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The Debt of Time

Parte Dois – O Vira-Tempo

Capítulo Setenta e Um: Apaixonados

"...And for the boy who's given me the sweetest love I know
I wish for him another love so he won't be alone
But I am bound to walk among the wounded and the slain
And when the storm comes crashing on the plain
I will dance before the lightning to music sacred and profane..."
(Stranger to the Rain - Children of Eden)


3 de setembro, 1977

Hogwarts Escola de Magia e Bruxaria

Salão Comunal da Grifinória

Mia se aconchegou no peito quente debaixo dela, um sorriso sonolento cruzando seu rosto enquanto sentia longos braços ao redor do seu corpo. A festa de despedida de James tinha sido perfeita na primeira noite deles de volta a Hogwarts, terminando com Lily beijando James no meio do Salão Comunal deles. Seu coração inchou com a visão da cabeça de cabelos negros bagunçados junto da de longas madeixas ruivas, se lembrando na mesma hora do primeiro beijo de Harry e Ginny, no mesmo lugar.

Sirius e Remus deram um passo a frente, ansiosos para provocar o par, mas Mia se colocou no caminho deles, permitindo que seu irmão e o amor da vida dele uma fuga rápida. James e Lily não apareceram no café da manhã, enquanto quando eles apareceram na aula de Feitiços de mãos dadas, foi a oportunidade perfeita para que toda a Casa Grifinória se transformarem em crianças de doze anos, assoviando, gritando e congratulando o casal.

James nunca tinha parecido tão feliz em toda a vida dele. Lily parecia uma bruxa nova em folha, livre de toda a tristeza por ter acabado a amizade que possuía com Snape, das memórias de ser tratada mal por causa do seu status de sangue e dos pensamentos sobre sua vida no mundo Trouxa e da irmã desprezível. De algum modo, esse novo amor estava ajudando os dois e, por extensão, aqueles que faziam parte do pequeno círculo de amigos e familiares deles.

Lily – e, portanto, James – insistiram que tinham deveres de Monitores Chefes para realizar na noite de sexta feira, mas apesar do casal não estar lá, Sirius insistiu em dar outra festa para comemorar o fato de, apesar de ter demorado seis anos, James finalmente estava namorando o amor dele. Os Grifinórios comemoraram até de manhã e Mia dormiu no sofá, usando um corpo como travesseiro. Pela primeira vez em muito tempo, seu sonho sobre o passado não eram pesadelos.

oOoOoOo

Flashback

3 de setembro, 1997

Na Fuga

Hermione lentamente abriu os olhos e se encontrou em uma grande cama que cheirava a gatos. Ela piscou os olhos cor de chocolate e olhou ao redor, percebendo que estava dentro da cabana que ela e os amigos tinham usado durante a Copa Mundial de Quadribol; a mesma cabana que ela tinha guardado quando decidiram ir atrás das Horcruxes. Mas por que ela estava ali? Eles não estavam no Largo Grimmauld? Hermione tentou se lembrar do que tinha acontecido e como ela tinha chegado ali. Ela se lembrava de ir ao Ministério e encontrar o medalhão com Ron e Harry, encontrando Sirius quando os Comensais da Morte e os oficiais do Ministério iam atrás deles e, então... e, então...

Hermione tentou se sentar e estremeceu quando algo puxou em suas costas. Ela deixou escapar um sibilo de dor e, de repente, algo do lado dela se transformou. Ela se virou e olhou no fundo de olhos cinzas de um enorme cão negro, que choramingou perto dela. Hermione franziu o cenho e tentou se virar para encarar Padfoot, percebendo no processo que não estava vestindo nenhuma blusa. Com os olhos arregalados, se virou de costas e gemeu.

"Sirius!" Ela falou. "Cadê a minha blusa? Por que você está numa cama comigo? O que aconteceu? Onde está Harry? E Ron?" Ela continuou deixando as perguntas saírem de sua boca, lutando contra a dor completamente desconhecida nas costas; uma sensação como se sua pele estivesse sendo puxada. Ela sentiu ele se mover na cama e, de repente, uma mão humana tocou suas costas nuas. Sua reação foi se afastar na mesma hora.

"Se acalme, gatinha," Sirius falou suavemente. "Só estou checando o seu ferimento."

"Ferimento?" Hermione empalideceu.

"Você não se lembra?" Ele perguntou claramente confuso. "Você se estrunchou tentando fugir do Ministério. Rasgou a pele das suas costas," ele suspirou. "Eu tentei curar o máximo possível, mas eu nunca fui o responsável por cuidar das feridas de Remus depois das luas," admitiu. "Tudo o que nós tínhamos era Ditamno. Vai ficar uma cicatriz," ele terminou o mais gentil que pôde.

"Está feio?" Hermione perguntou com lagrimas nos olhos, irritada com o sentimento de vaidade que estava se sobressaindo.

"Nada em você poderia ser..." Sirius começou com um nó na garganta, mas imediatamente engoliu em seco. "Parece tudo bem," ele disse rapidamente. "Eu já vi uma parecida," admitiu. "Vai curar direito. Mas você perdeu bastante sangue, então precisa descansar tanto quanto possível, já que acabaram as Poções para Repor Sangue."

"E hmm... minha blusa?" Ela perguntou tímida.

"Ah, hmm... você provavelmente não deveria ficar levantando os braços," ele disse pensativo. "Mas eu posso te cobrir. Ou... eu saio e fico lá fora se você preferir," ele sugeriu, nervoso. A mudança no tom era quase divertida para Hermione. Ela, de todas as pessoas no mundo, aparentemente tinha deixado Sirius Black nervoso.

"Apenas," Hermione engoliu. "Não... não deixe Harry ou Ron me virem assim?" Ela pediu.

E por dias ela dormiu e descansou. Eventualmente suas costas sararam o suficiente para serem enfaixadas e vestidas, mas mesmo assim Hermione dormia, porque Sirius falou. Quando o grande cão negro apagasse ao seu lado, ela iria se sentar e ler, pesquisar e pensar sobre onde poderia estar a próxima Horcrux. Sirius iria acordar, alimentá-la e checar o ferimento, dizendo que a cicatriz não era feia. Uma vez a comparou com um belo rio que cruzava suas costas em direção ao ombro. Hermione corou com o elogio e graciosamente aceitou a pouca comida que ele conseguiu arranjar para ela. Era estranhamente caseiro e confortável, especialmente considerando que eles estavam no meio de uma guerra.

Fim do Flashback

oOoOoOo

Mia sonhou com o passado de um Sirius mais velho. Ela quase podia senti-lo ao lado dela enquanto acordava lentamente. Se ela se concentrasse o bastante, ela poderia ouvir a voz rouca do bruxo falando com ela, ver os olhos cinzas dele a encararem de um modo que a faria derreter de dentro para fora. Ele tinha a confiança que o Sirius jovem tinha, mas de uma maneira mais refinada e quase controlada. Ele havia enfrentado seus problemas, enquanto o jovem Sirius ainda segurava o peso da culpa que a família tinha impregnado nele. O Sirius jovem temia o vínculo. O Sirius adulto o abraçou.

"Você... você sabe? Você sabia? Esse tempo todo?" Hermione tinha perguntado a ele.

"Sobre o vínculo?" Sirius assentiu.

Ela corou e ele sorriu.

"Um dia você não vai fazer fazer isso," ele disse enquanto se levantava, botando a mão dentro da jaqueta.

"Fazer o quê?" Hermione perguntou em voz baixa enquanto ele se dirigia a entrada da cabana.

"Ficar com vergonha com o que eu a faço sentir."

E ela não estava mais com vergonha. Não mais. Mia respirou fundo e sentiu o cheiro dele. "Hmm... Sirius," ela gemeu enquanto respirava o aroma. Pergaminho e grama e... e... chocolate?

Merda.

Mia abriu os olhos assustada. Ela se virou contra o corpo que estava usando como cama para encarar olhos verdes, e não cinzas, que a olhavam com curiosidade. Lentamente, Remus levantou uma sobrancelha, em uma pergunta muda, e Mia segurou a respiração enquanto engolia em seco.

"Acho que deveríamos dar uma volta," Remus disse suavemente.

Mia rapidamente se sentou, o coração acelerando no peito. Como ela podia ter feito isso? Não era culpa dela ter sonhado com outro homem, especialmente quando, na realidade, eram mais memórias do que sonhos, mas ela tinha se afundado na sensação das memórias, ansiava por revivê-las, ansiosa por... por ele. E ela tinha aparentemente sido burra o bastante para dizer o maldito nome dele enquanto dormia em cima do seu namorado!

"Remus, eu sinto tanto," ela começou.

Ele levantou a mão e ela se endireitou.

Ela observou cuidadosamente, mordendo o lábio inferior enquanto o lobisomem se inclinava para frente, esfregando o rosto com as mãos enquanto apoiava os cotovelos nos joelhos, encarando o fogo que tinha acabado horas atrás. Enquanto Remus ficava em silêncio, Mia olhou ao redor do Salão Comunal e percebeu que vários cobertores estavam jogados em cima dos sofás e cadeiras, onde outros Grifinórios do sétimo ano dormiam. Obviamente, eles não tinham sido os únicos a dormir fora dos dormitórios, mas até agora eram os únicos acordados.

"Vamos dar uma volta," Remus disse antes de levantar e esticar uma mão para Mia.

Ela encarou a palma dele por vários segundos, os olhos fixos na cicatriz que ele ganhou no punho da primeira lua que tinham passado sem suas mães. Moony tinha sido difícil de controlar e foi preciso tanto Padfoot quanto Prongs para segurar o lobisomem fora do alcance dos feitiços no pomar da Mansão Potter. Remus ganhou uma mordida de raposa quando Moony tentou atacar Padfoot em um ataque de raiva. Felizmente, a próxima lua chegou depois de uma semana rigorosa de Poção Mata Cão e feitiços renovados.

oOoOoOo

O Lago Negro

Depois de terem pego os casacos de inverno, o par deixou a Torre da Grifinória e andou até o Lago Negro, onde Remus transfigurou o cachecol em um cobertor. O casal sentou junto, observando a água enquanto o nascer do sol refletia nela.

"Eu preciso que você seja honesta comigo," Remus falou quebrando o silêncio. "Eu tenho várias perguntas e gostaria que você as respondesse, para que eu tente sair disso com a dignidade intacta," ele disse claramente. "E, por favor, não se ofenda ou pense que eu não confio em você, mas eu só preciso... de uma confirmação verbal."

Mia sentiu o peito apertar, mas assentiu. "Eu entendo.

"Você esteve com Sirius desde que começamos a namorar exclusivamente?" Remus perguntou de uma vez.

Mia engasgou e se virou para olhá-lo surpresa. "Não!" Ela prometeu. "Eu estive com você. Eu nunca..."

"Eu sei, eu sei," Remus concordou e soltou um longo suspiro de alívio. "Eu só... precisava ouvir, acho." Ele passou uma mão pelos cabelos e franziu o cenho. "Quando... quando você está comigo, você pensa nele?"

"Merlin, não!" Mia respondeu quase que imediatamente. Ela se lembrou de alguns anos atrás ela ter comparado o beijo dos dois e até tinha entrado em detalhes com Lily sobre como era com cada um deles, mas nunca tinha pensado em Sirius enquanto estava com Remus.

"Você queria que eu fosse ele?" Remus perguntou.

"Não," a bruxa franziu o cenho e se inclinou para beijá-lo castamente. "Remus, você é perfeito e eu te amo," ela disse genuinamente para o lobisomem. Que Godric a salvasse, porque isso era complicado.

"Eu também te amo e nós sempre soubemos disso," Remus disse depois de retribuir o beijo dela, fechando os olhos e pressionando a testa contra a dela antes de continuar a falar. "Mas você sonha com ele?"

"Algumas vezes," Mia murmurou triste.

"Você sonha sobre..." ele hesitou. "Sobre quando estava com ele?"

Mia suspirou e estremeceu. "Algumas vezes," ela admitiu, se sentindo horrível. "Mas eu não faço de propósito e não parece haver um gatilho... é mais sobre... ele no futuro."

"Você vê Sirius no seu futuro?"

"Claro que sim. Você também," ela insistiu. "Mas... Godric, nós já sabíamos disso. Você tem uma companheira por aí e Sirius é-"

"Eu sei," Remus a interrompeu. "Nós já tivemos essa conversa, mas nós também prometemos a ele que nós descobriríamos por nossa conta," ele a lembrou. "Que nós não deixaríamos o destino nos enganar, se não quiséssemos. E eu pensei que nós estávamos indo muito bem, mas... talvez nós apenas estamos evitando o inevitável." Ele pegou a mão dela, a puxando mais para perto para que pudesse pôr o braço em cima dos ombros dela, para que Mia soubesse que eles ainda estavam bem, mesmo com a horrível conversa que estavam tendo. Após alguns minutos de silêncio, Remus beijou o topo da cabeça dela e murmurou contra o cabelo da menina, "nós estamos apaixonados?"

"Claro que eu amo você," Mia respondeu, se afastando um pouco para que pudesse olhar no fundo daqueles olhos verdes suaves.

"Você está apaixonada por mim?" Remus esclareceu e quando Mia demorou para responder, ele fez uma série de perguntas. "Nós vamos acabar juntos? Você quer se casar comigo, Mia? Você quer filhos? Porque eu não posso dá-los a você."

"Isso é besteira," Mia rosnou. "Eu venho te dizendo há anos que você não tem como transmitir a sua Licantropia para uma criança."

Ela pensou no pequeno Teddy Lupin, com aquele cabelo azul brilhante, a não ser que ela estivesse o segurando; então, ele mudaria para um castanho mel. Teddy sempre pareceu... uma parte dela. Ela tinha se apegado à criança desde o primeiro momento, o que foi surpreendente já que Hermione nunca tinha pensado muito em crianças. Mas com o filho de Remus tinha sido diferente. E não importava a cor do cabelo ou dos olhos que o menino conseguia mudar, ele era precioso para ela. Mia não conseguia imaginar um futuro sem o pequeno Metamorfomago e ela sentia uma profunda irritação com Remus por sequer pensar em não tê-lo.

"Nós não estamos falando sobre a minha Licantropia," Remus disse, interrompendo os pensamentos dela. "Nós estamos falando sobre o nosso futuro. Agora, responda a pergunta: você está apaixonada por mim?"

"Eu não sei." Ela balançou a cabeça. "Você está apaixonado por mim?"

"Eu não sei," Remus reconheceu em voz alta. "Eu estou morrendo de medo de perder você," ele admitiu. "Você não é só o meu amor, você é a minha melhor amiga, a minha Beta; você é o meu lar, Mia. Você é o meu porto seguro e eu não quero perder isso." Ele suspirou triste e, então, contraiu a mandíbula. "E francamente isso me irrita demais, porque eu não acho que ele entenda quão... quão importante você é para mim, ou para ele. Eu queria que ele fosse qualquer outro cara, para que eu pudesse azará-lo ou socá-lo no rosto, e mandasse ele se afastar da minha bruxa," ele soltou.

Mia franziu o cenho, procurando sinais de ouro e âmbar nos olhos dele, mas apenas encontrou verde. Era tudo reação de Remus mesmo.

"Mas eu não posso porque ele é o Sirius, é meu amigo e faz parte da Matilha, e eu, na verdade, entendo um pouco a relação, ou seja lá o que for, de vocês." Ele deu de ombros. "Eu preciso de você, mas Godric, acho que ele morreria sem você," Remus disse sem nenhum traço de exagero.

Mia corou com as palavras, aterrorizada com a implicação. O que aconteceria depois, quando e se Mia desaparecesse? Se o futuro não pudesse ser mudado, isso significava que Sirius iria para Azkaban e, se fosse verdade, onde ela estaria? Uma parte dela começou a se preocupar com o futuro de Sirius. Ele sabia claramente que ela tinha sido enviada no passado, o beijo deles na biblioteca tinha sido praticamente um beijo de despedida. Ela o veria de novo? Ele estaria esperando por ela, no dia após o aniversario de dezenove anos dela? Ou ele... como Remus falou, morreria sem ela?

"Você ama o Sirius?" Remus perguntou

"Eu..." a garganta de Mia apertou e ela sentiu lágrimas ameaçando cair. "Eu não sei se posso dizer isso."

"Por que não?"

"Porque ele não está pronto para ouvir," ela disse e finalmente as lágrimas caíram pelas suas bochechas. Ela as limpou como se elas estivessem traindo sua explicação emocional. "E eu não estou pronta para vê-lo ir embora. Não de novo. Ele já fez isso duas vezes e eu tentei me manter forte, mas machuca demais. Não acho que conseguiria lidar uma terceira vez." Ela balançou a cabeça. Momentos após o primeiro beijo deles, ele tinha ido embora. Minutos depois deles terem feito amor, ele pediu para ela sair do quarto. "Além disso... se eu amo o Sirius, acho que a primeira vez que eu falar tem que ser para ele."

"Você realmente acha que ele iria embora de novo?" Remus perguntou preocupado.

Mia deu de ombros honestamente. Sirius era um constante enigma. Era uma eterna batalha entre o coração e consciência dele, e a consciência estava mentindo para ele. "Na noite do show, quando ele foi para o meu quarto bêbado ele não sabia de verdade que eu estava lá," Mia contou. "Mas ele estava falando e ficava dizendo como se sentia em relação a mim e que ele não queria estragar o nosso namoro porque nós estávamos apaixonados e ele não podia fazer isso com os amigos. Então, ele continuou e continuou falando sobre como ele precisa ser um bom homem." Ela revirou os olhos.

Remus zombou. "Ele realmente precisa superar isso."

"Eu sei," a bruxa concordou. "Ele... ele disse que não esteve com mais ninguém desde... desde mim."

"Mesmo?" Remus levantou uma sobrancelha, descrente.

"Você não sabia?"

"Não, quer dizer," ele parou para pensar sobre o ultimo ano. "Nós não temos visto ele com ninguém e ele não tem se gabado como costumava. Mas, bem..." ele corou um pouco envergonhado. "Você ouve as fofocas das Corvinais. Ele realmente disse aquilo?"

"Você acha que ele estava falando a verdade?"

"Eu acho que Sirius é incapaz de mentir quando está bêbado," Remus admitiu.

Houve várias noites esquisitas seguidas de Firewhisky quando Sirius soltaria frases que nenhum deles poderia não ouvir, incluindo algumas confissões como um sonho que ele teve onde dividia Mia com Remus e que, se tivesse bastante Firewhisky, ele provavelmente aconteceria de verdade. Isso o fez ganhar um tratamento de silêncio estranho de Remus e um olho roxo de James, que depois foi informado que Sirius nunca dormiria com ele e Lily, mas só porque Lily era como uma irmã para ele. Sirius era desconfortavelmente sincero quando ficava irritado.

"Não apenas isso," Remus continuou, afastando as lembranças das confissões do amigo bêbado da mente. "Mas se ele estivesse dormindo com alguém, ele iria ficar se gabando. Maldição, não fazia nem uma semana que vocês tinham dormido juntos e ele começou a me contar."

"Ele ficou se gabando de mim?!" Mia gritou.

"Menos se gabar e mais... confessar," Remus procurou pela palavra certa, esperando acalmá-la. "Ele pode ter querido o meu perdão ou algo, mesmo que fosse completamente desnecessário," o lobisomem disse revirando os olhos. "Eu acho que naquele ponto ele já estava tentando fazer a gente voltar e não queria que houvesse segredos."

Mia mordeu o lábio inferno nervosa enquanto encarava seu... namorado? Ele ainda era seu namorado? "Eu não quero que a sua amizade com ele seja arruinada por causa disso."

"Ele é um dos meus melhores amigos e eu levo isso a sério," Remus passou as mãos pelos cabelos e suspirou. "Não só isso, mas vocês dois são da Matilha e isso significa mais do que qualquer coisa para mim. Família," ele franziu o cenho e Mia abafou um soluço enquanto pensava no verão e como todos eles tinham perdido algo. Eles precisavam um do outro, especialmente Remus que não possuía uma família esperando por ele. "Eu só estou tendo dificuldade para entender se o que eu estou sentindo agora é como eu realmente me sinto, ou se é como eu acho que deveria estar me sentindo."

"Como você se sente?" Ela perguntou.

"Eu deveria estar irritado porque minha namorado gemeu o nome de outro bruxo no meio do sono," ele admitiu pensativo. "Mas então, acho que poderia ser pior. Você poderia ter dito o nome do Sirius enquanto a gente estivesse transando." Ele sorriu e, então, pareceu pensar em algo. Uma expressão de desapontamento cruzou seu rosto. "Oh..." ele gemeu.

"Sem sexo." Mia acenou entendendo. Amigos com benefícios funcionou bem da primeira vez, mas isso foi antes de Sirius se envolver.

"Bom, agora eu estou irritado por outra razão." Remus apontou.

Mia não conseguiu evitar um pequeno riso pela escolha dele com o que se irritar, no meio de tudo isso. "Eu sinto muito, Remus." Ela deu um sorriso triste.

"Eu sei, não é sua culpa." Ele suspirou e a puxou de novo para os braços; estranhamente eles ainda eram quentes, seguros, confortáveis e... um lar. Mas diferente. "Nós tentamos. Sinceramente, estou um pouco aliviado," Remus admitiu. "Você sabe que eu te amo e quero te dar tudo, mas eu sei que não posso. E você sempre esteve certa sobre tudo aquilo de companheira," ele resmungou. "Eu tenho tido pesadelos ultimamente que eu e você terminamos Hogwarts e nos casamos, e então... minha companheira aparece no casamento, Moony assume, e eu acabo te deixando... eu não quero que isso aconteça."

"Você vai encontrá-la," Mia prometeu.

"Nós não estamos falando sobre isso," Remus disse, a ignorando. "Vamos lá, vamos tomar café." Ele se levantou e a ajudou a subir também. "Mas antes que nós façamos algo, você precisa pegar a Carta de Intenção." Ele estremeceu com o pensamento. "Maldição... por que eu tive que fazer algo tão público?"

"Porque você é um romântico." Ela sorriu docemente para ele.

"Eu espero que você saiba que não vai ouvir poesia do Sirius," Remus disse firmemente enquanto eles voltavam para o castelo, ainda de mãos dadas. "Ele pode citar alguma letra de Sex Pistol, no máximo," ele bufou. "Você vai sentir falta de mim."

Mia riu e apertou a mão dele. "Eu não vou sentir sua falta. Você não vai a lugar algum."

"Pelo menos você pode dizer a ele que eu transo melhor do que ele?" Remus pediu.

Mia gargalhou.

oOoOoOo

Campo de Quadribol

O ex casal tomou café da manhã sem nenhum problema. Mia voltou a Torre da Grifinória para tomar um banho e se trocar, apenas para se ver no espelho e ver que a cicatriz das suas costas tinha reaparecido. Bom, isso explica o sonho, ela pensou, imediatamente começando a se preocupar com o que aconteceria quando a cicatriz de 'Sangue-ruim' aparecesse no final do ano.

Depois que James sugeriu que os garotos fossem voar ao redor do Campo, todas as Grifinórias do sétimo ano decidiram passar o dia lá fora também e seguiram os bruxos para os jardins. Fazia um pouco de frio, mas nada que as vestes deles ou um bom feitiço para esquentar não resolvesse. Enquanto os homens tomavam o céu com suas vassouras, incluindo Remus, Frank e Peter, todas as garotas se sentaram em um cobertor transfigurado e começaram a observar.

"Eu amo Quadribol," Mary disse com uma visão interessante.

"Eu espero mesmo que você esteja olhando para Peter ou Sirius, porque o resto daqueles bruxos estão comprometidos," Lily disse enfaticamente enquanto olhava para a agenda semanal que James tinha feito. Ela começou a reescrever na própria letra, sabendo que os Monitores precisariam conseguir ler para conseguir realizar as tarefas.

"Então, você e Potter estão sérios?" Alice perguntou com um sorriso feliz.

Lily levantou o rosto e corou quando as outras bruxas sorriram para ela.

"Eu acho que já estava na hora," Mia admitiu.

"Concordo completamente," Mary assentiu. "Mas só para constar, eu estava olhando para quase todos eles." A bruxa paqueradora sorriu. "É como uma arte. Só porque eu não pintei e não está na minha casa, não significa que eu não posso apreciá-la."

"Não é como se nossos namorados fossem fazer algo," Alice apontou. "James ama Lily há anos, Frank nunca me trairia e Remus fica de cabeça para baixo por Mia." Ela sorriu.

Mia olhou para os amigos e suspirou. "Remus!" Ela gritou e tirou dentro da bolsa a Carta de Intenção que ele tinha enviado a James no ano passado. "Chame todos aqui para baixo!" Ela evitou os olhares nos rostos das amigas enquanto elas olhavam o envelope. Lily, naturalmente, era a única que parecia curiosa em vez de estar ansiosa.

Quando todos os bruxos pousaram, Remus assentiu para Mia e foi até ela, apoiando a vassoura contra a parede de pedra do castelo. Sirius e James o seguiram, observando interessados, apesar de Sirius estar mais nervoso do que qualquer um presente. Frank e Peter se sentaram na grama com as garotas, olhando ansiosos o casal.

"Srta. Mia Potter," Remus começou, com as mãos atrás do corpo e completamente de pé. "Eu enviei uma Carta de Intenção, a cortejei por um ano e venho agora em busca de uma resposta."

Lily engasgou e cobriu a boca, finalmente entendendo o que estava acontecendo. Mary e Alice apertavam as mãos com força e todos ignoravam os rostos pálidos de James e Sirius, que estavam encarando o casal com os olhos arregalados.

"Obrigada, Sr. Lupin, pela sua Carta," Mia sorriu. "Eu tenho uma resposta para a sua Carta e aqui, com o representante da Casa Potter," ela apontou para James. "E da família da minha mãe, Casa Black," ela acrescentou, apontando para Sirius. "Eu te dou a minha resposta... Não," ela disse com um sorriso triste e Remus concordou, retribuindo o sorriso antes de beijá-la na bochecha.

"Está tudo bem, amor," ele murmurou no ouvido dela. "Vá em frente."

"Incendio," Mia murmurou. O envelope começou a queimar.

"Não!" Mary, Alice e Lily gritaram.

"Mia! Você não pode voltar atrás!" Mary berrou.

"Eu sei." Mia assentiu e sorriu para os amigos. "Remus e eu conversamos esta manhã e nós estamos terminando o cortejo. Terminando o namoro," ela acrescentou, respirando fundo antes de pegar a mão dele. "Mas não a nossa amizade."

"Mas... o que houve?" Lily perguntou franzindo o cenho. "Vocês são perfeitos juntos."

"Quase." Remus sorriu. "Quase perfeitos."

"E você está feliz com isso?" James perguntou, se pondo entre Mia e Remus e colocando as mãos nos ombros da irmã. Ele a encarou, procurando por qualquer sinal de raiva ou ressentimento em relação ao lobisomem.

"É a coisa certa a se fazer, Jamie." Mia disse. "Nós voltamos para descobrir algumas coisas, fazer escolhas; e agora nós as fizemos," ela insistiu. Ela olhou por cima do ombro do irmão, onde encarou os olhos cinzas de um pálido Sirius que a encarava, boca aberta, parecendo estar em pânico.

"Olá, Black," uma voz falou. Todos se viraram para ver as vestes verdes e caríssimas de Elora Zabini. Ela ignorou todos, exceto Sirius, que estremeceu com a visão dela. "Você está ótimo esse ano. O verão foi bom?"

"Uma merda, na verdade," Sirius fez uma careta.

"Que pena. Quer abandonar essas..." ela olhou para os outros Grifinórios e revirou os olhos. "... pessoas," ela disse a palavra com desgosto. "E dar uma volta comigo?"

"Não." Sirius a encarou. "Como da última vez que você perguntou. E eu agradeceria se você parasse de falar para as Corvinais que transou comigo. Eu morreria e não me encontrariam com o pau dentro de uma cobra," ele rosnou para ela.

"Ah, querido," Elora riu. "Eu digo o que eu quiser."

"Ei, Zabini," Mia chamou a garota, os olhos agora brilhando âmbar, as pontas do cabelo se agitando. "Você sabe nadar?"

"O quê?" Elora encarou Mia como se ela fosse uma idiota. "Claro que eu sei nadar, sua traidora do sangue estúpi-"

"Ótimo. Pegue," Mia disse antes de jogar um sicle brilhante na direção de Elora. Instintivamente a Princesa Sonserina pegou a moeda e olhou para Mia confusa, antes que uma luz azul a envolvesse e ela desaparecesse com um grito.

"Que merda foi essa?!" Sirius gritou. De repente todos estavam de pé encarando Mia assustados.

"Se lembram da Chave de Portal modificada que eu estava fazendo?" Mia disse calmamente, se virando para os amigos. "Eu descobri como terminar."

"Ok," James respirou fundo. "Ignorando o fato de que você acabou de atacar outra aluna na frente dos Monitores Chefes e um Monitor... de novo," James franziu o cenho, apertando o nariz. "Você conectou a Chave do Portal a..."

"Eu chamei de Tele-Portal," Mia disse com um sorriso radiante, ganhando uma risada de Sirius.

"Muito bem... o Tele-Portal tem um gêmeo, certo? Esse era o ponto, né? Então, onde você botou o outro?" James perguntou.

"Ah, eu dei para a lula gigante comer."