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A claridade da manhã forçava seu caminho para dentro do quarto através das frestas por entre as cortinas que balançavam lentamente com a brisa que vinha da janela entreaberta. Era uma manhã de sábado tranquila, e mal se ouviam barulhos externos.

Gambit despertou com Vampira aconchegada em seus braços e sorriu sem mesmo notar. Moveu-se de leve, pois seu braço esquerdo estava dormente, torcendo para que ela não despertasse ainda. Vampira gemeu de leve e permaneceu na mesma posição. Ele acariciou o rosto dela e a viu sorrir ainda adormecida, assistindo à intensidade da luz aumentar e diminuir no rosto dela, repetidas vezes. Os fios brancos e castanhos, emaranhados sobre o travesseiro de fronha escura, contrastavam com a pele cor de creme dela.

Nos pés da cama e no chão havia cartas de baralho espalhadas, que haviam se esparramado enquanto suas roupas eram tiradas apressadamente e jogadas ao chão. Os dois haviam gargalhado em uníssono quando cartas escapuliram do bolso da calça dele num estouro. Ela fez uma piada sobre ele ter maços de cartas de baralho escondidos em absolutamente todos os bolsos, e ele não negou.

As cartas faziam parte da identidade de Gambit desde que ele as escolhera como arma principal de luta. Elas haviam sido integradas à sua persona e se tornado seu cartão de visitas. Sentia fascínio por elas, por todas as suas possibilidades, por como o resultado final era sempre um mistério, pois não dependia apenas de habilidade, mas também de sorte. Ele achava ser uma boa filosofia de vida. Não havia como prever o futuro, como saber quando as coisas poderiam mudar e virar de ponta cabeça, assim como não se podia prever qual seria a próxima carta na sua mão. A Dama de Copas, A Rainha, sua carta favorita, sempre ia por último no maço. Quando não podia contar com mais nada, restava ainda sua Dama da Sorte, que o tiraria de qualquer enrascada.

Vampira gemeu novamente e se desvencilhou dos braços dele resmungando algo ininteligível. Virou-se para o outro lado, levando consigo o lençol com o qual ele a havia coberto horas antes. Ele se sentou à beira da cama e se inclinou para apanhar a calça jeans jogada ali perto. Guardada e protegida no bolso da frente havia uma Dama de Copas. Mas não qualquer dama, esta estava amassada e levemente desbotada, a película de plástico carcomida nas pontas. De uma aparência desgastada que não refletia o seu peso emocional.

Era a mesma carta que ele havia dado a ela quando achou que seus caminhos provavelmente não mais se cruzariam. A mesma carta que ela havia lhe conferido enquanto seus caminhos não se cruzassem novamente. Ele segurou a carta com carinho entre os dedos, um sorriso crispando os lábios devido à enxurrada de lembranças que algo tão pequeno e frágil trazia.

Ele se voltou para ela ao sentir a leve movimentação do colchão. Ela erguera a parte superior do corpo, o cotovelo dobrado sobre o travesseiro e a cabeça apoiada na mão. O lençol havia lhe escorregado dos ombros, expondo seu colo e seus seios quase por completo. Ela abriu um sorriso enorme e plácido, isento de pudor, confortável na sua nudez como apenas dois amantes conseguiam se sentir. Foi na direção dele quando ele abriu os braços e a convidou para entrar.

"Você a guardou" ela disse sem surpresa, a voz rouca de quem acabara de acordar.

"Como você pediu."

Ela apanhou a carta com solenidade, notando o quanto havia sentido falta daquele pedaço de papel. Depositou-a na mesa de cabeceira com cuidado antes de se pôr em pé. Ele a assistiu caminhar desnuda em direção ao banheiro e percebeu, quase com surpresa, que não precisava mais da sorte da sua dama. Precisava apenas dela. Ela era tudo o que ele queria. Ela via além de quem ele era, enxergava quem ele poderia ser se desse a si mesmo a chance de também ver. Ele gostava de quem era quando estava com ela, envoltos em laços invisíveis que se fortaleciam em torno de seus corpos juntos.

Ele também se levantou e fez o mesmo caminho que ela. Perguntou se podia se juntar a ela no banho. Em pouco tempo ela tinha as pernas enroladas ao redor dele, as mãos dele a segurando pelas coxas, as unhas dela fincadas nos ombros dele, movimentando-se em sincronia, seus corpos encaixados como se tivessem sido moldados um para o outro, gemidos caindo dos seus lábios e a água quente deixando vergões vermelhos nas peles já tão quentes.

Mais tarde, eles tomarem juntos o café da manhã. Compartilhavam o gosto de iniciar a manhã com uma xícara de café preto forte. Remy preparou ovos mexidos e torrada exatamente como ela gostava, usando apenas samba-canção e avental. Vampira riu dele, mas nada parecia afetar sua confiança, até porque ela claramente apreciou a vista. Não precisar refutar sua atração por ele era reconfortante, assim como o era poder consumá-la.

Eles se deram a manhã de folga e maratonaram a última temporada de uma das séries pela qual tinham paixão em comum. Mais tarde pediram o almoço e se esparramaram no sofá novamente.

A normalidade se mostrou viciante em suas trivialidades. Fez com que Gambit se questionasse se não era o que realmente desejava: passar dias e noites tranquilas com quem se veria passando o resto da vida e acordar ao seu lado ao invés de arriscar a pele em roubos ou mesmo como X-Men. Não sabia se Vampira compartilhava do sentimento, mas acordar ao lado dela pareceu uma fantasia inebriante na qual ele poderia permanecer pelo resto da vida. Olhou para ela nos seus braços e compreendeu que a inquietação que costumava sentir estava silenciosa – se seria efêmero não importava. Os questionamentos que o perseguiam haviam desaparecido. Talvez sua ânsia por adrenalina não passasse de uma forma de compensar algo que não sabia querer até encontrá-lo.

Em breve, eles teriam de voltar a colocar os pés no chão, mas por ora suas preocupações estavam esquecidas. Ele se deleitou com a ideia de fugir, deixar tudo para trás. Ideia tão louca e irreal, mas que não o impediu de sussurrar no ouvido dela: "Foge comigo."

Ela abriu um sorriso, um oximoro de euforia e melancolia, como se uma enxurrada de possibilidades cruzasse seus pensamentos mais rápido do que ela conseguia processar. Seus olhos pareciam tentar decidir o quanto daquela proposta era gracejo e quanto era verdadeiro. Tarefa intrincada, pois tampouco ele sabia.

Apesar dos sentimentos inquestionáveis que o cobriam, no fundo, ele não sabia se seria capaz de começar do zero. Seu maior medo era descobrir não haver escapatória de quem ele era, de quem havia sido moldado para ser. Com esforço, talvez pudesse se dar a oportunidade de tentar descobrir quem poderia ser, com a ajuda dela, se tornar o herói que ela via nele e compensar seus erros. Era um caminho longo que ele estava disposto a percorrer se ela estivesse ao seu lado. Quanto mais cogitava e brincava com aquela ideia, mais se convencia de que talvez não fosse impossível. Havia apenas uma certeza da qual ele não abriria mão: ele não a deixaria novamente.

"Eu pensei em te ligar umas mil vezes" ela murmurou de repente, forçando-o a deixar seu devaneio. Ele estava com o braço envolto nela e da posição onde estava não conseguia ver seu rosto; sua voz, entretanto, era triste. "Eu não sabia o que dizer."

Ele abanou a cabeça, e ela sentiu o movimento. Ele se sentira da mesma forma, portanto, não havia ressentimento. Fizeram a mesma escolha achando que seria o melhor. Mesmo que ter tentado se convencer de que não precisavam um do outro não havia funcionado.

Antes que o sentimento de arrependimento e remorso pudesse abatê-los, ela laçou os braços ao redor do pescoço dele sem hesitar; impulsionando o corpo, colocou uma perna de cada lado dele. As mãos dele escorregaram pelas coxas dela, por baixo da camisa emprestada dele, que era tudo o que ela usava, fazendo arrepiar toda a parte onde tocava.


A ideia ingênua de simplesmente permanecer ali longe do mundo foi obliterada quando o celular de Vampira tocou. Ela ouviu o zumbido insistente vindo do quarto e foi buscá-lo sem vontade. Ao apanhar o aparelho, constatou que aquela era a terceira tentativa de Wolverine de entrar em contado.

Ela fez uma careta e retornou a ligação. Posicionou o aparelho longe do ouvido, se preparando para a bronca. Wolverine indagou sobre o andamento das investigações em um tom contrariado mas controlado. Devia estar em um lugar cheio de gente; ao menos era o que o burburinho do lado dele indicava. Vampira lhe deu a má notícia de que até aquele momento não haviam conseguido encontrar nenhuma pista a respeito de por onde Dentes-de-Sabre havia andado. Contudo, em torno de uma hora mais tarde, Fence entrou em contato. Ele havia encontrado rastros de Dentes-de-Sabre. Quanto à Amanda Mueller, informou que precisaria de mais um dia, no mínimo, mas que não havia esgotado as suas fontes.

Fence enviou as localizações de dois lugares por onde o vilão havia passado e vídeos curtos de câmeras de segurança que provavam sua presença. O cretino era furtivo e sabia se manter longe das câmeras, porém não era infalível.

"Um desses lugares" Gambit disse, observando os endereços "não é muito longe daqui."

"Vamos começar por ele então."

"Não está se esquecendo de nada, não, chérie?" ele perguntou, segurando o riso.

"Aff" ela havia deixado sua mochila na casa dos LeBeau. É claro que não cogitou passar a noite em outro lugar. "É tudo culpa sua, Cajun" disse, com um beicinho, que ele logo tratou de apagar.

"Posso ir buscar roupas novas pra você."

Ela cruzou os braços. "Não, obrigada, rato de pântano."

Ele fez sua melhor cara de ofendido. "Por que não?"

"Não quero nem imaginar que tipo de lingerie você arranjaria."

"Eu não estava pensando nisso antes de você mencionar" a expressão lasciva no rosto dele mostrava que agora ele estava pensando.

No fim, ele saiu para buscar a mochila. Voltou meia hora mais tarde, de moto. Ela se vestiu e pulou na garupa. Dez minutos mais tarde, adentravam um bar de aparência desleixada, que, embora naquele momento estivesse relativamente vazio, à noite certamente estaria amarrotado de figuras duvidosas para combinar com as que já estavam ali.

Assim que pisou dentro do lugar, Vampira ouviu um assobio e expressões de baixo calão. Ela se voltou rapidamente na direção de onde havia vindo, para uma mesa com três homens que claramente haviam bebido mais que o suficiente. Fez menção de ir na direção deles, mas Gambit a deteve ao segurar o seu braço.

"Não vale a pena."

Ela respirou fundo e desfez os punhos. "Eles bem que mereciam uma sova bem dada."

"Oui, mas não agora. Estamos aqui por outro motivo."

Ela titubeou, mas enfim concordou. Viu que a mandíbula de Gambit estava rígida. Ele também estava furioso, entretanto soube manter o controle, como se tivesse entrado em modo profissional. Ela deduziu que ele estava certo. Tinham de evitar chamar a atenção. Seria prudente fazer o que os havia trazido até ali e ir embora o mais breve possível.

Aproximaram-se do balcão e perguntaram por Dentes-de-Sabre.

"Se desejam qualquer informação" disse o homem atrás do balcão, "precisam ser clientes."

"Duas cervejas" Gambit pediu, deitando uma nota em cima do balcão. Ela valia muito mais que duas cervejas.

O homem colocou o dinheiro no bolso, os serviu e então passou a colaborar.

"Ele esteve aqui há umas três noites" disse olhando para a foto de Dentes-de-Sabre. "Não ficou muito tempo. Bebeu e depois foi embora."

"Ele falou com alguém?" Vampira perguntou.

"Não. Só botou medo nuns caras que tiveram que repensar se eram tão barras-pesadas assim" disse com um sorriso sádico.

Antes de sair, Vampira pediu mais uma bebida. Um pretexto para relar na pele exposta do pulso do homem. Ele não entendeu por que se sentiu desiquilibrar por um instante e deixou para lá.

"Truque legal, chère" Gambit disse, assim que voltaram para a rua.

"Você é muito perceptivo" ela disse com um sorriso vaidoso.

"Isso e muito mais" disse acompanhado de uma piscadela.

"A informação procede" ela disse, rindo de leve. "Dentes-de-Sabre não falou mesmo com ninguém. Será que levou um bolo?"

Ele concordou, pensativo. "Peut-être. Não teria por que ele se expor dessa forma."

No fim, havia sido um beco sem saída.

"Qual é o próximo lugar?" ela perguntou.

Gambit checou o celular. "Uma área não residencial, a quase quinze quilômetros daqui."

Subiram na moto, determinados. O segundo local era um galpão abandonado em meio a outros galpões abandonados.

"Bem a cara dele" Vampira comentou desanimada, encarando Gambit, antes de adentrarem o lugar. Ela olhou ao redor, desapontada, as mãos nos quadris. "O que será que ele veio fazer aqui?"

Não havia nada ali além de sujeira e alguns caixotes caindo aos pedaços. Gambit chutou um deles, que se despedaçou. O teto, cheio de buracos, era alto. A parede oposta à entrada tinha uma série de aberturas retangulares na parte superior, que outrora eram janelas, mas que não tinham mais vidro. Ainda restavam esparsos estilhaços de ambos os lados.

"Talvez veio se encontrar com alguém" Gambit sugeriu enquanto caminhava ao redor à procura de vestígios de que mais alguém esteve ali recentemente. Procurou por alguém que pudesse estar em cativeiro, por vestígios de sangue e violência, mas não encontrou nada. "Aquele desgraçado" ele murmurou, raivoso. "Está vendo aqui?" perguntou ao se agachar quando Vampira se aproximou, apontando para o chão. Havia pegadas de Destes-de-Sabre na poeira que não levavam a lugar algum. "Ou andou de um lado para o outro, impaciente, ou ele fez isso para despistar."

"Despistar quem será?" mas a pergunta ficou no ar.

Gambit ficou em pé, virou o rosto para Vampira e fez não com a cabeça. Ela soltou um suspiro alto e longo antes de tirar o celular do bolso e informar Wolverine o que haviam encontrado, ou melhor, o que não haviam encontrado. Afoito, Wolverine mandou que continuassem procurando e desligou.

"É impressão minha" Gambit disse "ou Wolverine está agindo estranho até mesmo pros próprios padrões?"

Vampira encolheu os ombros. Não era tão estranho assim; Wolverine se tornava imprevisível em missões como aquela. "O que fazemos agora, Remy?"

Ele demorou para responder, parecendo extremamente desanimado. "Fence vai continuar procurando. Se ele não encontrar mais nada, nós voltamos àquele bar, descobrimos quem esteve lá na mesma noite que Dentes-de-Sabre... eu não sei, precisamos planejar com calma."

"A gente pode tentar descobrir quem é dono deste lugar."

"Ótima ideia, Vampira" ele disse, sorrindo.

De volta à moto, Vampira hesitou antes de subir. "Pra onde vamos?"

Gambit deu de ombros, notando que ela hesitava. "Alguma sugestão?"

"Acho que a gente deveria investigar os hospitais na sua lista."

Ele soltou um suspiro alto e cansado. "É melhor nos focarmos em encontrar Destes-de-Sabre primeiro, depois–"

Ela não o deixou terminar. Deitou as mãos no rosto dele. Suas palmas, não luvas. Sentiu a pele quente dele e a barba que crescia sob os dedos. Ela sabia que ele estava com medo de não encontrar nada. "Fugir não combina com você, Remy."

Ele desviou o olhar. "Se não encontrarmos nada..." deixou a voz morrer.

"Daí vamos procurar em todos os hospitais desse país."

Ele não conseguiu não rir da afirmação hiperbólica e impossível; ainda assim, novamente, ela fazia parecer factível.

Vampira observou a tela do celular dele, analisado a curta lista de hospitais que Gambit havia juntado. Oito haviam sido riscados; faltavam apenas mais três. "Como você escolheu a ordem dessa lista?"

"Comecei pelos três maiores. Os outros estão em ordem aleatória."

Vampira escolheu o último e checou a localização. "Este fica a quinze minutos daqui" ela disse, encolhendo os ombros levemente. Ele assentiu.


"Como fazemos isso?" Vampira perguntou assim que chegaram ao hospital.

"O que você sugere?"

Ela lhe lançou um olhar suspeito, de esguelha. "Está me testando, Cajun?"

Ele fez cara de inocente. "Vai ver que a ideia de que você seria uma ótima ladra não é tão louca assim."

"Desafio aceito" e seu tom de voz era provocador e intimidador. Ela pensou por uns instantes. "A gente pode entrar e perguntar."

Ele gargalhou enquanto a puxava para um abraço. "Você seria uma péssima ladra."

Ela não se abalou. "Fique sabendo que eu posso conseguir qualquer informação que eu quiser."

"Aposto cem pila que você não consegue."

Ela fez cara de ofendida, embora estivesse feliz em notar que ele havia relaxado e não tentava mais mascarar o nervosismo com movimentos forçosamente relaxados.

"Prefiro apostar outra coisa" ela ficou na ponta dos pés e sussurrou no ouvido dele.

"Chère..." ele disse boquiaberto, sem tentar esconder o tom de excitação. "Apostado" agora havia um sorriso malicioso no rosto dele. "Apostadíssimo."


Gambit ficou esperando na moto. Dez minutos depois, Vampira retornava de cabeça baixa e um biquinho emburrado. "Você ganhou, Cajun."

Ela havia conseguido roçar a pele de três pessoas diferentes até perceber que não conseguiria a informação que queria, pois nenhum dos funcionados guardava aquele tipo de informação na cabeça.

Ele deitou um braço consolador no ombro dela. "Vi de longe essa falha no seu plano, chère."

"E por que não me disse nada?" ele não respondeu, mas a expressão inabalável no rosto era o suficiente. Ela cruzou os braços, agora não tão irritada com o fracasso quanto um minuto atrás. "Você queria que eu fracassasse."

"A sua aposta foi alta demais, mon coeur."

Ela lhe olhou, contrariada. "Sua vez, Cajun."

"Como Bonnie e Clyde" ele sussurrou ao pé do ouvido dela, que fez uma careta de reprovação.

"Sem a parte de morrer metralhados."

"Estou me referindo à parte divertida."

"Como você consegue fazer qualquer comentário soar sujo?" ela perguntou retoricamente, segurando o sorriso.

Ele colocou o capacete e subiu na moto. "Eu vou voltar mais tarde. Mais um erro de amador. Você não planejou."

Vampira revirou os olhos, só de pirraça, e subiu na garupa.


Eram duas da manhã enquanto Vampira esperava na moto na rua atrás do hospital. Para a sua surpresa, Gambit voltou menos de vinte minutos mais tarde.

Ela sorriu, com um comentário debochado na ponta da língua, mas parou quando viu o rosto dele, lívido e cheio de confusão.

"O que foi que você encontrou, Remy?"

"Nada" seus olhos perdidos demoraram para se focar nela. "Eu não encontrei nada e é justamente esse o problema. Os arquivos do mês e do ano em que nasci sumiram. Olhei dois anos à frente, dois atrás e estava tudo intacto. Quem roubou aqueles arquivos queria esconder alguma informação sobre um bebê que nasceu aqui há vinte e um anos, no mês de agosto."

"Essex?" ela perguntou estremecendo.

Gambit negou com um chacoalhão de cabeça. "Foi um trabalho limpo, profissional. Os arquivos não foram digitalizados, o que significa que ninguém sequer se deu conta do sumiço. E a data..." ele não terminou, passou os dedos por entre os cabelos, nervosamente.

A data dos arquivos roubados batia perfeitamente com a data de aniversário dele, a data que Jean-Luc alegava que ele havia nascido. Até então Remy acreditava que fosse inventada, talvez tivesse alguns meses a mais ou a menos. Agora tinha certeza de que Jean-Luc sabia que a data do seu nascimento procedia.

Ele resmungou de novo sobre a data de seu aniversário e Vampira compreendeu. "Deixa que eu piloto" disse, notando que ele tremia.

De volta a casa, Remy gritou por seu pai.

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Glossário:

Peut-être – talvez