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Capítulo Oitenta e Sete
Compreensivelmente Amargo
13 de Dezembro, 1978
Inicialmente, Mia se perguntou se compartilhar magia entre os membros do Pack significaria que alguns ficariam esgotados. Na verdade, como um contraste gritante, eles de alguma forma alimentaram um ao outro. Mia, James e Sirius tinham melhor foco em sua magia e Remus nunca pareceu mais saudável.
Infelizmente, as circunstâncias em torno do súbito pulo para longe da morte deixaram os membros da Ordem desconfiados de Remus. Nenhum deles tanto quanto Moody, que concordou em levar Sirius de volta como Auror apenas para infernizá-lo por guardar segredos. Para compensar seu sacrifício no trabalho, Sirius era recebido em casa todas as noites com um prato de bombas de chocolate cobertas de chocolate de uma confeitaria trouxa que Mia encontrou enquanto procurava presentes de Natal.
Não era, no entanto, o único presente que Sirius recebera da bruxa subitamente insaciável.
A ausência de Peter foi percebida durante a crise de saúde de Remus. Quando Remus perguntou sobre o paradeiro dele, a resposta de Sirius foi, "Foda-se ele."
Mia teve que ser discreta sobre recompensar seu bruxo pelo grosseiro xingamento contra a pessoa que ela mais odiava nessa linha do tempo e, apesar de Sirius não questionar a razão pela qual encontrou sua namorada vestindo nada além de sua jaqueta de couro em sua cama naquela noite, a tatuagem com seu nome na parte superior da coxa proeminentemente exibida, ele pareceu apreciar o gesto.
De alguma forma, apesar da guerra, apesar do estresse de serem adultos em um mundo onde todos queriam se agarrar um pouco mais à inocência da adolescência, os Marotos e Mia – ou bem... o Pack nunca esteve tão feliz como um todo.
James e Lily raramente se encontravam fora do Chalé Potter e ninguém tinha o interesse de perturbá-los com visitas ao acaso, sem aviso prévio. Infelizmente para Remus, ele vivia com outro casal perturbadoramente amoroso. Mia frequentemente se desculpava, mas evitar os dois era quase impossível quando Sirius Black tinha pouca, ou nenhuma, vergonha e ainda menos compreensão do que 'espaço vital compartilhado' não deveria ser usado.
"O mínimo que vocês dois podiam fazer é inverter as posições para que eu tenha uma visão melhor," disse Remus com um bocejo, indo até a pequena cozinha e passando por cima dos dois corpos que estavam em volta um do outro no chão. "Sem ofensa, Pads, mas eu já vi o suficiente da sua bunda pálida por várias vidas."
Mia riu, feliz que estivesse parcialmente vestida. "Desculpa, Remus."
Sorrindo enquanto se levantava, Sirius puxou o jeans para cima e observou com diversão quando Mia suspirou com satisfação ao vê-lo. "Minhas mais profundas desculpas, Sr. Moony," ele disse enquanto fazia uma curva baixa e dramática de remorso, "mas eu simplesmente não pude evitar." Ele rapidamente puxou Mia e depositou um beijo na lateral do pescoço dela, logo acima da marca do Pack. "A bruxinha me seduziu dizendo 'bom dia'."
Mia respondeu revirando os olhos para ele e dando um beijo de bom dia na bochecha de Remus antes de se mexer e ir colocar a chaleira no fogão.
"Bom, se isso é o que precisa," Remus disse ao pegar uma xicara limpa do armário, "estou chocado por nós dois não termos transado em oito anos."
"Eu também servi uma xícara de café para ele." Mia puxou para baixo a camisa vermelha e dourada de quadribol que servia de pijama, grata que pelo menos a metade superior de suas coxas estava coberta.
"Ah, e aí está a chave secreta para destravar o famoso cinto de castidade de Sirius Black," Remus disse ironicamente, segurando sua xícara para Mia, que bufou divertida enquanto colocava uma sacolinha de chá nela. "Eu estarei seguro em evitar oferecer café a ele no futuro, para não ser abusado na cozinha. Talvez apenas ficar no chá?"
Sirius soltou uma risada, esticando os braços acima da cabeça enquanto os seguia até a cozinha anexa. "Não pode fazer isso, Moony meu amigo, me oferecer chá implica em boqu-"
"Quieto!" Mia sibilou enquanto pulava até Sirius, colocando a mão firmemente em cima da boca do namorado.
"Merlin, não me digam o que suco de abóbora pode significar." Remus riu antes de colocar a chaleira para ferver e depois ir no armário procurar algo para comer. De repente, ele respirou fundo e estremeceu, agarrando-se a parede.
Instintivamente, seja por vontade própria ou conduzidos pelo Vínculo do Pack, Mia e Sirius se encontravam ao lado de Remus, oferecendo apoio e magia caso ele precisasse. A lua cheia era na noite seguinte e seria apenas a segunda desde que o vínculo tinha sido selado. Todos ainda se preocupavam com suas transformações, especialmente por ele ter chegado tão perto da morte.
"Como você está se sentindo?" Mia perguntou, tirando o cabelo da testa de Remus com carinho. Sirius estava se ocupando atrás dela, servindo um copo de suco de abóbora para o colega de quarto enquanto esperava a chaleira ferver. "Você quer que eu faça um café da manhã para você?"
"Não, obrigado, amor." Remus sorriu, dando um beijo na testa dela e aceitando o copo que Sirius ofereceu. Depois de beber rapidamente, Remus se ajoelhou em frente ao armário embaixo da pia onde Mia sabia que ele guardava um estoque de chocolate de emergência para os dias ruins. "Sentindo-se um pouco gripado. Vamos guardar as grandes refeições para depois da lua. Acho que vou pegar um pouco de Poção do Sono e voltar para a cama, para ser honesto. Eu odeio os sintomas pré-lua. Se não é a agitação e o nervosismo, são as malditas dores de cabeça."
"Vai lá e tome um banho quente na banheira do meu quarto banheiro," Mia insistiu, praticamente empurrando-o para fora da cozinha e pelo corredor. "Isso ajudará a relaxar. Um de nós vai te trazer uma xícara quando estiver pronta."
Remus fez uma careta com a sugestão. "Quando foi a última vez que vocês lançaram um Scourgify nela?"
"Vai." Mia estreitou os olhos para ele, mas seu olhar suavizou quando ele riu dela. "Eu vou descer e comprar um daqueles doces de Natal que eles venderam na Sugarplum."
"E alguns pastéis de abóbora?" Remus perguntou com os olhos de repente brilhantes.
E assentiu. "E alguns pastéis de abóbora."
"E alguns bolos de caldeirão?" Sirius gritou da cozinha.
"Eu pareço um elfo doméstico para você?" Mia rebateu enquanto saía pelo corredor.
"Você está trazendo um monte de guloseimas para Remus," disse ele, fingindo fazer beicinho. "Eu acabei de transar a vida com você, muito bem eu poderia acrescentar, se os sons que você fez fossem alguma indicação. O que eu ganho com todo o meu trabalho duro?"
"Você ganha café."
oOoOoOo
Mia entrou na loja de doces de Sugarplum e olhou em volta, feliz por ter vindo sozinha. Homens totalmente crescidos e mesmo assim Remus e Sirius esvaziariam ansiosamente seus cofres de Gringotes para comprar toda a loja de doces. Se ela fazia alguma coisa nos dias de hoje para os meninos, era agir como monitor para controlar os impulsos deles.
Enchendo a cesta com fudge de chocolate de Natal, pastéis de abóbora e bolos de caldeirão, Mia pagou por suas guloseimas, pegou suas sacolas e se dirigia para a porta quando uma visão chocante a fez parar em seu caminho. Ali, diante dela, uma mulher de curvas generosas empurrava um grande carrinho, seguida por dois rapazes e outro no colo, todos com cabelo vermelho flamejante e familiar.
"Por favooooor, Mãããe!" O menino mais velho arrastava os pés como se estivesse pronto para fazer uma birra a qualquer momento se sua mãe desse um sinal adequado. Ele era alto para a idade, o que Mia supôs que fosse cerca de oito anos. Quando sua mãe se recusou a olhá-lo, ele se jogou no chão. "Se você me der um Sapo de Chocolate hoje, eu não vou pedir mais nada para o Natal!"
"William Weasley." A bruxa se virou e colocou uma mão no quadril, a outra segurando o bebê. Olhos firmes se fixaram em seu filho chorão, William – ou Bill, como Mia o conheceria mais tarde. "Se levanta desse chão nesse segundo, jovem! Eu não vou recompensar o mau comportamento!"
"Te falei que não iria funcionar," murmurou o mais jovem, que só poderia ser Charlie. Ele estava em pé com um beicinho no rosto, sujeira na bochecha e um dragão na camisa de segunda mão.
"Mããããe..." Bill choramingou.
Molly Weasley continuou a ignorar o show do filho.
"Se você não me der um sapo de chocolate, eu vou... eu vou... eu nunca mais vou cortar meu cabelo!"
Mia bufou, lembrando-se de um futuro Bill Weasley de cabelos compridos e com piercings. Mesmo com o quanto Mia sabia que Molly odiaria o cabelo de Bill no futuro, ela parecia irredutível. Ela até encolheu os ombros, parecendo desconcertada, o que Mia não sabia que Molly poderia fazer.
"Muito bem. Eu sempre quis uma filha e você vai ser uma linda garotinha," Molly sussurrou para ele. Bill recuou em absoluto horror, e o sorriso que se instalou no rosto de Molly era tão reminiscente de Ginny que fez Mia ofegar.
"Agora, vocês dois se comportem enquanto eu compro o presente de Natal do pai de vocês," Molly insistiu quando se virou, empurrando o carrinho à sua frente em direção ao balcão.
Mia sutilmente se inclinou em torno de uma prateleira próxima, fingindo examinar uma lata de chocolates, a fim de espreitar o carrinho onde viu dois bebês idênticos dormindo.
"Como que o Papai ganha doces de Natal?" Bill exigiu, continuando a testar sua sorte.
"Porque um docinho merece outro," Molly sorriu corando um pouco.
Mia sorriu com a visão. Ser amiga de Arthur nessa linha do tempo e saber o amor que ele nutria por sua esposa era adorável, e vê-la retribuir isso - para seus filhos pelo menos – era maravilhoso.
"Se você se comportasse ao menos uma vez, aprenderia que o bom comportamento é recompensado. Agora, fique aí parado e não se mexa," ordenou Molly a seus filhos.
Mia observou de perto enquanto Fred e George dormiam profundamente no carrinho. A tranquila versão infantil de Percy sentado obedientemente no quadril de sua mãe, o polegar preso firmemente na boca. O olhar de Mia desceu para os dois garotos mais velhos, que sussurravam conspiratoriamente um para o outro. Bill era claramente o líder, enquanto Charlie apenas sorria e ansiosamente assentia para tudo que seu irmão mais velho sugeria.
A visão era muito surreal e Mia não tinha certeza se ela poderia lidar com uma reunião cara a cara com Molly Weasley, se ela ficasse por perto, então ela se dirigiu para a porta.
Assim que ela se aproximou da saída, ela sentiu um pequeno puxão em suas vestes e se virou para ver os dois garotinhos ruivos com olhares tristes em seus rostos, fazendo o papel dos pobres que Draco sempre acusou a família deles de ser.
"Com licença, minha senhora," disse Bill, batendo os grandes cílios para ela. "Você poderia dar alguns Sickles para dois órfãos famintos?"
Charlie passou os braços ao redor de seu estômago como se estivesse sofrendo de fome e soltou um suspiro lamentável. "Estamos sempre com muita fome."
Você está de sacanagem, Mia pensou, sufocando sua risada.
Ela se ajoelhou na frente dos dois e franziu o cenho. "Órfãos? Que horrível. Talvez eu possa ajudar vocês a encontrar uma nova família," ela sugeriu e observou com um brilho nos olhos enquanto Bill e Charlie pareciam perceber a falha no plano.
"Eu vejo que vocês têm um lindo tom de ruivo, talvez aquela bruxa de aparência gentil ali com as outras três crianças gostaria de adotar vocês," disse ela, apontando para Molly, que estava regateando o preço do que soava como alguns doces trouxas importados da América.
"Ah não, senhora, ela parece bem horrível," Bill insistiu.
Charlie assentiu enfaticamente, sua pequena mão apertando a camisa de Bill. "Muito."
"Parece uma doida, na verdade," Bill acrescentou.
Mia queria gargalhar pelo modo como terminavam as frases um do outro, como seus irmãos mais novos fariam um dia no futuro. Ela se perguntou se Ginny, caso fosse um menino, seria mais próxima de Rony, como cada casal de irmãos - com exceção de Percy - era.
"Sabem de uma coisa? Apesar de eu saber que vocês são dois monstrinhos mentirosos, eu vou dar algumas moedas para vocês com uma condição."
"Mesmo?" Bill perguntou chocado.
Charlie olhou para Mia desconfiado. "Isso funcionou?"
"Não mesmo," Mia respondeu revirando os olhos. "Mas é Natal, afinal das contas. Aqui." Ela enfiou a mão no bolso e tirou uma pequena pilha de Sickles, entregando-as a Bill, que olhou as moedas avidamente. "É o suficiente para três varinhas de alcaçuz."
"Ou uma caixa de feijõezinhos de todos os sabores."
"Três varinhas de alcaçuz," Mia insistiu, torcendo os lábios em desaprovação. "Deem uma para seu irmão menor -," ela apontou para Percy, sabendo que era raro ele ganhar algum tratamento especial dos irmãos. "- e também prometam se comportar pelo resto do dia. A mãe de vocês parece cansada e bons bruxos cuidam da mãe, certo?"
Charlie deu de ombros como se o pensamento nunca tivesse ocorrido a ele. "Acho que sim."
"O que o meu irmãozinho quer dizer é 'obrigado'," Bill disse, olhando para Charlie com desdém como se Mia pudesse pegar de volta as moedas tão fácil quanto tinha dado.
"De nada." Mia sorriu radiante para os meninos. Ela quase podia imaginar a Toca e sentir os maravilhosos aromas que saíam dela. A cozinha de Molly Weasley estava no topo da lista de coisas que ela mais sentia falta de 1998. "Feliz Natal."
Ela saiu da loja, perdida em pensamentos sobre a outra linha do tempo - os verões na Toca e a família que praticamente a adotou no mundo bruxo - e não estava prestando atenção em para onde estava indo. Infelizmente, nem a criança que bateu nela.
"Opa, desculpa!"
Mia apoiou-se na parede de tijolos do prédio, olhando para a parte de trás de uma pequena cabeça de cabelos negros pertencente a uma menininha que agora estava ajoelhada no chão.
Se abaixando, Mia ofereceu uma mão para a garota. "Você está bem?"
"Com certeza," a garotinha respondeu, pegando a mão de Mia e depois a soltando para limpar a sujeira das roupas. Ela sorriu para Mia um sorriso cheio de dentes; os dois da frente estavam faltando no momento.
"Quando você é tão desajeitado, você aprende a ser resiliente. Isso é o que meu pai me chama. Diz que eu tenho cicatrizes suficientes para me fazer um bom conjunto de armaduras. Tá vendo?" Ela orgulhosamente declarou, gesticulando para as cicatrizes nos joelhos. Assim que ela desviou o olhar, a cabeça de cabelos negros rapidamente se tornou marrom e depois loira em um instante.
Mia ficou de boca aberta. "Tonks?"
Os olhos da menina brilharam animadamente, mas antes que ela pudesse falar, ela foi puxada protetoramente para o abraço de quem poderia ser apenas sua mãe. "Nós conhecemos você?"
A mulher olhou para Mia com os olhos profundos, embora estes fossem gentis, ao contrário de bravos e loucos como os de sua irmã mais velha. Ela usava um longo vestido preto sob seu sobretudo, o cabelo puxado para trás em um nó apertado com cachos perfeitamente definidos que lembraram Mia imediatamente de sua falecida mãe, Dorea. Andromeda Tonks era a imagem perfeita do que uma bruxa puro-sangue deveria ser, exceto pela criança mestiça agora pendurada no braço, enfiando a língua pela abertura em seus dentes, claramente entediada e facilmente distraída.
Mia sorriu docemente. "Você deve ser, Andromeda."
Andromeda levantou uma sobrancelha questionadora, sua atenção voltando-se brevemente para a filha antes que uma chama de proteção refletisse em seus olhos quando voltaram para Mia. "Eu conheço você?"
"Desculpe, umm, eu reconheci você porque... bem..."
"Ah, você deve conhecer minha irmã, Bella." Andromeda suspirou. Claramente, ela já foi confundida com a irmã diversas vezes.
Mia bufou, sua boca se curvando em uma careta. "Conhecer é uma palavra muito forte."
"Existe outra melhor?"
"Bom, uma vez ela ameaçou minha vida em um casamento."
"E como você respondeu?" Andromeda respondeu, aparentemente sem se abalar com o comentário.
"Eu retribuí a gentil oferta dela," Mia admitiu casualmente com apenas um pouco de presunção.
O olhar desconfiado no rosto de Andrômeda foi embora e ela riu baixinho. "Você é Mia Potter, não é? Me chame de Dromeda, por favor," ela disse calmamente, antes de se aproximar e puxar a filha para cima e para longe de tropeçar acidentalmente no paralelepípedo irregular. "Somos praticamente familiares, afinal de contas."
"Nós somos família, na verdade. Minha mãe era Dorea Black."
"Eu sei. Sinto muito sobre seus pais. O mundo bruxo está muito pior sem eles. Sua mãe sempre foi muito gentil comigo, especialmente depois..." Seu olhar desceu para a filha, que agora ostentava um familiar tom de cabelo rosa.
"E você deve ser Nymphadora." Mia sorriu ao olhar para a criança, que se virou e rosnou para ela como um animal. Brevemente surpresa, Mia se levantou, lançando um olhar confuso para Andrômeda, que estava revirando os olhos, claramente envergonhada.
"Ignore o rosnado; é uma fase estranha pela qual ela está passando. Ela prefere ser chamada de Dora."
Mia riu em compreensão. "E o que vocês fazem no Beco Diagonal neste belo dia, Dora?" Ela perguntou a minúscula Metamorfomaga, uma parte do seu coração apertando um pouco, lembrando o quanto ela tinha sentido falta do pequeno Teddy Lupin ao longo dos anos.
"Nós vamos ver meu primo!" Dora disse radiante, o cabelo voltando a ser negro.
"Ah?" Mia levantou uma sobrancelha. "Vocês vão ver Sirius?"
"Ele não falou?" Andromeda franziu o cenho, se sentindo desconfortável, como se ela estivesse invadindo o dia de Mia. "Faz um tempo desde que nós o vimos e ele falou que estava morando no Beco Diagonal."
"Sim." Mia apontou para o final da rua. "É ali no final. Ele não falou nada. Eu vou acompanhar vocês, se não se importarem. Vai me dar uma chance de entrar no flat e garantir que esteja tudo certo. Morar com dois bruxos pode tornar a limpeza um pouco complicada."
Andromeda relaxou e deu uma risada. "Eu imagino."
oOoOoOo
Mia irrompeu pela porta da frente do apartamento, tirando a sacola de presentes de Sirius enquanto ele mergulhava neles. "Sua prima está lá embaixo!"
"Ah, merda. Esqueci que Dromeda ia passar aqui hoje."
"Sim, um aviso seria bom," ela sussurrou e pegou os caldeirões para Sirius, deixando-os sobre a mesa para que ele fosse forçado a compartilhar com Dora se a menina pedisse.
"Vai ficar tudo bem," ele disse casualmente enquanto se movia para abrir a porta. "O apartamento está ótimo."
Mia revirou os olhos e jogou para ele uma de suas camisetas brancas simples que estavam penduradas no encosto de uma cadeira. A camisa caiu no meio do caminho entre eles, mas ela estava muito apavorada para se preocupar em pegá-la, então deixou isso para Sirius. "Pelo menos coloque uma camisa antes de deixar sua família entrar. Eu preciso ir e ver Remus."
"Ele ainda está no banho," Sirius disse enquanto ela andava rápido pelo corredor.
"Sim, bom, é melhor que eu o veja pelado do que ele acidentalmente aparecer nu aqui como você tem o hábito de fazer!"
Ela irrompeu pela porta do quarto e fechou-a atrás dela, colocando fortes feitiços de bloqueio e silêncio. Jogando o pacote de guloseimas sobre a cama dela e de Sirius, ela correu em direção ao banheiro, pronta para arrombar a porta só para ter o máximo de vantagem possível sobre o problema. Ela realmente se arrependia de não ter dito a Andrômeda que hoje seria um dia ruim para visitar, mas a verdade é que ela sentia muita falta de Tonks. Ela também sabia que Sirius poderia usar o pouco da família que ainda falava com ele.
"Remus!" Mia gritou enquanto abria a porta. Ela quase riu da maneira como a água espirrou quando ele pulou, gritando de surpresa. Não era fácil assustar o homem e ela se sentiu convencida com o fato de ter feito isso de forma tão perfeita sem sequer tentar.
Ao vê-la, seus olhos se estreitaram. O olhar poderia ter sido mais intimidante se não houvesse um punhado de bolhas na sobrancelha esquerda.
"Mia, eu sei que chegamos a um nível confortável em nossa amizade," Remus disse em um tom recolhido. "Mas, na verdade, acho que o Sirius pode ter problema com você me vendo tomar banho."
Ela considerou brevemente issoe e seu olhar varreu o corpo de Remus em diversão. Ele ainda estava esteticamente agradável, especialmente quando ele corou um pouco por ela encarando. Achava interessante que, apesar de saber do que o corpo dele era capaz, ela não tivesse sentido nada. Nenhuma agitação prolongada interna trazendo momentos nostálgicos da antiga paixão. Ele era apenas Remus. Um Remus nu que era muito agradável de se olhar, mas não tão agradável quanto Sirius nesses dias. Arrancada de seus pensamentos pelo grunhido desconfortável vindo de seu melhor amigo, Mia lembrou-se porque tinha invadido o banheiro.
"Eu preciso que você fique calmo." Provavelmente não foi a melhor escolha de palavras considerando o olhar ansioso que cruzou o rosto de Remus.
"Eu não gosto do olhar no seu rosto," ele disse nervoso enquanto se esticava para pegar a toalha.
Quando ele errou a primeira tentativa, Mia revirou os olhos e entregou o roupão fofo que estava pendurado atrás da porta.
"Da última vez que você me olhou assim você me levou para uma Penseira e me mostrou um futuro onde eu tenho cabelos grisalhos, e você estava-" Ele fez uma pausa no meio da frase enquanto saía da banheira, o roupão de banho na mão dele. Seus olhos se ficaram ouro mais rápido do que ela jamais havia visto, e suas narinas se alargaram.
Ah não, Mia pensou enquanto se afastava lentamente dele, pegando sua varinha.
"O que...? O que cheira tão bem?" Remus perguntou, seus olhos se dilatando. "Você me trouxe fudge?"
Mia soltou um suspiro de alívio. "Sim, está no outro quarto," ela disse sem esclarecer qual outro quarto ela queria dizer.
"Vou pegar," disse Remus, largando o roupão enquanto corria para a porta do quarto sem parar para refletir sobre o fato de que ele estava nu e pingando água por toda parte.
Mia colocou as mãos contra o peito nu dele, brevemente olhando para longe e rezando para que Sirius não tentasse entrar naquele momento. Graças a Merlin, ela trancou a porta quando entrou. "Remus! Você está nu."
"Nada que você não tenha visto..." Remus zombou, tendo perdido toda a vergonha e sensibilidade naquele lampejo de ouro. Ele continuou se movendo para a frente, com os olhos cerrados, a mandíbula apertada, e Mia percebeu que ele nem percebeu que estava fazendo isso. "Eu preciso... eu preciso ir lá. Algo cheira..."
"Remus!" Mia falou. "Você não pode ir lá fora! Principalmente pelado."
"Por quê? Quero dizer, não a parte do pelado, isso é bastante óbvio. " Quase como se as palavras atingissem seus próprios ouvidos pela primeira vez, Remus percebeu que, sim, ele ainda estava realmente nu, de pé encharcado no meio dela e no quarto de Sirius. Ficando completamente, ele pegou um travesseiro da cama e cobriu a virilha com ele.
Deixando escapar um suspiro de alívio em agradecimento por ele voltar a si, Mia deixou os ombros relaxarem. "A prima de Sirius está aqui com sua filhinha."
"Andromeda?" Remus perguntou, levantando uma sobrancelha em curiosidade. "Ela não deveria a prima boa?"
"Ela é."
"Então por que você está-?" Suas narinas se abriram mais uma vez e um olhar vidrado caiu sobre seus olhos ainda dourados. "É você? Você cheira..." Ele sussurrou, inclinando-se para realmente cheirar ela.
Em circunstâncias normais, o gesto poderia ter lhe feito ganhar um tapa na cabeça, mas ela estava se sentindo um pouco simpática à sua situação, especialmente porque ele nem sabia o que era ainda.
"Mas não é você... Suas mãos." Ele pegou uma das mãos de Mia, deixando cair o travesseiro, e levou os dedos até o rosto para farejar. "O que você estava-?"
"Colloportus!" Mia gritou, a varinha em sua mão livre apontada para a porta enquanto ela adicionava outro feitiço de bloqueio mais forte em cima do feitiço geral que ela já tinha colocado.
Quase como se de repente ele percebesse que ela estava escondendo alguma coisa dele, algo importante, algo necessário e sustentador da vida, Remus correu para a porta. "O que tem lá fora?" ele exigiu, agarrando desesperadamente a madeira com as mãos nuas. "Eu preciso disso!"
"Remus, eu vou estuporar você," Mia ameaçou, a varinha apontada para as costas do melhor amigo.
"Por quê?" Ele se virou com os olhos arregalados, parecendo a perfeita imagem de um animal repreendido. "O que você está escondendo?"
"Sua..." Mia hesitou. "Sua companheira."
A cor sumiu completamente do rosto dele, e ele caiu no chão em frente à porta, boquiaberto, como se pudesse ver através dela, um olhar confuso e ansioso em seu rosto. "Você quer dizer que ela é...? Andromeda? Ela não é casada?"
"Não."
"Ela não é casada? Mas Sirius disse que ela está com aquele Tonks e que eles-"
"Ela é casada," Mia disse ansiosa. "Mas... não é ela."
"Eu não enten-"
Mia podia vê-lo processar a informação. Ela estava mantendo-o trancado porque sua companheira estava do lado de fora. Mas se não era Andromeda então...
"Espera. Não. Isso é... Ah merda..." Remus gemeu, enfiando o rosto nas palmas das mãos. "Ah, Merlin. Porra!"
"Você tem que ficar aqui, amor. Eu sei que você não faria nada... inapropriado." Ela estremeceu quando a palavra saiu de sua boca e mesmo assim Remus ainda reagiu pior, inclinando-se para a frente e batendo dramaticamente a testa na porta de madeira como se pudesse ficar inconsciente e esquecer os últimos minutos. "Mas tão perto da lua cheia, seria um pouco difícil, bem... se fazer de idiota."
"Mal-di-ção, Mer-lin fu-di-do." A cada sílaba Remus dava uma pancada na porta com a cabeça. "Quantos anos?"
Mia fez uma careta. "Acho que você não vai querer saber."
"Quantos anos ela tem?" Ele perguntou de novo, em pânico.
Mia suspirou pelo nariz e apertou os lábios. Com o canto da boca, ela murmurou, "Cinco. Talvez seis?"
"Merda!" Remus levantou e começou a andar pelo quarto, mãos presas no próprio cabelo, puxando com força em óbvia frustração e choque. "E você tem certeza? Quer dizer, eu sei que você sabe quem ela é com certeza, mas... Mas... Você está... Você tem certeza?"
Ela assentiu com a cabeça, colocando a mão em seu braço para impedi-lo de andar de um lado para o outro. "Sim. Eu te disse, eu conheço vocês dois no futuro."
Algo nele estalou. "E você não poderia ter mencionado até agora que eu sou quinze anos mais velho que ela?!"
"Treze anos, na verdade," Mia o corrigiu.
Oh, isso é muito bom! Dois anos a menos faz uma grande diferença quando minha maldita companheira é -!"
"Ei! Você está esquecendo que eu posso em algum momento ter que lidar com o meu próprio problema de idade?" Ela retrucou, referenciando seu passado - ou bem, futuro - relacionamento com um Sirius Black muito mais velho; isto é, se ela tivesse a chance de voltar a 1998. "E dezenove anos é um pouco mais problemático do que treze, muito obrigada, Moony!"
"Não me vem com 'Moony', Mia!" Remus rosnou. "Eu acabei de descobrir que minha companheira é uma criança! Ela só vai começar Hogwarts daqui a seis anos. Eu serei... oh Merlin, eu vou ter trinta anos quando ela for..." Ele caiu de costas na cama, os olhos arregalados e em pânico.
Brevemente, Mia se perguntou se ela o havia quebrado, mas ela podia ver seu peito subindo e descendo até mesmo através do aparente ataque de pânico.
De repente, suas narinas se abriram novamente e suas pupilas se dilataram mais uma vez. Todo o estresse havia desaparecido e ele parecia praticamente dopado. "Você...? Por acaso você fez biscoitos?"
Mia revirou os olhos frustrada. "Não."
O momento desapareceu rapidamente e Remus de repente percebeu algo importante. "Ela cheira a biscoitos?! Esse é o pior dia da minha vida."
"Você quer uma Poção Calmante?"
"Estou bem." Ele caiu de novo na cama, cobrindo o rosto com um travesseiro. Mia se perguntou se ele estava pensando em se sufocar com isso. "Eu estou apenas... compreensivelmente amargo, suponho."
"Eu gostaria de salientar que você sempre lutou comigo sobre o fato de que se você iria encontrá-la mesmo," Mia disse presunçosamente.
"Justo", ele admitiu debaixo do travesseiro.
"Eu ainda vou trancar a porta quando sair do quarto."
Ele tirou o travesseiro, sentou-se e estreitou os olhos para ela. "Você honestamente acha que eu iria lá e... o quê? Abusar uma criança?"
"Não, claro que não!" Mia sibilou para ele, ofendida que ele pudesse achar que ela pensava tão mal dele. "Mas você está um pouco intenso agora, Remus; seus olhos estão praticamente brilhantes. E a garota é um pouco... desajeitada", ela admitiu, tentando ser um pouco vaga.
Um olhar de pânico cruzou o rosto de Remus com as palavras dela.
"Preocupado? Já?"
"Bom, eu... Eu... Eu estou muito confuso agora. Não sei o que está acontecendo, meu cérebro está a mil por hora e você... você fez biscoitos?"
"Ah, pelo amor de Deus," Mia jogou a cabeça para trás e gemeu. "É o instinto protetor. Moony sabe que ela é sua companheira, que ela está ali fora, e apesar de não ter nada... romântico," ela observou Remus se recolher em horror com o pensamento. "- ainda tem o instinto de proteção que Moony tem com o que ele vê como dele. Sinceramente, eu tenho medo de que, se ela tropeçasse e caísse - o que a conhecendo, é muito provável de acontecer - seu lobo interior poderia tentar ser um cavaleiro de armadura brilhante. Honráveis intenções ou não, isso vai enlouquecer a mãe dela. Traidor de sangue ou não, os Blacks não são exatamente conhecidos por seu comportamento calmo. "
"Você é uma Black."
"Tecnicamente, sim. E eu pareço animada com isso agora?"
"Prima de Sirius." Remus suspirou, passando uma mão pelo cabelo molhado. "Então nós... nós somos família no futuro?"
"Nós somos família agora, amor." Mia ofereceu um sorriso gentil e Remus tentou retribuir, mas não conseguiu. "Então apenas fique aqui e eu vou dizer a Sirius que você ainda está se sentindo muito doente. Tem Poção Calmante no armário. Toma uma agora."
"Mia?" Remus a chamou enquanto ela ia até a porta. "No futuro... como a família dela reage comigo sendo... um lobisomem?"
Mia sorriu radiante, feliz por poder dar notícias boas. "Eles amam você."
Ele pareceu desconfiado, mas aliviado. "E Sirius?"
Ela riu, se lembrando como Sirius costumava perturbar o casal. "Vai provocar você sem piedade. Mas ele não descobre até ele..." Ele escapar da prisão e a Ordem da Fênix ser reformada. Seu sorriso desapareceu apenas para ser substituído por uma carranca amarga. "Porra!"
"Feitiço?" Remus estremeceu por ela. Fazia muito tempo agora, e ele tinha sido capaz de descobrir às vezes quando ela tentava confessar algo importante, apenas para ser frustrada pelo feitiço de Dumbledore.
"Não é como se eu estivesse mudando alguma coisa! Apenas... Tudo bem, deixe-me contornar isso." Ela respirou fundo e pensou por um momento. "Não diga a Sirius que você a encontrou até que seja apropriado. Pronto, vou deixar assim," ela disse e foi até a porta. "Ah, o fudge e os doces estão na sacola bem ali." Antes mesmo de colocar a mão na maçaneta, ela pôde ouvi-lo cavando o pequeno saco.
"Mia?" Remus a chamou de novo e franziu o cenho quando ela o olhou. "Qual o nome dela?"
Ela sorriu. "Nymphadora."
"Isso é..." Remus parou, falando o nome algumas vezes. "Isso é..."
"Lindo?"
"Ridículo," ele disse rindo.
"Vocês dois realmente são feitos um para o outro."
Com um suspiro de alívio, Mia saiu do quarto e trancou a porta mais uma vez, verificando novamente o seu Feitiço Silenciador. Ela deu três passos para frente e olhou para trás para lançar mais algumas proteções pessoais antes de se virar e voltar para a pequena sala onde seus olhos se arregalaram ao ver vidro quebrado no chão, o que parecia ser cerâmica quebrada e uma parte do tapete queimado. Ele também cheirava a fumaça.
"Ei, cadê Moony?" Sirius perguntou inocentemente enquanto se recostava no sofá, uma Dora de aspecto nervoso abraçada ao lado dele enquanto Andromeda estava sentada em frente a ambos parecendo mortificada e exausta.
"Doente," respondeu Mia cautelosamente. "Eu dei a ele algumas poções para ajudá-lo a relaxar. O que aconteceu aqui?"
Sirius parecia positivamente alegre. "Mini-Tonks não esteve aqui por cinco minutos antes de quebrar aquele vaso feio que Lily nos deu como presente de open house, dois dos meus copos de cristal e ela acidentalmente pisou na cauda daquele seu gato estúpido. A coisa podre está se escondendo debaixo do sofá agora. Eu deveria receber minha família mais vezes!"
