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Gambit galgou as escadas que levavam ao andar superior da casa dos LeBeau pulando de três em três degraus, sentindo borbulhar um furor que nunca antes achou que carregasse, mas que agora poderia ter o poder de dominá-lo.

Era como se a traição tivesse um gosto real amargo e ele pudesse senti-lo na língua; e então se transformava em algo mais e se espalhava pelas veias e tornava seu sangue venenoso. Se não tirasse tudo a limpo naquela noite, sentia que poderia explodir. Ele temia isso, pois seus poderes podiam tornar um rompante de fúria literal.

Ele chamou por Jean-Luc aos berros e abriu a porta do quarto do homem com um empurrão. Encontrou o cômodo vazio. Vampira, que o havia seguido escada acima, continuava a segui-lo, porém, sem dizer palavra e mantendo a distância. Não sabia como ajudá-lo e esse sentimento a fazia se sentir impotente. Ela havia percorrido um longo e tortuoso caminho rumo a tomar as rédeas de sua vida. Assistir a Remy preso naquela espiral de desespero era como voltar aos seus dias mais sombrios, a noites perturbadas, à solidão.

"Jean-Luc!" ele bradou mais uma vez do fundo dos pulmões.

Desta vez uma porta se abriu e Mattie saiu do escuro do seu quarto para o corredor iluminado. Vestia camisola e no rosto havia uma expressão de assombro e surpresa, que se misturava com a indignação de ter sido despertada por berros.

"Que estardalhaço é esse, moleque?" ela perguntou usando o tom de voz que no passado teria feito o Remy de oito anos baixar a cabeça e se desculpar com um 'sim, senhora'. "Por acaso sabe que horas são?"

Embora não fosse mais a criança em que Tante botaria medo, o respeito que sentia por ela fez Remy baixar o tom. Estava no escuro sobre o quanto Tante Mattie poderia saber sobre suas origens e tentou não pensar nisso por ora. Acusá-la não levaria a uma solução, algo que o fez perceber que tampouco o mesmo funcionaria com Jean-Luc. Uma das muitas lições que aprendera com o pai adotivo era que abordar uma situação tensa com os dois pés na porta nunca funcionava, muito menos se buscasse lucros em longo prazo, fossem tais lucros materiais ou de relacionamento. A abordagem mais inteligente era se mostrar diplomático.

Foi a injeção de realidade que ele precisava para trazê-lo de volta ao chão. Sentiu a erupção dentro de si amainar. "Onde está o Jean-Luc, Tante?"

A mulher colocou as mãos nos quadris largos e fez uma careta de desgosto. "O seu pai deve estar no escritório, trabalhando até tarde."

Sem dizer nada, Gambit girou nos calcanhares e desceu as escadas, esforçando-se para ter calma, embora a pressa o impelisse.

"O que aconteceu?" Mattie perguntou para Vampira, que simplesmente deu de ombros e baixou os olhos. Mattie não era nem um pouco ingênua, Vampira claramente sabia de algo, mas Mattie não a pressionou a dizer nada. Na verdade, apreciou a lealdade da garota. Ofereceu a ela um sorriso de respeito antes de voltar para o seu quarto. O que quer que estivesse acontecendo poderia esperar até de manhã, ela pensou, e se não pudesse esperar ela seria acordada mesmo, então era melhor voltar e dormir por mais algumas horas.

Vampira desceu as escadas e parou aos pés dela. Com uma das mãos ainda no corrimão, viu Gambit chegar à porta no fim do longo corredor e ela ser aberta antes que ele pudesse bater.

"Precisamos conversar, Jean-Luc" ele tentou dizer sem demonstrar emoção, mas o rebuliço de sentimentos o traiu, e mesmo que não fosse o caso, os seus olhos teriam se encarregado desse papel. Ainda sentia que queria confrontar Jean-Luc a plenos pulmões, mas conseguiu se controlar.

"O que é, filho?

Gambit encarou o homem nos olhos e inesperadamente sentiu a garganta fechar. Achou que seria fácil exigir respostas, mas agora que se encontrava frente a frente com o pai adotivo, não sabia como dar o ponta pé inicial naquela conversa. Havia também a possibilidade, mesmo que ínfima, de Jean-Luc não ter sido o responsável pelo sumiço dos seus registros de nascimento.

Ele respirou fundo e adentrou o escritório. Quando a porta foi fechada ele sentiu como se o ar tivesse engrossado, tornando difícil respirar. Ele sabia que não existia forma mais apropriada de começar a não ser sendo direto, e mesmo assim ele foi contra a própria razão e optou por andar em círculos. "Fiz uma descoberta... interessante esta noite. Aparentemente não existem registros do meu nascimento."

Ele se calou, mas conseguiu erguer os olhos para encarar o pai. Não sabia ao certo que resposta esperar; talvez Jean-Luc se fizesse de desentendido e fingisse não saber do que ele estava falando, talvez negasse, talvez tentasse se justificar. Contudo, o que Remy não esperava era que o seu rosto, antes uma página em branco, repentinamente se tornasse frágil tampouco o olhar de culpa com o qual o pai o olhou.

Dando as costas para o filho, Jean-Luc caminhou até a bandeja de bebidas, serviu-se uma dose dupla de whisky e entornou a bebida com rapidez suficiente para atordoar. Encheu mais um copo e caminhou novamente para mais perto do filho, que estava parado em pé no meio do escritório; recusara-se a se sentar mesmo após Jean-Luc ter gesticulado em direção ao sofá.

"Você roubou os registros" Remy disse entredentes, com a pergunta se tornando uma afirmação. A mandíbula trincada a ponto de fazer os dentes latejarem.

Jean-Luc ergueu os olhos e segurou o olhar do filho bravamente. Não negou, não disse nada. Permaneceu em silêncio enfurecedor.

"Por quê, Jean-Luc? O que foi que fez você querer esconder as minhas origens de mim?" ele controlava a voz ao extremo mesmo querendo esbravejar. "O que você sabe?"

Jean-Luc engoliu em seco, então pareceu lembrar que segurava um copo e novamente entornou a bebida rapidamente. "Esperei ter essa conversa com você muito antes, filho" ele disse, finalmente, não mais conseguindo lhe olhar nos olhos. Pareceu envelhecer uma década em um instante. Saber que o dia que teriam aquela conversa chegaria não significava que ele estivesse pronto. Caminhou até o sofá e se jogou nele, afundando derrotado. "É complicado."

Remy bufou impaciente. "Não me diga" ele quase gritou, mas logo conseguiu se controlar novamente. Caminhou e se sentou ao lado do pai. "Eu preciso de respostas, Jean-Luc. Quem são os meus pais?"

Jean-Luc olhou para o filho de soslaio e abanou a cabeça quase imperceptivelmente. Por um instante, Remy achou que o pai não lhe daria qualquer resposta, mas então lágrimas brilharam nos seus olhos e sua expressão se suavizou em saudosa tristeza. "Ela era minha irmã" ele murmurou.

Por um momento Remy piscou, confuso, até finalmente entender. "Irmã?" ele ecoou, tentando se lembrar de qualquer alusão a uma suposta irmã de Jean-Luc. Não, ele nunca havia se referido a irmãos, tanto que Remy acreditava que Jean-Luc fosse filho único.

Pareceu para ele inacreditável nunca ter ouvido falar de uma irmã em tantos anos até se dar conta de que a falecida esposa de Jean-Luc também nunca era mencionada, também não havia retratos dela pela casa ou quaisquer objetos que remetessem a ela.

Jean-Luc voltou os olhos ainda úmidos para o filho enquanto a voz estava embargada. "Não foi coincidência eu ter adotado você."

Naquele momento, o significado daquelas palavras não atingiu Remy por completo; apenas mais tarde ele perceberia o seu peso. Compreenderia que era um LeBeau, afinal de contas. Não um garoto qualquer retirado das ruas, mas parte da família por laços de sangue.

"A sua mãe não concordava com o nosso estilo de vida" Jean-Luc começou a dizer. Fez então uma pausa breve antes de desandar a despejar informações sobre o filho. "Ela menosprezava a nossa família, renegou nosso nome ao fugir" notando o olhar confuso do filho, ele acrescentou: "Acho melhor eu começar do início, não é? Casar você e a filha do Boudreaux não foi a nossa primeira tentativa em unificar os Clãs" então pareceu acrescentar para si mesmo: "Uma primeira tentativa fracassada deveria ter sido um aviso de que a segunda vez também estava fadada a dar errado. Assim como você fugiu para evitar um casamento forçado, sua mãe havia feito o mesmo antes de você" ele quase se permitiu um sorrisinho antes de prosseguir. "Há mais de vinte anos, alguém teve a 'brilhante' ideia de unificar os Clãs por meio de matrimônio entre Ladrão e Assassino. Nem lembro ao certo qual lado teve a ideia primeiro, mas, de qualquer forma, houve um acordo. Foi arranjado o casamento entre minha irmã e o irmão mais novo do Marius. Mas é claro que ela recusou. Havia passado anos fora estudando. Havia retornado há poucos meses quando foi informada de que teria de se casar pelo bem dos negócios. Ela ficou furiosa, alegou que havia sido extirpada do direito de opinar. Eu tentei convencê-la de que seria o melhor. É claro que eu estava errado e, anos depois, cometeria esse erro novamente com você.

"Ela tentou nos fazer mudar de ideia, mas seu avô estava irredutível. Alegou que havia feito muitos sacrifícios na juventude e que esperava o mesmo dos filhos" Jean-Luc fez uma pausa silenciosa. Remy pôde imaginar o que passava por sua cabeça. Sabia que o pai de Jean-Luc, Jacques LeBeau, havia falecido muito antes de seu nascimento.

De repente, Jean-Luc voltou a falar. "Ela então amaldiçoou nossas maneiras retrógradas e fugiu pouco tempo depois, sem deixar vestígios. Embora desaprovasse, ela havia sido criada por ladrões, havia passado por tudo que eu e você passamos, os mesmos testes, os mesmos treinamentos. Ela era muito rápida e furtiva. Fiquei sem ter notícias suas por anos. O meu palpite era que ela teria fugido para outro estado ou até mesmo para outro país. Só sei que a última coisa que eu esperava era encontrá-la aqui na nossa cidade novamente. Não sei se ela fugiu por um tempo e regressou quando acreditou que não a procuraríamos mais ou se sequer havia partido e apenas se mantido incógnita.

"Um dia, vinte e um anos atrás, recebi um telefonema. Entraram em contato de um hospital. Sua mãe havia dado à luz, mas... foi difícil, ela sabia que não sobreviveria. Ela usava um nome falso, mas era esperta e arranjou um jeito de eu saber que era ela. Larguei tudo e corri para o hospital... não cheguei a tempo. A enfermeira me disse que ela havia implorado para que eu cuidasse do bebezinho dela. Fiz o reconhecimento do seu corpo, mas..." uma sombra passou pelos seus olhos. Mesmo duas décadas mais tarde, podia-se notar o quanto doía; seus olhos divagavam. "Não tive como provar meu parentesco com você e, na falta, de qualquer parente, você ficou retido no hospital por alguns dias. É claro que foi melhor assim já que eu tive que esconder a morte de sua mãe. A enterrei sem que ninguém soubesse."

Remy lançou um olhar de estupefação para o pai. "Quer dizer que ninguém soube da morte dela ou da minha existência? Nem a Tante ou o Henri?"

"Non. Ninguém mais sabe além de mim. O único segredo que Mattie nunca soube. Enquanto o Henri ainda era muito jovem para compreender. Foi um fardo que carreguei sozinho."

Remy fechou os olhos e se esforçou para se concentrar. Eram tantas informações e ainda havia tanto que ele não compreendia, tantas perguntas que gostaria de fazer. Apesar de tudo, limitou-se a dizer: "Eu não entendo..."

Jean-Luc o encarou diretamente nos olhos. "Eles tentariam tomar você de mim, por isso bolei um plano para sequestrá-lo do hospital. Sozinho foi mais difícil, mas fui bem-sucedido. Mais tarde voltei e roubei os seus registros e da sua mãe."

Remy sentiu um arrepio frio subir pelas costas, temendo a resposta para a pergunta que estava prestes a fazer. "Quem tentaria me tomar de você?"

"Os Assassinos" Jean-Luc respondeu e Remy soltou o ar em uma bufada forte ao perceber que havia prendido a respiração. Jean-Luc notou que não era a resposta que o filho esperava, mas não perguntou. "Um herdeiro fazia parte do acordo que sua mãe havia rompido. De acordo com as nossas Leis, com as Leis dos Clãs, não importa quanto tempo tenha se passado, uma dívida é uma dívida. Se os Assassinos descobrissem que você era filho dela, teriam te tomado como compensação, como ressarcimento, para sanar a dívida da fuga de minha irmã. Eu não podia permitir que te levassem e te criassem como um deles, nos odiando, odiando sua própria família."

"Você me criou sem que eu soubesse que fazia parte dessa família" Remy acusou, magoado.

Jean-Luc pareceu sincero ao responder: "Eu nunca quis que você se sentisse assim, Remy. Criei e amei você como meu próprio filho."

"Meus poderes foram apenas um bônus?" ele perguntou, ressentido. Sequer entendia se disse aquilo para magoá-lo ou se realmente queria ouvir a versão do pai.

"Foram" Jean-Luc respondeu sem pestanejar. "Foram úteis, sim, e achei que poderiam mantê-lo seguro."

"E depois de me sequestrar, por que você não cuidou de mim?"

"Mesmo eu tendo conseguido esconder a morte de sua mãe, o que você acha que aconteceria se eu de repente aparecesse com um bebê recém-nascido? Ainda mais com os seus olhos, filho. O que eu diria? Que você era diferente e por isso eu o estava adotando? Haveria suspeitas, investigações, perguntas. Sepultei a minha irmã em segredo, e mesmo assim mentindo sobre a verdadeira causa de sua morte, caso alguém descobrisse a verdade, descobrisse sobre você. Por ano tive medo que a morte de sua mãe viesse à tona mesmo sem ter você comigo. Temi que o meu luto me condenasse. Eu precisava protegê-lo, Remy. Manter a sua existência um segredo. Foi por isso que o deixei em um orfanato de freiras, para que fosse cuidado e ficasse escondido. Você deveria ter permanecido no orfanato por alguns anos até que eu pudesse bolar um plano a longo prazo, plantar sementes, tapar buracos, mas... você fugiu."

"Eu não me lembro."

"Você mal tinha cinco anos quando fugiu. Foi no orfanato que o apelido Le Diable Blanc surgiu. As outras crianças tinham medo de você; algumas das freiras, as mais velhas e supersticiosas também. Um dia você fugiu. Para a sua sorte, fui informado da sua fuga rapidamente e nada de mal aconteceu a você. Eu ainda não tinha conseguido mover todas as peças para poder adotá-lo, então o coloquei com o grupo de garotos órfãos, apenas por mais pouco tempo. Tudo estava quase no lugar. Quase três anos depois, quando você tinha a idade de inicialização no Clã, planejei que você tentasse me roubar, assim eu poderia trazê-lo e dizer que vi potencial em você. Foi este o motivo que dei por tê-lo adotado. Ninguém desconfiou de nada. Nem mesmo o seu irmão. A mãe do Henri havia morrido há pouco tempo, ele se sentia sozinho e adorou você, adorou ter um irmãozinho" ele fez uma pausa e forçou o filho a lhe olhar nos olhos. "Desconheço o nome que sua mãe escolheu para você. Mas Remy era o nome do cantor favorito dela. Ela sonhava em ser mãe. Teria te amado tanto. Eu sinto muito que as coisas tenham tomado esse rumo, meu filho."

Jean-Luc se calou, afundando no sofá parecendo exausto. Remy permitiu o silêncio por um tempo. Todavia, uma última pergunta ainda precisava ser feita. "Quem é o meu pai verdadeiro?"

"Eu não sei" foi sua resposta desapontante. "Esse segredo sua mãe levou para o túmulo."

"Não estava na certidão de nascimento?"

"Não. Eu... eu tentei descobrir, mas não encontrei nada, nem uma pista sobre quem poderia ser o seu pai. Descobri que sua mãe morou sozinha pelos anos que havia sumido" ele se levantou e foi em direção ao cofre que ficava em baixo da sua mesa. Para a surpresa de Remy, Jean-Luc retirou uma chave de dentro, uma chave que abria outro cofre menor, cuja a existência ninguém mais conhecia, guardado em uma gaveta.

Dentro do segundo cofre, havia apenas objetos de valor sentimental. Jean-Luc retirou com cuidado a certidão roubada e a entregou a Remy. Entregou também uma foto de sua mãe.

"Por que não me contou antes, pai?"

Jean-Luc não tinha a resposta. "No começo foi para protegê-lo, depois... você nunca perguntou, nunca mostrou interesse em saber quem eram seus pais verdadeiros. A propósito, por que agora?"

"Ainda não tenho certeza, pai. Mas vou descobrir."

Jean-Luc não compreendeu, mesmo assim assentiu em silêncio. Deixaria o filho digerir todas aquelas informações que tinham o poder de mudar uma vida por completo.

Mesmo sem ainda ter tido tempo de colocar os pensamentos em ordem e entender o que sentia, Remy percebeu que não odiava o pai, sequer sentia rancor por ter escondido a verdade dele. Podia não concordar por completo com seus motivos, mas os compreendia. Ter suportado o peso daquele segredo sozinho por duas décadas havia cobrado um preço alto. Remy desejou que o pai pudesse finalmente se sentir em paz.

Remy deixou o escritório sem dizer mais nada, mas antes trocou com o pai um olhar significativo que conseguiu acalentá-lo. Percorreu o corredor lentamente, os passos cambaleantes como se estivesse bêbado, segurando o documento e a foto nas mãos. Foi ao encontro de Vampira, sentada no primeiro degrau da escada, e se sentou ao lado dela, os ombros caídos e o olhar no conteúdo que tinha em mãos.

"Estava com Jean-Luc, afinal" ele disse, com um sorriso fraco, mostrando a certidão à Vampira.

Ele então lhe contou tudo ali mesmo. Desde o início. Repetir a história e os seus detalhes em voz alta foi terapêutico, ajudou-o a colocar os fatos em perspectiva, a se dar conta de que sua mãe estava morta, que ele nunca a conheceria, que nunca ouviria a sua voz. Sentiu falta do que nunca teve e nunca poderia ter.

Percebeu também Jean-Luc havia falado tão pouco dela. No futuro, Remy pediria para que o pai falasse mais sobre a irmã, sobre quem ela era, sobre seus gostos e preferências. Ele também se deu conta de que não havia sido abandonado por causa de seus olhos mutantes; havia ficado órfão por um capricho da vida. Era uma noção tão consoladora que lhe trouxe lágrimas aos olhos.

Por fim, ele mostrou a foto à Vampira. "Te faz lembrar alguém?"

Com o cenho franzido, Vampira tentou entender, mas a compreensão lhe escapou. Havia uma certa familiaridade que ela não conseguia entender por completo. Ela acabou abanando a cabeça negativamente. Remy se pôs de pé e estendeu a mão para que eles subissem para o quarto dele.

Ele lhe mostrou a outra foto: aquela que pertencia a Essex.

Novamente com as sobrancelhas enrugadas, Vampira colocou as fotos lado a lado e as comparou. Arregalando os olhos, ela encarou o rosto abatido dele. "Sua mãe era a cara da esposa falecida do Essex."

Remy fez que sim com a cabeça. "Notei na mesma hora."

Ele havia passado horas encarando a foto que surrupiara de Essex, tentando entender o porquê daquele monstro tê-la guardado por décadas.

No entanto, agora que via as duas fotos lado a lado, via que a semelhança era apenas superficial. "O formato do nariz e dos lábios, até mesmo a cor dos olhos é diferente..."

"Mesmo assim a semelhança é impressionante."

Ele concordou. "Uma doppelgänger perfeita da esposa de Essex. E o fato de eu não saber a identidade do meu pai legitima ainda mais as minhas suspeitas" então bufou, irritado. "Estou me sentindo numa porra de uma novela mexicana. Isso aqui, Vampira, não prova nada; é circunstancial... e mesmo assim... mesmo assim é mais uma evidência de que o interesse de Essex por mim pode não ser coincidência."

"Não podemos tirar conclusões precipitadas, Remy."

"Eu sei" ele disse ao mesmo tempo que balançava a cabeça veementemente. "É por isso que eu vou descobrir."

Vampira assentiu, os olhos marejados. Deixou as fotos de lado e deslizou as mãos pelo peito e os ombros dele até tê-lo envolvido em um abraço. Gambit não pregaria os olhos naquela noite e os braços dela continuariam a evolvê-lo mesmo no sono.

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Curiosidades:

- Nas HQ's, Jean-Luc de fato roubou/mandou roubar os arquivos referentes ao nascimento do Gambit. Suas motivações nunca foram reveladas (único fato canônico que usei nesse capítulo e a partir daqui).