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The Debt of Time

Parte Dois – O Vira-Tempo

Capítulo Vinte e Nove: Todo Mundo é Perigoso

"...I believe I can see the future
Cause I repeat the same routine
I think I used to have a purpose
But then again
That might have been a dream..."
(Every Day is Exactly the Same - Nine Inch Nails)


2 de setembro, 1973

Hogwarts Escola de Magia e Bruxaria

Torre da Grifinória

Nos primeiros dias de volta a Hogwarts, Remus quase se sentiu normal.

Ainda faltava uma semana para a lua cheia e ele quase não a sentia se aproximando. Apesar de ficar envergonhado por admitir, Mia estava certa no ano anterior ao sugerir que as transformações dele estavam ficando piores por causa do crescimento dele. Apesar dele ter crescido três centímetros nesse verão, as transformações não estavam tão ruins quanto as do ano passado – ainda agonizantes ao ponto de desejar desmaiar – mas não tão ruins. As dores, espasmos e náusea que vinham com a aproximação da lua, eram lidadas em parte com um suprimento enorme de chocolate que os amigos deram no ano passado. O suprimento acabou em dois meses, infelizmente, mas graças a Capa da Invisibilidade de James e algumas noites de aventura pelo castelo Sirius encontrou o que chamou de 'a descoberta mais maravilhosa do mundo'. Remus e os outros três Marotos encontraram o mais glorioso segredo que Hogwarts tinha escondido até então: um túnel secreto que levava a Doces de Mel.

Bem manejado com açúcar e ansioso para as aulas que começariam na manhã seguinte, Remus se afundou nos travesseiros espalhados em sua cama de dossel, acolhendo a noite com um livro em suas mãos, enquanto os três companheiros se esgueiraram para comer um terceiro e quarto jantar dos elfos domésticos nos pisos da cozinha abaixo deles. Foi só quando ele bocejou e se deu conta de um aroma no ar que Remus se lembrou de outro sintoma infeliz de Licantropia que até muito recentemente permaneceu dormente: excitação.

"Jamie?" Remus ouviu Mia sussurrar baixinho e ele fechou os olhos, deixando a essência dela inundá-lo como o rio atrás da Mansão Potter tinha feito quando Mia o convenceu a nadar nele com ela. A água estava gelada – o que ajudava – mas o cheiro no ar que agora o preenchia era quente. Muito quente. Remus engoliu e tentou ficar quieto.

"Sirius?" Ele ouviu ela sussurrar em seguida e uma parte dele se irritou quando a ouviu puxar as cortinas para longe da cama em frente a dele.

Ela veio à procura do irmão, claro, e Remus imediatamente assumiu que era por causa dos pesadelos, algo que só piorava após o regresso inicial para Hogwarts a cada ano. Ele se sentia péssimo por ela e queria ajuda, mas – apesar do fato da cama de Sirius ser diretamente do lado da de James – Remus não conseguia evitar se ofender com o fato de que, uma vez que ela tinha encontrado a cama do irmão vazia, ela tinha ido para Sirius logo em seguida.

Ele ouviu passos e arregalou os olhos. Ele sabia que ela não iria encontrar o bruxo de cabelos cor negros na cama, o que significava que ela iria procurar por ele agora, mas ele ainda não estava preparado enquanto o cheiro dela chegava mais e mais perto, então ele fechou os olhos bem forte para tentar se focar em outra coisa. Era uma coisa normal para um rapaz de quase catorze anos ter que lidar com excitação, principalmente com a vizinhança cheia de meninas, mas outra coisa totalmente diferente para um menino de quase catorze anos que tinha um lobo nervoso dentro da cabeça.

"Remus?" Ele finalmente ouviu o sussurro dela e gemeu baixinho, forçando o som a descer pela garganta enquanto tentava esquecer que ela o tinha chamado de lindo um mês atrás com as mãos nas cicatrizes dele, nada além de uma camisa de algodão impedindo que ela o tocasse na pele.

"Sim?" Ele estremeceu e puxou as cortinas revelando uma Mia triste com o cabelo bagunçado – o que não ajudava – mexendo com os dedos nervosamente. "Você está bem, amor?" Ele perguntou, um olhar de profunda preocupação enquanto percebia uma trilha de lágrimas no rosto dela.

"Você está bem?" Ela perguntou preocupada. "Ah, você esta doente? Eu achei que estivesse melhorando. Eu vou embora," ela franziu o cenho e se virou.

"Não, não é nada," mentira. "Não está relacionado ao lobo, pelo menos," mentira. "Acho que comi muito no jantar," mentira.

"Ah," Mia concordou e nervosamente mordeu o canto do lábio, olhando para o chão.

"Pesadelos?" Ele perguntou suavemente e ela hesitou antes de assentir. "Eu não sei quando James vai voltar. Os idiotas correram para a cozinha no segundo em que chegamos ao dormitório," ele admitiu, uma parte dele irritada que James não estivesse ali para cuidar da irmã. O lobo interior dele estava grato que ele estivesse sozinho, a única pessoa que poderia cuidar da menina.

"Ah," ela suspirou, envergonhada. "Eu deveria só... Godric, isso é ridículo," ela revirou os olhos. "Estou velha e não consigo dormir sem meu maldito irmão," ela fungou e Remus sabia com certeza que ela tinha acordado chorando do que quer que fosse que estivesse a atormentando.

"Você quer..." ele começou antes que tivesse a chance de pensar na pergunta, mas era muito tarde. Ele tinha que perguntar agora. "... precisa de companhia?" Ele disse, reformulando a original, '... quer subir?' com algo que ele achou mais apropriado. Tinha mais de um ano desde que eles compartilharam uma cama, e na época parecia inocente, especialmente porque James e Sirius também estavam lá com eles, guardando Mia no meio deles como se fossem protegê-la dos sonhos. Eles mal tinham doze anos na época. Droga, a maioria deles ainda bebia o suco de abobora de canudo. Mas agora...

"Não tem problema?" Ela perguntou baixinho.

"Venha," Remus girou para o lado, chutando as cobertas e permitindo que ela escorregasse para debaixo delas. Ele colocou o livro na cama, de alguma forma usando as páginas para evitar que o corpo dela tocasse o dele enquanto ela se aninhava debaixo do cobertor e fechava as cortinas atrás dela, bloqueando os feixes de luz que a lua no céu permitia entrar no quarto .

Ele ficou momentaneamente se lembrando das muitas vezes em que ela se arrastou até a cama dele na enfermaria na manhã após a transformação, depois que ela tinha acabado de curar o corpo ensanguentado e quebrado dele. No início, havia sido a cura para sua alma tê-la ali, querendo tocá-lo e mostrando bondade, mas depois de tanto tempo tornou-se cada vez mais difícil contar tanto com ela. Agora, com a cabeça dela aninhada contra ele, ele de repente era o protetor, e seu logo deu um uivo de aprovação. Ele ficou em silêncio absoluto, não querendo perguntar sobre o pesadelo ou as lágrimas secas. Esse era o conforto da amizade deles. Palavras não eram necessárias.

No momento em que ela caiu no sono, o sonolento Remus não conseguiu mais se segurar. Ele se inclinou para frente e enfiou o nariz nos cachos dela e inspirou profundamente, na esperança de que se ele se acostumasse com o cheiro dela não iria se sentir com desejo cada vez que ela aparecesse. Ele expirou lentamente com o cenho franzido. Claro que não iria funcionar. A ânsia por inalar o cheiro dela aumentou de forma constante e ele se perdeu, enterrando o nariz em sua juba de cachos novamente.

Só então ele ouviu a porta do dormitório abrir e os três amigos retornarem.

"Não leve para o pessoal, Pete," James disse consoladoramente.

"O maldito elfo domestico me chamou de gordo," Peter amargamente resmungou e entrou no banheiro para tomar banho.

"Ela não parecia que estava tentando ofender. Só disse que nenhum outro bruxo apreciava a comida dela tanto quanto ele. Nenhuma vez," Sirius explodiu em um ataque de risos.

"Shh!" Remus sibilou rapidamente, chutando as cortinas ao redor da cama.

"O que tem de errado?" James perguntou levantando a varinha defensivamente, atravessando o quarto na escuridão em direção à cama de Remus.

"Lumos," Remus murmurou e segurou a varinha no alto para olhar James, então moveu a luz para a menina que dormir ao lado dele.

James levantou uma sobrancelha em questionamento e depois assentiu entendendo com uma careta enquanto caminhava até o dossel de Remus, colocando a varinha no bolso de trás e jogando a capa da invisibilidade sobre o malão ao pé da cama do amigo. James deu ao amigo um sorriso agradecido. "Obrigado," ele disse antes de se inclinar para a frente e pegar a irmã nos braços.

Sirius franziu o cenho enquanto via as mãos de Mia agarrarem inconscientemente James. "Ainda ruins?" Ele perguntou nervosamente, já sabendo a resposta.

Ele praticamente morou com os Potters durante todo o verão e ouviu James levantar pelo menos uma vez por semana, desaparecendo pelo corredor para cuidar de Mia que gritava. Sirius queria ter ido com ele na maioria das vezes, mas a ideia de acordar ao lado de Mia era algo que, de repente, o deixava nervoso. Um ano antes não tinha nenhum problema com a ideia de acordar ao lado da menina, até porque James sempre estava lá. Mas agora, mesmo que ele escondesse os verdadeiros pensamentos com sarcasmo e eventual flerte, Sirius sentia que algo incontrolável o puxava para ela, e a falta de controle o assustava totalmente.

"Ainda ruins," James concordou e Sirius e Remus observaram o amigo levar a irmã para a cama dele e deitar com ela em silêncio. Todos os três garotos trocaram um olhar de frustração e desespero. Todos eles bruxos e nenhum tinha ideia de como consertar a única pessoa que eles juraram proteger.

Nosso trabalho, Sirius tinha dito.

E eles estavam falhando.

oOoOoOo

3 de setembro, 1973

Hogwarts Escola de Magia e Bruxaria

Mia não sabia no que estava pensando quando escolheu suas matérias extras para o terceiro ano. As aulas oferecidas eram as mesmas: Adivinhação, Aritmância, Runas Antigas, Estudos Trouxas e Trato das Criaturas Mágicas. Ela não iria de jeito nenhum repetir o terceiro ano original dela em Hogwarts. A vida dela já estava de cabeça para baixo graças a um vira-tempo e ela não estava com o humor para usar outro apenas para acomodar um horário completo.

Seu plano era pegar Runas Antigas com Remus e Lily – visto que essa era uma matéria que ela nunca cansava de aprender, assim como Aritmância porque eram as mais difíceis e ela poderia fazer o curso para refrescar a memória. Apesar do que seus amigos pensavam, Mia não tinha necessidade de Estudos Trouxas e ela riu histericamente quando ela ouviu os meninos pensando em pegar Adivinhação.

"Você não está interessada em prever o futuro?" Sirius sorriu para ela.

"Nem um pouco, Sirius Black," Mia zombou, apesar de ter se ofendido com a pergunta. "Na verdade, eu posso ser uma Vidente," ela riu secamente. "Por isso que eu não preciso pegar Adivinhação." Ela sorriu para Remus que passava para ela uma xícara de chá para ela enquanto ela botava mais suco para ele, nunca quebrando a rotina do café da manhã deles enquanto mantinham uma conversa com os outros.

"Você é uma Vidente?" Sirius sorriu debochadamente. "Isso é sexy. Ai!" Ele estremeceu e virou para ver James o encarando. Sirius deu uma risada e virou de volta para Mia. "Vamos lá então, amor, nos dê uma previsão."

"Muito bem," Mia concordou corajosamente entre goles de suco de abóbora. "Eu prevejo que uma menina vai te bater até ao final do dia," disse ela docemente.

"Ahhh, eu amo quando as meninas me batem," Sirius riu. "Vai doer?"

"Vou me esforçar," ela estreitou os olhos para ele.

"Aposto que vai," Sirius piscou.

"Sai fora!" James resmungou e bateu de novo em Sirius enquanto Remus ria quieto.

"Ei, ela disse que era uma Vidente," Sirius se defendeu contra o ataque de James, segurando um prato vazio como se fosse um escudo. "Eu quero que ela diga o meu futuro," ele riu.

Mia franziu o cenho e uma corrente de ar fria passou por ela. Ela fechou os olhos e viu tudo claramente. O futuro deles, o passado dela. Sirius e Remus na Casa dos Gritos, reunidos depois de doze anos separados, ambos parecendo completamente quebrados e machucados. Imagens de Sirius sendo atacado pelos Dementadores. De um Remus adulto soluçando em seus braços depois da primeira lua cheia em anos sem a Poção Mata-Cão. Imagens de um Sirius caindo no Véu e de Remus chorando com o pensamento do filho poder ser infectado com Licantropia. Uma visão deles dois sendo torturados por Comensais da Morte e Voldemort com a Varinha das Varinhas apontada para ela.

E nada de Jamie.

"Mia?" Remus murmurou baixinho, alcançando a mão dela sobre a mesa. "Aonde você foi?" Ele perguntou.

Mia engoliu. "Bem longe," ela admitiu tristemente e então se virou para James e Sirius que estavam igualmente preocupados. "Parem," ela insistiu, revirando os olhos. "Eu estou bem."

Ela terminou o café da manhã e empurrou o prato para longe, mas não antes de pegar os dois pedaços de bacon que não tinha comido e botar no prato de Remus. Ele olhou para ela com um sorriso agradecido mas fez uma careta quando Sirius pegou um deles e comeu.

"Peguem Adivinhação se quiserem," Mia meditou. "Escrevam todas as suas previsõezinhas e me digam," ela insistiu, uma parte dela querendo fazer algo mesmo que não pudesse. "Eu vou ficar mais do que feliz em dizer quão erradas elas estarão," ela riu.

Uma parte dela pensou em como seria divertido se ela realmente pretendesse fingir ser uma Vidente. Ela se tornaria a maior Vidente de todos os tempos, considerando o tanto que ela sabia sobre o futuro. Tão divertido como ela pensava ser, também era igualmente perigoso. Mia não conseguia imaginar o que Voldemort faria com ela se ele soubesse que ela tinha conhecimento detalhado da sua eventual destruição.

No final só Peter pegou a matéria, o que estava ótimo para ela, visto que era uma aula a menos tendo que olhar para ele.

oOoOoOo

Apesar do pé firme em Adivinhação, ela ainda tinha sido convencida quando James, Sirius e Remus a imploraram para mudar as escolhas das aulas extras. Enquanto ela manteve Runas Antigas para ficar perto de Remus e Lily, ela agora estava fora do castelo perto da Floresta Proibida, onde um grande grupo de pequenas canetas haviam sido colocadas juntas para parecer um curral de zoológico trouxa. Um homem aparentemente machucado em batalha estava encostado em um grande poste, parecendo mal-humorado como se alguém tivesse acabado de arruinar seu desfile.

"Eu sou o Professor Kettleburn," o velho bruxo resmungou. "Bem-vindos ao Trato das Criaturas Mágicas. Não que vocês realmente vão tratar de algo interessante," ele zombou. "Como o Ministério adora me lembrar, se alguém tem uma perna comida por um dragão, esse alguém não deveria tentar introduzir tal dragão para estudantes," ele apontou para a perna esquerda que estava faltando logo abaixo do joelho. Diferente de Olho-Tonto Moddy que usava uma perna de madeira, Professor Kettleburn parecia satisfeitoem ficar pulando. "Nem foi mesmo um dragão," ele acrescentou como se isso fizesse toda a diferença.

"Merlin, é com ele que Hagrid aprendeu a agir daquele jeito," Mia sussurrou para ela mesmo com olhos arregalados enquanto o Professor, com sua mão restante, coçava o cotoco onde seu antebraço deveria estar.

"Ah isso?" Ele apontou para o cotovelo enquanto os alunos encaravam. "Quimera," ele sorriu. "Coisas fofinhas," ele sorriu melancolicamente e Mia engasgou. "Elas têm um bom apetite, no entanto," ele riu suavemente como se estivesse lembrado de um antigo cachorrinho. "Muito bem, venham cá e deem uma olhada," ele apontou para as canetinhas. "Temos Pelúcios aqui, uns Pufosos, alguns Rabicurtos, e um Ouriço. Pensei em mostrar um punhado de pequenos bichos para começar."

"Essas coisas fofas são animais de estimação," James fez beicinho. "Onde estão os dragões?"

"Eu quero ver a Quimera que comeu o braço dele," Sirius murmurou.

"Eu quero ir para Aritmância," Mia reclamou e Remus riu baixinho e bateu no ombro dela, a consolando.

"Professor?" James perguntou. "Nós vamos ver alguma coisa... não sei... maior do que isso? Eu ouvi que acabamos de receber uma horda de Hipogrifos," ele sorriu. "E tem unicórnios na Floresta Proibida, não tem?"

"Não para você rapaz," Professor Kettleburn sacudiu a cabeça. "Unicórnios não têm muito gosto por homens jovens. Eles não gostariam muito de você."

"Evans deve ser um unicórnio," Sirius riu e Remus se juntou a ele enquanto James os encarava.

"E quanto aos Hipogrifos, eles estão sendo avaliados antes que os alunos possam se aproximar. São temperamentais, se não forem respeitosos com eles," ele assentiu e Mia sorriu, apesar do pensamento de ver um dos gêmeos Carrow se machucarem com um Hipogrifo como Malfoy se machucou, a encantar.

"Então, nada interessante?" Sirius reclamou.

"Você pode me perguntar qualquer coisa, eu já vi basicamente tudo," o Professor disse e pareceu que ia cruzar os braços, exceto que ele tinha um faltando. "Eu preferia que vocês vissem com os próprios olhos, mas o Ministério tem regras," ele zombou. "Então, vocês vão ter que confiar nos livros aqui," ele apontou. "E na minha experiência."

"Qual o jeito certo de alimentar um lobisomem?" Sirius perguntou e Mia se virou para encará-lo. Remus apenas sacudiu a cabeça sabendo que ele iria perguntar, enquanto se aproximava do curral de canetinhas. "Digamos," Sirius continuou. "Que você tenha um lobisomem. Coisinha fofa," ele sorriu como se estivesse falando de um amado animal de estimação. "E o seu lobisomem esteja ficando gordo..." Sirius sorriu debochadamente enquanto via Remus se virar e estreitar os olhos para o amigo.

"Sr Black," o Professor Kettleburn o encarou. "Lobisomens não são bichos de estimação," ele declarou como se Sirius fosse um completo idiota.

"Eles fizeram de proposito, né?" Mia perguntou enquanto se aproximava de Remus.

"Sim," ele acenou.

"Você sabia?"

"Claro," ele riu.

"É essa a razão de termos pego essa aula? Remus, por favor, me diga que a gente não pegou uma aula inteira só porque Sirius queria fazer uma piada de lobisomem." Ela o encarou e observou enquanto Remus se virava e sorria para ela, confirmando em silêncio a resposta que ela já sabia. "Maravilha," ela revirou os olhos. "Eu poderia estar em Aritmância agora com Lily."

"Você poderia estar em Adivinhação com Peter," Remus provocou.

"Eu não preciso ler folhas de chá no fundo de uma xicara para saber que eu vou estrangular Sirius Black quando o Professor Kettleburn não estiver olhando," ela rosnou e se virou para olhar o bruxo de cabelos negros que agora estava perguntando sobre dragões como uma distração do assunto sobre lobisomens, tirando o fato que foi ele que trouxe o assunto à tona.

"Eu nunca pude ter um bicho de estimação," Remus disse por baixo da respiração enquanto olhava para dentro do cercado onde os pequenos animais pareciam estar o mais longe possível dele. Alguns estavam tremendo e ele franziu o cenho.

"Não leve para o pessoal," Mia botou uma mão no ombro dele e sorriu. "Eles conseguem te cheirar tanto quanto você consegue cheirá-los," ela explicou. "Eles veem você como um predador," ela pegou imediatamente o olhar de horror dele perante as palavras. "Isso não é uma coisa ruim, Remus," Mia suspirou. "Predador e presa é como a vida é. É o jeito que os animais funcionam, até os mágicos."

Quando ele se recusou a tirar o olhar que ela imaginou ser de autocondenação, ela continuou. "Remus, o quanto você sabe sobre Hipogrifos?" Ela perguntou.

"Apenas o que o livro menciona," ele falou, apontando para a bolsa dele. Mia sorriu sabendo que ele já tinha lido tudo. Se ela não o conhecesse tão bem, ela assumiria que ele tinha lido Fantastic Beasts and Where to Find Them apenas para ter certeza de que seu nome e endereço não estivessem listados, mas Mia o conhecia bem e sabia que Remus levava os estudos tão a sério quanto ela.

"Me diga as características de um Hipogrifo," Mia insistiu.

"Por que eu sinto que essa vai ser uma das lições de vida que você sempre está tentando me ensinar?" Remus deixou escapar um suspiro de frustração.

"Faça-me rir," ela estreitou os olhos.

"Está bem," Remus revirou os olhos. "Hipogrifos são orgulhosos e se ofendem fácil. Você deve tomar cuidado extra ao se aproximar dele, fazendo uma reverência até," ele explicou. "Eles são extremamente perigosos, mas podem ser ferozmente leais e protetores..." ele parou e a encarou. "Eu não sou um Hipogrifo, Mia."

"Não, você não é," ela concordou. "Agora, o que os Hipogrifos comem?"

"Pequenos mamíferos," Remus respondeu. "Furões e doninhas, geralmente."

"Então, Hipogrifos são predadores?" Ela perguntou.

"Tecnicamente," ele disse lentamente.

"E você diria que Hipogrifos são absolutos bastardos por serem o que são?" Os olhos chocolates dela o perfuraram e a mandíbula de Remus enrijeceu. "Ora ora, vejam isso," ela apontou para o jeito que o nariz dele torcia. "Se eu não soubesse, eu diria que você é facilmente ofendido," ela levantou a cabeça enquanto falava, sabendo que estava certa. "Orgulho ferido?" Ela perguntou e Remus pareceu rosnar em resposta. "Você sabia que com esse olhar no rosto você parece extremamente perigoso," ela disse, mas sem nenhum traço de medo. "Mas eu não tenho medo, porque eu sei como você pode ser ferozmente leal e protetor."

"Eu não sou um Hipogrifo," Remus repetiu. "Para de tentar me convencer que eu não sou um monstro!" Remus rosnou baixo, e seus olhos brilharam âmbar e ouro, mas Mia se recusou a desviar o olhar. Ela o olhou de volta e se aproximou do rosto dele.

"Para de tentar convencer a si mesmo de que é!" Ela rebateu e girou nos calcanhares, saindo de perto dele num bolo de cachos saltitantes e selvagens.

"O que Sirius fez agora?" James perguntou enquanto se aproximava de Remus observando a irmã ficando longe do resto da classe, os braços cruzados enquanto segurava o livro fortemente.

"Sirius ainda está lá incomodando Kettleburn," Remus apontou. "O que te faz pensar que ele foi a pessoa que a irritou?"

James deu de ombros. "Geralmente é ele," ele riu e por um momento Remus o acompanhou. "Então, o que você disse que a deixou nervosa? Ela normalmente guarda esse olhar demoníaco para os Sonserinos," ele se aproximou do cercado onde os animais estavam e Remus deu um passo para longe, observando enquanto os pequenos Rabicurtos voltavam para o centro, um até indo cheirar a mão de James. Remus estreitou os olhos com a visão.

"Ela está irritada comigo," Remus zombou.

"Isso é óbvio," James assentiu, gentilmente coçando a cabeça do Rabicurto.

"Ela tentou me convencer que lobisomens não são monstros," ele disse, tentando tirar a si mesmo da sentença se referindo à espécie como um todo. Não funcionou muito já que James balançou a cabeça rindo.

"Ah, isso com certeza a irritaria," ele riu. "Existem poucas coisas que irritam minha irmã ao ponto dela parecer letal, e alguém falando mal de você está bem perto do topo da lista. Está junto com alguma coisa a ver com a família de Sirius, ou a mim me colocando em perigo. Lembra no rio quando eu escorreguei em uma pedra e bati com a cabeça? "James riu." Ela gritou comigo por horas depois que todos vocês foram embora."

"Isso é diferente," Remus insistiu. "Ela é ingênua se pensa que pode me convencer sobre não ser perigoso," ele abaixou a voz apesar que não ter ninguém ali perto, tirando os pequenos Rabicurtos e Pelúcios.

"Supera isso, companheiro," James disse reprovador. "Todos são perigosos."

"Não como eu," Remus rosnou.

"Não, não como você," James concordou. "Mia é perigosa porque ela é esperta demais. A garota sabe feitiços e azarações que nós não deveríamos nem aprender até os N.I.E.M.S.," James disse arregalando os olhos. "Evans é a mesma coisa," James disse com um sorriso. "Sirius é perigoso porque o temperamento dele é muito curto," ele admitiu. "O segundo ano tem uma aposta para ver em quantas brigas ele se mete nesse ano. São dez galeões para entrar," ele avisou.

"Eu sou perigoso porque eu não deixo as pessoas saberem quão bom eu sou no que faço," ele disse, um olhar sério cruzando o rosto dele de repente. "Todos pensam que é ego e que eu estou exagerando," James sorriu presunçosamente. "Não estou," e não havia exagero no tom dele. Remus entendeu. Ele, James e Sirius tinham praticado duelo uma vez ou duas nos ano anteriores e James sempre dominou os dois.

"Peter provavelmente é o único de nós que não é perigoso," James riu tentando quebrar a tensão.

"Peter é perigoso," Remus acenou com a cabeça. "Ele é muito inocente para não ser," ele riu e James seguiu.

"Ei!" Sirius correu até os dois amigos. "Vocês sabiam que Quimeras ronronam se você fizer carinho na barriga delas?" Ele sorriu. "E que elas fazem o mesmo som quando estão devorando carne humana?" Ele olhou de volta para o Professor Kettleburn que estava coçando o cotoco do braço de novo, em outro mundo.

Logo antes da aula acabar, Mia retornou e sem falar uma palavra com Remus, ela jogou a mão para trás e depois a lançou com toda a força na cabeça de Sirius. Ele deixou escapar um grito e se virou para encará-la enquanto James e Remus riam às suas costas.

"Eu realmente devo ser uma Vidente," ela o olhou. "Eu previ que uma garota bateria em você hoje."


N/A: uma surpresinha para vocês! Tenho prova segunda feira e talvez não dê tempo para postar um capítulo no domingo, então... Voi la!
Espero que gostem, esse capítulo é mais levezinho!
Mas essa proteção que Mia tem com Remus ficar se chamando de monstro vai ser mais importante lá pra frente!
Na verdade, qualquer um chamando Remus de monstro hahaha

Até o próximo cap!
Beijos :)