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The Debt of Time

Parte Dois – O Vira-Tempo

Capítulo Trinta: Eu Não Tenho Medo

"...Sometimes I wish I could save you
And there're so many things that I want you to know
I won't give up till it's over
If it takes you forever I want you to know..."
(Save You - Simple Plan)


2 de setembro, 1973

Hogwarts Escola de Magia e Bruxaria

Depois do almoço, os Grifinórios e Sonserinos foram para a primeira aula de Defesa Contra as Artes das Trevas do ano. Mia estava praticamente saltitando enquanto entrava na sala e tomava o habitual lugar ao lado de Remus, com James do outro lado e Sirius e Peter sentados atrás. Lily sentou com os Grifinórios, como sempre – apesar do mais perto dos Sonserinos quanto possível, com Snape fazendo o mesmo do outro lado. Lily estava ladeada por Mary e Alice, que oferecia um olhar reconfortante para Frank, que parecia nervoso já que essa era a pior matéria dele.

"Por que você está com um humor tão bom?" Remus sorriu para Mia, vendo que a disposição dela tinha melhorado desde a última aula. Ele tinha evitado falar com ela diretamente no almoço, preocupado que ela trouxesse o assunto sobre lobisomens de novo e eles discutissem. Não havia nada que ela pudesse falar para mudar a opinião dele sobre a própria condição, e ela era muito teimosa para recuar. Era melhor não falar sobre isso.

Ela comeu em silêncio, apenas comentando sobre as aulas de tempos em tempos, apesar de nunca com ele. Até que Sirius perguntou qual seria a próxima aula e Mia pareceu se animar dramaticamente e os olhos chocolates dela encontraram os verdes suaves de Remus, e ela sorriu para ele. "Defesa!" Ela gritou animada para ele do outro lado da mesa. "Terceiro ano!" Ela acrescentou e todo mundo riu do jeito que ela afirmou o óbvio, como se nenhum deles soubesse em que ano estava.

Um homem alto de cabelo castanho profundo atravessou as portas da sala de aula, fechando-as atrás de si antes que ele andasse até a frente da sala em apenas alguns passos já que suas pernas eram muito longas. Ele tinha um brilho familiar no olhar e quando ele apontou sua varinha para o quadro na parte de trás, um nome apareceu nele: Professor Ignatius Prewett.

O tio de Molly Weasley, Mia sorriu.

"Boa tarde," ele sorriu para todos. "Bom, não temos muito espaço aqui," ele franziu o cenho. "Todos se levantem," ele instruiu e todos os alunos se levantaram dos assentos. Com um floreio da varinha, uma por uma as carteiras na frente deles se transfiguraram em blocos de madeira. "Alguém ponha isso no canto," ele disse apontando para Frank e Alice. "Não vamos precisar de cadeiras hoje! O que vocês vão aprender sobre Defesa Contra as Artes das Trevas é prático. Vocês já leem muitos livros e escrevem muitos trabalhos."

Sirius e James pareciam fora de si de tanta alegria.

"Isso não quer dizer que vocês não vão ter que escrever alguns trabalhos," Professor Prewett riu e Mia segurou uma risada quando viu James e Sirius murcharem na mesma hora. "Só quando estiverem fora de aula. Quando vocês estiverem aqui comigo, vão aprender a manejar a varinha, a focar sua mágica e a se defender adequadamente."

Mia não conseguiu evitar não pensar no que estava acontecendo no mundo agora. Tinha havido relatos no Profeta Diário de assaltos a Trouxas e alguns ataques contra Nascidos-Trouxas e, embora as palavras "Comensal da Morte" não tivessem sido utilizadas ainda, era óbvio que estavam por trás de tudo. Ela especulou se Dumbledore já tinha formado a Ordem da Phoenix ou não, e, se assim, ela imaginou se o Professor Prewett era membro. Ela sabia que seus sobrinhos Gideon e Fabian foram, ou seriam em algum momento no futuro próximo. Mia imaginou que esta lição imediata de defesa era por uma razão. As coisas estavam ficando ruins fora dos muros do castelo e tudo o que eles precisavam era estarem em guarda.

"Alguém pode me dizer qual é a maior desvantagem que se pode ter ao lidar com as Artes das Trevas?" Professor Prewett perguntou. Muitas mãos se levantaram no ar e ele pediu que Snape respondesse de todos os alunos. "Sim, Sr Snape?"

"Incompetência," Snape falou pausadamente, olhando através da sala para ver os Marotos. Professor Prewett pareceu se divertir com a resposta e deu uma risada gutural, o que pareceu irritar Snape, que fez uma careta para o professor.

"Não é bem assim, meu rapaz, não completamente," o ruivo sorriu. "Não, medo," explicou. "O medo pode ser saudável quando é usado corretamente. Mas o medo também pode ser debilitante, se não for focado," ele se virou e gesto para um malão preto no chão. Ele chutou uma vez e o grande objeto começou a tremer por dentro. Alguns estudantes engasgaram, outros olharam intrigado. Mia parecia cativada com entusiasmo.

"Quem pode me dizer o que é um Bicho-Papão?" Professor Prewett perguntou.

Quatro mãos subiram no ar: Snape, Mia, Lily e naturalmente... Remus.

"Sim, Sr Lupin?" O ruivo sorriu e Remus estufou o peito, de repente em seu elemento. Mia sorriu ao lado dele, olhando para o lobisomem como se ele estivesse segurando a lua – a mesma que ele odiava – no céu.

"É um transformista que se na baseia no medo dos outros," Remus disse firmemente com um sorriso orgulhoso.

"Dez pontos para a Grifinória," Professor Prewett sorriu.

"Eu sempre quis ver um desses," Remus admitiu baixinho para Mia que sorriu para ele orgulhosa.

"Bichos Papões geralmente são encontrados em lugares escuros. Em velhos armários e guarda-roupas, dentro de tapeçarias e debaixo de escadas," o Professor continuou. "Esse aqui," ele riu e chutou o malão de novo. "Foi encontrado pelos meus sobrinhos enquanto estavam ajudando a limpar o sótão da casa de um amigo. Eu me ofereci para levá-lo embora. Agora, quando eu deixar que esta criatura saia, o que vamos ver?"

A mão de Lily subiu rapidamente.

"Srta Evans?"

"Não sabemos, Professor," ela sorriu. "Se ele toma a forma do medo, então vai se apresentar de forma diferente para cada um de nós."

"Você está quase completamente correta," o Professor assentiu. "O Bicho Papão lida com indivíduos. Então, vai se focar em cada um por vez. Se vocês estiverem em grupo, como agora," ele apontou para a turma como um todo. "Então, vai confundir o Bicho Papão e dar a vocês uma chance maior de se defenderem dele. Mas se ele se focar, vai tomar a forma do seu maior medo e todos serão capazes de ver. Não apenas você."

Mia, Sirius e Remus empalideceram.

"O feitiço que repele o Bicho Papão é simples, mas requer força de vontade. Vejam, o que realmente vence o Bicho Papão é a risada. O que vocês precisam fazer é que ele tome a forma de algo que vocês achem engraçado," o professor foi indo. "Nós vamos praticar o feitiço sem varinha primeiro. Depois de mim, por favor... Riddikulus!"

"Riddikulus!" A turma disse em conjunto.

"Srta McDonald, você pode vir aqui e me ajudar a demonstrar para a turma como se focar no feitiço?" O ruivo sorriu e Mary se levantou devagar e foi para a frente da classe, olhando para o malão fechado. "Agora, do que você tem medo?" Ele perguntou.

"Ratos," Mary falou baixinho.

Sirius, James e Remus compartilharam um olhar. Peter olhou para o chão, parecendo devastado. Mia flagrou o olhar e levantou uma sobrancelha. Então, os meninos finalmente começaram o treinamento Animago.

"Muito bem, quando eu deixar o Bicho Papão sair e ele se transformar no seu medo, eu quero que você levante a varinha e pense em algo engraçado. Pense bem claramente, foque-se e diga, 'Riddikulus!', tudo bem?" Ele sorriu para a menina, que assentiu nervosamente.

"Todos estão prontos?" Professor Prewett perguntou.

Lentamente a turma se afastou de Mary, mas ninguém mais rápido do que Mia, Remus e Sirius que ficaram parados com as costas grudadas na parede da sala. O Professor balançou a varinha e o cadeado que mantinha o Bicho Papão no malão se abriu e a tampa foi jogada para trás com um estrondo enquanto um rato grande, do tamanho de um cão se arrastava para fora com olhinhos lacrimejantes e dentes da frente amarelos e longos. Ele se virou, cheirando o ar até Mary que parecia petrificada.

"Riddikulus!" Ela finalmente gritou e observou enquanto uma grande ratoeira aparecia embaixo do rato e fechava. Peter deu um alto grito e se virou para vomitar na lixeira mais próxima. Mia sorriu de forma vingativa com a visão, mas voltou a olhar para o rato que tinha virado um rato de borracha que gritava enquanto a armadilha o apertava.

"Muito bem!" O Professor Prewett disse com um sorriso e Mary sorriu também. "Bem, todos formem uma fila!" Todos fizeram, menos os três Grifinórios assustados no fundo da sala.

"Srta Brown!" O Professor apontou para Alice.

Houve um alto barulho e onde estava um rato de borracha, agora aparecia uma grande barata rastejando na direção da jovem Alice.

"Riddikulus!" Chorou Alice.

A barata escorregou em uma casca de banana que apareceu nos pés dela e caiu de costas, não conseguindo se endireitar.

"Sr Pettigrew!" O Professor chamou e Peter lentamente deu um passo à frente, segurando a varinha nervosamente. Com um crack, a barata se transformou em um grande gato que andava para frente e para trás, seguindo Peter com os grandes olhos amarelos, lambendo o focinho.

"Riddikulus!" Ele gritou.

O gato encolheu rapidamente para o tamanho de um pigmeu com um laço vermelho gigante em volta do pescoço. Ele soltou um pequeno miau antes que o peso do laço fosse muito e o gatinho tombasse para a frente, batendo o seu pequeno rosto no chão.

"Srta Evans, sua vez!"

Lily engoliu em seco e deu um passo a frente bem quando o gatinho crescia, tomando a forma de um homem com a cara pintada de branco, cabelo ruivo cacheado e grandes sapatos da época de discoteca. Lily estremeceu com a visão e olhou para longe.

"O que diabos é isso?" James estava boquiaberto.

"Um palhaço," Mia respondeu baixinho e todos a olharam. "É uma coisa... Trouxa," ela encolheu os ombros e acrescentou. "Eu li sobre eles."

"Riddikulus!" Lily gritou e o palhaço olhou para o próprio peito onde todos ouviram um barulho de tic tac. Ele abriu a camisa e revelou um relógio preso em bananas de dinamite. De repente o palhaço explodiu bem na frente deles, caindo confete em cima de todos.

"Muito bem, Sr Potter," o Professor apontou para James.

"Pobre Jamie," Mia balançou a cabeça. "Ele não vai admitir, mas tem medo de cobras," ela franziu o cenho. "Os Sonserinos vão fazer a festa," ela suspirou enquanto via o irmão se aproximar da pilha de confetes não chão e ela se transformava na frente dele.

Só que em vez de virar uma grande cobra que ela esperava ver, tudo o que ela viu foi uma porta dupla. A boca de Mia se escancarou enquanto olhava para as portas de carvalho branco familiares. "Essa é...?" Ela começou com pânico nos olhos e quase imediatamente ela sentiu duas mãos em seus ombros, segurando-a. Um pertencia a Remus, a outra a Sirius. Os olhares em seus rostos disseram que eles sabiam o que estava prestes a acontecer.

Mia olhou enquanto James encarava as portas em silêncio e, de repente, um grito agudo ecoou por trás delas.

O grito de Mia.

James empalideceu e pela primeira vez parecia que o jovem Grifinório não sabia como reagir. Diferente dos outros antes dele que se aproximaram com as varinhas no alto, James não parecia ter medo do seu Bicho Papão. Em vez disso, ele começou a entrar em pânico.

"Vá em frente, James," Professor Prewett o encorajou enquanto a porta continuava a emitir gritos por trás dela.

"Riddikulus!" James finalmente gritou e o grito atrás delas se transformou em risadas. Mas em vez de parecer orgulhoso ou mesmo presunçoso, James afastou-se do Bicho Papão com a cabeça baixa e com a testa franzida de raiva. Sem uma palavra, James se virou e saiu da sala, não dando um olhar a ninguém enquanto saía.

"Isso é tudo por agora," o Professor Prewett disse enquanto apontava a varinha para o Bicho Papão, falando um encanto para conter a criatura, enfiando-o de volta no malão. "Leiam o capítulo um capítulo do livro e estejam preparados próxima aula para mergulharem em feitiços defensivos básicos," acrescentou. "Liberados."

Todos se viraram para irem embora, ninguém mais ansioso do que Mia e os Marotos que estavam determinados a irem atrás de James, mas infelizmente uma voz falou. "Não vocês três," Professor Prewett falou, os olhos neles. "Srs Black e Lupin e Srta Potter, vocês podem esperar um pouco." Cada um deles deu um suspiro.

"Sr, eu acho que deveria ir atrás do meu irmão," Mia virou uma vez que a turma toda tinha ido embora e a porta tinha sido fechada.

"Devo assumir que a voz que o Sr Potter ouviu atrás daquela porta era sua?" Ele perguntou.

"Sim," Remus e Sirius responderam juntos, ambos parecendo aflitos. Mia se virou para eles com os olhos arregalados e envergonhada.

"Eu tenho pesadelos, Sr," ela admitiu.

"Esses pesadelos são compartilhados?" Ele perguntou e olhou para os três deles. "Alguns medos são piores do que outros, Srta Potter," ele explicou. "Eu não imaginei que em um grupo de alunos de treze anos haveria mais a temer do que alguns insetos, um vampiro ou dois, talvez até um Espírito Agourento, se tivéssemos sorte," ele sorriu. "Eu cometi um erro ao assumir isso e peço desculpas," ele botou a mão sobre o coração em um gesto de remorso genuíno. "Eu vou dizer a mesma coisa ao Sr Potter quando o vir de novo."

"Obrigada, Sr," Mia acenou.

"Tendo dito isso, eu me recuso a deixar que meus alunos deixem o medo se sobressair. Esse era o propósito da lição, apesar de tudo," ele levantou e se moveu em direção ao malão. "Um talento importante para se aprender a lutar contra as Artes das Trevas é observar os arredores. Vocês sabem o que eu observei hoje?" Ele perguntou e todos os três balançaram as cabeças. "Quando eu falei minhas intenções de liberar o Bicho Papão onde todos poderiam ver, eu observei um grande grupo de alunos curiosos mas nervosos," ele sentou no malão que estava tremendo de novo. "E três," ele apontou para cada um deles individualmente. "Três Grifinórios se escondendo no final da sala, aterrorizados."

Mia se recusou a quebrar o contato visual com o homem enquanto Remus e Sirius evitaram olhar para ele.

"Grifinórios não são conhecidos por recuarem quando estão com medo," ele fez um ponto. "Mas com a coragem ousada em questão ao serem classificados para a casa do grande Godric vem também as fraquezas," Professor Prewett sorriu suavemente. "Essas incluem incluem orgulho. Eu imagino que cada um de vocês não tiveram medo de enfrentar o Bicho Papão, mas estavam mais preocupados com os outros que veriam os seus medos."

Os três assentiram.

"Posso fazer uma sugestão?" Ele ofereceu. "Eu sugiro que vocês enfrentem os medos de vocês. Tanto o que vocês acreditem que o Bicho Papão vá tomar forma, e também o de que outros vejam sua fobia pessoal."

Eles ficaram em silêncio.

Sentindo a hesitação deles, o Professor falou de novo. "Srta Potter?" Mia olhou para ele. "Você confia nesses meninos? Eles são seus amigos?"

"Eles são meus melhores amigos," ela falou baixinho e concordou.

"E você confia neles?"

"Com certeza."

Exceto com a verdade.

"E vocês dois?" O Professor Prewett se virou para os garotos.

"Eu confio neles," Remus assentiu solenemente.

"Eu não quero que eles vejam," Sirius estourou, um olhar de frustração e raiva no rosto. Intuitivamente, Mia segurou a mão dele e a raiva de Sirius derreteu no que parecia vergonha e culpa. Ele entrelaçou os dedos com os dela e assentiu silenciosamente. "Tudo bem," ele deixou sair um suspiro irritado. "Mas eu não vou primeiro."

"Eu vou," Remus suspirou. "Eles já sabem de qualquer jeito," ele murmurou baixinho e deu um passo à frente, segurando a varinha.

Professor Prewett se levantou, pegando a própria varinha e a apontando para o malão que tremia. "Agora, Sr Lupin, eu quero que você tome o seu próprio tempo. Não grite o feitiço apenas para que o Bicho Papão vá embora. Se eu estou certo," ele suspirou enquanto olhava o menino. "Vocês três vão precisar de tempo para focar a imagem, talvez examinar seus medos mais de perto para conquistá-los, em vez de escondê-los."

Remus deu um curto aceno.

O Professor sacudiu a varinha e o malão se abriu com um estrondo. Nada aconteceu a princípio, o que chocou Mia. Ela esperava ver a imagem de uma lua aparecer no centro da sala. Ela tinha visto o Bicho Papão de Remus antes, nesta mesma sala de aula, durante uma aula em que ele estava ensinando. Claro que agora Mia sabia de onde o Professor Lupin teve a ideia de trazer um Bicho Papão para a sala em primeiro lugar.

Um baixo rosnado foi ouvido de dentro do malão e Remus segurou a respiração, os suaves olhos verdes dele se arregalando a medida em que um lobo gigante saía do malão.

Remus se virou e olhou para o Professor em pânico, mas o homem apenas acenou. "Eu sei, o Professor Dumbledore explicou a sua situação, e você está a salvo aqui. Ninguém vai descobrir nada que você não queria."

Remus pareceu apenas assentir, um olhar de culpa no rosto.

As enormes patas do lobo bateram no chão e a boca de Mia se abriu com a visão. Ela o tinha visto antes, é claro, apesar de ter sido à noite com apenas a lua dando luz para a cena. Ele também era um borrão em movimento quando ela viu pela primeira vez um Remus mais velho se transformar no animal que agora estava diante de todos. Um borrão em movimento causado por um grande cão negro que tinha saltado para defender ela, Harry e Ron do lobisomem se aproximava.

Quase como se a história se repetisse – pelo menos a sua história – Mia podia sentir Sirius se aproximando dela, um olhar protetor no rosto. Ela não podia deixar de sorrir por dentro ao ver o gesto familiar antes que sua atenção fosse trazida de volta ao grande lobisomem que agora ficava cara a cara com Remus.

O lobo rosnava constantemente, os olhos âmbar e ouro brilhando enquanto encarava Remus, que estava tremendo com a visão. Mia observou em silêncio, examinando os olhos do grande lobo e a cor do pelo, totalmente sem se dar conta que a mandíbula do lobisomem estava cheia de sangue, o líquido vermelho escorrendo da boca dele, criando uma piscina no chão, aos pés de Remus.

"Está tudo bem, filho," o Professor Prewett disse, segurando a varinha firmemente na mão, só por via das dúvidas. "Estou aqui, tome o seu tempo," ele instruiu calmamente.

Remus encarou a besta, e o medo virou desgosto.

"É lindo," Mia sussurrou suavemente para ela mesma enquanto observava o modo com que a luz batia no pelo do lobo. Uma adorável cor de areia, igual ao cabelo de Remus.

"Você está louca?!" Remus se virou para ela, os olhos dele brilhando ouro e âmbar, refletindo o lobo que estava atrás dele. Ele a olhou como se ela fosse estúpida, porque nesse momento ela com certeza era. "Você sabe o que é isso?!" Ele gritou de volta para ela.

"Sim!" Mia gritou.

"Você sabe de quem é a porra desse sangue então?!" Remus rosnou. "Vamos lá, Mia, dê um maldito chute!" Sirius reagiu na hora se botando imediatamente na frente de Mia, mas ela rapidamente o empurrou para longe, nunca tirando os olhos de Remus que tinha acabado de xingar para ela, os olhos cheios de raiva. Como se para marcar um ponto, o Bicho Papão lobo cuspiu algo na poça de sangue no chão. Todos se viraram para olhar e Mia ficou boquiaberta quando viu o brilho dourado do bracelete de ouro feito por duendes, encravado com as palavras da Casa Potter.

"Já chega," Remus balançou a cabeça, furioso e brandiu a varinha. "Riddikulus!"

O Bicho Papão lobo diminuiu até chegar ao tamanho do gato de Peter, para o pequeno tamanho de um filhote de lobo. A visão fez Mia querer chorar quando recordou que Remus tinha sido mordido e transformado quando tinha apenas quatro anos de idade. O jovem lobisomem olhou para todos antes de prosseguir para a porta.

"Ah, não, você não vai," Mia disse firmemente e se pôs no caminho dele.

"Sai," Remus rosnou para ela.

"Eu não tenho medo de você," ela disse levantando as mãos para pegar as bochechas dele. Ele tentou ir para longe dela primeiro, mas ela o segurou. "Não!" Ela insistiu. "Você nunca iria me machucar," ela prometeu. "E eu não tenho medo de você."

"Você deveria ter," Remus murmurou, o olhar raivoso fugindo do rosto dele enquanto ele olhava para ela com tristeza, como se ele já a tivesse matado ou, pior, a infectado.

"Se você já acabou com a festinha de pena, Remus," a voz irritada de Sirius quebrou a tensão. "Eu gostaria que a minha começasse e esquecer que esse dia aconteceu," ele disse sombriamente enquanto se aproximava da frente da sala e olhava para o professor, irritado por ter sido posto nessa situação. "Apenas faça," ele resmungou.

Remus e Mia se viraram bem a tempo de ver o filhote de lobo tomar uma forma humana. Mia levantou uma sobrancelha quando viu Sirius parado ali, cara a cara com ele mesmo. Ela deu um passo para perto dele, seguida de Remus que tinha pegado a mão dela no processo e os os dois ficaram atrás de Sirius, olhando para a visão do outro.

"Merlin," Sirius balançou a cabeça. "Walburga iria amar isso," ele engoliu com força.

Mia imediatamente percebeu as diferenças no Bicho Papão. A duplicata de Sirius usava vestes verde e prata, com o símbolo da Sonserina bordado. O cabelo dele, ainda que longo e negro, estava bem penteado e amarrado para trás com uma tira de couro bem parecida com a de Regulus. Ele também tinha um sorriso fixo no rosto que a lembrava muito de um jovem Draco Malfoy, e o pensamento fez o estômago dela revirar. Memórias de ser chamada de Sangue-ruim ainda estavam muito frescas.

Então, o Bicho Papão Sirius levantou a varinha, com um sorriso diabólico e a manga caindo pelo braço, Mia viu o contorno de algo escuro e negro contra a pele dele. Ela engasgou com a visão, percebendo imediatamente o que era, mas ela não teve tempo de dizer ou fazer nada já que o Bicho Papão falou, "Avada-"

"Riddikulus!" Professor Prewett gritou e o Bicho Papão explodiu em milhares de panos pretos. Sirius ficou ali parado, encarando o nada com olhos arregalados e aterrorizados. "Sinto muito, filho," Professor Prewett balançou a cabeça. "Bichos Papões não tem capacidade de lançar feitiços, mas," ele suspirou. "É um hábito, eu imagino, se defender contra maldições," ele explicou.

Mia se apressou e passou os braços fortemente ao redor de Sirius que, diferente de Remus, na mesma hora a abraçou de volta, enfiando o nariz na imensidão de cachos e usando o suave cheiro do shampoo floral dela para o acalmar emocionalmente.

"Meninos, vocês fizeram um ótimo trabalho hoje," Professor Prewett falou. "Eu queria trabalhar algumas coisas com cada um de vocês, separadamente," ele admitiu. "Eu acho que é importante," o homem acenou com a cabeça firmemente, dizendo que não ia aceitar um não como resposta. Remus e Sirius meramente deram um aceno concordando. "E quanto a você, Srta Potter, eu vou procurar um novo Bicho Papão para que você termine a lição," ele explicou. "No meio tempo, eu espero que você consiga falar sobre esses pesadelos com alguém. Não é bom deixar que o medo aumente."

"Obrigada, Professor," Mia disse, mas certamente sem querer realmente dizer as palavras.

Logo após os três amigos deixarem a sala, Sirius murmurou, "Mia?" O que o seu Bicho Papão viraria?" Ele perguntou curiosamente.

Ela não queria dizer a eles. Mas os dois tinham se aberto completamente para ela, deixando que ela visse a maior fraqueza deles. Seus maiores medos. Medos que ela sabia serem desnecessários. Remus não era um monstro e Sirius não era um Comensal da Morte. Mas ela não pôde evitar franzir o cenho, sabendo o destino deles. Remus seria de fato rotulado como monstro, isolado da sociedade e forçado a viver na pobreza por causa da sua aflição. Sirius iria eventualmente ser rotulado como Comensal da Morte, preso pelo assassinato e traição de seus melhores amigos. Os maiores medos dele os iriam perseguir por anos ainda.

"Meu Bicho Papão tomaria a forma de vocês dois," ela explicou. "Me dizendo o quanto me odeiam."

Sirius e Remus compartilharam o mesmo olhar de confusão nos rostos e ela poderia dizer que eles achavam o medo dela estúpido.

"Isso é..." Sirius começou.

"Impossível," Remus terminou. "Mia, você é minha melhor amiga. Eu nunca poderia te odiar. Na verdade, eu não consigo pensar em uma única coisa que você poderia fazer que me faria te odiar," ele estendeu a mão, tomando o rosto dela do mesmo jeito que ela fez com ele antes.

"Ele está certo," Sirius concordou. "Por que diabos você teria medo de algo tão... tão... tão estúpido?" Ele explodiu e Remus deixou escapar um suspiro de frustração para a escolha de palavras de Sirius. Mia nem sequer pestanejou com elas.

"Porque vocês são tão importantes assim para mim," ela admitiu. "Porque... porque eu fico aterrorizada ao pensar que em vinte anos vocês dois estarão longe, tudo vai ter mudado e vocês vão apenas... me odiar," ela balançou a cabeça. "Olha, está bem, é estupido, eu entendi," ela resmungou.

"Pelo menos você sabe, gatinha," Sirius ofereceu um pequeno sorriso.

Claro que Mia não iria dizer toda a verdade. Seu Bicho Papão teria sido os dois deles de pé na frente dela, mas em vez de garotos de treze anos, que agora caminhavam ao lado dela, eles pareceriam com os homens de quarenta anos de idade que colocavam aos seus pés o que seria o corpo de um James Potter de vinte anos, olhos abertos sem expressão – que Mia não tinha conseguido salvar.


N/A: opa, surpresa! Hahahaha
Não estou conseguindo me concentrar pra prova de segunda, então resolvi postar mais um logo.
Esse cap é mais pesadinho, mas que revela muita coisa. Espero que gostem!
Se eu não conseguir realmente estudar nada, de noite posto outro cap, mas não garanto nada.
Beijos :)