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The Debt of Time

Parte Dois – O Vira-Tempo

Capítulo Trinta e Sete: No Controle

"...You can kiss me in the moonlight
On the rooftop under the sky, oh
You can kiss me with the windows open
While the rain comes pouring inside, oh
Kiss me in sweet slow motion
Let's let everything slide
You got me floating, You got me flying..."
(This Kiss - Faith Hill)


17 de junho, 1975

Hogwarts Escola de Magia e Bruxaria

Torre da Grifinória

"Você confia em mim, Remus?" Mia perguntou suavemente.

A lua cheia seria na próxima segunda feira e ele já estava um pouco no limite. Não ajudava os exames serem naquela semana, e Remus estava determinado em ir perfeitamente bem em todas as aulas para conseguir o tão sonhado distintivo de Monitor da Grifinória. Ele confessou a ela tarde da noite enquanto estavam sentados no Salão Comunal, com as chamas dançando gentilmente na lareira na frente deles, enquanto ele entrelaçava os dedos de uma mão preguiçosamente nos dela e, com a outra mão, ficava fazendo círculos no ombro dela, devagarzinho.

Ele disse a ela que sentia que precisava provar que ele era um bruxo de verdade porque o mundo nunca o veria como um. Ela franziu o cenho e tentou aliviar as frustrações dele, fazendo promessas que ele seria um ótimo duelista, capaz de combater todos os tipos de bruxos das trevas e até criaturas como Dementadores. Remus riu com a imaginação detalhista dela e insistiu que ele ficaria feliz com uma vida calma após Hogwarts; e um trabalho, se ele tivesse sorte. Se tornar um Monitor e ser um dos melhores alunos agora era a meta de vida dele. Mostrar que ser um lobisomem não o tornava pior em magia.

Ele nunca tinha contado a ninguém preocupações como essas. Ele confiou tudo nela.

"Claro que eu confio," Remus acenou com um sorriso nervoso, encarando a taça nas mãos de Mia enquanto ela a estendia para ele. Os olhos verdes dele olharam para o líquido cinza viscoso com uma fumaça azul saindo. Ele confiava nela, especialmente com poções, mas isso não significava que ela não poderia ter algo diabólico planejado e Remus sempre gostava de estar preparado.

"Então, beba," os olhos dela o imploraram e ele levantou uma sobrancelha em genuína confusão com a expressão no rosto dela. "Todo dia, por uma semana, antes da lua."

Da lua cheia? Remus se afastou da poção, de repente mais nervoso do que antes. Uma coisa era talvez beber uma poção e ficar com o cabelo de outra cor, ou talvez aquela vez em que ela duvidou que os Marotos tomassem uma poção que induzia a risada no meio da aula de Transfiguração e então fez apostas sobre quem pegaria detenção primeiro (Peter). Mas tomar uma poção que ela achava que teria algo a ver com a lua e sem dar detalhes?"

"Mia, eu sei que você é boa em poções, mas..."

"Remus, por favor," ele podia ver lágrimas se formando no canto dos olhos dela e a visão fez o peito dele apertar. Ele não aguentava quando ela chorava. "Eu sei que é difícil para você confiar nas pessoas em relação a sua Licantropia," ela fungou e Remus franziu o cenho, querendo abraçá-la e fazê-la sorrir.

"Mia," ele suspirou.

"Eu sei que o perturba me deixar ajudá-lo," Remus fez uma careta. Isso era conhecido. Ele mal a deixava ir na Ala Hospitalar desde que começaram a namorar no começo do ano, e mesmo assim, ela só tinha ido uma vez para curá-lo. "Mas eu quero... eu preciso que você faça isso por mim. Por favor, beba essa poção," ela estava implorando agora e algo no jeito que a palavra 'por favor' saiu dos lábios dela enviou uma vibração primitiva pelo peito dele. "Essa noite," ela estendeu a taça para ele de novo. "E todas as noites até a lua."

Ele fechou os olhos e inalou o cheiro dela para tentar se acalmar. Esse cheirou costumava deixá-lo em um frenesi, mas agora que ele podia segurar a mão dela, podia tirar o cabelo da nuca dela e inalá-lo quando ele quisesse, ele o acalmava. Também ajudava que o cheiro dela não estivesse mais misturado com o de Sirius. Só com o dele. Ele com certeza iria mentir se ela o perguntasse diretamente, mas quando ela o abraçava fortemente, ele esfregava a bochecha contra a dela por puro instinto, a marcando como dele.

"Eu confio em você," ele assentiu e pegou a taça, sorrindo com a maneira que os olhos dela brilharam. Brilharam tanto que a íris dela mudou do chocolate para um tom conhecido de âmbar que o pegou de surpresa. Então, ela piscou e os olhos dela voltaram para o chocolate.

"Obrigada," ela sorriu docemente e o beijou na bochecha. Remus assentiu e levou a taça aos lábios, bebendo tudo em um grande gole, imaginando que se ele conseguisse acabar com isso rapidamente ele teria menos uma chance de deixar os nervos terem o melhor dele. No entanto, no segundo em que líquido caiu em sua boca ele quase engasgou. Forçando-o para baixo de sua garganta, ele fez uma careta e engoliu em seco e, em seguida, virou-se para ela como se ela tivesse batido nele.

"Eca, eu confiei em você!" Ele tossiu, deixando a taça o mais longe possível dele. "Isso tem gosto de... de..." Mas não tinha comparação.

"Como lamber o interior do Chapéu Seletor?" Mia sugeriu e Remus arregalou os olhos, concordando. "É, desculpe por isso," ela franziu o cenho para a taça. "Não consigo fazer o gosto melhorar," ela suspirou e Remus balançou a cabeça. "Mas você ainda precisa beber."

oOoOoOo

24 de junho, 1975

Hogwarts Escola de Magia e Bruxaria

Salão Comunal da Grifinória

"Onde está Mia?!" Remus gritou enquanto entrava no Salão Comunal quase vazio. A lua cheia tinha sido na noite anterior e após acordar na Ala Hospitalar como geralmente fazia, Remus tinha roubado três frascos de Poção Revigorante e as virado como se fossem doses de Firewhisky antes de sair da enfermaria contra as instruções de Madame Pomfrey. Os estudantes estavam deixando Hogwarts para o verão naquela manhã e ele tinha planejado ir embora através de uma Chave de Portal de tarde, quando estivesse se sentindo melhor.

Mas isso não podia esperar.

"Ora ora ora, olha só para você, Moony," Sirius sorriu debochado enquanto descia as escadas, a vassoura no ombro. Todo o resto da Torre da Grifinória tinha descido mais cedo, malões todos arrumados e prontos, mas James e Sirius queriam dar mais uma volta no campo para celebrar outro ano vencendo a Copa de Quadribol, apesar de terem perdido a Copa das Casas por mais de duzentos pontos.

"Você está de pé e parecendo menos fodido do que parecia mês passado," Sirius riu para Remus enquanto botava a vassoura no chão ao lado de seu malão, que estava coberto de adesivos Trouxas e de bandas também Trouxas que Sirius tinha ficado obcecado com o passar dos anos. "Ei, Prongs!" Sirius gritou. "Venha ver isso! Moony não parece que vomitou!"

James desceu correndo as escadas, vassoura na mão e suas roupas abertas por cima da veste vermelho e ouro da Camisa de Quadribol, a varinha atrás da orelha. "Uau," James acenou com a cabeça para o amigo lobisomem. "Você parece... mais saudável... mas menos são?" Ele levantou uma sobrancelha ante o olhar quase bestial no rosto menos pálido de Remo. "O que mordeu a sua cauda?"

"Eu já usei essa," Sirius murmurou para James.

"Muito bem," James bufou. "Quem..." ele pensou em voz alta.

"Pisou na sua pata?" Sirius sugeriu.

"Obrigado, Sr. Padfoot," James sorriu.

"Disponha, Sr. Prongs," Sirius riu.

"Os dois idiotas podem calar a boca?" Remus rosnou. "Onde está Mia?"

Sirius fez beicinho. "Aparentemente, Moony de manhã é um Moony idiota, Prongs."

"De fato, ele é, Padfoot," James falou enquanto balançava a cabeça desaprovadoramente.

Remus respirou lenta e profundamente, não tendo a paciência necessária para as palhaçadas de James e Sirius. "Me digam onde Mia está," ele começou devagar. "Ou eu vou contar para Lily que foi você que roubou todos os livros dela e escreveu 'Sra. James Potter' neles," ele ameaçou o amigo de cabelos bagunçados.

James riu. "Boa tentativa, amigo, mas ela já sabe disso," ele disse quase orgulhoso enquanto levantava a manga da camisa. "Eu tenho a cicatriz da azaração que ela lançou para provar," ele sorriu enquanto apontava para um longo remendo prateado que cobria a parte de trás do antebraço inteiro dele.

Remus gemeu e passou os dedos pelos cabelos em frustração. "Por que vocês dois estão sendo tão difíceis?" Ele perguntou irritado.

"Não tenho certeza," James admitiu casualmente. "Pode ser por causa das suas reações, se eu for honesto. Estou muito tentado com a necessidade de mexer com a sua cabeça agora," ele riu e Sirius acompanhou. Remus se virou e rosnou para eles, os olhos brilhando ouro e âmbar. Os dois imediatamente pararam de rir, apesar de nenhum parecer intimidado. Eles vinham lidando com um lobisomem temperamental há anos.

"Está bem, está bem," James desistiu. "Por que você precisa ver minha irmã?"

"Ela tem me dado uma poção há uma semana," Remus admitiu tentando se acalmar.

"Que poção?" Sirius perguntou curioso.

"Eu não tenho certeza," Remus suspirou. "Ela não quis me falar o nome."

"Você tomou uma poção da sua namorada sem saber o nome?" Sirius estava boquiaberto e Remus se recusou a encará-lo.

"Eu sei, eu sei," Remus resmungou.

"Melhor ainda, você tomou uma poção da Mia sem descobrir nada sobre ela?" James teria rido se não fosse potencialmente perigoso. "Você se lembra da Grande Explosão de Arco Íris de 1974, né?"

"Ou da poção que induzia risada que ela duvidou que a gente tomasse?" Sirius se intrometeu.

"Ou da poção explosiva que ela botou descarga abaixo no banheiro feminino do segundo andar?" James riu.

"Tenho quase certeza que essa foi a gente, parceiro," Sirius disse enquanto pensava a respeito.

"Ah é," James concordou. "E sobre a bebida balbuciadora que ela botou no suco de Peter no último Dia dos Namorados?" James acrescentou. "Ele ainda está proibido de ficar a menos de dez passos da mesa da Lufa-lufa..."

"E do Banheiro dos Monitores..." Sirius continuou.

"E MacDonald deu um soco na cara dele..." James assentiu.

"Um dente dele saiu voando," Sirius riu com a memória. "Lembra que a gente falou para ele consertar com um feitiço adesivo, Prongs?" Ele riu e James começou a rir também.

"Mas a gente botou o contra-feitiço!" Os dois bruxos de cabelos negros falaram ao mesmo tempo.

"Ei!" Remus gritou. "Podemos falar sobre a miséria de Peter depois?! A maldita poção... me manteve lá!"

"Te manteve aonde?" Sirius piscou confuso.

"Me manteve..." Remus suspirou e desabou no grande sofá. Ele podia sentir o cheiro dela nele todo. "Me manteve lá. Eu estava lá, no controle," ele respirou lentamente. "Pela maior parte."

"Eu não entendo," James disse enquanto se sentava ao lado do amigo e Sirius se apoiava na lareira apagada, os braços cruzados no peito e um pé por cima do outro.

"Quando eu me transformo, eu me torno o lobo," Remus explicou. "O lobo assume completamente. Eu ainda estou lá, mas é como se eu assistisse por trás, como se alguém assumisse o controle do meu corpo. Eu me lembro de pouca coisa todo mês, porque é como se eu não estivesse presente de verdade. Mas na última noite eu estava lá," ele olhou para os amigos que o encarava com os olhos arregalados cheios de interesse.

"A noite passada foi..." Remus disse em um sussurro enquanto se lembrava.

Ele foi levado até o Salgueiro Lutador como de costume e ele se virou para ver Mia sorrindo para ele das portas do Castelo, um olhar cheio de esperança no rosto que o fez se sentir genuinamente nervoso. Ela não tinha falado sobre a poção pelo resto da semana, mas ainda o forçou a beber aquela nojeira todos os dias antes da lua cheia, o próprio dia inclusive. Descendo pelas escadas abaixo do Salgueiro, Remus fez a caminhada estressante até a Casa dos Gritos e quando ele iniciou sua costumeira rotina de tirar a roupa e dar lentas respiradas, a lua começou a subir.

Sua pele coçava muito e parecia que ele precisava para coçá-la até os ossos. Um calor tomou conta do corpo dele e ele podia sentir o sangue pulsando em suas veias, pulsando como se inundasse sua cabeça, derrubando-o no chão, onde seus joelhos se dobraram e a mudança começou a ocorrer. Dor. Sempre dor. Uma dor excruciante enquanto os ossos mudavam, se alongavam até que alguns deles quebrassem, apenas para se curarem momentos depois. Os músculos rasgaram, se ajustando e se reparando, e a pele de suas costas se abriu para acomodar sua forma secundária. Pêlo, macio e grosso fez caminho através da pele dele, e seu rosto se alongou em um focinho, ao mesmo tempo em que suas unhas caíram no chão pesadamente, mudando para grandes garras.

Normalmente, o lobo assumiria o controle e procuraria por uma saída. Procuraria por algo para matar, estraçalhar, e depois, algo para tomar, para acasalar. Claro que trancado dentro da Casa dos Gritos não tinha nada nem ninguém e, nesse ponto, o lobo descontaria as frustrações nele mesmo. Tinha sido horripilante ao longo dos anos ver por trás dos olhos do lobo como seus desejos mudaram. Tinha sido uma das razões para que Remus insistisse em não ficar muito físico com Mia. Ele temia que um dia o lobo assumiria completamente e não haveria nada Remus pudesse fazer para impedi-lo de machucá-la.

Mas na noite passada... o lobo estava atrás e Remus estava na frente. Ele sentou na Casa dos Gritos, cheirando o ar ao redor, esperando que o lobo começasse a cortar a pele dele nervosamente quando falhasse em escapar. Mas nada aconteceu. Ele se levantou nas longas patas traseiras, olhando por entre as frestas da janela, onde ele encarou a lua que o chamava, mas não o dominava.

"Eu estava totalmente no controle," Remus admitiu baixinho, reverentemente. "Quer dizer, eu me transformei e tudo como o normal, mas foi como se eu visse pelos meus próprios olhos e me mexesse a vontade."

"Merlin..." James murmurou, chocado com a revelação. "E Mia..."

"Eu preciso saber onde ela está, Prongs," Remus disse olhando para o amigo, desesperadoramente.

"Ela saiu mais cedo com a Evans para o trem," James respondeu imediatamente. "Nós ficamos para te esperar."

"Bom, eu estou aqui agora," Remus levantou do sofá e correu para o buraco no retrato. "Vamos!"

oOoOoOo

Estação de Hogsmeade

Mia sorriu enquanto observava Lily ajudar uns alunos do primeiro ano com a bagagem, propositalmente tentando chamar a atenção dos atuais Monitores e Monitores Chefes, como se a opinião deles importasse sobre quem seriam os Monitores no próximo ano. Enquanto isso, Mia observava o Castelo no horizonte, mordendo o lábio inferior enquanto pensava nervosamente em Remus, rezando a Merlin para que ela não tivesse errado na poção. Ela deixou Hogwarts com Lily, Alice e Frank no momento em que soube que Remus estava na enfermaria, vivo e respirando, mas não esperou até que ele acordasse. Ela estava apavorada que algo tivesse dado errado e que ele estivesse furioso com ela por interferir em algo tão sensível como a Licantropia dele. Contanto que ele estivesse vivo, ela poderia ir para casa e ouvir dele através de corujas.

"Mia, eu achei que você tinha dito que Remus não estava se sentindo bem hoje," Lily murmurou enquanto se virava para a amiga de cabelos cheios que estava ajudando um Lufa-lufa do segundo ano a prender a coruja na gaiola.

"O quê?" Mia piscou, olhando para Lily. "Ele não está bem," ela insistiu. "Ele estava na Ala Hospitalar da última vez que eu soube."

"Bom, ele está correndo para cá e não parece totalmente doente," Lily apontou para trás de Mia.

"O quê?" Mia ficou boquiaberta e se virou rapidamente.

Lily estava certa. Remus estava correndo a toda, James e Sirius correndo atrás dele, mas incapazes de manter o mesmo ritmo do lobisomem, mesmo sendo poucas horas após a lua cheia. Ela arregalou os olhos castanhos enquanto via ele tão bem e se perguntou o que diabos ela tinha feito com a poção para ter esse resultado. A Mata-Cão nunca tinha feito nada parecido com isso com o Remus adulto. Pelo menos, não que ela soubesse.

Ele continuou se aproximando, os olhos verdes fixos nela e Mia engoliu nervosamente enquanto ele diminuía a distância entre eles, tirando o suor da testa dele. Ele devia ter corrido o caminho inteiro do Castelo até lá. Ela se preocupou, achando que ele fosse gritar com ela, a chamasse de sabe-tudo ou a mandasse se preocupar com a própria vida de agora em diante. Ela estava aterrorizada que ele fosse dizer que não confiava mais nela, partindo o coração dela e perguntando como ela ousava meter o nariz em algo que não dizia respeito a ela.

"Remus, eu posso explicar..." ela começou, mas ele engoliu o resto da frase dela quando esmagou a boca dela com a dele e a beijou intensamente.

Ele não esperou pacientemente, pedindo permissão silenciosamente como Sirius tinha feito. Remus tirou vantagem imediatamente quando os lábios dela se abriram em choque e ele invadiu esfomeado, gemendo e rosnando contra os lábios dela, fazendo com que os sons vibrassem no fundo da garganta dela, enviando cosquinhas e arrepios pela espinha dela, que rapidamente se transformaram em ondas de calor. O beijo dele era como jogar pedras no Lago Negro. Um mergulho profundo no centro e, em seguida, observando o efeito cascata ao redor, atingindo o banco de areia e as rochas da mesma maneira que esse beijo atingiu todo o caminho até os dedos dos pés dela.

Ela mal conseguia ouvir os assobios e aplausos dos estudantes em torno deles e, de repente, com a audição totalmente devolvida a ela, ela corou ao perceber onde estavam. Ela procurou por ar no momento em que Remus a deixou ir, mas ele não se afastou muito, pressionando a testa contra a dela e olhando profundamente nos olhos chocolate dela.

"Eu te amo," ele disse antes que ela tivesse a chance de restaurar o oxigênio que ele tão desesperadoramente tinha roubado dos pulmões dela. O coração dela derreteu com as palavras e ela piscou algumas lágrimas para ter certeza que era ele mesmo na frente dela. Ela estendeu as mãos e tocou as bochechas dele e saboreou a súbita sensação das mãos dele enfiadas nos cachos dela. Realmente era Remus.

E Remus a tinha beijado.

"Você é uma bruxa brilhante e maravilhosa e absolutamente perfeita," Remus sorriu brilhantemente, os olhos mudando de cor. "E eu te amo."

"Funcionou?" Ela praticamente soluçou a pergunta.

Remus riu e a beijou de novo, dessa vez menos intensamente e por menos tempo, com menos desespero e apetite, mas ela podia sentir o sorriso dele contra os lábios. Ela não estava tão surpresa, mas ela não podia evitar retornar o sorriso quando percebeu que ele tinha sabor de chocolate, e ela deixou escapar uma risada quando ele a tomou nos braços e a girou.

"Ahem," James limpou a garganta e Remus e Mia se separaram e viraram com os rostos totalmente vermelhos para um James ligeiramente divertido e um Sirius aplaudindo educadamente.

"Demorou muito, Moony!" Sirius gritou.

"Lily," Remus se virou para olhar a amiga ruiva com olhos pedintes. "Eu nunca, sob nenhuma circunstância, pediria isso para você, mas..."

"Urg," Lily franziu o cenho. "Você quer que eu distraia o Potter, né?" Ela revirou os olhos. "Tudo bem, mas não posso garantir que ele vá voltar inteiro," ela enfatizou enquanto segurava firmemente a varinha e passava entre Remus e Mia para fazer sua entrada triunfal na frente de James, que quase a perdeu já que estava encarando a irmã e Remus.

"Hmm... Potter?" Lily disse baixinho. "Você... você poderia," ela disse rangendo os dentes. "Você poderia sentar comigo no trem?" Ela fechou bem os olhos, incapaz de olhar para ele enquanto falava as palavras, "Eu gostaria que você explicasse Quadribol para mim."

Ela abriu um dos olhos verdes para olhar a reação dele, mas abriu a boca irritada com os dois olhos de repente abertos vendo James ajoelhado na frente dela, olhando para ela com uma profunda admiração. "Eu sabia!" Ele sorriu. "Eu sabia que se eu continuasse, você iria perceber o quanto me ama!" Ele gritou e Lily estremeceu.

"Cala a boca seu idiota!" Ela sibilou. "Eu não te amo!"

"Casa comigo!" James implorou, os braços abertos como se esperasse que ela fosse abraçá-lo.

"Esse dia fica cada vez melhor," Sirius falou em voz alta, um olhar de genuína satisfação no rosto.

Lily se virou e encarou Remus, que já estava quase na metade do caminho para o trem apertando fortemente a mão de Mia. Ele ofereceu um sorriso de desculpas para a bruxa ruiva que dizia claramente 'te devo uma'. Ela acenou em resposta, os olhos já calculando o interesse massivo que estava acumulando instantaneamente nesse favor para os amigos.

Remus entrou no meio do trem, indo rapidamente para o último vagão, geralmente reservado para os Marotos. Embora eles não tivessem declarado a posse do vagão, sempre esteve vazio depois que Sirius começou um rumor de que os garotos tinham colocado uma azaração de Furunculo no compartimento que iria atacar qualquer um que entrasse sem a permissão dos Marotos. O casal entrou e encontrou Peter já sentado ali.

"Ei, Remus, eu não achei que você fosse..."

"Sai," Remus rosnou.

Peter arregalou os olhos e Mia sorriu com a visão, o olhar de medo no rosto de Peter ante a intensidade de Remus fez o coração dela bater mais forte no peito. Peter respondeu rápido, se levantando e indo até a porta, os olhos em Remus o tempo inteiro. Remus quebrou por um momento e suspirou. "Apenas... Apenas nos dê meia hora, companheiro," ele suavizou o tom.

"Uma hora," Mia resmungou em voz alta e Remus reagiu imediatamente.

"Uma hora," ele disse com um sorriso. Peter corou e se virou rapidamente, fechando a porta atrás de si antes de desaparecer no corredor do trem indo procurar James e Sirius.

No momento em que ele se foi, Remus se virou rapidamente, colocando o rosto de Mia entre suas mãos e levando os lábios até os dela, a beijando doce e suavemente, tentando mostrar sua gratidão sem palavras. A poção dela o deixou acordado, vivo e em controle pela primeira lua cheia desde que ele tinha quatro anos. Ele passou a noite em silêncio, não tendo nenhuma vontade de rosnar ou choramingar. Ele queria dormir, mas não podia. Ele finalmente era capaz de experimentar sua forma de lobo com propósito e controle, e foi lá na Casa dos Gritos, banhado pela luz da lua, que Remus soube que ele tinha que beijá-la. Mesmo que fosse só uma vez.

Mas beijá-la era viciante. Ela o fazia se sentir como um bruxo, um humano, como um homem. O lobo persistia ainda no fundo da mente dele, insistindo que ele a apertasse mais, com mais força e mais perto, a tomasse, mas Remus se conteve. Ele era mais homem do que lobo e ela tinha provado isso para ele. No entanto, ele choramingou quando ela se afastou dele por um momento, mas ela sorriu com a reclamação dele e, então, apontou a varinha para a porta.

"Muffliato, Colloportus!" Ela disse antes de abaixar as cortinas da janela.

Remus engoliu em seco. Um feitiço de silêncio e um para trancar a porta?

"Você realmente acha que Lily pode manter James distraído?" Mia perguntou com as bochechas coradas.

"Ele propôs casamento na frente de pelo menos cinquenta alunos," Remus riu. "Acho que ela consegue pelo menos dez minutos," ele admitiu honestamente. Mandar Peter sair por uma hora foi bem otimista e incrivelmente utópico.

"Dez minutos," Mia assentiu e pressionou as mãos contra o peito dele, deixando que o assento do banco batesse atrás dos joelhos dele até que ele estivesse sentado, a levando com ele, presa ternamente no casulo dos braços deles, as pernas estendidas sobre as deles e os pés largados no assento. Remus sorriu e se inclinou, pressionando um beijo suave, mas significante, na boca dela.

Ele deu vários beijos suaves ao longo da mandíbula de Mia, indo até o ponto onde a pulsação dela passava, onde ele hesitou, tentando lutar contra – mas desistindo – a vontade de sugar a pele dela. Ele foi gentil, dando um beijo no pescoço dela, deixando a língua deslizar pela pele dela e a saboreando pela primeira vez. Ele deixou escapar um rosnado profundo que retumbou no peito dele, então gemeu quando um som de ronronar escapou dos lábios inchados dela. As mãos dele percorreram as costas dela, a apertando mais forte contra ele, enquanto ele percorria a clavícula dela com a boca, uma voz no fundo da mente dele provocando, 'Continue. Mais. Nossa.'

Mas essa voz foi abafada quando Mia se inclinou para ele, encostando a boca no ouvido dele, sussurrando, "Eu te amo também."

Ele parou com essa declaração e ele se lembrou vagamente de ter falado a mesma coisa para ela fora do trem logo após a beijar. Remus não esperava ter dito isso em voz alta, mas as palavras não se contiveram. Ele certamente não esperava que ela retornasse o sentimento, mas, agora que ela tinha, ele sentou reto olhando para ela com choque e admiração, uma parte dele querendo que ela voltasse atrás e pedisse desculpas.

Mas ela não pediu.

Ela sorriu para ele e tocou o rosto dele, olhando no fundo dos olhos dele como se ele valesse mais do que todo o ouro que ela tinha no Gringotes, e como uma Potter ele imaginava que fosse muito. Ela olhava para ele como se ele valesse muito, algo muito importante, como se ele fosse digno. Como se ele fosse, de repente, de algum modo, milagrosamente digno dela. Ele não disse nada, mas a beijou mais uma vez, castamente, e esfregou o nariz no pescoço dela respirando lentamente para se acalmar.

"Você está bem?" Ela murmurou baixinho com a repentina mudança.

Remus sorriu e se afastou ela para dar um beijo na testa dela. "Eu acho que nunca estive tão bem em toda a minha vida," ele respondeu baixinho, passando o dedão suavemente na bochecha dele. "Você deixou tudo de cabeça para baixo," Remus admitiu. "Eu nunca deveria ter tido amigos," ele deixou escapar uma respiração trêmula. "Você mudou isso," ele sorriu para ela. "Eu não deveria ficar perto de alguém assim. Eu não deveria ficar consciente e no controle na lua," ele murmurou. "Ninguém deveria..." ele hesitou mas ela entendeu.

"Eu amo você, Remus," ela repetiu as palavras. "Você deveria tanto ser amado."

Remus sorriu suavemente para ela, pressionando a testa contra a dela gentilmente e fechando os olhos como se ele estivesse focando o momento, o congelando em algum lugar no fundo da sua mente, para que pudesse rever e rever e rever quantas vezes quisesse, durante os momentos de estresse e tristeza. "Você mudou tudo, Mia."

Ele a sentiu contrair no mesmo instante com as palavras dele e ouviu ela respirar curtamente. Os olhos de Remus se abriram e olharam para os orbes castanhos o encarando como se ela procurasse por algo específico dentro dele. "O que foi?" Ele perguntou. "O que houve?"

Ela balançou a cabeça freneticamente, parecendo que ia chorar a qualquer momento.

"Mia?" Ele franziu o cenho. "Eu... eu fiz algo errado?" Ele estava começando a entrar em pânico, mas deixou escapar um suspiro de alívio quando ela balançou a cabeça de novo e sorriu, apesar de algumas lágrimas ainda estarem presentes nos olhos dela.

"Eu não mudei nada," Mia admitiu. "Você não pode mudar o que é para ser," ela começou a morder o lábio inferior. "Eu só estou fazendo o que eu deveria fazer. Eu tenho que aproveitar a minha vida. Eu tenho muita sorte que você esteja tão presente nela," ela tirou o cabelo da testa dele suavemente. "Por favor, sempre esteja na minha vida," ela implorou.

"Já está terminando comigo?" Ele brincou, mas uma parte dele estava aterrorizada. "Eu beijo tão mal assim?"

Mia jogou a cabeça para trás e gargalhou.

"Remus, você beija tão bem que eu poderia ficar beijando você pelos próximos trinta anos, mas isso acabaria sendo esquisito," ela admitiu e Remus levantou uma sobrancelha em confusão, mas Mia deu de ombros. "Só estou dizendo... nós nunca sabemos o que futuro nos reserva, mas eu quero ter certeza que, não importa o que aconteça, você sempre vai fazer parte da minha vida. Meu melhor amigo."

"Então, você não está terminando comigo?" Ele perguntou seriamente dessa vez.

"Não, idiota!" Ela gentilmente deu um tapa no peito dele. "Só quero que você saiba o que eu sinto por você, que eu amo você... e vai além desse relacionamento," ela sorriu tristemente para ele. "Você é uma parte de mim e isso começou há muito tempo atrás, muito antes de eu te encontrar nesse trem," ela admitiu, se inclinando para depositar um beijo nos lábios dele.

"Eu prometo," Remus assentiu. "Para sempre na sua vida."

Ela deixou escapar um longo suspiro de alívio.

"Agora que a gente não está terminando," Remus riu. "Eu preciso deitar."

"Meus lábios são muito para você?" Ela riu.

"Seus lábios são maravilhosos e eu ainda quero prová-los várias vezes. Infelizmente, a lua cheia foi ontem a noite," ele disse, tirando-a do colo dele e a botando no banco. "Eu preciso de, pelo menos, mais seis horas de sono."

"Eu queria te perguntar isso," Mia disse curiosa. "A poção deveria te manter alerta e no controle, mas você parece – ou parecia, até agora – como se nada tivesse acontecido."

"Ah, a sua poção fez o que deveria ter feito, eu acho," ele admitiu, bocejando. "Mas eu precisava te ver hoje, então eu saí da enfermaria depois de beber três Poções Revigorantes," ele murmurou a última parte antes de adormecer.

"Três?!" Ela piscou para ele e arregalou os olhos. "Remus Lupin!" Mas ele apenas roncou suavemente em resposta. Ela deu um suspiro frustrado, planejando ralhar com ele depois sobre se automedicar. Só então houve uma grande pancada na porta e Mia suspirou, levantando a varinha. "Finite Incantatem!" removendo o feitiço silenciador e o que trancava a porta.

James foi o primeiro a entrar pela porta, um olhar perigoso no rosto e o cabelo mais em pé do que o normal, parecendo que tinha sido eletrocutado. Mia o encarou enquanto ele entrava no compartimento, seguido de perto por Sirius que sorria enquanto olhava para Remus.

"Acabou com ele, né, gatinha?" Ele riu até que James o socou.

"O que aconteceu aqui?" James perguntou estreitando os olhos.

"O que aconteceu com o seu cabelo?" Mia rebateu levantando uma sobrancelha.

"Vamos apenas dizer que Evans vai demorar um tempo pensando no pedido de casamento do Prongs aqui," Sirius limpou a garganta, segurando outra risada.