The Debt of Time

Parte Um - A Dívida de Vida

Capítulo Treze: Esse É O Meu Trabalho

"...For the life of me I can not remember
What made us think that we were wise and we'd never compromise
For the life of me I can not believe
We'd ever die for these sins
We were merely freshmen..."
(Freshmen - The Verve Pipe)


Capítulo 13 - Esse É o Meu Trabalho

2 de maio, 1998

Hogwarts Escola de Magia e Bruxaria

O Grande Salão

O Grande Salão estava sendo usado como um centro de tratamento médico temporário. As mesas das casas estavam juntas e as bandeiras coloridas que eram penduradas ao longo do salão foram deixadas de lado. Essas bandeiras que antes simbolizavam a separação das casas, agora simbolizavam a união dos estudantes, professores e adultos na batalha contra Voldemort. Os ilesos estavam amontoados juntos, fornecendo suporte um ao outro, enquanto os feridos estavam todos esperando em torno da mesa principal para serem examinado por Madame Pomfrey e seus ajudantes.

Draco ficou olhando enquanto vigiava os poucos Comensais da Morte capturados, garantindo que suas amarras ainda estavam apertadas e que eles ainda estavam inconscientes e sem varinha. Sem remorso, Malfoy moveu-se para apanhar cada uma de suas varinhas. Se eles fossem a julgamento e fossem inocentados - o que era altamente improvável - eles sempre poderiam comprar novas.

Hermione tratou dos feridos do lado de Luna, Gina e Fleur. Sra Weasley tinha vindo ajudá-las até que a forma de Fred Weasley gritando chegou ao Grande Salão, um profundo sangramento em seu rosto. Enquanto sua pobre mãe empalidecia com sua aparência, Fred parecia de bom humor, contente dizendo a George que ele agora se assemelhava mais a Bill do que seu próprio irmão gêmeo. Outros foram feridos, mas o número de mortos foi significativamente menor do que Hermione tinha assumido, dado o estado do castelo.

O salão inteiro pareceu cair em silêncio quando Harry e Sirius entraram no Grande Salão, e antes que Hermione tivesse chances, Gina correu para o Menino Que Sobreviveu, envolvendo os braços firmemente em volta dele e o apertando como se ele fosse desaparecer se ela o soltasse. Hermione sorriu tristemente para a cena, mas ficou parada nervosamente, apertando as mãos com a visão de Sirius, que imediatamente foi até ela, envolvendo-a em seus braços e respirando um profundo suspiro de alívio.

"O que aconteceu?" Ela sussurrou dentro das mechas negras do cabelo dele.

"Snape está morto," ele respondeu, tentando não deixar que sua agitação emocional mostrasse como ele ainda não entendia muito bem como se sentia sobre a morte de seu inimigo de longa data. Não mais do que um dia atrás, Sirius tinha desejado acabar com a vida do próprio homem, mas vendo como Voldemort encurralou o cara e quase lhe deu como alimento para sua cobra gigante, Sirius não pôde evitar pensar em Lily e se perguntou o que ela teria pensado sobre o fim do seu amigo de infância.

"Como?" Hermione perguntou.

"Nagini," Sirius falou. "Nós entramos depois que Voldemort foi embora," ele explicou. "Nada poderia ser feito," ele balançou a cabeça. "Snape disse que Harry tinha que ver as memórias. Nenhuma dica do que estava rondando a cabeça do idiota todos esses anos," ele debochou e olhou enquanto Hermione franzia as sobrancelhas. "Sim, sim, não fale mal dos mortos," ele assentiu. "Você está bem?" Ele perguntou, colocando um cacho solto atrás da orelha dela.

"Sim," ela concordou. "Estávamos tratando dos feridos. Percy e Neville estão lá fora, buscando os..." mas ela não conseguiu terminar a frase. Sirius só acenou.

"Eu vou com Harry ver as memórias," ele explicou.

"Eu vou também," Hermione se moveu, mas Sirius a segurou.

"Não, fique aqui. Você é útil aqui," ele insistiu. "Remus e Tonks me falaram que você é brilhante com feitiços de cura," ele sorriu orgulhoso. "Como se fosse ser diferente nisso," ele sorriu sarcástico e o sorriso aumentou quando viu Hermione corar com suas palavras. "Nós não devemos demorar. Nada perigoso lá, além do passado, né?" Ele riu suavemente.

"Mantenha um olho nele," Hermione advertiu Sirius, os olhos caindo sobre Harry que já estava se dirigindo para o escritório do Diretor, parando apenas para olhar para trás e esperar Sirius. "Ele tem um mau hábito de tentar salvar a todos e ser um risco a si mesmo," ela olhou para o amigo, na esperança de que Harry não fizesse algo tão tolo.

"Eu vou, amor," Sirius sorriu e beijou a testa dela, antes de seguir o afilhado. Hermione era maravilhosa com feitiços de cura, mas ele sabia disso há muito tempo. A verdade era que Sirius não tinha certeza do que ele e Harry iam encontrar nas memórias de Snape, e se o idiota tivesse incluído algumas certas pessoas, era perigoso que Harry as visse, ainda mais Hermione. Sirius estava acompanhando o jovem bruxo para preservar o passado - ou o futuro, como fosse.

"Senha?" A gárgula de pedra perguntou quando eles se aproximaram.

"Dumbledore," Sirius murmurou e Harry se virou para olhar o padrinho com olhos arregalados. "Não pergunte a mim, filhote," ele balançou a cabeça.

oOoOoOo

Escritório do Diretor

Harry olhou desesperado para o quadro deserto de Dumbledore, diretamente atrás da cadeira do Diretor, e lhe deu as costas. A Penseira de pedra estava no armário onde sempre estivera. Harry carregou-a pra cima da escrivaninha e despejou as lembranças de Snape na grande bacia com a borda cheia de urnas. Um depois do outro, os bruxos mergulharam nas memórias de Severus Snape, ambos se sentindo ansiosos com o que eles iriam testemunhar.

Eles caíram de cabeça em um lugar ensolarado e seus pés encontraram o chão morno. Quando eles se endireitaram, viram que estavam em um parquinho infantil quase deserto. Uma enorme chaminé solitária dominava o horizonte distante. Duas meninas se balançavam para frente e para trás, um menino magricela as observava, de trás de uma moita de arbustos. Seus cabelos negros eram demasiado longos e suas roupas tão díspares que isso até parecia intencional: jeans excessivamente curto, um casaco enxovalhado e tão largo que poderia pertencer a um adulto, uma camisa estranha, com aspecto de bata.

"Esse é...?" Harry perguntou.

"Snape?" Sirius concordou.

Harry se aproximou do garoto. Snape não parecia ter mais de nove ou dez anos, macilento, pequeno, rijo. Havia uma indisfarçável cobiça em seu rosto magro ao espiar a mais jovem das meninas que se balançava mais alto do que a irmã.

"Mãe," Harry murmurou e Sirius franziu a testa, botando uma mão no ombro do menino.

"Lily, não faça isso!" gritava a mais velha.

A garota, porém, soltava o balanço na altura máxima do arco que descrevia e voava no ar, literalmente voava, atirava-se para o céu com uma grande gargalhada e, em vez de cair no asfalto do parquinho, pairava no ar como uma artista de trapézio, permanecendo no alto tempo demais, aterrissando leve demais.

Os homens continuaram vendo as memórias passarem, Sirius se forçando a não olhar Snape interagindo com a jovem Lily. Ele não merecia conhecer Lily. Não depois do que a tinha chamado. Não depois de se juntar a Voldemort. Sirius não conseguia se forçar a reconhecer que essa criança tinha causado tanto mal a uma garota que ele considerava sua família.

"Faz diferença ser nascida trouxa?" Lily perguntou.

Snape hesitou. Seus olhos negros, ansiosos à sombra esverdeada, percorreram o rosto pálido e os cabelos acaju da garota. "Não," garantiu ele. "Não faz a menor diferença."

"Que bom," disse Lily, se descontraindo. Era evidente que andara preocupada.

"Maldito hipócrita," Sirius soltou e virou de costas para a cena.

"Sirius pare," Harry o repreendeu e pela primeira vez Sirius ouviu.

A cena se reformulou. Harry olhou para os lados. Estavam na Plataforma Nove e Três-Quartos com Snape ao lado, ligeiramente curvo, ao lado de uma mulher magra de rosto pálido e azedo, parecidíssima com ele. Snape observava uma família de quatro pessoas não muito longe. As duas garotas um pouco separadas dos pais. Lily parecia estar justificando algo para a irmã. Harry se aproximou para ouvir.

"Não sou um bicho estranho," disse Lily. "Que coisa horrorosa para se dizer."

"É para onde você vai," insistiu Petúnia com gosto. "Uma escola especial para bichos estranhos. Você e aquele garoto Snape... bizarros, é o que vocês são. É bom que sejam isolados das pessoas normais. É para a nossa segurança."

E a cena se dissolveu de novo.

"É isso! Estamos viajando para Hogwarts!" Snape disse irradiando felicidade, tentando animar Lily enquanto entravam em um compartimento vazio, seguidos de dois garotos de cabelos negros.

"Ah, olhe para esses rostos lindos," Sirius sorriu para visão dele mesmo e do jovem James Potter.

"É melhor você entrar para a Sonserina," disse Snape, animado ao ver Lily menos triste.

"Sonserina?" disse James, cabelos negros como os de Snape, mas com aquele ar indefinível de alguém que foi bem cuidado, até adorado, que visivelmente faltava a Snape. "Quem quer ir para a Sonserina? Acho que eu desistiria da escola, você não?" James perguntou ao garoto esparramado nos assentos na frente dele.

"Toda a minha família foi da Sonserina." O jovem Sirius respondeu.

"Caramba," replicou James, "e eu que pensei que você fosse legal!"

O jovem Sirius sorriu com deboche e o mais adulto deixou escapar uma risada meio latido.

"Talvez eu quebre a tradição. Para qual você iria se pudesse escolher?"

James ergueu uma espada invisível. "Grifinória, a morada dos destemidos! Como o meu pai." Snape deu um muxoxo de descaso. James se virou para ele. "Algum problema?"

"Não," retrucou Snape, embora seu sorrisinho de deboche dissesse o contrário. "Se você prefere ter mais músculo do que cérebro."

"E para onde está esperando ir, uma vez que não tem nenhum dos dois?" Intrometeu-se o jovem Sirius.

James deu gostosas gargalhadas. Lily levantou, ruborizada, e olhou de James para Sirius com ar de desagrado.

"Vamos, Severus, vamos procurar outro compartimento."

"Oooooo..." James e Sirius imitaram o seu tom de superioridade; James tentou fazer Snape tropeçar quando ele passou.

"A gente se vê, Ranhoso!" Uma voz gritou quando a porta do compartimento bateu.

"Viu?" O Sirius adulto apontou para a lembrança que desaparecia assim como Snape e Lily. "Ele sempre foi um babaca," ele fez uma careta e olhou de olhos arregalados para a imagem à frente deles, que o surpreendeu silenciosamente. Instintivamente, Sirius virou e segurou Harry pelos ombros, bloqueando sua visão. "Você tem certeza que quer ver o resto disso? Nós não sabemos o que ele estava planejando quando ele queria que você visse isso, Harry." Era uma distração, simples como isso. Os olhos verdes de Harry focado em seu padrinho, enquanto atrás deles a cena continuava.

"Saia!" Snape gritou, abrindo caminho contra uma pequena menina de cabelos espessos que caiu em cima de um menino magro pálido. Lily seguiu rapidamente atrás dele, gritando seu nome. "Sev, espere!" Embora a memória tenha seguido Snape, Sirius pôde ouvir uma voz familiar falar da porta do compartimento aberto.

"O que você fez!?"

E felizmente a cena se dissolveu mais uma vez...

Harry e Sirius estavam parados de pé atrás de Snape, ambos observando as mesas iluminadas por velas, repletas de rostos extasiados. Então, a Professora McGonagall disse, "Evans, Lily!"

Harry observou a mãe se adiantar de pernas trêmulas e se sentar no banquinho bambo. A professora deixou cair o Chapéu Seletor sobre sua cabeça, e mal se passara um segundo após tocar seus cabelos acaju, o chapéu anunciou: "Grifinória!"

Eles ouviram Snape soltar um pequeno gemido. Lily tirou o chapéu, devolveu-o à Professora McGonagall e correu ao encontro dos alunos da Grifinória, mas no meio do caminho se virou para olhar Snape, e havia um sorriso triste no rosto dela. Eles viram o jovem Sirius deslizar no banco para dar espaço a Lily. Ela deu uma olhada e pareceu reconhecê-lo do trem, cruzou os braços e, com firmeza, virou-lhe as costas.

Harry andou pela memória, atraído pela pequena imagem de sua mãe na mesa da Grifinória, o que era perfeito enquanto a atenção de Sirius era atraída para outro lugar. James estava em pé ao lado de uma familiar menina de cabelos espessos, Snape espiando atrás deles.

"O que acha de apostar quanto tempo vai levar para o chapéu me botar na Grifinória?" James perguntou com um sorriso debochado.

"Algo me diz que vai ser instantâneo," a garota riu docemente e o som fez o coração de Sirius apertar dentro do peito.

"Com toda a certeza," o jovem James sorriu presunçosamente.

Harry se virou e observou Professora McGonagall chamar o nome de seu pai e o menino de cabelos bagunçados se aproximou do banquinho. O chapéu mal tocou sua cabeça antes de gritar, "Grifinória!" E James sorriu. Harry voltou para o lado de Sirius, enquanto Sirius bloqueava sua visão de novo.

"Claro," Snape disse atrás de Sirius.

"Não tem nada de errado com a Grifinória," a garota falou.

"Diz uma futura leoazinha," Snape zombou e Sirius fez o seu melhor para distrair Harry, apontando para a mesa da Grifinória onde James se reunia com Sirius e Remus.

"Você pode acreditar em como éramos jovens?" Sirius riu enquanto a cena continuava atrás dele.

"Vocês eram amigos desde o início," Harry pareceu sorrir, ignorando o estranho comportamento do padrinho, assumindo que deveria ser doloroso para ele reviver o passado assim. "Que nem eu, Ron e Hermione."

"Que nem vocês três," Sirius concordou. "Sim," ele apertou o ombro de Harry, andando com o garoto para longe do seu eu jovem no momento que outra Grifinória se juntava a mesa. Os olhos cinzentos de Sirius olhando para trás para ela uma última vez antes de ver o resto da cerimônia. Snape eventualmente sendo posto na Sonserina.

E a cena se dissolveu...

Lily e Snape atravessavam o pátio do castelo, discutindo abertamente. Harry se apressou a alcançá-los e escutar. Quando chegou perto, percebeu o quanto ambos haviam crescido: alguns anos pareciam ter transcorrido desde a Seleção.

"E aquelas coisas que Potter e os amigos aprontam?" Retrucou Snape. Seu rosto corou ao dizer isso, aparentemente incapaz de refrear seu rancor.

"E onde é que Potter entra nisso?" Perguntou Lily.

"Eles saem escondidos à noite. Tem alguma coisa esquisita naquele Lupin. Aonde é que ele sempre vai?"

"Ele é doente," disse Lily. "Dizem que é doente..."

"Todo mês na lua cheia?" Disse Snape.

"Conheço a sua teoria," disse Lily, e seu tom era frio. "Afinal, por que você é tão obcecado com eles? Por que se importa com o que eles fazem à noite?"

"Só estou tentando lhe mostrar que eles não são tão maravilhosos quanto todo o mundo parece pensar."

"Mas eles não usam Magia das Trevas." Ela abaixou a voz. "E você está sendo realmente ingrato. Me contaram o que aconteceu outra noite. Você estava bisbilhotando naquele túnel do Salgueiro Lutador e James Potter salvou você de sei lá o que tem lá embaixo..."

O rosto de Snape se contorceu e ele engrolou, "Salvou? Salvou? Você acha que ele estava bancando o herói? Ele estava salvando o próprio pescoço e o dos amigos também! Você sabe que Black me enganou para ir lá. Tudo porque ele foi estúpido o bastante por pensar que eu tivesse um rancor pessoal contra a namoradinha dele!"

"E você não tem?" Lily perguntou.

"Eu..." Sirius começou, mas parou quando se virou para Harry, um olhar de pura vergonha gravado tão profundamente em seu rosto quanto as cicatrizes e tatuagens que cobriam seu corpo. "Não tem muito o que eu possa dizer sobre eu mesmo", explicou Sirius. "Só que eu era jovem, impulsivo e... E eu pensei que ele merecia."

"Você poderia tê-lo matado," Harry balançou a cabeça.

"Sim," Sirius assentiu. "Acredite em mim, eu fui devidamente repreendido pelos meus amigos por isso também."

"Tudo por causa de uma garota?" Harry perguntou com a sobrancelha levantada.

"Não era uma garota qualquer," Sirius murmurou enquanto a cena mudava.

O cenário solidificou e ele se viu parado no escuro, no cume de um morro, abandonado e frio, o vento assoviando entre os galhos de umas poucas árvores desfolhadas. O Snape adulto arfava, virava-se no mesmo lugar, a mão apertando com força a varinha, esperando alguma coisa ou alguém.

Snape não disse nada, apenas ergueu os olhos para Dumbledore.

"Esconda-os todos, então," ele disse rouco. "Mantenha ela... eles... em segurança. Por favor."

"E o que me dará em troca, Severus?"

"Em... troca?" Snape olhou boquiaberto para Dumbledore e Harry esperou que ele protestasse, mas passado um longo momento, ele respondeu, "O que quiser."

"Sirius, você sabia disso?" Harry perguntou, os olhos verdes arregalados olhando para o padrinho. Sirius apenas balançou a cabeça. Não, nesse momento fazia muito tempo desde que tinham visto Snape. Eles sabiam claro, que ele era um Comensal da Morte. Todos sabiam naquela época. Naquele ponto da guerra havia pouco a se fazer como se esconder atrás de máscaras. Voldemort estava em ascensão e eles esperavam uma vitória, por que eles precisavam se esconder? Mas Sirius nunca soube que Snape pediu proteção para Lily, James e Harry.

O cume do morro desapareceu e Harry se viu parado no escritório de Dumbledore e alguma coisa produzia um ruído terrível como o de um animal ferido. Snape estava dobrado para frente em uma cadeira e Dumbledore o contemplava do alto, com um ar inflexível.

"O filho dela sobreviveu." Disse Dumbledore.

Com um brusco e quase imperceptível aceno da cabeça, Snape pareceu espantar uma mosca irritante.

"O filho dela sobreviveu. Tem os olhos dela, exatamente os mesmos. Você certamente se lembra da forma e da cor dos olhos de Lily Evans, não?"

"NÃO!" Berrou Snape. "Se foi... morreu..."

"Isso é remorso, Severus?"

"Eu gostaria... gostaria que eu estivesse morto..."

"E que utilidade isso teria para alguém?" Disse Dumbledore friamente. "Se você amou Lily Evans, se você a amou verdadeiramente, então o seu caminho futuro é cristalino."

"Ele amava minha mãe," Harry sussurrou. "Esse tempo todo. Snape amava minha mãe?!" Harry encarou a cena, observando seu antigo professor - um homem que ele viu morrer não fazia nem uma hora - cair de joelhos soluçando pelo luto, atingido pela morte de sua mãe. Sirius virou-se, incapaz de assistir. Ele conhecia aqueles soluços. Eles eram muito familiares para ele. Perder a mulher que você ama era uma dor diferente de qualquer outra.

"Muito bem. Muito bem. Mas jamais, jamais revele isso, Dumbledore! Isto deve ficar entre nós! Jure! Não posso suportar... particularmente o filho de Potter... Quero sua palavra!"

"Dar minha palavra, Severus, de que jamais revelarei o que você tem de melhor?" Dumbledore suspirou, olhando o rosto feroz e angustiado de Snape. "Se você insiste..."

O gabinete se dissolveu, mas reapareceu instantaneamente. Snape andava de um lado para o outro diante de Dumbledore.

"...medíocre, arrogante como o pai, deliberadamente indisciplinado, encantado com a fama, exibido e impertinente..."

"Vocês Potter com certeza sabem como deixar uma impressão," Sirius suspirou, passando a mão pelos cabelos. Esta viagem pela estrada da memória foi se tornando mais e mais preocupante. Por que Snape precisava que Harry visse tudo isso? Para esfregar na cara dele que ele amou Lily primeiro? Um último momento para dar um tiro em Harry e James?

"Você vê o que espera ver, Severus," disse Dumbledore, sem erguer os olhos do exemplar de Transfiguração Hoje. "Outros professores me informam que o garoto é modesto,amável e tem algum talento. Pessoalmente, eu o acho uma criança cativante."

A cena mudou e mais uma veze eles se encontravam em pé no escritório de Dumbledore. Sirius e Harry observavam cuidadosamente enquanto Snape pairava sobre Alvo, olhando para a mão enegrecida do velho diretor.

"Você cuidou muito bem de mim, Severo. Quanto tempo acha que me resta?"

O tom de Dumbledore era coloquial; poderia estar perguntando qual era a previsão da meteorologia. Snape hesitou, e depois disse, "Não sei dizer. Talvez um ano. Não há como paralisar um feitiço desses definitivamente. Eventualmente irá se espalhar, é o tipo de maldição que se fortalece com o tempo."

"Ele já estava morrendo," Harry ficou abertamente boquiaberto com a cena e Sirius colocou uma mão reconfortante em seu ombro.

"O Lorde das Trevas não espera que Draco seja bem sucedido. Isto é apenas um castigo pelos recentes malogros de Lucius. Uma tortura lenta para os pais de Draco, que o observam fracassar e pagar o preço."

"Em suma, o menino foi sentenciado à morte com tanta certeza quanto eu," disse Dumbledore. "Agora, eu diria que o sucessor natural para esse serviço, se Draco não tiver êxito, será você, não?"

Houve uma breve pausa.

"Esse, acho, é o plano do Lorde das Trevas."

"O garoto deve completar sua missão," Alvo falou e Snape se virou o encarou.

"Você deixaria que uma mera criança jogasse fora sua vida?" Snape estreitou os olhos. "Depois de tudo o que ele arriscou até agora? A cerimônia de marcação quase o matou!"

"Eu deixaria que o jovem Draco cumprisse quase toda a sua missão," Dumbledore esclareceu. "Eu não quero que a alma do menino fique comprometida por minha conta. Você deverá me matar."

"Malfoy estava dizendo a verdade!" Harry gritou.

"E a minha alma, Dumbledore? A minha?"

"Somente você é capaz de saber se prejudicará sua alma ajudar um velho a evitar a dor e a humilhação," replicou Dumbledore. "Peço a você um único e grande favor, Severus, porque a morte está vindo me buscar tão certo quanto os Chudley Cannons terminarão este ano em último lugar. Confesso que prefiro uma saída rápida e indolor à opção demorada e suja que terei se, por exemplo, Greyback estiver envolvido; ouvi dizer que Voldemort o recrutou. Ou se for a cara Bellatrix, que gosta de brincar com a comida antes de comê-la."

Sirius rosnou de forma audível com a menção de Greyback e sua prima morta.

Por fim, Snape fez um breve aceno com a cabeça.

Dumbledore pareceu satisfeito.

"Obrigado, Severus..."

O gabinete desapareceu, e agora Snape e Dumbledore estavam caminhando juntos nos jardins desertos do castelo ao crepúsculo.

Harry segurou sua cabeça com suas mãos, tentando processar todas as informações enquanto memória atrás de memória fluía na sua frente. Ouvir Snape o comparando com o pai, ouvir apelos de Dumbledore para ter confiança em Harry. Observando como Snape implorou para ser lançado como um espião Comensal da Morte, a Marca em seu braço condenando sua alma.

"Agora escute bem, Severus. Virá um tempo... depois da minha morte... não discuta, não interrompa! Virá um tempo em que Lord Voldemort temerá pela vida da cobra dele."

"Por Nagini?" Snape pareceu admirado.

"Harry!" Sirius chamou a atenção de Harry. Era isso a que Snape tinha se referido, afinal, depois de ter dado ao rapaz suas memórias. Algo sobre a cobra sangrenta. Sirius ouvia atentamente, observando os dois homens com cuidado, como se à procura de pistas sutis de que eles estavam escondendo alguma coisa. Como ele não tinha sabido o motivo de Snape ter se virado contra os Comensais da Morte? Ele passou meses ao redor da mesa no Largo Grimmauld olhando para o rosto de Snape, ouvindo os relatos, o tempo todo pensando o que poderia tê-lo levado lá para começar. Era muito fácil pensar que Snape poderia tê-la amado? Realmente a amado?

"Conte-lhe que na noite em que Lord Voldemort tentou matá-lo, quando Lily pôs a própria vida entre os dois como um escudo, a Maldição da Morte ricocheteou em Lord Voldemort, e um fragmento da alma dele irrompeu do todo e se prendeu à única alma viva sobrevivente na casa que desabava. Parte de Lord Voldemort vive em Harry, e é esta parte que lhe dá tanto o poder de falar com cobras quanto uma ligação com a mente de Lord Voldemort que ele jamais entendeu. E enquanto esse fragmento de alma, de que Voldemort não sentiu falta, permanecer preso e protegido por Harry, Lord Voldemort não poderá morrer."

Harry teve a sensação de estar observando os dois homens do fim de um longo túnel, tão distantes estavam dele, as vozes ecoando estranhamente em seus ouvidos.

"Então o garoto... o garoto deve morrer?" Perguntou Snape muito calmo.

"E é Voldemort quem deve matá-lo, Severus. Isso é essencial."

"Besteira!" Sirius berrou. "Acabamos com isso, Harry," ele rosnou e se moveu para levantar a varinha para saírem da Penseira, mas Harry a tomou dele. "Harry, eu não vou pôr sua vida em risco por causa dos loucos pressupostos de um velho doido e alguém que se chama de ex Comensal da Morte! Não vou!"

"Não é uma escolha sua, Sirius," Harry fez uma careta. "Não vou deixar mais ninguém morrer por minha causa!"

"Ninguém está morrendo por você!"

"Meus pais morreram!" Harry gritou. "Você morreu!"

"Eu ainda estou aqui!" Sirius gritou de volta. "E eu estou fazendo o meu maldito trabalho pelo menos uma vez, James!" E assim que Sirius pegou seu erro, Harry o pegou também. Sirius deu longas respirações profundas para acalmar-se, descansando a mão no ombro de Harry. "Droga," ele murmurou. "Eu devo cuidar de você, Harry," ele disse claramente. "Mantê-lo a salvo. Eu prometi aos seus pais. Eu prometi..." Sirius estava respirando pesadamente. "Eu prometi deixá-lo a salvo," ele murmurou, seu tom abaixando enquanto encarava o chão. A cena continuando atrás deles.

"Expecto Patronum!" Snape gritou atrás.

Da ponta da sua varinha irrompeu uma corça prateada. Ela pousou, correu pelo soalho do gabinete e saiu voando pela janela. Dumbledore observou-a se afastando pelos ares e, quando seu brilho prateado se dissipou, ele se dirigiu a Snape e seus olhos estavam cheios de lágrimas. Sirius não conseguia olhar. Ele sabia o Patrono de Snape, ele sempre tinha sido um pouco desconfiado, mas sua crença de que os Comensais da Morte não poderiam amar tinha mantido a verdade longe dele. Mas vendo isto, vendo a corça prateada direto na frente dele...

"Depois de todo esse tempo?"

"Sempre," respondeu Snape.

Incapaz de testemunharem mais, Harry e Sirius levantaram a varinha e saíram da Penseira, e momentos depois eles pousavam no chão acarpetado no exatamente mesmo escritório, Snape poderia ter acabado de fechar a porta.

"Não sei o que te dizer, criança," Sirius balançou a cabeça.

"Snape amava minha mãe," Harry continuou a murmurar. "Você acha que se ele nunca a tivesse chamado de..."

"Não!" Sirius gritou. "Não, ela teria terminado com James não importa o que acontecesse. Ela amava James, e James venerava ela," Sirius segurou a cabeça nas mãos. A viagem pelas memórias não tinha sido agradável. "Um dia, eu vou te trazer para as minhas memórias," Sirius prometeu. "E você vai ver... você vai ver como eles eram um com o outro. Você vai ver tudo. Eu vou te falar tudo," ele murmurou baixo.

"Sinto muito, Sirius," Harry sussurrou.

"Você não tem nada para lamentar, Harry," Sirius franziu a testa.

"Petrificus Totalus!" Harry gritou, e Sirius olhou para cima com olhos arregalados quando o feitiço o atingiu diretamente no peito, derrubando-o para trás e apertando seu corpo com força. Seus olhos seguiram Harry, abertos com preocupação quando seu afilhado franziu o cenho para ele.

"Obrigado por tudo," Harry disse claramente. "Você é o único pai que eu já conheci, e você fez um ótimo trabalho com o que foi deixado para você," Harry acenou com a cabeça. "Cuide de Hermione por mim. Cuide de todo mundo," Harry se aproximou do corpo congelado de Sirius e botou uma mão em seu ombro. "Esse é o meu trabalho, Sirius."

E o garoto saiu pela porta.


N/A: Olá, gente! Mais um capítulo para vocês aí! Quarta feira vamos ter o último capítulo da primeira parte! Muita ação a caminho!

Motoko Li: Também adoro o Draco! Quando acabar essa Parte 1, vamos vê-lo mais só na Parte 4, mas vai valer a pena esperar! Ron, para mim, também é bastante tedioso, o vejo mais só como amigo de Hermione mesmo. Não consigo aceitar os dois como um casal e ponto hahahaha
Capítulo que vem vamos ter bastante ação, acho que você vai gostar! Aliás, esqueci de te perguntar no capítulo passado, mas você é de Portugal? Parece muito pelo jeito que você fala/escreve, é fofo :))
Até o próximo capítulo!

Felicia Malfoy: Realmente, a cena do beijo foi maravilhosa! Fiquei doida quando li! E "aquele-que-não-deve-ser-nomeado-empata-foda" é sensacional hahahaha
Também nunca tive esse problema de não respirar, mas acho que dá mais emoção na leitura quando os autores descrevem assim! Não sei, mas é estranho hehe
E sim, Draco é maravilhoso! Um dos meus favoritos sempre!

LadyHarukaS2: Amei a descrição do beijo também, nossa, quando li foi lindo! Harry é uma pessoa muito fofa, queria muito um na minha vida. E acho que no fundo, Draco também considera que eles sejam amigos sim, ou que pelo menos estejam virando!
Ron ficar de picuinha é de praxe né, ele me estressou muito nessa história! Mas acaba amadurecendo, amém hahahaha