Disclaimer: Twilight é da Stephenie Meyer! Eu apenas faço seus personagens serem desesperados e emocionados demais.
Alerta de gatilho: cenas descritivas de crise de ansiedade
Um SUPER obrigada à Gabi (hbicullen) e Gabs (spiderpottah), advogadas crepusculetes que muito gentilmente me ajudaram nas questões jurídicas. Sem elas não teria sido possível escrever esse capítulo. Espero que eu tenha feito juz ao que me falaram hahahah
*O Grande Perdedor é um reality show sobre perda de peso (The Biggest Loser), mas aqui obviamente tem outra conotação.
Capítulo 15: O Grande Perdedor
— Merda — Bella murmurou de sorriso travado, virando-se e indo para a área da cantina sem um pio. As amigas estranharam, mas foram atrás.
Sua face estava tão branca e passada como a blusa de seda que ela só havia colocado a mando de Leah "para parecer mais pura que cocaína colombiana". Sua advogada sempre sendo fofa.
— O que houve? — Angela perguntou.
— O advogado novinho é o Riley. O cara do Tinder.
As duas arquejaram.
— Aquele do pau cogumeludo?!
— Shh! Porra, Angie! — Seu sussurro foi uma bronca. Leah fingia uma tosse para disfarçar a risada, mas vendo que Bella tentava homicídio com o olhar, foi obrigada a se recompor.
— Desculpa, parei. Mas tem certeza? É o de azul?
— Aham.
— Não. Aquele é o Andrew Mackenzie, o advogado substituto que eu te falei. O outro teve um piripaque. Você deve tá confundindo, branco é tudo igual.
— É ele sim, só que de barba. Eu dormi com o homem, pelo amor de Deus — explicou com o coração na mão. Enquanto isso, Leah fuçava sua pasta, até sacudir a cabeça.
— Hm... Parece que é ele mesmo. Andrew Riley Biers Mackenzie, o nome completo. É claro que ele não usaria o nome profissional pra fazer pegação em aplicativo. Esperto. Essas coisas só acontecem com você, puta que pariu.
— Esse cara é mais novo que eu, que porra ele tá fazendo aqui? Como é que você não me alertou disso, Leah?!
— Eu lá sabia que o sr. Andrew Mackenzie é o seu ex-contatinho Riley Biers? Você só me mostrou uma foto dele, não ia associar nunca. E aliás, a barba é mesmo a maquiagem do homem, hein?
— Não acredito que isso tá acontecendo. Joguei pedra na cruz? Como é que ele conseguiu estar aqui?
— Aquele advogado que você conheceu na primeira reunião era o avô, Louis Mackenzie. A família tem um escritório de advocacia bem tradicional em Londres. No cartão de visitas de Riley, diz que é especialista em processos trabalhistas.
Bella sentiu uma fraqueza tomar seu corpo, quase um teto preto.
— Ai, meu pai do céu, era essa a premonição, aquela angústia toda… É o meu sonho acontecendo, e nesse eu não fico rica, só pelada e humilhada.
Leah fez careta.
— Ih, sai fora, eu não tô a fim de ver essa bunda branca, não. E humilhados aqui só vão ser aqueles caras. Confia em mim e relaxa.
— Não, você não tá entendendo. E se Riley quiser se vingar pelo pé na bunda que eu dei? Ele vai me destruir.
— Amiga... — Angela falou com toda sua doçura. — Ele meio que está sendo pago pra isso mesmo.
— Angie! — Leah achou ruim, embora pensasse igual. Bella andava de um lado a outro na cafeteria sem se importar com os rostos que viraram para ela, tinha começado a entrar na fase do desespero que só sabia xingar.
— Puta que pariu. Fudeu. Fudeu demais.
— Calma. Vocês só saíram por dois meses, nem era relacionamento de verdade, mal houve drama.
— Mas ele estava todo apaixonadinho, eu que quis parar. Ele pode usar alguma coisa que eu tenha dito? A gente conversou bastante, até.
— Se ele for um profissional ético, não usará nada pessoal e íntimo contra você.
— E se ele não for? — Seus olhos eram duas bolotas de pavor.
— Então eu vou trabalhar dobrado pra provar que ele tem interesses pessoais nesse processo e foi contratado com essa intenção, a gente tira ele da jogada. Você sabe que eu amo um desafio.
— Você não quer embalar e me vender um pouco dessa confiança, não?
— Epa, que isso? Esqueceu tudo que a gente conversou? — Leah falou grosso, antes de pegar nos ombros de Bella firmemente, olhando fundo em seus olhos. — Eles devem achar que estamos por cima e temos controle da situação. Sempre. Cabeça erguida, garota. Isso. Cadê minha guerreira, hein?
— Quase desmaiando, General.
— Shh, parou. Engole o choro e não dá pinta.
Ao verem Edward voltando do banheiro, as três tentaram disfarçar a tensão. Ele veio direto deixar um beijo na testa da namorada, a que era péssima atriz. Percebendo a falta de cor em seu rosto, fez um carinho na bochecha.
— Tá tudo bem?
— Tá, é que… Eu tava aqui lembrando que eles vão apelar e pedir revisão se a decisão for favorável pra mim hoje — inventou. — Só queria que terminasse tudo logo.
— Se isso acontecer, não tem problema. Você vai ganhar, mais ou cedo mais tarde.
— Tá complicado demais. A defesa deles vai apresentar o vídeo das câmeras de segurança do aeroporto, eu te falei, né?
— Falou. Mas fica tranquila, Leah já disse que não tem porque a juíza implicar com isso. Se o aeroporto nem te processou, até usou sua imagem pra fazer piadinha em propaganda pela cidade?
— É, escuta seu namorado — a advogada mandou. — Se acalma, lembra do que combinamos. Nós temos boas provas também. Vai dar bom.
Edward apertava sua mão gelada, e automaticamente, Bella foi se esconder em seu peito. As amigas afastaram-se, dando um espaço para o casal se acalmar. Ele a abraçou por alguns minutos, tentando tirar um pouco o peso dos ombros da namorada com cada círculo das mãos e beijinhos no topo da cabeça. Não foi tão eficiente. A moça tremia.
— Hoje era um bom dia pra você tomar aquele remedinho... — disse ele, afastando-se.
— Não quero ficar dopada, melhor não.
— Quer uma água, então? Eu pego.
— Espera. Preciso te contar uma coisa. — Decidiu falar, pois não conseguiria reter a informação por muito tempo.
— Sim?
— Então, é que… — No momento em que abriu a boca, Riley e uma assistente entraram, indo parar na fila do café a meros 2 metros de distância. Seu coração iria explodir.
— É o quê?
— Ah, é q-que aconteceu uma coincidência infeliz.
— Por que essa cara de quem perdeu meu cachorro na mudança e viu a loira do banheiro na mesma hora?
Bella queria responder, mas estava impossível, pois agora Riley não parava de encará-la. Paralisada, ela só conseguia pensar "não vem cumprimentar, pelo amor de Deus".
Ela era mesmo péssima de mantras. Assim que pensou, o rapaz largou a fila, vindo em sua direção, e junto com ele uma sensação de desmaio. Dessa vez era sério, e ainda tinha Edward pressionando.
— Responde, porra, tá me deixando ansioso.
— É que eu já conheci o advogado deles antes — disse rápido, tentando puxar Edward dali, mas lerdo do jeito que era, ele obviamente não percebeu a manobra, e Riley os alcançou.
— Isabella. — O advogado tinha uma voz aveludada de alguém cujo sangue estava mais perto da Rainha do que longe. Bella só olhou a mão estendida antes de perceber que deveria apertá-la. A dele não tremia, ela invejou. — Como tem andado?
— Oi, Riley. Vou bem. Você? — A fala foi mais seca que uva passa.
— Ótimo. Que coincidência, não? O tribunal é o último lugar que eu imaginaria te encontrar.
— É, Londres é um ovo mesmo.
— Queria ter te encontrado antes nesse ovo. — O advogado sorriu com um brilho no olhar incômodo. Edward só observava, embora tivesse uma pulga atrás da orelha.
Emudecida, Bella suava de nervoso, o estômago embrulhado, e estava prestes a se retirar, quando seu namorado resolveu ajudá-la. Saiu detrás dela, uma mão estendida.
— Oi, ainda não fomos apresentados. Sou Edward Cullen.
— Meu namorado. — Ela adicionou rapidamente. O dito-cujo colou nela com um braço forte na sua cintura. Riley sacudiu a mão oferecida, firmemente.
— Estou a par, precisei assistir ao vídeo algumas vezes. Como vai, Edward? Engraçado, você parecia maior no vídeo, mais encorpado.
— Pois é, sorte a minha que nunca pensei em fazer filme de super-herói.
Houve um silêncio constrangedor onde ninguém riu da piadinha, mas Bella não conseguiu segurar a língua.
— Riley. Posso te perguntar uma coisa?
— Claro. Se eu puder responder.
— Seja sincero, você sabia que eu estava envolvida quando aceitou trabalhar pra eles?
— Acredite ou não, foi uma bela coincidência. Eu nem estava na cidade quando isso tudo começou, fiquei sabendo somente anteontem quando meu avô se internou e me passou o caso.
— Você não podia ter negado?
Ele deu uma risada.
— Absolutamente não.
— Amor, vamos andando? — disse Edward quase entre dentes. — Acho que ouvi Leah chamar.
Riley deu espaço quando Edward começou a puxar a namorada.
— Leah Clearwater é uma mente brilhante, você está em boas mãos. Boa sorte... Vão precisar.
Bella fixou seu olhar nele enquanto era levada tentando canalizar todo seu desgosto por aquele tom ameaçador.
— Era isso que você queria me contar? — Edward perguntou baixinho quando já estavam longe, na porta da sala de audiência. A moça respirava fundo tentando se acalmar.
— Uhum.
— Você saiu com esse otário? — Bella nunca tinha visto o namorado com um semblante tão bravo daquela forma, os vincos da testa profundos, as narinas infladas e o tom de voz grave, urgente.
— Nem me lembre disso. Mas foi quando a gente tava separado, só por uns dois meses, menos até.
— Imaginei.
— Desculpa, eu não fazia ideia que ele viria falar comigo, nem sabia que ele tava aqui...
Aquilo o desarmou um pouco, ele até sacudiu a cabeça, relaxando a carranca.
— Não precisa se desculpar. Não tô puto com você, obviamente, é com esse... playboyzinho de merda. Pior que não posso nem mandar se foder, porque sei que com advogado não se mexe. Onde já se viu falar daquele jeito pra pessoa que ele tá sendo pago pra prejudicar? Salafrário. Ele tava querendo te desestabilizar falando aquelas coisas. Mas não deixa, tá? — Suas mãos geladas foram para o rosto dela, acariciando as bochechas. — Por favor. Fica firme.
— Vou tentar. Obrigada. — Ela fechou os olhos quando ele deixou um beijinho na sua testa, mais outros na boca.
— Não é melhor contar pra Leah o que rolou? Talvez ela possa fazer alguma coisa sobre a conduta dele.
— Não, deixa pra lá. Só quero terminar com isso tudo logo.
Sonhar era de graça.
Bella estava ainda atordoada ao sentar-se na sala da audiência após ser chamada pela juíza Genevieve. Algo não estava certo, e ela sentiu isso durante as três horas seguintes.
Além de Edward, suas testemunhas foram Esme e as duas alunas que sentiram-se negligenciadas ao denunciarem os assédios de James Hay ao Conselho da faculdade. Do outro lado, Heidi, a secretária que viu a cor da calcinha de Bella naquele fatídico teste de drogas, parecendo dizer exatamente o que foi mandada.
A irreverente Wanda, funcionária do aeroporto, também foi testemunha trazida pela defesa do Conselho, porém manteve-se neutra, parecendo até simpatizar com Bella.
Leah forneceu todas as provas possíveis, dentre elas a repercussão positiva do vídeo nas redes. Argumentou que Bella teve sua moral questionada e a vida privada invadida, já que tudo aconteceu quando ela não estava representando a faculdade. Além disso, o teste poderia ser considerado irregular — sua cliente não tinha assinado nenhuma autorização para o exame toxicológico, afinal.
Riley Biers — ou sr. Andrew Mackenzie — nem parecia conhecer Isabella, mostrou-se completamente profissional e ético. Mas isso durou apenas três horas e meia, quando todos os pesadelos de Bella se concretizaram com um simples pedido dele à juíza.
Ela viu seu mundo desmoronar em câmera lenta.
A porta da sala abriu com um baque.
Bella foi a primeira a sair, praticamente correndo em direção ao banheiro. Sentado do lado de fora aguardando o fim da audiência, Edward por pouco não teve um troço do coração, mas na mesma hora levantou-se indo atrás dela. Seus sapatos sociais novos patinavam, o pessoal de nariz em pé do fórum não entendeu nada.
— Bella! Desculpa, senhora, com licença. — Ele entrou no toilette feminino sem se importar muito. — Bella?
Encontrou-a debruçada numa privada, como imaginou. Desesperado, Edward só fez o que fazia sempre nesses casos: segurou seu cabelo e acariciou suas costas.
Quando ela terminou tudo que tinha que fazer, ele trancou a porta e a abraçou apertado para que chorasse. O rapaz jamais imaginou que algum dia estaria sentado com seu único terno no chão do banheiro de um fórum londrino, mas isso era só mais uma das muitas aventuras que Isabella o proporcionou desde que se conheceram. Não existia um dia sem graça ao lado dela.
— Vocês perderam o caso? — perguntou após um tempo quando a sentiu mais calma, e ela negou com a cabeça, assoando o nariz. — Ué, então tá chorando de felicidade porque ganharam?
— Nem um nem outro, a juíza adiou o julgamento porque Leah vai precisar analisar a prova nova que Riley trouxe do nada. Eles querem me prejudicar de verdade, eu tô apavorada.
— O que foi que ele trouxe?
Bella desviou a cabeça, respirando fundo, deixando Edward mais apreensivo. Ganhou tempo ajeitando a blusa de seda, dando graças que não havia manchado, e nem a meia-calça preta havia puxado fio.
— Eu não sei nem como te contar isso...
— Ah, não. — Edward gelou. — Eles hackearam seu iCloud, e descobriram que você é uma professora safada?
— Quê?! Não! — Ela olhou incrédula para a cara séria dele dizendo aquilo. Por que ele é assim?
— Merda. A gente não devia ter transado no banheiro da faculdade, eu sabia que ia dar merda mesmo sendo interditado, mas você quando tá ovulando parece tarada, não pode me ver dando mol—
A mão dela foi calar Edward antes que alguém escutasse.
— Cala a boca, cacete, não foi nada disso.
— O que mais pode ser tão horrível, então?
— Lembra do Stefan, marido da Nina Pavlova, o russo que a gente encontrou lá na Grécia?
Ele fez que sim com a cabeça.
— O que parecia o vilão das Panteras.
— Então. Saiu uma notícia hoje que ele foi preso por facilitação de tráfico de drogas. — Os olhos de Edward saltaram, boquiaberto. — Acharam carregamento escondido naquela boate dele, que a gente foi na beira da praia.
— Puta que pariu. Eu falei! Caralho, Isabella! Eu te avisei que tinha alguma coisa muito errada com aquele sujeito. Por que você não me ouve, porra? Não é só você que tem sexto sentido.
— Eu sei, não precisa jogar na minha cara. De todas as suas cismas, essa era a última que eu queria que fosse verdade. Mas sim, você tinha razão... O Riley só estava esperando chegar esse jornal da Grécia, levou isso e cópias das fotos onde Stefan aparece com a gente lá no Parthenon e na boate.
— Mas que loucura, era só o que faltava, você ser acusada de associação ao tráfico por causa de umas fotos.
— Não é bem assim. Eles querem usar como prova de que eu não seria uma pessoa confiável por ter ligações com esse tipo de gente. Tudo pra justificar o maldito exame e a desconfiança sobre meu comportamento.
— E o que Leah disse sobre tudo isso?
— Não fiquei pra ouvir, ela tá lá falando com eles e com a juíza. Suspenderam a audiência, agora só voltamos em duas semanas... — Ela soltou o ar espremido. — Meu Deus, mais dias sem dormir, eu não vou aguentar, Edward.
— Vai sim. Você é forte pra caralho, e vamos confiar na sua advogada, que é uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço depois de você.
Ela sorriu atrás das lágrimas ameaçando voltar a cair, e acariciou a bochecha dele em agradecimento por ser tão fofo.
— Eu não sei se eles vão te envolver nisso também. Me desculpa. Fui muito trouxa de confiar neles. Desculpa por ter te levado pra boate naquele dia, eu que insisti...
— Tudo bem, deixa isso pra lá, não tinha como você saber.
Uma batida na porta os lembrou que não estavam em casa, e ambos saíram juntos, umas três advogadas olhando feio para o casal. "Eu desmaiei, ele veio me ajudar", foi a desculpa que Bella inventou para a fila que havia se formado.
Voltando ao corredor das salas de audiências, logo avistaram o pessoal saindo.
— O que a gente vai fazer agora? — perguntou para sua advogada.
— Agora... A gente vai comer, porque meu estômago está doendo. — Leah parecia tão atordoada e emputecida quanto sua cliente, embora só fosse perceptível para a amiga. A advogada era expert em mascarar emoções. Ao contrário de Edward, que só faltava rosnar para Riley de tanto encarar o homem lá dentro da sala de audiência.
— Comer? — Bella não se contentou. — Leah, por favor, eu não vou ter sossego até a gente resolver isso.
— Vai sim. Sinto muito, mas não tem o que eu possa fazer no momento, preciso pesquisar sobre o caso desse Stefan antes de tomar qualquer decisão estratégica. Se aquieta.
— Não me fala isso, eu vou ter uma síncope esperando.
Leah sabia que ela não desistiria, e estava mesmo com medo da amiga cair dura ali no chão. Já bastava o abacaxi que queriam enfiar no seu rabo. Pensou em alguma coisa rápido, e perguntou:
— Vocês dois não conheciam o Stefan antes de tudo mesmo?
— Não, a gente só teve contato naquele dia da foto. — Bella segurou-se para manter a postura. Espumava de raiva. — É inacreditável que Irina tenha me metido numa roubada dessas. Ela vai ouvir tanto, que absurdo.
— Você tem o telefone dela, né? Então manda uma mensagem perguntando como ela está e se pode te atender ainda hoje. A gente liga de um orelhão, pelo menos não pegam seu número, se estiver sendo grampeado.
E foi o que Bella fez. Ao contrário das outras cem mensagens que trocaram nesses seis meses desde que se reencontraram, dessa vez Irina visualizou na mesma hora, e respondeu que só poderia falar mais tarde.
— Você está bem, querida? — Esme chegou naquela hora, colocando uma mão reconfortante em seu ombro.
— Já estive melhor. Mas obrigada por perguntar.
— Só me responda com sinceridade: você tem algum envolvimento com aquele homem da foto?
— Nenhum. Eu não fazia ideia quem era, eu só conhecia a esposa dele. Foi minha colega de faculdade, eu não via há anos, encontrei por acaso na Grécia. Se eu soubesse, não teria saído com eles nunca.
— Tudo bem. Eu acredito. Já imaginava que eles iriam jogar baixo. Mas não vamos desistir.
Bella assentiu sem energia alguma. Vendo o estado da colega de trabalho, Esme resolveu convidá-la para almoçar, e foi assim que Bella encontrou-se bebendo cerveja num pub ao meio-dia de uma sexta, ela e o resto do grupo que a acompanhou pela manhã.
Relaxar foi bem difícil, a sensação era de estar cometendo uma falta grave por não estar escrevendo algum artigo planejado no seu cronograma, ou obcecando sobre tudo que fez de errado na vida para estar ali hoje.
A única coisa que freou seu surto foi se dar conta que aquelas mulheres lhe rodeavam e davam força. Além de Edward, claro. O rapaz tinha pedido dispensa do trabalho, acordou cedo, se arrumou todo bonitinho de terno e gravata, treinou suas falas — tudo para ajudar a namorada a vencer esse processo.
Bella custava a crer que tinha pessoas tão legais em sua rede de apoio, e parte da sua terapia era fazê-la enxergar isso. Às vezes precisava olhar fora da lente ansiosa que agigantava todas as questões ruins e eclipsava o que ela tinha de bom na vida. Apesar do medo pelo futuro, sentiu-se grata.
Foi Irina quem lhe telefonou de um número desconhecido, enquanto Leah a levava em casa depois de deixar Edward no metrô. Bella só teve permissão para atender quando descobriu que era um celular recém comprado. Não que isso passasse muita segurança a ela nessa bagunça toda.
Sua amiga de faculdade estava irreconhecível na chamada de vídeo. Os olhos azuis inchados, sem maquiagem, os cabelos implorando por um xampu, a voz mais enrouquecida que o normal. Quando Bella contou todo seu drama, a modelo e influencer só faltou ajoelhar, sacudindo a cabeça com cara de choro.
— Não acredito que até você se ferrou com essa história também... Me perdoa, Bella. Eu não estou envolvida nisso, eu nem sabia de nada. Não é como você está pensando, eu juro.
— Como não? Seu marido foi preso, o cara que dorme com você toda noite.
— Dormia. Não estamos mais juntos tem três meses.
— Nina, se você estiver me enrolando...
— Você acha que estou em condição de enrolar, Isabella? Minha vida tá destruída, minha assistente não aguenta mais receber ligações das empresas cancelando meus contratos. Estou falando a verdade. Eu não sabia do envolvimento dele, dos carregamentos na boate, nada. Inclusive Stefan e todos eles confirmaram isso nos depoimentos.
— Ok — ela suspirou, buscando conforto no olhar da amiga no motorista, a chuva batucava no carro. — Minha advogada está ouvindo, só pra você saber. Conta pra gente o que aconteceu, por favor.
— Olha, eu vou te contar tudo, mas promete que não vai contar pra ninguém, nem vazar na imprensa?
— Não me interessa vazar nada da sua vida.
Irina suspirou.
— Stefan teve problemas com a justiça há alguns anos, foi indiciado por sonegação de impostos. Foi quando a gente se separou pela primeira vez. Ele me implorou pra voltar quando tudo se resolveu, e eu voltei, mas avisei que ele precisava andar na linha.
— Não estou interessada no seu histórico amoroso, vá direto ao ponto, por favor.
— Meu ponto é que eu sou muito esperta e sei me virar nesse mundo, mas meus pais me ensinaram a ter dignidade antes de tudo. Eu amo muito esse homem, você sabe.
— Sei…
— Eu não me separaria se não fosse por algo realmente grave. Eu vi que um amigo de infância dele vinha tentando se reaproximar, mas não fazia ideia qual era a profissão do sujeito. Até que descobri, há três meses, quem ele era e o que fazia... E descobri o envolvimento do meu ex-marido. — Ela parou para limpar as lágrimas.
Apesar de tudo, o carinho que Bella tinha pela antiga amiga era grande. Com seu coração mole, sentiu-se até mal vendo a cena.
Também sentiu-se uma grande otária.
— Como você descobriu? — Leah perguntou.
— Achei um celular estranho escondido no banheiro, consegui desbloquear e vi algumas mensagens. Nunca pensei que Stefan seria burro a ponto de botar tudo a perder. Principalmente porque ele sabia que se fizesse qualquer merda, eu cairia fora. E foi o que eu fiz. Saí de casa e deixei ele se ferrar sozinho.
— Foi você quem denunciou? — indagou Bella.
— Não tive coragem. Não por ele, mas pela minha segurança. Tente me entender, eu não sei o quão perigosos são esses caras, e eu não estava a fim de viver reclusa sob proteção…
— Mas isso já estava rolando quando você me levou na boate em dezembro?
— Pelo que ele disse foi recente. Mas com certeza esse amigo já passou por lá antes.
— Ele estava quando eu fui ou não, Irina?
— Gospodi, eu não lembro! Talvez sim. — Bella e Leah se entreolharam preocupadas, Irina chamou sua atenção. — Olha, o que eu puder fazer pra te ajudar, eu faço.
Só havia uma coisa que ela poderia fazer, e antes de se despedirem, Leah a fez prometer estar em Londres no dia 14 de junho para testemunhar a favor de Bella.
— Acreditamos nela? — ela perguntou, suspirando ao guardar o celular. Leah voltava a dirigir.
— Não sei. Talvez. Você conhece melhor, o que acha?
— Acho que foi sincera, mas ao mesmo tempo, eu sinto que Irina joga muito o jogo dessa indústria que ela trabalha, como ela virou mestra em forjar sentimentos pras câmeras… Me senti numa distopia quando estávamos juntas conversando tranquilamente, e ela puxava o celular pra fazer stories pro Instagram, de repente, mudando o tom da água pro vinho. Então não sei.
— Bom. Vou procurar o advogado dela e tirar isso a limpo. Enquanto isso: não se meta mais com subcelebridades festeiras antes de falar comigo, ok?
Bella riu.
— Não estava planejando mesmo.
Sem conseguir trabalhar pelo resto do dia, a professora resolveu desligar a mente faxiando sua salinha de leitura que os gatos tinham bagunçado. Reordenou os livros sozinha até Edward chegar bem tarde da ONG, e ambos caíram exaustos na cama.
O casal só pôde conversar direito no café da manhã do dia seguinte, aproveitando a cesta que Edward encomendou numa cafeteria. Os gatos doidos para roubar uma migalha rondavam o sofá, nem aí para a mãe tentando relaxar com as pernas em cima do namorado.
— Hmm. Que delícia — Bella disse de boca cheia.
— O muffin ou a minha massagem?
— Os dois. Porém mais o muffin. — Na mesma hora, Edward apertou seu pé, e ela gemeu de um jeito que ele adorou. Com um sorriso travesso, repetiu, e Bella gemeu novamente, assustada com a sensação. — Ai, que foi isso?
— Curtiu?
— Eu senti tipo... — divagou, apontando o meio das pernas.
— Um choque no grelinho?
— Grelinho?! — Bella quase cuspiu o chá, e Edward riu com ela, exatamente a reação que queria.
— Gostou da massagem? Aprendi naquele workshop de reflexologia. É um ponto específico conectado ao clitóris. Tava duvidando que existia mesmo, mas que bom que consegui achar em você. — Repetiu o gesto, Bella contorceu-se.
— Foi ótimo, agradeço, mas pode parar, porque assim não consigo me concentrar pra comer.
— Chata.
Apesar de menos tensa que ontem, ela ainda parecia introspectiva demais. Edward estava fazendo de tudo, porém nem o Brooklyn 99 na TV fez ela relaxar de verdade.
— Amor... — chamou ele. — Quer conversar?
— Sobre?
— Ontem. Eu sei que você tá estressada ainda, ficou agitada a noite toda, falou bastante dormindo, tinha tempo que não acontecia.
— Droga, falei?
— Uhum. Vai. Conta. Desopila esse fígado.
A professora bebericou seu chá preto com leite de amêndoas antes de criar coragem, suspirando profundamente.
— É tão difícil ficar em paz quando é um problema que eu criei pra mim mesma. Eu podia ter evitado tudo isso, sabe?
— Ou talvez não. O Stefan seria preso de qualquer jeito, e talvez os caras da faculdade achariam alguma forma de implicar com você por isso.
— Isso não me conforta em nada, Edward. Se não fosse esse processo, nem teriam por que cavar até achar aquelas fotos.
— Quantas vezes eu já te falei que não faz sentido ficar remoendo algo que já tá feito?
— Muitas.
— Então. Bola pra frente, vamos lidar com o que temos nas mãos… Aliás, só por curiosidade: como eles acharam as fotos, hein? Se hackearam mesmo seu iCloud, aí sim temos um problema, e Leah precisa saber.
— Não foi isso, eram as fotos do meu Instagram.
— Mas seu perfil é trancado. Tem algum colega de trabalho lá?
— Só os mais próximos mesmo. Confio neles.
— Será que viram no de Irina?
— Talvez, mas seria tão... — Sua voz morreu ao se tocar de um detalhe, e ela pegou o celular para abrir o aplicativo. Edward viu o problema no rosto pálido dela.
— Que foi?
— Ai. Inferno. Não acredito. — Ela deixou escapar, mas logo que percebeu Edward se aproximando para bisbilhotar, guardou o aparelho.
— Ué?
— Nada. Esquece.
— Como nada? Desembucha logo.
Ela soltou o celular e escondeu o rosto nas mãos, coração voando, sacudindo a cabeça para a própria idiotice.
— É que... eu ainda tinha ele no meu Instagram.
— Ahm?
— Ri-Riley.
— Quem? — Edward perguntou, um segundo antes de suas engrenagens funcionarem. — O advogado filho da puta?! — Bella só confirmou com a cabeça. — E você não bloqueou esse sujeito até hoje?
— Bloqueei agora, lógico.
— Tsc, tsc, tsc... — Edward sacudia a cabeça sem falar nada, pois se falasse o que queria, dormiria no sofá hoje.
Imagina se fosse eu…
— Não me dá sermão, eu já sei que fui burra, tapada, ingênua.
— Falei nada.
— Que saco — bufou, afundando-se no sofá e encarando o teto. — Eu tenho certeza que vou perder esse processo.
— Você se formou em Direito também? Não sabia.
— Não debocha, tô falando sério. Somos só eu e Leah lutando contra uma coisa muito maior do que a gente. E agora com essa história do Stefan, tô com medo de até perder meu emprego.
Amolecido, ele alisou suas canelas sob a manta demonstrando apoio.
— Não entra nessa paranoia, não vai te ajudar em nada ficar pensando nisso agora. A professora Esme tá do seu lado, ela não é a fodona de lá? Até o reitor te apoiou, cara. Confia, o Universo funciona de jeitos estranhos, mas uma hora tudo se ajeita. Tem ordem dentro do caos.
Bella parou de se lamentar para encará-lo.
— Por que você tá falando igual seu instrutor indiano de Yoga?
Ele deu de ombros.
— Vi num vídeo essa frase do caos e ordem. Me fez refletir.
— Desde quando você vê vídeos místicos?
— Não era bem isso. Era uma palestra de um acampamento de Yoga. Aliás, que lugar incrível, amor, fiquei doido.
— Onde?
— Na Califórnia. Santa Barbara. É tipo um retiro espiritual, já até vi que vai ter em julho... — Ele roubou um cookie do prato de guloseimas dela, como quem não quer nada, e mexeu as sobrancelhas sorrindo. — Hein, posso adicionar no nosso plano de viagem?
— Que viagem?
— Como que viagem?
— Ah — ela suspirou. — Poxa. Desculpa, com toda essa confusão até esqueci de conversar sobre isso. Não acho que vai rolar roadtrip do jeito que a gente queria, tô gastando mais do que previ com o processo. Vamos ficar 15 dias em San Francisco, é melhor.
— Sem chances. Eu não vou deixar você desistir desse sonho, até porque é o meu também. Tá tudo encaminhadinho em harmonia pra acontecer. Quando nós dois vamos ter outra folga tão longa assim, ao mesmo tempo? E você precisa descansar a mente. Vai rolar sim, eu te garanto.
— Você quer fazer a viagem pela estrada de carro mesmo?
— Não vamos precisar. — Seu sorriso foi se alargando de forma bem suspeita.
— O que isso significa? — Bella franziu o cenho, desviando-se do gato cinza que tinha vindo lamber chocolate da sua cara. — Não tem nada pra você, Heath, sai. — Edward levantou como se ela tivesse falado com ele. — Ei, volta aqui. Explica direito.
— Não é nada demais… — Ele voltou ao sofá. — Eu tava tentando fazer surpresa, mas já sei que você vai me pentelhar até descobrir, então... Eu consegui alugar um motorhome.
— Como assim? Com que dinheiro? Não diz que pegou da sua poupança, pelo amor de Deus, é pra nossa casinha.
— Não, relaxa. Dei meu jeito.
— Fala.
— Já tá tudo acertado, não se preocupa.
Ela o cutucou com o pé, coisa que ele detestava e o fez agarrá-lo. Bella se remexeu mesmo assim.
— Fala logo, não me deixa mais ansiosa.
— Oh, mulher difícil. Então, é que minha mãe consegu—
— Ah não — ela choramingou interrompendo-o. — Não, amor, deixa sua mãe fora disso, não faz a coitada pagar pelos nossos luxos, isso é totalmente sem noção.
— Que luxo?
— Aluguel de motorhome é caríssimo. Não precisamos disso, um carro já funciona pra uma roadtrip, a gente dorme em barracas pela estrada.
— Até parece que a senhorita é mulher de dormir em barraca, toda fresquinha desse jeito. Ainda mais no verão.
— Nunca acampei, mas eu poderia sim. Sou uma nova mulher, esqueceu?
Ele rolou os olhos, suspirando.
— Posso terminar de explicar? Minha mãe arrumou um desconto com o melhor amigo dela, que é dono de uma companhia de viagens de cobertura nacional. Ela quis dar de presente pra gente, vai pagar a metade. Assim fica tipo um quarto do preço cheio pra gente pagar.
— Poxa... Eu amo a sua mãe, e fico muito grata mesmo por esse gesto, mas eu não quero ficar em dívida com ela.
— É presente, ouviu não? Só aceita a gentileza, Bella, não cria caso.
— Bom. Pelo menos convida ela pra ir com a gente, né.
— Tá doida? Nem fodendo.
— Credo, que jeito de falar da própria mãe. Ela é tão legal, você mesmo disse que ela curtia viajar de carona quando era novinha. Aposto que sabe um monte de canto legal na Califórnia pra gente ir.
— Minha mãe é super legal, ótima companhia mesmo, mas eu quero ter você e o motorhome só pra mim. Como é que eu vou realizar meu sonho de transar sob a luz da lua no meio do mato desse jeito?
— Você só pensa nisso, garoto?! — Bella protestou, boquiaberta.
— A gente já teve essa conversa.
— E você estava errado.
— Errado não, apenas com uma opinião diferente — falando, ele se inclinou para beijar o joelho dela, decidindo no meio da caminho estender os beijinhos até a barriga, levantando a camisa do pijama.
Bella riu das cócegas, mas não se importou quando ele deitou a cabeça em seu ventre, as pernas longas mal cabendo no sofá. Ela largou seu prato vazio na mesinha para fazer cafuné no cabelo dele.
Ficaram ali em silêncio, curtindo os carinhos mútuos por alguns minutos, até que a fábrica de pensar bobagens ligou as máquinas a todo vapor na cabeça do rapaz.
— Mô — ele chamou.
— Eu.
— Por que ainda tinha aquele Riley no seu Instagram?
— Esqueci de tirar, né? Quase não uso aquele troço.
— Mas ele deve ter visto todos os seus posts e stories desse ano.
— E daí?
— Sei lá…
Bella conhecia muito bem aquele tom de voz e as reticências.
— Edward, você tá com ciúmes?
— Eu não — resmungou. Bella começou a rir, sem aguentar. Seu namorado não gostou, e ergueu a cabeça para encará-la. — Que foi, hein?
— É engraçado te ver emburrado com ciuminho. Geralmente só eu que pago esses micos.
— Ah, me deixa… — Calou-se. Um silêncio de dois segundos, logo recomeçando: — Mas, sério, o que é aquele cara?
— Ahm?
Ele fez uma careta.
— Tão… Quadradão. Tanto gel naquela cabeça. E o jeito de falar? "Estou a par". Quem fala assim? Pretensioso do caralho.
— Concordo com tudo, mas não acredito que você tá implicando com um cara que eu saí algumas vezes há um ano e nem lembrava da existência.
— Só estou tentando entender como você ficou interessada.
— Por quê?
— Sou fofoqueiro, dá licença?
Bella prendeu o riso para não perder a moral.
— Eu estava carente e entediada, ele se mostrou interessado primeiro, cortejou, investiu. Não tem mistério.
— Você que terminou?
— Uhum.
Ele voltou a deitar a cabeça na barriga dela. Uma mão alisando a coxa, entrando por dentro do short. Provocando.
— Ainda bem que você deu o pé na bunda dele antes de ficar sério... Senão teria que trair o mané comigo na Grécia. Se bem que a ideia de ser seu amante até que dá um certo tesãozinho—
— Que diabos você tá falando, rapaz? Eu nunca traí, não seria com 30 anos que começaria. Nem colar em prova de escola eu conseguia.
— Não, mas seria uma traição comigo, né?
— E daí?
— É diferente.
— Só porque éramos ex-namorados?
— Isso, e também porque aquele cara é um robozinho que com certeza não dava conta do seu fogo. Eu dou conta e, de quebra, ainda sou irresistível.
De queixo caído, Bella puxou de leve o cabelo dele.
— Você se acha o pirocudo mesmo, né?
— Quem falou isso falou pras amigas e pros gatos foi você, ué. — Ele sorria como o safado presunçoso que era.
— Ridículo demais. Maldita hora que fui abrir a boca.
— Você ama, que eu sei.
— Não confirmo nem nego. — Nem terminou a frase, e Edward já se levantava para atacá-la de beijos. Um monte no pescoço, um longo na boca. Bella sentiu um calor subindo contra sua vontade, era ridículo demais que estivesse excitada com esse papo.
Edward mordiscou seu lábio, se afastando para dizer:
— Você também não nem nega nem confirma que dou conta do seu fogo?
— Nem vou responder, palhaçada.
— Eu sei que é verdade. — Sua mão sem vergonha arrastava pelo interior da coxa de Bella, atiçava o ventre dela. Seu sorriso sacana alargou. — Aí oh, tá toda coradinha. Sei bem o que tá passando nessa cabeça.
— Vai à merda, Edward.
— Se bem que não sei, às vezes acho que você tem mais ainda pra liberar.
— Liberar?
— O fogo desse rabo aí.
— Cala a boca! — ela riu, dando um tapa na bunda dele.
— Tô mentindo?
Bella amava quando ele provocava assim, os arrepios na barriga mesmo depois de tantos anos não negavam. Mas ela sabia brincar também.
Empurrou o namorado, desvencilhou-se para levantar, as roupas todas tortas. Sentia metade da bunda para fora e nem ajeitou, só foi desfilando escada acima. Edward olhou, incrédulo. Com uma barraca do tamanho do Empire State nas calças.
— Tá de sacanagem? Volta aqui — reclamou.
— Tô cheia de coisa pra arrumar no closet. Se quiser, vem me ajudar.
Ele foi correndo atrás dela feito um cachorrinho, e nem ligava. Era doido por essa mulher, faria de um tudo por ela. Até segurar uma escada para ela colocar caixas no alto da prateleira do closet, enquanto esfregava a bunda na cara dele com aquele shortinho. Não literalmente, mas quase.
Ele ia explodir.
— Vai demorar muito?
— Não sei. Pega aqui. — Ela mandou, e ele obedeceu, descendo uma caixa de livros velhos para Bella poder se esticar limpando o local. Empinou-se toda, e agora Edward tinha certeza que era proposital. Decidiu tirar uma casquinha, uma mão subindo pela perna dela, uma mordidinha atrás da coxa. — Ei! Sossega.
— E se eu não quiser? — Edward agora mordia a bunda dela.
— Se eu cair daqui, vou dar na sua cara.
— Dar o quê, exatamente?
Ela olhou para trás, cara de brava, bufando. Edward sentiu o pau pular, e não parou de mordiscar e beijar mesmo sob ameaças. Gostava de viver perigosamente.
— Lembra aquele dia que você brincou sobre ser minha dominatrix? — falou. — Acho que você tá doidinha por isso de verdade, sabia?
— Eu?
— Eu te conheço, Isabella.
— Você tá pedindo, né?
— Eu toparia. Posso ficar de avental aqui, você me mandando limpar o chão, depois me usando feito um boneco. Se eu puder usar disfarce, até topo chamar alguém pra assistir.
— Cala a boca, meu Deus, só fala bobagem.
— Vai dizer que não ia gostar? — Ele meteu a cara bem no meio de sua bunda, lambendo a curvinha que encontrava a coxa, a virilha dela, o nariz provocando onde alcançava. Bella gemeu alto, se segurando na prateleira, o coração voando. Os dedos dele entraram pelo seu short e saíram melados. — Acho que tem alguém aqui concordando comigo… Curte roupa de látex preta ou vermelha, amor?
— Ah não, chega. Se não vai calar por bem… — Bella desceu com pressa a escada, empurrando Edward para deitar no chão do closet, e o rapaz foi. Feliz e sorrindo sem reclamar. Em dois segundos, ela arrancou seu shortinho vermelho, e com os pés ao lado da cabeça do namorado, agachou até encostar a buceta pingando na cara dele. — Me chupa logo e para de falar merda.
Edward quis responder "sim, Senhora", mas não houve tempo. A recebeu com a língua para fora, os olhos brilhando, queimando. Bella fincou os joelhos no chão, uma mão segurando-se na comoda, a outra na parede para não esmagá-lo.
Sentiu a língua quente entrando, lambendo tudo, explorando. Bella fechou os olhos para concentrar-se, porém logo lembrou-se do quanto era divertido assisti-lo fazendo isso e teve que abrir novamente. Ele passou a chupar seu clitóris com a intensidade que ela gostava, sem parar, a ponta da língua vez ou outra provocando onde já estava sensível.
— Que delícia — gemeu alto, fazendo o pau de Edward doer. Bella sentiu como ele se contorcia, e esticou-se para trás, tirando-o da calça para uma punheta meio desengonçada porque não conseguia se concentrar.
As mãos de Edward passeavam pelas suas pernas e bunda, até ela desistir da punheta e voltar a olhá-lo. Ver aquilo era tão intenso, sentiu um arrepio pelo corpo. Aquele rosto lindo que ela amava tanto, agora afundado em sua intimidade. À mercê dela. Talvez o namorado estivesse certo. Talvez usá-lo para seu prazer de vez em quando, sem pudor, sem medo nenhum, seria bom.
Estava se sentindo tão poderosa naquele momento, uma deusa. Era isso que Edward fazia com ela. Sem aguentar, começou a apertar os próprios seios sob a blusa, beliscando os mamilos, levemente ondulando os quadris. Seu namorado amou a cena, gemendo, e se afastando para puxar ar e declarar:
— Puta que pariu, fico doido quando você senta na minha cara. Buceta gostosa do caralho. — Ele mal conseguiu terminar a frase. Bella segurou seu cabelo, esfregando seu sexo no rosto dele.
— Só para quando eu gozar, tá ouvindo? — Uma ordem era uma ordem, e ele não era doido de desobedecer. Ora chupando, ora deixando ser usado por Bella. E ela aproveitou tudo que era possível. Língua, boca, nariz, ela o deixou todo melado. Até a barba que Edward não fez hoje excitava quando arranhava sua pele.
O rapaz ficaria com o cheiro da namorada entranhado por horas, e quase gozou só pensando nisso. Sem aguentar esperar mais para estar dentro dela, empenhou-se para fazê-la gozar logo, misturando dedos e língua. Bella estremeceu sobre ele gemendo alto, suando naquele cubículo fechado.
— Eu te amo. Puta que pariu. Eu te amo — a morena repetia, caída para trás com as costas coladas no pau duro feito pedra sob o moletom. Edward gargalhou, levantou e carregou Bella para continuarem na cama.
A jogou de bruços, colocou a camisinha, e meteu por trás, os quadris batendo na bunda que o atiçou a manhã inteira. Bella empinou-se, ajudando.
— Porra, isso — ela gemeu, sentindo o pau dele arrastando naqueles lugares que havia aprendido direitinho. Até que murmurou, sem forças: — Edward... Só você...
— Ahm?
— Só você dá conta mesmo.
Sem acreditar no que tinha ouvido, ele parou de meter por uns segundos, arfando e apertando os quadris dela, os cabelos espalhados na cama. Tinha uma visão e tanto.
— Então admite?
— Admito, inferno. Admito!
O sorriso dele foi de orelha a orelha, Edward se achou o cara mais foda do mundo naquele momento. E só conseguiu rir quando ouviu a mulher da sua vida com o rosto colado no colchão rindo e o xingando de tudo quanto é nome enquanto rebolava em seu pau feito louca. Era um cara de muita sorte mesmo.
Passar o dia transando, implicando ou desabafando com Edward era uma das delícias da sua vida, e ajudava muito a relaxar. Porém Bella só usufruiu desse bem-estar por pouco tempo.
As duas semanas seguintes continuaram tensas, e ela se distraía trabalhando e organizando mais da viagem no fim do mês.
No dia da nova audiência, tudo correu conforme o esperado. Incluindo o testemunho de Irina, a demora para deliberação, e a péssima notícia que Bella ouviu com o peso de uma manada de elefantes.
— Não acabou ainda — Leah murmurava logo após a juíza ler a decisão que livrou seus ex-chefes de qualquer indenização. — Fica calma, nós vamos recorrer.
— Eu tô calma. Tô calmíssima. — E o pior é que ela estava mesmo. Tinha tomado metade do calmante receitado para viagens de avião, só assim conseguiu dormir e estar razoavelmente decente hoje.
Quem estava do lado de fora do tribunal esperando as duas também demonstrou sua indignação.
— Amor. — Edward foi quem a alcançou primeiro, abraçando-a forte. — Sinto muito. Mas olha só, estou orgulhoso pra caralho de você, tá? Você chegou tão longe, não desista.
— Eu sei. Obrigada. Não sei o que eu faria sem você...
— Bella. — Irina se aproximou, camuflada com enormes óculos escuros. — Poxa, que chatiação. Achei que eu tivesse ajudado... Falei alguma coisa errada?
— Não foi culpa sua, tudo bem.
— Olha, eu não sei se você já conversou sobre o que vão fazer daqui pra frente, mas lembrei do caso de umas modelos da minha antiga agência. Elas se juntaram pra entrar numa ação coletiva contra os donos. Por que não faz isso? Vocês podem ser mais fortes juntas.
— Boa, boa — Leah aquiesceu. — Eu ia propor isso mesmo. E como vai demorar um pouco até a próxima audiência... Podemos reunir mais pessoas. O que acha, Esme?
Esme, Leah e até Irina tomaram a conversa do futuro de Bella para si, enquanto ela sentia suas energias esvaindo, apenas existindo ali em pé. Edward foi o único que reparou seu silêncio, e grudou ao seu lado, apoiando seu corpo com o dele.
— Tá bem? — sussurrou, chegando pertinho dela, beijando sua cabeça.
— Vontade de chorar que não passa.
— Posso fazer alguma coisa pra te ajudar?
— Só de estar aqui já ajuda... — ela suspirou. — Tô com tanta raiva.
— Vamos usar essa raiva como força pra seguir com o novo plano.
— Nem sei como. Nunca me senti tão impotente. Queria sumir.
— A gente vai sumir, já já. Aguenta firme.
Ele não mentiu. Seu desejo se tornaria realidade dias depois.
Não literalmente, é claro.
Passado o aniversário de Edward, eles embarcaram no fim de junho com destino a San Diego, no sul da Califórnia, bem longe de Londres, e chegaram após 11 horas exaustivas de voo.
— Amor. — Edward chamou. Encostada na janela, ela dormia de boca aberta babando no travesseirinho lilás. — Ei, acorda. Chegamos.
Ele a sacudiu levemente, e fez um carinho na bochecha, mas recebeu um tapão feito um mosquito.
— Sai — ela resmungou com a voz enrolada sem abrir os olhos. Bella tinha aguentado bem a ansiedade até a oitava hora de voo, quando desistiu e tomou seu calmante. Apagou logo depois.
— Já mandaram a gente colocar o cinto pra pousar. Acorda.
— Peito e coxa, por fav... — ela não dizia coisa com coisa e não parecia que ia despertar mesmo, então o rapaz repetiu o que já tinha feito uma outra vez, num voo muito mais dramático: afivelou o cinto nela.
Bella foi andando como um zumbi pelo aeroporto enquanto buscavam as malas, quase tropeçou várias vezes, e dormiu o caminho todo no táxi até a quitinete alugada na península de Point Loma, onde ficariam por três dias antes de botar o pé na estrada. Nem se importou em organizar as malas ou checar o estado de limpeza da casa, como sempre fazia, apenas comeu a pizza do delivery e foi direto para a cama.
O efeito do calmante ea letargia da viagem causada pelo fuso horário passou só no amanhecer. Ela acordou sem reconhecer os arredores, dolorida, grogue, morrendo de sede.
Deixou Edward dormindo, e foi beber água, enfim prestando atenção na decoração simples em tons claros e muito aconchegante, bem casa de praia. Foi até a varanda, convidada pela brisa gostosa entrando pela porta
Ao se deparar com um pedaço do mar aberto, o sol nascendo dele, ela sorriu, dando boas-vindas ao verão que tanto sentiu falta. Como era raro sorrir quando estava assim à toa e sozinha, ela se deu conta. A sensação era boa, devia fazer mais vezes.
Bella sabia e sentia que essa seria mais uma experiência única que mudaria sua vida, de alguma forma. Só não sabia como, ainda, mas a ideia já dava um frio na barriga.
— Finalmente, Bela Dorminhoca. — A voz veio se aproximando, interrompendo sua meditação. Ela viu Edward saindo da cama de cueca.
— Não seria Bela Adormecida?
— Minha irmã chamava assim quando criança, nunca consegui falar a forma certa.
— Fofos.
— Bom dia. — Ele a abraçou por trás, beijando sua nuca.
— Bom dia.
— Então, profe. Enfim, férias?
Bella sorriu concordando, explodindo de expectativa pelas aventuras que estavam por vir.
— Enfim, férias.
N/A: Essa viagem vai ser babado... Algum palpite do que vai rolar? QUEM AMOU A VOLTA DELES DÁ UM GRITO NOS COMENTÁRIOS.
Até a próxima em breve, bjsss
