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Capítulo Oitenta e Seis
Combinação Perfeita


10 de Novembro, 1978

O esforço físico, a falta de sono e a onda de magia esmagadora drenaram o trio. Eles dormiram profundamente na grama nos pomares atrás da Mansão Potter, as pernas emaranhadas em uma massa de peles pálidas.

Os olhos de Remus se abriram lentamente ao primeiro brilho da luz da manhã que atravessava as árvores. Ele olhou para a bruxa na frente dele, curvada com as mãos contra o peito, os lábios entreabertos enquanto ela respirava lentamente em seu sono profundo.

Esmagado pelo seu amor incondicional pela menina, ele sorriu e depositou um beijo na testa dela, deixando as pontas de seus dedos vagarem pelas bochechas, maravilhando-se com magia que ela conseguiu convocar. Não havia como negar a verdade: ela o salvou; ela sempre o salvou.

De repente, lembrando que não tinha sido apenas Mia quem tinha vindo em seu socorro, Remus olhou por cima do ombro e ficou cara a cara com Sirius, que estava acordado e olhando para ele, os braços envoltos em torno de Mia possessivamente, como se de repente ele tivesse medo de que Remus pegasse seu prêmio após a noite anterior.

"Relaxe, Pads. Se eu estivesse planejando em fugir com ela, eu teria feito enquanto você dormia."

Sirius bufou como se falasse, 'Queria ver você tentar'.

"Pensei que você tinha admitido que compartilhar era bom," Remus provocou.

Sirius resmungou indignado. "Em minha defesa, eu tinha acabado de ter o melhor sexo da minha vida. É relaxante não ter que fazer todo o trabalho," ele admitiu com uma leve risada.

Remus sorriu para o amigo, feliz em ver que o desconforto entre eles era mínimo, se não inexistente. "Preguiçoso."

"O final, no entanto, é um pouco..." Sirius parecia se atrapalhar com as palavras enquanto a risada desaparecia de sua voz. "Chocante."

Remus olhou para a bruxa acolhida no abraço protetor de Sirius. Ele sorriu com carinho para ela, e depois para o casal em geral, antes de olhar para o amigo. "Eu ainda não consigo acreditar que você estava disposto a selar o Vínculo da Alcateia antes do seu Vínculo de Alma."

Sirius levantou uma sobrancelha. "Nós dois fizemos sexo com Mia na noite passada, ao mesmo tempo, e você não consegue acreditar que eu e ela não selamos o nosso Vínculo de Alma?"

"Você deveria estar com ela," Remus disse com um sorriso, mais uma vez passando os dedos pelo rosto dela.

Sirius se inclinou, a observando atentamente como se estivesse tentando ver se Mia reagia em seu sono ao toque de Remus. Quando ela não o fez, ele suspirou aliviado. "Bem, se tivéssemos selado o nosso Vínculo de Alma, provavelmente você ainda estaria deitado na cama todo cinza e moribundo, não é?"

Remus balançou a cabeça. "Ela ainda teria selado o Vínculo da Alcateia." Ele não voltou o olhar para Sirius, que ele sabia que provavelmente estava questionando a verdade de sua declaração. Remus conhecia Mia. Ela era sua melhor amiga e sacrificaria qualquer coisa por ele. Mesmo que ela não quisesse salvar Remus, ela teria selado o Vínculo da Alcateia para garantir o futuro. "A noite passada não foi sobre sexo."

Sirius riu. "Pareceu sexo para mim."

"Vínculos são todos sobre intenções, Sirius. Você sabe disso. Ela veio até mim com a intenção de selar o vínculo, consolidar a nossa Alcateia. Se tivesse que assinar um documento ou sacrificar uma galinha, ela teria feito."

O foco de Remus se instalou na ferida no ombro de Mia. Quando ele imaginou esse momento, ele se preocupou com tanta frequência que ele iria ver essa marca e sentir-se enojado consigo mesmo. Mas agora, olhando para a ferida, ele sentia uma responsabilidade possessiva, poderosa e de grande consumo, não apenas para ela, mas para todos os que estavam conectados à alcateia. Sirius, James e Lily - sem mencionar os poucos vislumbres do futuro que Mia permitiu que ele visse - sua própria companheira e Harry.

"Acontece que o selamento do Vínculo da Alcateia envolveu sexo. Queria que o selamento do Vínculo de Alma fosse tão fácil."

Remus deu de ombros. "Lobisomens, parceiro."

"É, malditos lobisomens," Sirius riu.

Os dois compartilharam um olhar de entendimento, como se cada um estivesse hesitante em dizer o que eles estavam pensando.

Remus tinha medo de nunca voltar para casa - ele estava agradecido por estar vivo, mas estava preocupado com o fato de que os meios usados para salvar sua vida significassem que ele sacrificaria alguma parte de sua amizade com Sirius.

Sirius, por outro lado, estava tão aterrorizado com a perda de Remus, mas tinha sido forçado a tentar esconder para ser forte para a Mia. Quando ela chegou até ele com o plano de selar o Vínculo da Alcateia, Sirius não precisava pensar em fazer o que era necessário para salvar seu amigo. Embora ele provavelmente não fosse admitir isso sob condições sóbrias e não sarcásticas, se ela estivesse ansiosa ou hesitante em completar o ritual, Sirius teria feito ele sozinho. Ele amava Remus como um irmão e faria qualquer coisa por ele. Mesmo se ele não tivesse essa motivação, ele sabia que o coração de Mia se quebraria se ela perdesse Remus, e Sirius o salvaria por esse motivo.

Não era ciúme que se movia no peito com o pensamento, apenas um leve desconforto. Algo que lhe dizia que talvez ele deveria sentir ciúmes. Mas então ele soube que Mia precisava de Remus da maneira que Sirius sempre precisou de James. Ele não podia invejar essa dependência emocional. Sirius faria o que fosse necessário para manter Remus ao redor, se fosse por ela. Ele pensou em perder seu próprio melhor amigo... Bem, era insuportável pensar.

Apesar do não ciúme florescer em seu peito, Sirius sorriu quando Mia rolou em seus braços, afastando-se de Remus e aconchegando-se contra ele. Ele respirou fundo, deixando o momento se apoderar dele enquanto um calor se instalava em seu coração. Ela não podia saber o que seus movimentos no meio do sono significavam para ele - que, depois de uma noite tão intensa, ela tivesse o escolhido inconscientemente.

"Então, por que você não o fez?" Remus perguntou, quebrando o longo silêncio. "Por que você não selou o vínculo de vocês?"

"Se fosse só o sexo, eu não teria nenhum problema," Sirius admitiu. "Mas casamento? Merlin, eu ficaria surpreso se eu conseguisse colocar calças todas as manhãs. Às vezes, nem com isso eu me importo; pode perguntar a Lily ou Prongs. Além disso, ainda tem esse..." A falta de ciúme assumiu o controle, tentando se definir. Quando vibrou com irritação ao não ter um nome, mudou para algo que se sentia um pouco mais perto do ciúme. "Eu tenho esse medo, ilógico ou o que for, que mesmo depois de selá-lo, ela vá querer... você."

"Ela não me ama," Remus disse. "Não desse jeito. Sempre foi você."

"Você é idiota?" Sirius levantou uma sobrancelha incrédula. "Você foi o primeiro namorado dela-"

"Porque você foi embora," Remus argumentou.

"Ela perdeu a virgindade com você-"

"Porque você estava ocupado dormindo com toda Corvinal do castelo."

"Sempre que ela e eu... por qualquer motivo." Sirius suspirou, segurando-a com mais força, como se admitisse que esses medos a fariam escapar dele. "Ela voltou para você. Sempre foi você, Moony."

"Até que não foi mais," Remus disse com um sorriso compreensivo. "No final ela escolheu você. Ela realmente escolheu você, Pads. Não por causa de destino, mas porque ela te ama mais."

"Bom, levou muito tempo." Sirius falou fazendo beicinho.

"Ela estava comigo porque era seguro," Remus disse. "Eu e ela sabíamos que não éramos companheiros. Eu sou a pessoa que ela pode confiar a vida e o coração dela enquanto ela esperava você tomar uma decisão. Enquanto ela te esperava, ela não estava sozinha comigo, nós dois aproveitamos. Pads, nós já falamos disso. Por que eu preciso me repetir constantemente?"

"Porque eu a vi noite passada e eu não consigo evitar sentir um pouco... inadequado." Sirius suspirou envergonhado com a admissão. "Não me entenda mal, eu não estou com ciúmes. Eu nunca sentir ciúmes de verdade, estranhamente. Não com ela. Não com você. Eu não sei o que é, mas eu teria saído de cena, sabe, deixá-la ser sua para sempre."

Remus assentiu. "Eu sei."

"Moony, ela faria qualquer coisa por você. E isso me assusta."

"Sim," Remus concordou. "Mas ela faria tudo por você."

Sirius zombou. "E você sabe disso porque conhece todos os segredos dela?"

"Não seja amargo. Eu vou me levantar. Preciso desesperadamente de um banho. Aposto que agora minha magia está forte o bastante que eu poderia lançar um feitiço não verbal para aquecer a água do rio," ele disse confiante, a cor das bochechas mostrando que ele estava voltando a ficar saudável.

Quando Sirius pareceu que também ia se levantar, Remus balançou a cabeça. "Não, você fica com ela. Ela precisa acordar perto de você. Ela precisa que você diga que se sente bem com o que aconteceu na noite passada. Que você não pensa menos dela e que não vai fugir dela. Você precisa cuidar dela agora. Ela precisa saber como você se sente, Pads."

"Eu não sou bom com sentimentos, Moony," Sirius disse, gemendo enquanto pressionava a testa contra o ombro da bruxa como se pudesse se esconder dos problemas.

"Lide com isso. E isso é uma ordem, caso você não tenha percebido. Todo oficial agora, Alfa e tal."

Sirius ergueu uma sobrancelha quando sentiu um estranho formigamento na cicatriz em seu próprio ombro. Ele estreitou os olhos para o amigo sorridente. "Você vai usar toda a coisa Alfa sobre minha cabeça para sempre?"

"Só se eu precisar." Remus sorriu e andou em direção ao rio.

oOoOoOo

Os olhos de Mia se abriram com a luz matinal. O calor do corpo ao lado dela era confortável e ela se moveu para o doce abraço. Ela inspirou pergaminho, grama e firewhisky. Sem olhar para ele, ela beijou a garganta de Sirius, sorrindo quando sentiu ele mexer o rosto no cabelo dela.

"Funcionou?" Ela murmurou.

"Sim. Isso ou Remus decidiu que praticar mergulho no rio é seu último desejo. "Ele riu, e ela se permitiu rir, abraçando a cintura dele.

De repente, a noite anterior veio em flashes e Mia engoliu em seco. Uma dor deliciosa se acomodou entre suas coxas, agindo como uma rápida lembrança de suas atividades; ela corou em resposta. Infelizmente, as consequências potenciais das referidas atividades começaram a se listar em sua cabeça em ordem alfabética: Arrependimento, Bravura, Ciúme, Disputas... no momento em que chegou em Gravidez, ela se lembrou que Sirius tinha lançado um feitiço contraceptivo nela antes de irem ao quarto de Remus e entrou no terceiro ataque de pânico.

"Pare de se preocupar, amor."

Mia olhou dentro daquela imensidão cinza.

"Eu posso ouvir o seu cérebro trabalhando em um frenesi. Parece os elevadores do Ministério."

Ela queria beliscá-lo pelo comentário, mas a preocupação estava afundando em seu estômago como uma pedra. Ela levantou a mão para tocar suavemente na bochecha dele, sorrindo suavemente enquanto esfregava o polegar pela barba por fazer dele.

"Nós estamos bem?"

Sirius se abaixou para beijá-la. "Nós estamos perfeitamente bem, gatinha."

"Você tem certeza?" Mia perguntou nervosa. "Eu não quero que você pense que a noite passada foi algo além de-"

"Magia."

Mia não pôde discordar.

Tendo dormido com os dois bruxos no passado, ela pensou que sabia no que estava se metendo quando sugeriu selar o Vínculo da Alcateia.

Por mais que seu corpo a estivesse lembrando das atividades que eles fizeram, ela permaneceu focada na magia de tudo – a sensação do Vínculo da Alcateia solidificando ao redor deles. A maneira que a ferida em seu ombro não doía, mas formigava e a fazia se sentir conectada. O cordão de prata que ela tinha visto tantas vezes durante os estados meditativos agora era palpável dentro de sua consciência, e ela poderia segui-lo facilmente.

"Mas também foi mais do que só um ritual para salvar Remus, "Sirius continuou. "Eu sei disso."

"Não, foi..." Mia tentou argumentar, não querendo que Sirius pensasse que ela ainda tinha sentimentos amorosos pelo melhor amigo dela.

"Foi uma despedida."

Os olhos dela arregalaram. "O quê?"

"Vocês dois precisavam do encerramento, um momento final, e eu acho que precisava vê-lo," admitiu Sirius com um leve ressentimento, como se estivesse envergonhado. "Ver por mim mesmo a conexão entre vocês dois e... e entender que o que você e eu temos é mais forte. Eu sei que não sou bom com palavras, a menos que eu as use para fazer com que as pessoas fiquem com raiva ou, francamente, para irritar você." Ele riu enquanto corava. "O que, para constar, é incrivelmente fácil."

Ela estreitou os olhos. "Sirius-"

"Eu sei que apenas falei casualmente e nunca com a intenção que você merece." Ele respirou fundo e encarou o fundo dos olhos dela. "Mas... eu te amo."

Mia ofegou audivelmente com a declaração.

Olhando nos olhos dele, ela podia ver a vulnerabilidade que Sirius nunca foi conhecido por demonstrar. Uma parte dela entendia como ele podia ser tão ruim em Oclumência. Quando as paredes dele quebravam, elas se destruíam, e ela sabia que não teria resistência alguma se ela tentasse Legilimência nele; mas ela nunca faria algo do tipo, especialmente não nesse momento.

"É assustador e doloroso," Sirius disse, colocando uma mão sobre a parte do corpo dele onde o nome dela estava visivelmente tatuado sobre o coração dele – uma brincadeira deles bêbados que se tornou um gesto permanentemente romântico. Se ela não o conhecesse, pensaria que ele tivesse planejado isso desde o início. "E na maioria dos dias quando eu olho para você, sinto que meu peito vai explodir a menos que eu diga algo, mas eu geralmente escolho ficar em silêncio."

"Por quê?" Ela perguntou franzindo o cenho e traçando o contorno dos lábios dele com os dedos, sorrindo levemente quando ele parou para dar um beijo.

"Orgulho e teimosia?" Sirius sugeriu.

"Eu também te amo, Sirius."

"Mais do que ama o Remus?" Ele perguntou com um tom travesso.

"Pentelho." Mia revirou os olhos, dando um tapa no peito dele.

Isso só o levou a pegar as mãos dela e a virar de costas. Ele sorriu enquanto se posicionava em cima dela, os finos pulsos presos dela presos em suas mãos muito maiores, e aquele típico sorriso presunçoso em seu rosto que era um silencioso elogio a si mesmo por pegar seu prêmio.

"Então, foi ontem à noite uma coisa de poesia?" Ele se inclinou para dar beijos ao longo da clavícula de Mia. "Não é assim que sexo com Remus deveria ser? Eu tenho que admitir, estou me sentindo um pouco decepcionado. Não senti nenhum romance."

Mia corou um pouco com a memória de Remus e Sirius rondando seu corpo – dentro de seu corpo – a apertando entre eles. Ela lembrou de anos atrás no porão do Largo Grimmauld quando ela viu pela primeira vez a marca do Pack em Sirius. Ele mostrou para ela, Harry e Ron enquanto eles discutiam com Remus o fato de que apenas um lobisomem completamente transformado podia passar a licantropia para outros.

"Você quer prova? Moony, se saliva, sêmen ou sangue transferissem seu pequeno problema peludo para os outros, então eu teria um pequeno problema peludo também! Oh, ah... sangue," ele esclareceu quando todos ficaram encarando ele. "No quinto ano nós fizemos uma... e depois de Hogwarts houve um... Foi como uma coisa de irmãos de sangue. Como trouxas fazem. Não com... Sêmen, você sabe... Nada com isso."

Maldito mentiroso, Mia pensou presunçosa. "Eu acho que a noite passada foi um pouco mais rock and roll do que poesia."

Sirius sorriu. "Eu sou bom nisso. Não conseguiria citar Lord Brian nem para salvar minha vida."

"Lord Byron," Mia o corrigiu.

"Viu? Eu sou um lixo nisso." Ele sorriu e tirou algumas folhas secas do cabelo dela. "Mas me dê algumas boas letras de músicas e eu faria sua pele cantar se eu quisesse."

Ela levantou uma sobrancelha. "É mesmo, Sr. Black?"

Ele estreitou os olhos. "Duvidando de mim, Srta. Potter?"

"Desafiando você," ela disse com um sorriso travesso. "Faça a minha pele cantar."

De repente, Sirius estava em cima dela. Seu corpo pálido brilhava com a luz do nascer do sol atrás dele, seu cabelo de ébano um forte contraste com a iluminação ao redor e com a própria pele, marcada por tinta tão negra quanto suas mechas e uma variedade de cicatrizes rosa e prateadas. Ele já não olhava mais para as marcas em seu corpo causadas pela Magia Negra, infelizes distrações. Agora, especialmente com mordidas de lobisomem idênticas em seus ombros, eles combinavam mais perfeitamente do que nunca.

"Visões noturnas de fantasias deitam na cama comigo," Sirius cantou baixinho para ela, sua voz tão rouca ao ponto dela conseguir sentir as vibrações no ar e na respiração dele que batia em sua orelha e em parte do pescoço. "No escuro, eu posso ver você sorrindo."

Sua mente disparou com uma variedade de poemas, provérbios e citações que descreviam como ele a fazia se sentir. Levou menos de um minuto para lembrar que seu amor não era uma poesia delicada - era lírica, experiente e inflexível.

"Você toca o meu corpo e põe fogo em minha alma."

Mia conseguia sentir a boca dele pairando logo abaixo de sua orelha, não beijando - apesar do quanto ela queria que ele o fizesse - e sentiu mãos se movendo lentamente para baixo, bem lentamente, como se ele quisesse incendiar sua pele do jeito que ele falava que ela incendiava a alma dele.

"Eu posso ver a luz da manhã, o sol está nascendo, brilhando em seus olhos."

E então ele a beijou – finalmente a beijou – e de algum modo tudo estava diferente naquele beijo e eles já tinham compartilhado milhares. Desde aquele primeiro - e segundo - beijo na passagem desmoronada no quarto andar que levava a Hogsmeade, para o quarto dele na Mansão Potter, para corredor do quinto andar de Hogwarts, para a banheira com pés de cobre que compartilhavam em seu apartamento.

Mas esse... esse foi diferente.

A corda dourada de seu Vínculo de Alma, que normalmente ficava aceso sempre que tocavam, estava vibrando e puxando, puxando de algum lugar lá no fundo, mas não era mais o equivalente ao musical de um violino com alguma força invisível - muito provavelmente Destino - mexendo na corda para provocar o som.

Em vez disso, alguém tinha gentilmente, mas intencionalmente, feito um arco e estava deslizando-o pela corda como um violino corretamente empunhado, afinando para soar a variedade de tons de cinza nos olhos de Sirius, o cheiro exato de grama, pergaminho e couro que ela sentia quando o cheirava. De alguma forma, no fundo daquela música em sua alma, ela podia sentir a queimadura prolongada de um Firewhisky bem envelhecido.

"De repente, você se foi, e eu fui deixado aqui sozinho."

De algum modo seu coração estava tão cheio que ela quase se esqueceu para onde as mãos dele tinham ido. Em vez de alguém tocar a corda de ouro de seu Vínculo de Alma, ele a tocava como um Stradivarius - interpretando "Swan Lake", de Tchaikovsky, e ao mesmo tempo sussurrando letras de punk rock em seu ouvido, de uma banda só de garotas.

Ela se contorceu. Ele riu. Ela choramingou. Ele gemeu.

"Eu sei que você está aqui, posso sentir sua presença." Ele beijou toda a sua mandíbula até chegar na orelha. "E o som que você está fazendo, está me deixando tão quente."

Seus nervos incendiando, seu corpo latejava e doía e ainda respondia com entusiasmo ao toque dele. Todo estocada parecia ser sua completa ruína e cada saída a deixava quase em lágrimas.

"Eu estou sonhando? Você realmente estava aqui?"

A música não era necessária para a letra dela, embora ela se perguntasse se a batida da música era mais forte, mais áspera do que o ritmo com o qual ele estava usando atualmente. De alguma forma, Sirius encontrou a linha perfeita entre devagar e duro, e ele a estava aperfeiçoando.

"É só uma fantasia? Ou estou sonhando?"

Ela foi puxada de repente do chão para os braços dele quando ele se sentou de joelhos. Suas pernas se envolveram ao redor da cintura dele, peito pressionado contra o peito com folhas espalhadas em seus cabelos. Ela imaginou que eles pareciam ninfas da floresta. Ou talvez apenas ela. Ela era a ninfa da madeira Echo e ele era seu Narciso. Só que em vez de tristeza e sofrimento, eles mudaram a história e amaldiçoaram os deuses e de repente ela entendeu. Era isso que eles sempre quiseram ser. Conhecedores. Dispostos. Amantes.

Os requisitos para o Vínculo de Alma eram muito específicos e eles nunca tinham estado completamente na mesma página até agora. Quando ela ainda era Hermione, apenas Sirius tinha cumprido até fim. Quando ela voltou ao passado, era apenas ela que estava ciente e aceitando o vínculo. Finalmente, dada uma escolha, eles escolheram um ao outro, e o Vínculo de Alma era apenas um rótulo que definia esse sentimento, neste momento.

No final, ela não conseguia ouvir nada além do som de sua respiração, a batida de seu coração e o barulho do rio à distância.

"Eu te amo, bruxa," Sirius disse entre respirações.

Mia sorriu e beijou a testa dele. "Eu te amo, pateta."

"Então, é isso que me espera?"

Felicidade pós-sexo interrompida, Mia olhou por cima do ombro de Sirius e riu na curva de seu pescoço ao ver Remus olhando para eles com uma sobrancelha levantada, recém banhado do rio e parecendo divertido com a posição em que ele os pegara.

"Vocês dois sem vergonha fazendo isso em plena luz do dia?"

"Para ser justo, Moony", Sirius respondeu enquanto se afastava de Mia, mas ainda cobrindo a nudez dela – não que fosse preciso. "Não é nada que você já não tenha visto."

"Vocês dois estão bem, então?" Remus perguntou enquanto desviava o olhar o melhor que podia, enquanto os dois faziam o mesmo, considerando que eles tinham aparatado para o Pomar com nenhuma roupa, exceto as roupas reviradas de Mia.

"Estamos ótimos, Remus, obrigada," Mia disse sincera e se inclinou para beijar Sirius, como se selasse suas palavras com uma promessa.

"Não, obrigado você, amor," Remus disse com os olhos finalmente encontrando os dela com nada além de gratidão. Seu olhar permaneceu sobre a ferida no ombro dela e houve apenas um breve momento do que parecia ser arrependimento. "Dói? Sinto muito que você tenha que deixar curar naturalmente."

Mia balançou a mão para o lado. "Não me importo."

"Outros podem se importar. Se as pessoas verem, não vão entender."

"Eu não preciso que eles entendam, Remus. Eu mostro essa marca com orgulho, Remus."

Sirius sorriu, inclinando a cabeça para olhar sua própria cicatriz. "Eu também gosto da minha. E eu nem precisei ser mordido."

Mia revirou os olhos. "É um lembrete que o que aconteceu foi um ritual. Um vínculo mágico, algo poderoso e sagrado. Essas cicatrizes são um lembrete de quão amado você é por nós."

"Não, obrigado você, Sirius," Sirius interrompeu sarcasticamente seus pensamentos reverenciados. "Você é um amante tão maravilhoso e tão generoso quando se trata de compartilhar sua bruxa. O quê? Você salvou a vida de seu melhor amigo? Quão nobre e bonito você é! As músicas que as pessoas vão cantar sobre você serão lendárias!"

Mia riu, empurrando seu peito. "Urgh, se vista. Precisamos informar a todos que Remus não está morrendo."

"Se vestir com o que, gatinha?" Sirius olhou ao redor e sorriu quando viu o olhar no rosto de Mia quando ela percebeu como os três estavam literalmente nus em plena luz do dia – como Remus tinha falado apenas há alguns minutos.

Rapidamente redescobrindo suas inibições, ela gritou antes de tentar cobrir sua pele exposta, fazendo os dois bruxos rirem da exibição desnecessária.

"Remus, rasgue as minhas vestes." Mia apontou para a pilha de roupa preta no pé de uma árvore. "Eu vou transfigurá-la em algo para nós."

Minutos depois, o trio caminhava para a mansão, Sirius enrolado em torno de Mia. Ela estava envolta em um tecido preto transfigurado que parecia a saia de couro que ela tinha usado no show do Black Sabbath um ano antes, seu top lembrando um dos biquínis de Mary. Remus e Sirius cada um usava um conjunto de calças soltas, pretas e verdes, mas não havia tecido suficiente para criar camisas, então os bruxos continuaram sem.

"Vocês acham que Lily e Jamie já acordaram?" Mia perguntou.

Antes que qualquer um dos dois pudesse responder, eles ficaram cara-a-cara com Lily e James, ambos irritados, que pareciam um pouco menos irritado do que qualquer um deles imaginava que ele iria ficar depois de acordar e descobrir que sua irmã, melhor amigo e companheiro morrendo desapareceram da mansão.

"Ah eu acho que isso é uma distinta possibilidade," Lily respondeu a pergunta de Mia, os braços cruzados sobre o peito.

"Por que vocês estão pelados?" James perguntou cautelosamente.

Mia deu de ombros. "Tecnicamente isso são roupas."

Gemendo desconfortavelmente, James esfregou as palmas das mãos contra os olhos. "Oh Merlin."

"Remus, você está... você está bem?" Lily perguntou, os olhos um pouco abertos com esperança, brilhando como esmeraldas com a luz do nascer do sol.

Remus sorriu para ela. "Nunca me senti melhor, Lils."

"Graças a Deus," ela disse aliviada. Ela correu até eles, o abraçando com força. "Nem posso te dizer como isso me deixa feliz. Estávamos tão preocupados."

James se concentrou nos pés descalços dele.

Remus franziu o cenho enquanto Lily se afastava com lágrimas nos olhos. "Desculpa."

"Não é culpa sua. Mas agora você está bem, e eu imagino que você esteja saudável, e os três parecendo, bem, como você... isso explica muito."

"Explica o que exatamente?" Sirius perguntou enquanto Lily voltava para o lado de James, parecendo irritada de novo.

"Isso," ela puxou a camisa de James, expondo o ombro esquerdo dele, agora com uma cicatriz rosa que parecia com uma mordida.

Os olhos de Mia se arregalaram com a visão, e ela instantaneamente sentiu seu rosto corar. Ela e James evitavam contato visual um com o outro. De alguma forma, na preocupação de descobrir como salvar a vida de Remus o mais rápido possível, Mia e Sirius esqueceram que sua matilha original consistia em não três, mas quatro membros, e, quando devidamente selados, todos estariam conectados – não apenas aqueles presentes para o ritual de selamento.

A expressão presunçosa de Sirius não estava ajudando a estranha tensão que vinha de James e Mia no mínimo. Nem sua declaração entusiasmada de "Ei! Olha, Prongsie! Nós combinamos!" enquanto apontava para sua própria marca do Pack com entusiasmo.