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The Debt of Time
Parte Dois – O Vira-Tempo
Capítulo Sessenta e Nove: Porto Seguro
"...Is it over yet
Can I open my eyes
Is this as hard as it gets
Is this what it feels like to really cry..."
(Cry - Kelly Clarkson)
27 de junho, 1977
Hospital St. Mungos para Doenças e Acidentes Mágicos
Dorea Potter teimosamente provou que os Curandeiros estavam errados, sobrevivendo a noite e o dia seguinte inteiro. Ela deu sua última respiração bem quando o sol se punha contra o horizonte londrino, cercada pelo marido e a multidão de filhos. A família teve bastante tempo para sentar em silêncio e se despedir, mas eventualmente os Curandeiros foram falar com Charlus sobre o que era necessário que acontecesse em seguida.
Sirius liderou todos ao telhado, compartilhando os últimos cigarros que tinha. Todos pegaram, exceto Lily, que estava de braços dados com o mesmo e Mia. Remus tinha o braço em volta dos ombros de Mia, um cigarro na mão livre. À esquerda de Sirius estava James, encarando as luzes da cidade enquanto equilibrava o cigarro entre os lábios. Lily percebeu que ele já havia feito isso antes. Uma pequena parte do cérebro dela anotou que ela precisaria acabar com esse hábito, apesar dela não ter certeza do porque dela se importar o bastante para se esforçar nisso. Peter estava ao lado de James, uma mão repousando no ombro do amigo. Todos encaravam o céu em silêncio.
Lentamente, Lily se separou do grupo, notando com interesse o modo como Sirius e Mia imediatamente fecharam o espaço que ela vagou. A ruiva sorriu tristemente com a cena antes de se virar e andar em silêncio até as escadas, encontrando o Sr. Potter do lado de fora do quarto de Dorea. Ela pensou que ele fosse parecer de luto como Lyall Lupin estava no dia anterior, mas Charlus parecia estranhamente calmo. Triste, quebrado, mas não irritado ou vingativo. Ele só parecia... perdido.
"Sr. Potter, há alguma coisa que eu possa fazer por você?" Lily perguntou genuinamente.
"Obrigado, Lily, não." Charlus sorriu tristemente para a garota, claramente grato pela oferta. "Eu só vou ficar mais um tempinho aqui para organizar os pensamentos e começar os preparos," ele explicou. "Se você não se importar, poderia ver se minhas crianças vão para casa seguras?" O homem de cabelos negros grisalhos perguntou gentilmente.
"Vou fazer isso." A bruxa assentiu, feliz por poder ajudar. "Eu também mandei uma coruja para os meus pais contando o que aconteceu. Eu vou ficar na Mansão por um tempo e ajudar onde puder, mesmo que seja apenas garantir que Sirius não fuja e faça algo estúpido. Se estiver tudo bem com o senhor, claro."
Charlus sorriu suavemente para ela. "Eu ficaria muito grato, Srta. Evans," ele respondeu.
Lily deixou escapar um suspiro de alívio. Ela não conseguia imaginar ir para casa agora, não com Petunia e Vernon lá para repreendê-la por ter ido embora do casamento mais cedo. Os recém-casados tinham escolhido renunciar a lua de mel por questões financeiras; ambos tinham feito Lily e os pais se sentirem culpados para que recebessem mais dinheiro do que os dois poderiam pagar, a fim de ajudar a montar a casa que o casal tinha encontrado em Little Whinging. Lily não podia ir para casa, não para isso. Não quando seus amigos estavam sofrendo e havia algo que ela talvez pudesse fazer para diminuir a dor deles.
"Se o senhor permitir, eu gostaria de mandar Tilly para cuidar do senhor até que volte para casa," Lily disse a Charlus, preocupada que, se ele fosse deixado sozinho, ele não pensaria em comer ou descansar quando devesse. Tilly o ajudaria com isso.
"Isso seria apreciado." Charlus assentiu, mas então franziu o cenho. "Eu imagino que ela já deve ter sido alertada do falecimento de Dorea e vá estar bastante determinada para tentar se manter ocupada."
Lily imitou o franzido dele, se perguntando se a magia de Tilly era conectada à de Dorea. Ela sentiu um puxão em seu coração a dizendo para ir a Mansão agora e mandar Tilly para o St. Mungos; desse modo a pequena elfo não sofreria sozinha.
Uma vez que ela conseguiu tirar os Marotos e Mia do telhado, Lily os conduziu para a Rede de Flu, dando adeus a Peter no processo, que teve uma ânsia repentina de ir para casa e checar a própria mãe. Era algo que todos entenderam completamente.
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Mansão Potter – Residência dos Potters
"Certo, todos vocês para cama," Lily mandou no momento em que eles pisaram na lareira na imensa sala de estar da Mansão. "Foram longos dias. Eu vou levar chá para vocês, se quiserem." Ela observou tristemente enquanto James subia a escada sem falar com ninguém.
"O Firewhisky está bem ali no armário de vidro," Sirius apontou para o esconderijo recém estocado de Charlus.
"Eu vou botar um pouco em um copo," Lily concedeu. Ela observou Sirius ir atrás James, a deixando sozinha na sala com Mia; a amiga estava passando as páginas de um livro que foi deixado aberto em uma mesinha próxima, passando os dedos sobre um marca página de tecido verde com uma serpente prata. A ruiva franziu o cenho e falou, "Tilly?"
Um suave 'pop' e a elfo surgiu, parecendo pior do que nunca. Seus imensos olhos azuis estavam molhados com lágrimas e em suas mãos ela segurava um pequeno lenço que ela usava para assoar o nariz.
"Srta. Lily chamou Tilly?" A elfo olhou para a ruiva e, então, estalou os dedos. "Tilly faz chá. Firewhisky já está no copo do Senhorzinho Sirius," ela apontou para um mais escuro que os demais, no centro do tabuleiro.
"Obrigada, Tilly." Lily sorriu docemente para a pequena elfo. "O Sr. Potter ficaria muito grato se você fosse até o St. Mungos e cuidasse dele por um tempo." Ela observou o olhar ansioso que a elfo lançou a ela com o pensamento de deixar a Mansão quando tinha ocupantes dela. "Eu prometo que vou cuidar de todos enquanto você estiver fora e te chamo caso a gente precise de algo," Lily a assegurou.
Tilly ainda parecia desconfortável. Seus olhos azuis foram até Mia, que finalmente tinha deixado o livro de lado e se aproximava. "Tilly irá... se..." a elfo hesitou antes de finalmente falar claramente. "Se a Senhora precisar que ela vá." Ela fixou os olhos em Mia.
"O quê?" Mia empalideceu com a palavra, uma visão de Monstro no futuro a chamando dessa palavra, 'Senhora', como se ele não tivesse controle quando ela saiu de sua boca. Mia olhou para a elfo que tinha preparado suas refeições e costurado suas roupas e penteado seu cabelo pelos últimos seis anos e franziu as sobrancelhas.
"A Senhora quer que Tilly vá para o St. Mungos?" Tilly perguntou.
"Tilly, eu não sou a sua..." Mia tentou lutar.
"Mia, você precisa," Lily implorou à amiga.
Mia fechou os punhos com força. Uma coisa era permitir que a elfo cuidasse dela, especialmente porque Tilly era tão malditamente teimosa e manipulativa, mas outra coisa era ser ligada à ela, um vínculo transmitido a ela de mãe para filha simplesmente porque era assim que as coisas funcionavam... era horrível para a bruxa que tinha se esforçado tanto em definir uma parte da sua personalidade em nunca escravizar outra criatura.
Mas a expressão nos olhos de Tilly não era apenas de sofrimento. Era de medo. Tilly tinha medo de ser expulsa ou ser dada à outra família, possivelmente devolvida a família Black, até mesmo Walburga, e Mia não podia permitir isso. "Sim, Tilly," ela assentiu, engolindo a bile que tinha subido pela garganta. "A Senhora insiste que você vá e cuide de meu pai." Ela disse as palavras amargamente e franziu o cenho quando Tilly deixou sair um alto suspiro de alívio.
"Tilly faz o que a Senhora desejar," Tilly inclinou a cabeça respeitosamente para Mia e então desapareceu com um suave 'pop'.
"Vai ficar tudo bem, Mia," Lily murmurou.
"Não, não vai," Mia balançou a cabeça, se sentindo suja e nojenta. "Eu possuo uma elfo doméstica agora. O mundo está de cabeça para baixo." Ela foi até a bandeja de prata e pegou a xícara de Sirius propositalmente, a bebendo toda e deixando que o calor do Firewhisky limpasse as feridas que ela sentiu ter criado por ter aceitado um elfo doméstico.
"Ele vai se acertar uma hora," Lily prometeu.
"Não sem coisas piores acontecerem." Mia suspirou, pensando nos próximos anos e em quão horríveis as coisas se tornariam. "Obrigada, Lily, por cuidar da minha família." Ela olhou nos olhos verdes da amiga e momentaneamente se perdeu neles. Tão verdes, que nem... que nem os de Harry. Mia reprimiu um soluço e respirou pesadamente. "Eu... Godric, eu estou tão cansada. Eu vou para cama."
"Eu vou até lá com você." Lily foi até o estoque de Firewhisky e colocou mais para Sirius, sabendo que ele iria preferir puro e sem chá. Ela levitou a bandeja atrás dela enquanto seguia Mia pelas escadas e pelo longo corredor até as grandes portas duplas do quarto de Mia. Seus olhos se arregalaram com a visão que teve quando entrou.
Três bruxos crescidos tinham subido na grande cama de dossel de Mia, todos já dormindo. Lily voltou os olhos para Mia, que não parecia nem um pouco surpresa enquanto andava até a cama, rastejando até o espaço entre James e Remus como se eles tivessem deixado para ela de propósito. Mia se apoiou no peito de Remus, o braço dele instintivamente a envolveu pela cintura. O corpo de James se moveu também, descansando a cabeça no ombro de Mia enquanto outra cabeça de cabelos negros se ajeitou na cama, eventualmente descansando no colo da bruxa de cabelos cacheados. Mia fechou os olhos e deixou sair um suave suspiro enquanto botava a mão no topo da cabeça de Sirius, deixando os dedos se perderem no cabelo dele.
Lily piscou curiosamente enquanto observava a cena, de repente percebendo que isso não era novo ou incomum. Cada um deles parecia estranhamente contente no exato lugar em que ocupava do lado, entre ou em cima do outro. Quase do modo que animais se aninhavam com os outros em busca de calor, proteção e conforto. Lily se perguntou se isso acontecia porque Remus era um lobisomem, mas algo a disse que não... não era por isso.
Ela botou a bandeja prata de chá na mesa ao lado da cama, pegando a varinha de dentro das vestes e lançando um Feitiço de Estase nela, para que quando eles acordassem as bebidas não estivessem frias. Ela observou os amigos de perto, preocupada que a morte de Dorea iria reacender os pesadelos de Mia. Uma parte se perguntava se os garotos também iriam ter. De algum modo, todos pareciam em paz, bem assim. Remus parecia confiante, o mais alto enquanto se apoiava na cabeceira, um braço protetor ao redor de Mia. Sirius parecia feliz, bem cuidado com os dedos de Mia passeando pela confusão de mechas negras. Mia parecia segura, enclausurada no centro do estranho ninho formado pelo namorado, irmão e... o que quer que Sirius fosse para ela nos dias de hoje.
James, por outro lado, parecia... sozinho; parte de algo importante, mas não inteiramente enclausurado com o resto. Não ajudava que ele tivesse esquecido de tirar os óculos e que a haste estivesse torta entre a bochecha dele e o ombro da irmã. Lily andou até o outro lado da cama, tirando delicadamente as mechas de cabelo do rosto dele e os óculos, os colocando ao lado da bandeja de prata antes de se virar para a grande poltrona no canto do quarto, onde ela decidiu dormir.
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Flashback
17 de junho, 1998
Largo Grimmauld Número 12 – A Muy Antiga e Nobre Casa Black
Hermione caiu no chão de entrada do número 12, abraçando a barriga e tentando se focar para não acabar vomitando. Ela odiava viajar por Chave de Portal e Chaves Internacionais eram ainda piores. Sua confusão de cachos selvagens tinham um pouco mais de frizz do que o normal e seus olhos estavam vermelhos e úmidos. No momento em que ela percebeu que não iria vomitar, ela explodiu em um choro histérico.
O barulho despertou todos dentro da casa. Logo ela estava cercada por bruxos, mas foi um lobisomem que a puxou para os braços e a deixou chorar em seu ombro enquanto subia pelas escadas com ela, silenciosamente a levando para o quarto. Remus colocou Hermione na cama, instintivamente se sentando contra a parede e a puxando contra si em um abraço forte, um longo braço a envolvendo protetoramente.
"O que aconteceu?" Remus perguntou. "Você conseguiu vê-los?"
"Eles nunca vão me reconhecer de novo," Hermione soluçou. "Eu... eu fui até lá. Eu sabia que eles não iriam se lembrar de mim, mas vê-los..." ela soluçou. "Remus, meus pais... eles poderiam muito bem estar mortos," ela chorou.
Ele franziu o cenho, passando uma mão pelo cabelo dela. "De um modo, você está certa." Ele levantou os olhos verdes quando viu Sirius, Harry e Ron parados na porta. Os dois jovens bruxos pareciam preocupados e desconfortáveis com a visão da amiga chorando. Sirius, no entanto, entrou rapidamente, puxando Hermione dos braços de Remus e a segurou contra ele, a deixando chorar em seu ombro.
"Está tudo bem se você precisa chorar, gatinha," ele murmurou. Ele passeava os dedos para cima e para baixo nas costas dela, ignorando os olhares curiosos que estava recebendo de Harry e Ron. "Você não precisa bancar a forte sempre," ele a prometeu. Hermione assentiu e olhou para cima quando sentiu Remus deixar a cama, indo até a porta onde colocou uma mão no ombro de Harry e o empurrou um pouco para frente.
Quando os olhos castanhos encontraram os verdes, Hermione chorou e Harry voou para o lado dela. Ele a abraçou por instinto, claramente grato que pudesse dar algo a ela, considerando que ele se culpava pelo fato dela ter tido que Obliviar os pais em primeiro lugar. Hermione se agarrou fortemente a Harry como se ele fosse o salva vida dela, nenhum dos dois percebendo os olhares ligeiramente deprimidos nos rostos de Sirius e Remus, nem o modo como Ron se apoiou no batente da porta, sentindo como se estivesse se intrometendo em um momento íntimo.
"Eai, Ron," disse uma voz radiante enquanto Tonks aparecia ao lado do bruxo ruivo. A Auror de cabelos roxos deu uma olhada dentro do quarto e olhou para o marido preocupada, perguntando silenciosamente o que tinha acontecido.
"Hermione viu os pais," Remus disse com o cenho franzido.
Tonks suspirou, olhando para a jovem bruxa com simpatia. Ninguém saía de uma guerra sem perder algo, pelo visto. Tonks mesma tinha perdido o pai, então ela sabia um pouco pelo o que Hermione estava passando. "É bom que ela tenha todos vocês. Cuide bem dela, sim?" Ela olhou para Remus bem quando ele balançou a cabeça pronto para argumentar. "Não se atreva." Tonks se inclinou e beijou o marido rapidamente na boca. "Todos os três de vocês," ela disse apontando para Sirius, Remus e Harry. "Perderam os pais. Vocês sabem como é e sabem do que ela precisa. Então, façam e não me questionem." Ela olhou para Remus com um pequeno sorriso.
"O que eu devo fazer?" Ron perguntou sem jeito, observando como Hermione se agarrava a Harry enquanto Sirius fazia carinho nas costas dela enquanto ela chorava.
"Você vai para casa e visite sua Mãe e Pai," Tonks insistiu com um sorriso. Ron pareceu entender. Ele assentiu, lançando um olhar para Hermione antes de descer as escadas. Uma vez que ele tinha ido embora, Tonks se virou e olhou para Remus. "Pronto," ela sorriu tristemente. "Apenas família agora. Apenas Matilha," ela esclareceu e Remus assentiu em entendimento.
Fim do Flashback
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28 de junho, 1977
Mansão Potter – Residência dos Potter
Mia abriu os olhos no meio da noite, sentindo a respiração quente de Remus em seu pescoço e os braços dele a envolvendo firmemente. Ela virou a cabeça para olhá-lo. Ela se perguntava se ele estava a abraçando tão protetoramente para ajudá-la com a morte de Dorea, ou porque ele precisava de alguém por causa da própria mãe. Ela franziu o cenho para Sirius, a cabeça dele ainda no colo dela, e passou os dedos brevemente pelo cabelo dele, preocupada que ele fosse acordar a qualquer momento e cair do precipício depois de perder a única mãe que tinha mostrado afeto por ele. O sofrimento pareceu familiar e diferente ao mesmo tempo. Ela tinha perdido os pais biológicos para um Obliviate há anos atrás e, apesar de não ser uma morte, era tão imutável quanto. Agora era pior. Dorea tinha sido sua mãe de todas as maneiras, menos sangue, e era doloroso pensar em acordar na manhã seguinte e não a ver sentada na mesa, tirando uvas e mirtilos da sua tigela de frutas.
Enquanto a dor em seu peito se aprofundava, Mia se afastou de Remus e Sirius e foi até James, se agarrando fortemente a ele, aninhando o rosto na confusão do cabelo negro dele. Uma pequena parte dela desejou que ele fosse Harry; desejou que Harry estivesse ali, porque, então, talvez a família não se sentisse tão quebrada com a súbita perda. Seus olhos percorreram o quarto, onde ela viu Lily dormindo profundamente na grande cadeira. Mia não pôde deixar de sorrir enquanto se lembrava de algo que Tonks tinha dito há muito tempo.
Apenas família agora. Apenas Matilha.
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31 de julho, 1977
Mansão Potter – Residência dos Potter
O funeral de Dorea tinha sido uma grande celebração, os Potters insistindo que ela teria ficado incrivelmente irritada se soubesse que eles estavam de luto pelo falecimento dela, em vez de gritarem as realizações que a mesma atingiu. De algum modo, após o funeral as coisas começaram a voltar ao normal, apesar de uma tristeza ainda pairar no ar, mas que diminuía a cada dia.
Lily ficou na Mansão por algumas semanas para ajudar a família antes de sentir que precisava voltar para casa. Ela não tinha ficado lá por mais de dois dias antes do novo marido de Petunia ser informado sobre a bruxa na família e começar a gritar em desgosto. Os pais de Lily sugeriram desconfortáveis que talvez fosse hora de Petunia e Vernon irem embora, mas Lily insistiu que ela iria sair de Cokeworth, optando pela Mansão Potter, entre todos os lugares para encontrar refúgio longe de sua família.
Todos caíram em uma rotina confortável, chegando perto da segunda lua cheia em Julho. Charlus e James passaram bastante tempo lidando com assuntos oficiais no Gringotes, onde o pai começou a ensinar ao filho as relações de confiança da família e os fundos de capital, bem como criar contas individuais para Mia e separar dinheiro para Sirius (apesar de sua recusa). James também recebeu acesso a conta que os Potters tinham criado anteriormente no nome de Remus, onde eles continuaram secretamente acrescentando uma mesada sem o lobisomem saber. Conhecendo o orgulho do amigo, James prometeu não abarrotar de Galeões, mas em vez disso, acrescentaria apenas o suficiente para Remus acabar a escola sem que tudo seu fosse de segunda mão.
Sirius passou a maior parte do seu tempo consertando a moto que tinha sido destruída, recusando a ajuda oferecida por James, Remus e Peter. Em vez disso, ele optou ou por um tempo sozinho ou por conversas com Lily, onde ele absorvia feliz o conhecimento dela sobre o mundo Trouxa enquanto ele tentava – e falhava – em introduzi-la aos prazeres de um bom Firewhisky e motos. No entanto, ela admitiu uma ligeira preferência pelo gosto musical dele e os dois costumavam passar o final da tarde debatendo bandas Trouxas e Mágicas.
Mia passava seus dias e noites cuidando de Remus. Além de ter uma segunda lua cheia naquele mês, Remus não conseguiu entrar no funeral da própria mãe. Não apenas isso, mas Lyall Lupin colocou feitiços específicos ao redor da casa da família proibindo a entrada de qualquer criatura, das trevas ou não. Remus educadamente aceitou o fato de que ele não estaria no enterro da mãe, mas dias depois quando ele tentou ir até a sepultura dela, ele foi jogado vários metros para trás, quebrando o braço durante a queda. Isso tinha pedido um retorno ao St. Mungos mais cedo do que qualquer um na Mansão Potter tinha desejado.
Mia tinha pedido que Tilly cuidasse tanto de Charlus quanto de Remus tanto quanto ela conseguisse, sabendo que eles estavam sofrendo mais do que todos tanto emocionalmente e (no caso de Remus) fisicamente. Isso permitiu que Lily tivesse acesso a cozinha, onde ela gostava de preparar o chá da manhã de todo mundo, sentindo que isso era o mínimo que poderia fazer para contribuir com a família, vendo como eles a aceitaram sem pensar ou perguntar.
"Ah..." Lily corou quando quase correu de encontro com James na manhã seguinte a lua cheia. Ela não sabia muito sobre a recuperação de Remus, nem onde ele ficava durante as transformações. No entanto, pediram que ela ficasse dentro da Mansão não importa o que acontecesse, e Tilly foi instruída a ficar com ela durante toda a noite. "Não pensei que já tivesse alguém de pé.
"É." James bocejou, parecendo que não tinha dormido nada durante a noite. "Mia, Sirius e Remus ainda estão dormindo."
Lily levantou uma sobrancelha. "Onde?"
"O quê?" James piscou, os olhos turvos.
"Onde eles estão dormindo? Eu chequei o quarto de Mia nesta manhã e ninguém dormiu lá, e eu sei que vocês quatro tem dormido lá." Ela o encarou intensamente.
Ele a olhou como se esperasse ser atacado. "Precisamos aumentar a cama dela antes de dormir hoje," James disse, mudando um pouco o assunto. "Está muito pequena para nós quatro."
"Ou talvez você esteja muito grandinho para dividir a cama com sua irmã e melhores amigos," Lily provocou com um sorriso.
"Fazemos isso desde os onze anos." James deu de ombros e se afastou dela, indo em direção a um balcão onde começou a preparar uma bandeja com quatro xícaras de chá e uma pequena coleção de frascos de poção. Pela aparência das cores, Lily imaginou ser Poção Calmante e várias poções para aliviar dor. Ela não percebeu quando James pegou outra xícara e começou a botar chá junto das outras. "Era sempre para cuidar dela," James explicou e Lily percebeu que não estava prestando atenção, então rapidamente focou nas palavras dele. "Nunca pensei que Mia se tornaria..."
"Um porto seguro para todos vocês?"
"É," James assentiu pensativo e, então, olhou para xícara extra, a pegando e a estendendo para ela. "Ah, aqui."
"É para mim?" Lily examinou cuidadosamente a bebida como se ele tivesse botado algo horrível dentro ou a encantado para deixar as mãos dela azul.
"Desculpa," James franziu o cenho enquanto ela inspecionava a bebida. "Você não põe mais limão no seu chá matinal?" Ele perguntou curioso como se estivesse lembrando do momento.
"Você sabe como eu faço meu chá?" Ela perguntou, apesar de não dever estar surpresa. Eles sentavam na mesma mesa há seis anos, ele foi obrigado a notar, especialmente considerando quantas vezes ela o flagrou olhando para ela.
"Sim, você gosta dele bem quente, mesmo que às vezes você não o toque até que esteja na temperatura ambiente," ele começou.
Lily piscou, os olhos de repente arregalados.
"E você põe um pedaço de limão e dois cubos de açúcar, mas se você estiver lendo um livro no café da manhã, você as vezes esquece de mexer e o açúcar fica no fundo." James sorriu melancolicamente, os olhos se iluminando por algo tão bobo quanto um chá. "Mesmo assim você o bebe e, então, quando você chega no final está bem doce, e você faz uma cara muito fofa e..." ele parou quando percebeu que estava falando em voz alta, um pouco envergonhado com as palavras. Então, limpou a garganta. "Eu só... hmm... é. Desculpa, não devo te incomodar mais e isso foi um pouco de... stalker." Ele estremeceu.
Lily ficou parada ali, seus brilhantes olhos verdes ainda arregalados. Ela estava respirando? Não. Lily inalou rapidamente, ofegante e para abafar o som ela limpou a garganta. Ela deu um gole hesitante na xícara. "Está... adequado," ela disse, escondendo um sorriso quando James sorriu com as palavras de qualquer modo. "Estaria melhor em temperatura ambiente, no entanto," ela admitiu.
"Tenho certeza que você tem paciência para esperar." Ele sorriu para ela e levitou a bandeja atrás de si.
"Você vai levar isso para os outros?" Ela perguntou curiosa, percebendo a muralha que James levantou entre os dois. Ela sempre soube que os Marotos e Mia eram muito protetores um com o outro, Remus especialmente, mas ver pessoalmente era um pouco esmagador.
James respondeu com um curto aceno.
"Você precisa de ajuda?" Ela ofereceu.
Ele imediatamente balançou a cabeça. "Desculpa. Sem ofensas, Lily, é só... nós temos cuidado de Remus há anos e ele... é difícil de explicar. Um dia nós explicaremos," ele prometeu. "Mas não no dia seguinte à lua cheia. Especialmente não depois dessa lua," ele abaixou os olhos.
Lily pensou se as mortes de Dorea e Hope pioraram muito a transformação de Remus. Ela não disse nada, apenas assentiu para James que se virou em direção a porta.
"Potter?" Lily chamou.
Ele se virou de novo e olhou para ela.
Ela ficou brevemente chocada com a falta do entusiasmo normal que ele tinha quando ela usava o nome dele, mas de algum modo o comportamento relaxado dele era... relaxante para ela.
"Sim?"
"Obrigada," Lily ofereceu um sorriso tímido. "Pelo chá."
"De nada, Lily." James deu um curto sorriso antes de sair da cozinha, a bandeja de prata logo atrás dele.
