sem sua vontade. Porém, à medida que a intensidade do contato aumentava, ela deixou de pensar nisso e o medo foi se dissipando. Controlar seus poderes deveria ser como sua segunda natureza e ela estava aprendendo isso.

Quando ela acordou na cama horas mais tarde, descobriu que era noite, decerto madrugada dado o silêncio. Foi novamente envolvida pelo sono, protegida pelos braços dele, variando entre realidade e fantasia.

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