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Capítulo Oitenta e Nove
O Hábito de Azarar
23 de Dezembro, 1978
"Só estou dizendo, seria um ótimo presente de Natal para mim, James," Lily declarou com um doce sorriso no rosto, o mesmo que ela fazia quando estava tentando ganhar algo. O doce sorriso que ela tentou imitar de Mia, o sorriso que Dorea dava.
Infelizmente para Lily, ela não tinha realmente nada Sonserino nela, não importava do que Sirius a tivesse acusado no passado. Felizmente para ela, James estava apaixonado o suficiente para normalmente esquecer isso e se apaixonar por seus truques. Só não naquela noite.
"A sala é grande o suficiente para colocar várias prateleiras para livros e uma pequena mesa no canto," disse Lily, segurando a taça de champanhe na frente dela e observando com interesse as luzes da árvore de Natal dançarem na taça em sua mão.
James e Lily discutiam educadamente sobre a questão do quarto de hóspedes vazio no andar de cima, já que o tinham mostrado à Mia e aos outros horas antes. Todos tinham chegado com fome, animados para um jantar de Natal antecipado - ganso, cozinhado por Lily sem a ajuda de um elfo doméstico. Tal elfo doméstico estava fazendo beicinho em seus aposentos depois que Lily insistiu em manter a tradição de Mia de deixar Tilly passar as férias fora do local trabalho. Tilly argumentou que na verdade não era Natal e, portanto, não deveria contar, mas Lily se recusou a desistir - e, geralmente, o que quer que Lily dissesse, James concordava.
Exceto quando era sobre o quarto vazio do andar de cima.
"Eu concordo com você nas prateleiras, só nos livros que não. Eu acho que é o lugar perfeito para colocar todos os meus troféus de Quadribol," James disse provocativamente, sorrindo enquanto Lily lançava um olhar ameaçador. "Vamos colocar isso em votação. Aqueles que concordam que a sala no final do corredor deve ser um Museu Honorário de James Potter, levantem suas mãos."
Ninguém moveu um dedo.
James encarou todos. "Entendi. Vou ver se vou comprar algo de Natal para vocês."
"Podemos ver nossos presentes daqui, Prongs." Remus apontou para a grande árvore.
A árvore estava coberta de luzes de fadas, grandes bugigangas redondas e um humano alado no topo em vez de uma estrela, que Lily e Mia explicaram para os meninos, era um anjo. Sirius e James argumentaram que parecia um querubim do dia dos namorados e que não tinha nenhum motivo para ser incluído em feriados além do dia dos namorados, e então acusaram as garotas de tentar romantizar o Natal. Além das luzes de fadas e ornamentos de Quadribol que realmente voavam entre os galhos, Lily decorou a árvore com tradições trouxas; fios prateados e bolas vermelhas que haviam sido penduradas em uma corda enrolada nos grandes galhos.
"No próximo Natal, então," James declarou triunfante ao pegar o copo de firewhisky e, brindar a ninguém em particular, virar tudo de uma só vez.
Mia sorriu maliciosamente ao ver os dois discutindo sobre o único cômodo deixado na casa que não tinha sido preenchido com um propósito. Era óbvio para ela o que eles deveriam fazer com isso - o que eles fariam com isso. Mia imaginou animadamente como James iria parecer segurando seu filho em seus braços, a réplica perfeita de si mesmo, exceto pelos olhos - porque Harry tinha os olhos de Lily. Ela podia ver uma versão do futuro em que Harry crescia nesta linda casa, passando os Natais reunidos ao redor da grande árvore no canto, com os pais o adorando.
Ela lutou para ignorar a visão em sua cabeça que ela sabia que nunca iria acontecer. Em vez disso, ela fechou os olhos e tentou pensar em outro futuro, um futuro potencialmente real. Um onde ela passaria o Natal no Largo Grimmauld com Sirius, Remus, Tonks e o pequeno Teddy. Um futuro onde os Weasleys entravam e saíam da grande cozinha com Molly gritando atrás deles, ameaçando bater com uma colher de pau neles. Os cheiros seriam agradáveis e as vistas seriam suaves. Sirius cantando versões bruxas de músicas natalinas, os braços em volta de sua cintura enquanto observavam Teddy rasgar uma pilha de presentes. No canto, sob um visgo sem gritos, ela encontraria um jovem bruxo com cabelo negro bagunçado beijando uma bruxa ruiva. Harry em vez de James, Ginny em vez de Lily.
Mia reconciliou a grande perda do futuro lembrando-se de que, de alguma forma, a essência de James e Lily não desapareceria para sempre. Mesmo sem ser criado por seus pais, Harry cresceria para imitá-los inteiramente.
"Você está bem?"
Mia suspirou em alívio quando Sirius a fez sair desses pensamentos.
Ela sorriu para ele, assentindo enquanto se aconchegava no lado dele. Ela respirou o cheiro de couro de sua jaqueta que encheu seu corpo de calor e conforto. O pouco de pelos faciais que ele decidiu deixar crescer era um lembrete do seu Sirius Black mais velho, e a visão aqueceu ainda mais seu coração quando o futuro começava a se fundir com o presente.
No outro extremo do sofá, seus pés cobertos de meias estavam no colo de Remus. Ele mexia em sua bolsa anual de suprimentos da Dedos de Mel, enquanto Peter estava sentado no chão perto de seus pés. Mia se esforçou ao máximo para se distrair da visão do rato - que, no que lhe dizia respeito, não tinha o direito de pisar dentro desta casa -, mas resolvera, por enquanto, trabalhar silenciosamente em suas questões pessoais sobre o que o futuro guardava. Era Natal afinal de contas e ela não iria estragar a memória deste dia ao estraçalhar violentamente Wormtail.
Depois de abrir a maioria dos presentes e virar mais um copo de firewhisky, James se levantou, atraindo a atenção de todos os olhos da sala. "Tudo bem, hora do meu presente para Lily," ele insistiu com um sorriso nervoso. "Você está pronto, Sirius?"
Mia arqueou uma sobrancelha curiosa para o namorado, que se mexeu atrás dela para se levantar. Ele tinha um sorriso diabólico no rosto. Ela sabia que tudo parecia estar muito bem para ser verdade. Infelizmente, Lily se virou para encarar James no momento em que Mia pegou Sirius pegando sua varinha. Ah não, pensou ela.
"O que está acontecendo?" Lily perguntou nervosamente, afastando-se rapidamente de Sirius enquanto ele avançava sobre ela.
"Expelliarmus!" Sirius gritou, capturando a varinha de salgueiro quando ela voou do bolso de Lily.
Olhos esmeralda ardiam em fúria. "Sirius!"
Mia se endireitou, pronta para ajudar - embora não tivesse muita certeza de quem, mas sentiu a mão de Remus em seu pé. Ela olhou para cima para vê-lo balançando a cabeça, sorrindo.
"Me devolve minha varinha!" Lily gritou.
Enquanto ela estava distraída e desarmada, James pegou a mão dela. "Ainda não, amor." Ele puxou, a girando até que ela estivesse de frente para ele. Seus olhos estavam escuros e ele correu os dedos da mão livre pelo cabelo enquanto repetidamente lambia os lábios.
"Por que eu não posso ter minha varinha?" Lily exigiu. "James, por que você está me dando um presente de Natal que significa Sirius me desarmar?"
James riu nervosamente. "Porque, francamente, amor, você desenvolveu um padrão de azarar primeiro e fazer perguntas depois."
"Ah, Deus." Lily fez uma careta e levou as mãos à boca. "Meu presente está vivo? Morde? Você comprou alguma coisa do Hagrid?"
Naquele momento, o gato de Mia, Snuffles, atacou um enfeite de Natal pendurado e caiu da árvore, estilhaçando-se no chão. O barulho - misturado com nervos ansiosos - fez Lily gritar e pular.
James riu docemente com o olhar de horror no rosto dela, mas recapturou a mão dela e tentou chamar sua atenção de volta para ele. "Você vê isso?" Ele apontou para uma grande cicatriz prateada no cotovelo. "Isso é da azaração que você me deu no quarto ano depois que você descobriu que eu escrevi 'Sra James Potter' em todos os seus livros."
Lily levantou uma sobrancelha lentamente. "Eu lembro. Você usou algum tipo de azaração permanente e eu tive que comprar todos os livros de novo porque eu não conseguia remover. Alice e Mary continuaram me provocando. Sem mencionar várias outras pessoas," ela acrescentou enquanto seus olhos se estreitaram, olhando para Sirius, Remus e Peter - apenas os dois últimos pareciam envergonhados.
"E essa aqui," continuou James, redirecionando sua atenção mais uma vez, levantando a barra da calça para mostrar a cicatriz em sua canela, "foi do Incendio no terceiro ano quando eu a apelidei de 'esposa' por três semanas."
Lily revirou os olhos e cruzou os braços sobre o peito. "Eu sei. Ainda digo que colocar fogo na sua calça foi um acidente, mesmo que você tivesse merecendo. E eu pedi desculpas por isso. Eu não vejo o ponto de mencionar isso anos depois."
James ignorou completamente os comentários dela e prosseguiu. "Essa aqui é a minha favorita." Ele gesticulou com um sorriso, puxando uma mecha de seu cabelo para mostrar uma cicatriz logo atrás da orelha direita. "É onde um feitiço me atingiu no quarto ano."
"Você mereceu! Você me pediu em casamento na frente da escola inteira! Foi embaraçoso!"
"É exatamente por isso que Sirius te desarmou." James sorriu e olhou por cima do ombro de Lily para onde Sirius estava sorrindo para o casal, a varinha de Lily firmemente em sua mão.
Mia chegou mais perto de Remus, segurando as mãos dele em excitação, os olhos arregalados com a antecipação de algo que Lily claramente ainda não tinha percebido.
"Você, meu lírio," James disse com um sorriso, inclinando-se para colocar um beijo no interior da mão dela, "tem o terrível hábito de me azarar sempre que eu menciono o fato de que você vai se casar comigo um dia."
Como se as peças de repente se encaixassem, o rosto de Lily ficou vermelho. "James –"
"Eu gostaria de confiar em você, então prometa que não vai me azarar." Ele implorou para ela, passando a ponta do polegar sobre os nós dos dedos dela.
Lily engasgou. "Meu Deus."
"Lily, sua palavra." James insistiu.
Ela sorriu, lágrimas escapando dos olhos. "E-eu não vou te azarar. Prometo."
Quando Sirius colocou a varinha de Lily em sua mão, James respirou fundo e brincou com ela por alguns instantes. "É bom saber. Aqui está sua varinha de volta, amor."
Instintivamente - e provavelmente porque Sirius a tinha segurado por aqueles poucos minutos -, Lily olhou para a varinha dela, examinando-a cuidadosamente. Ela engasgou quando lá, em volta do centro da madeira, estava um anel grosso de ouro com uma grande pedra de rubi cercada por um halo de pequenos diamantes. Lily instantaneamente puxou o anel de sua varinha e trouxe para seus olhos para inspecionar.
Mia soltou Remus e foi se juntar Sirius quando ele sentou de novo sofá. Ela sorriu quando ouviu Lily resmungar, "Animo et astutia," em voz baixa, reconhecendo a herança pelo que era.
"Ah céus..."
"Lily Evans," James disse se abaixando em apenas um joelho.
As luzes de Natal atrás deles iluminavam todo o momento, selando-o nas memórias de Mia para sempre como a versão mágica de um flash de câmera.
"Eu tenho feito essa pergunta desde os 11 anos de idade. E mesmo se você disser não - de novo," ele murmurou, e Lily riu enquanto enxugava as lágrimas dos seus olhos, "eu continuo perguntando porque você tem um histórico de me dar a resposta errada. Algo que você não é conhecida por fazer, considerando o quão brilhante você é. Você aceita se casar comigo?"
Lily não esperou nem um segundo antes de gritar, "Sim!"
"Finalmente!" James se alegrou em voz alta, puxando a bruxa para os seus braços e a girando.
oOoOoOo
A comemoração durou horas.
Firewhisky, champanhe e vinho em abundancia. James chamou Tilly para compartilhar o momento de pura alegria e o pequeno elfo aceitou o convite para fazer um bolo, duas tortas de abóbora e uma grande quantidade de trifle banhado de conhaque. O trifle foi a gota d'água, no final, fazendo Lily declarar todas as sobremesas imorais e aparentemente dentro da mesma categoria que os lábios de James.
Mia estava grata por Lily ter apagado logo após isso. Ela não estava afim de ouvir os detalhes sobre a vida sexual do irmão.
"Ela definitivamente não aguenta álcool, né?" Mia riu com o irmão enquanto ele levitava um lençol sobre a noiva, que tinha deitado no tapete em frente a lareira que nem um gato. Snuffles deitado na cintura dela, ambos dormindo.
Do outro lado da sala, Remus cochilava silenciosamente encostado na grande poltrona onde Sirius estava desmaiado - uma guirlanda de flores enrolada na garganta como um colar. Peter estava inconsciente no banheiro do andar de cima depois de ficar doente por causa de doces e bebidas alcoólicas.
Apesar de terem bebido também, James e Mia aproveitaram a noite principalmente observando seus amigos e entes queridos se embebedando.
"Eu gosto disso nela." James sorriu, sentando no espaço vazio do sofá ao lado de Mia. "Lily é inocente comparada ao resto de vocês, delinquentes."
Mia bufou, empurrando-o com o ombro. "Fale por si mesmo. Sou uma cidadã honesta da Inglaterra bruxa. Até trabalho no Ministério, sabia?"
"Como está indo lá, por falar nisso?"
Seu sorriso desapareceu e ela fez uma careta. "Eu odeio. Eu não contribuo com nada e basicamente fico sentada escrevendo papeis, observando pessoas influentes criarem leis horríveis que nos fazem retroceder séculos."
Seu olhar foi até Remus por uma fração de segundo, sabendo que muitas das leis que ela esperava impedir eram em relação aos direitos dos lobisomens.
James assentiu em compreensão e pegou a mão dela como um gesto de conforto. "Quando a guerra acabar, talvez eu deva ocupar o lugar Potter na Suprema Corte dos Bruxos. Se as mulheres pudessem fazer isso, eu passaria para você. Isso tecnicamente não existe, mas deveria. O pai nunca mencionou e eu nunca pensei muito sobre isso. Mas você está certa. As pessoas que amamos estão sendo discriminadas. Eu poderia ter o poder de mudar isso."
Mia revirou os olhos dramaticamente. "É ridículo que uma mulher possa ser Ministra da Magia, mas não possa participar da Suprema Corte." Ainda.
Ela sabia que diversas mulheres faziam parte no futuro. Por mais honradas que as intenções de seu irmão fossem, ela também sabia que o assento dos Potter não seria dele. Essa cadeira não existia no futuro, exceto que ela se lembrava de Kingsley e Sirius conversando com Harry sobre como corrigir isso. Harry rejeitou a idéia e foi até ela pedir conselho, já que não sabia nada sobre como as leis do mundo bruxo funcionavam e estava preocupado que, se ele ocupasse um cargo dos Potter, acidentalmente tornaria as coisas politicamente piores.
James deu de ombros. "É tudo ridículo. São só famílias das Sagradas Vinte e Oito nos últimos séculos."
"Por que nós não fazemos parte disso, afinal de contas? Os Potters são puro-sangues. O avô Black não teria deixado a mãe casar com o pai se não fossemos," ela disse se lembrando da história de como Charlus e Dorea se apaixonaram. Cygnus, o segundo, amava a filha a ponto de permitir que ela casasse sem ser algo arranjado. Mas se os Potters não fossem puros, Mia sabia que Dorea poderia ter acabado facilmente uma Malfoy, Lestrange ou Crouch.
James riu. "Ah, essa é uma antiga história de família. Aparentemente Cantankerous Nott começou seu livro de famílias puro sangues quando ele ainda estava em Hogwarts. Algum tipo de projeto pessoal, eu imagino. Bom, ele era um Sonserino e, como você sabe, Potters sempre ficam na Grifinória."
Mia revirou os olhos mais uma vez. "Uma rivalidade? Sério?"
"Nosso bisavô Titus Potter irritou o autor do Diretório Puro-sangue e quando os Notts ganharam posição política, o chamado 'Sagradas Vinte e Oito' incluiu todos, exceto os Potters," James informou a ela, usando aspas em referência às famílias supostamente "sagradas" de sangue puro.
"Estou surpresa em saber que eles incluíram famílias como os Weasleys, Prewetts e Longbottoms," ela disse pensativa enquanto pegava a taça de vinho e a girava casualmente.
"Talvez a gente devesse começar o nosso próprio diretório."
Mia riu. "Sagrados Traidores do Sangue. Vai ser maior que o Diretório Puro-sangue."
"Graças a Merlin."
Mia olhou para o irmão, observando a atenção dele ir para a bruxa adormecida em frente ao fogo. "Você vai se casar, Jamie."
James se virou, seus olhos brilhando como as luzes de fadas na árvore de Natal. "Eu vou," ele disse enquanto sorria. "Quão estranho é isso?"
"Muito. Parece que foi ontem que Lily estava te dando tapas na cara."
James suspirou feliz. "Ah, bons tempos. Quando éramos pequenos primeiro-anistas fazem travessuras," ele disse enquanto colocava um braço ao redor dela. "Logo vão ser os nossos filhos indo para Hogwarts."
Mia empalideceu ao pensar em ter seus próprios filhos, mas o estranho olhar no rosto de James a fez sorrir mais uma vez enquanto pensava em Harry.
"Você e Lily querem compartilhar alguma notícia?" Ela perguntou com uma sobrancelha levantada, embora já soubesse a resposta, uma vez que sabia quando era o aniversário de Harry e poderia facilmente fazer a matemática.
James riu e sacudiu a cabeça. "Não. Mas eu não me importaria se ela estivesse grávida," ele admitiu, sorrindo quando viu a expressão chocada no rosto de Mia. "Eu sei. Merlin, você pode imaginar eu tendo filhos?"
"Sim," Mia murmurou, feliz por James não ter percebido o tom triste em sua voz.
"Conhecendo a minha sorte, vou acabar cheio de garotas. E vou ter que aguentar terríveis moleques como eu, correndo atrás de todas como eu fiz com a Lily."
"Não." Mia sorriu balançando a cabeça. "Você vai ter um filho."
Seus olhos se arregalaram um pouco quando percebeu que tinha essencialmente confessado a James que Harry existia no futuro. O feitiço de Dumbledore falhou? Ela não tinha nem lutado para dizer as palavras. Ou talvez, como ela havia dito, tivesse tudo a ver com intenções; já que ela não estava pretendendo falar para mudar o futuro, ela foi autorizada a falar.
Eu só quero que ele saiba sobre o filho, Mia pensou consigo mesma. Jamie merece saber sobre o homem que Harry vai se tornar.
"Você acha?"
"Eu sei."
"Eu gostaria disso. Parecido comigo, mas com o cabelo de Lily," James falou.
Mia riu. "Ele vai ter o seu cabelo."
Ela se lembrou da primeira vez que viu Harry Potter de onze anos de idade: ele estava sentado em um compartimento na parte de trás do Expresso de Hogwarts com Ron. Cabelos negros e bagunçados espetados em várias direções, metade cobrindo a testa, o que ela presumiu que ele fizesse de propósito. Ele usava roupas que eram dois tamanhos maiores que ele, com óculos que estavam quebrados enquanto protegiam seus brilhantes olhos verdes.
"Os olhos da Lily," Mia sussurrou. "Mas ele terá o seu sorriso e bom coração. O fogo e a paixão de Lily, e o seu senso de honra e coragem." Lágrimas começaram a se formar no canto dos seus olhos e ela lutou para enxugá-las antes que James as visse.
Ela virou a cabeça para longe de seu irmão e viu uma luz bruxuleante do outro lado da sala, onde um par de suaves olhos verdes a encaravam. Mia franziu a testa ao ver Remus acordado e obviamente ouvindo a conversa. Ele deu a ela um sorriso simpático enquanto ela limpava as lágrimas. Ela ofereceu um sorriso triste em retorno, grata que, pelo menos em parte, alguém entendesse por que ela estava tão chateada por falar do futuro. Remus sabia que ela sentia falta de Harry profundamente.
"E quanto ao meu senso de humor?" James perguntou, interrompendo a dor momentânea de Mia.
"Ele terá sua arrogância," declarou ela com uma risada, lembrando um Sirius Black mais velho que passou pelo Grande Salão durante a batalha final, gritando sobre como Harry o enfeitiçara para escapar sem ser detectado para encontrar Voldemort na Floresta Proibida. "E ele terá a natureza imprudente de Sirius. O talento de Remus para Defesa." ela acrescentou, sorrindo para sua melhor amiga, que arqueou uma sobrancelha em resposta.
James sorriu. "O meu talento para o Quadribol? O Artilheiro mais novo da história!"
"Apanhador," Mia o corrigiu.
"Desmancha prazeres," James disse, dando a língua para ela. "Está bem, desde que todos estamos criando meu filho, o que ele vai ganhar de você?"
Ah, ele vai ganhar Sapos de Chocolate que Rony vai comer, uma pena de águia que ele mal usará, um planejador de lição de casa que ele secretamente odeia, um bolo de aniversário que irá alimentá-lo quando a irmã de Lily não alimentar, um Kit de Manutenção de Vassoura - Ah, e ajuda na destruição do maior bruxo das trevas da história dos bruxos.
"Amor. Amizade," ela disse em voz alta com um sorriso. "Talvez um pouco de sabedoria, se ele for paciente o suficiente para me ouvir." Ela deixou um silêncio pesado na conversa antes de somar coragem para sussurrar, "Eu. . . Eu vou cuidar dele, sabe?"
James bocejou. "Meu filho hipotético?"
Ela assentiu, apertando mais a mão do irmão. "Eu só quero que você saiba disso. Quando você e Lily começarem uma família, você deve saber que eu sempre cuidarei dele. Vou me certificar de que ele esteja feliz e saudável e..." Suas palavras ficaram presas em sua garganta, reprimidas por trás da represa de emoções.
"Devo prometer fazer o mesmo por seus futuros filhos hipotéticos com Sirius?" James perguntou com uma sobrancelha levantada.
Mia riu alto em resposta, olhando para a grande poltrona onde Sirius estava roncando levemente. Remus, ainda acordado, manteve os olhos fechados, mas ela podia ver o peito dele tremer com risadas silenciosas. "Ah, Merlin, nem fale isso! Você poderia imaginar eu e o Sirius tendo..."
"Filhotes?" James riu.
Ela bateu levemente na parte de trás da cabeça dele. "Você é horrível. E eles seriam metade meus para que pudessem ser igualmente raposas."
James franziu a testa, sem se impressionar. "Isso soa estúpido. Eu acho que todos nós vamos ter filhos humanos," ele admitiu em voz alta com um suspiro, como se uma criança humana fosse a coisa mais horrível do mundo.
"Quão absolutamente comum de nós."
"Nós somos tediosos."
"Jamie..." Mia hesitou. "E se a guerra nunca acabar? E se nós perdermos?"
"Não podemos perder." A alegria desapareceu de sua voz quando ele falou. James parecia sempre o líder confiante, lutador. Ele parecia o Harry no campo de batalha. "É importante demais. Tem que acabar e nós temos que vencer, não há espaço para dúvidas, Mia. Eu... Eu farei qualquer coisa para vencer esta guerra."
Mia franziu o cenho, sabendo que ele falava a verdade. "Até morrer?"
"Até morrer," James afirmou sem nenhum momento de hesitação.
"E o resto de nós?" Como vamos continuar a viver sem você? Como eu vou continuar a viver sem você?
James suspirou irritado. "Eu acabei de noivar, Mia, por que estamos falando de coisas deprimentes?"
"Responde a minha pergunta, Jamie," ela pediu.
Ele levou um momento para realmente pensar sobre isso, claramente não querendo deixar sua resposta aberta à interpretação e, assim, continuar a conversa pessimista.
"A mãe sempre disse que é o conteúdo dos anos que você viveu que importa, não a quantidade desses anos. Eu quero que o meu conteúdo valha a pena. Eu quero que o seu conteúdo valha a pena. Eu farei o que tiver que fazer para evitar perder aqueles que eu mais amo." Seus olhos foram até Lily. "Algum de nós é mais importante do que todo o mundo bruxo? O mundo inteiro? Eu não te amo mais do que o bruxo da rua ama a irmã dele. Eu não amo Lily mais do que qualquer outro homem ama a esposa dele. Embora eu tente."
Mia se jogou em seu irmão, envolvendo-o com força em seus braços, se recusando a soltá-lo tão cedo enquanto enterrava o nariz na bagunça que ele tinha de cabelo. Ela respirou seu perfume, memorizando-o. Apesar de todo o firewhisky que ele bebeu em comemoração de seu noivado, ele ainda cheirava a torta de abóbora.
"Eu já disse que você é um bom homem, James Potter?"
James encolheu os ombros como se ser um bom homem viesse naturalmente para ele. "Eu faço o que eu posso."
"O quarto lá de cima?" Mia olhou para o irmão com um sorriso de quem sabia das coisas. "Deveria ser um quarto de bebê."
James sorriu. "Vou pensar sobre isso."
"Feliz Natal, Jamie."
"Feliz Natal, Mia."
oOoOoOo
Várias ruas depois da rua Charing Cross, onde o Caldeirão Furado ficava entre uma livraria e uma loja de discos, ficava uma pequena casa recém-comprada pertencente a um jovem casal trouxa ansioso para comemorar seu aniversário de casamento.
"Helen? Você está em casa?"
O marido passou pela porta da frente, jogando as chaves em uma mesa próxima e sorrindo quando elas não caíram no chão.
"No quarto, amor!"
Ele caminhou em direção a uma porta no final do corredor. "Começando sem mim?" Ele perguntou enquanto espiava a cabeça pela porta entreaberta.
"Até parece." Uma cabeça de cachos cor de mel estava enterrada nas páginas de um livro desgastado.
Pegando o livro das mãos de sua esposa, ele riu quando os reflexos lentos dela falharam ao tentar recuperá-lo. "Helen, é o nosso aniversário e você já leu essa maldita coisa mil vezes."
Ela bufou enquanto ele colocava o livro na mesinha de cabeceira, grata por ele ao menos deixá-lo aberto na página que ela estava lendo. "Sim, Richard, mas é o meu favorito. Acontece que amo esse livro quase tanto quanto eu amo você."
Richard colocou a mão contra o peito fingindo estar ofendido. "Cinco anos de casamento e tudo se resume nisso? Eu ou o livro?"
"Eu sou bom em fazer várias coisas ao mesmo tempo." Helen sorriu, inclinando-se para beijá-lo. "Posso amar vocês dois."
Richard riu, devolvendo o beijo e sorrindo quando viu que sua esposa ainda não se vestira para a noite. Eles já estavam atrasados, mas ele não pôde deixar de ficar satisfeito com a maneira como a mão dele encontrou a pele nua da sua coxa dela sob o lençol. "E quando tivermos filhos? Você vai amar a todos ou será que o livro e eu precisamos brigar por você?"
"Crianças?" Helen se afastou dele, seus olhos castanhos de chocolate parecendo animados enquanto ela olhava para ele. "Então, você pensou sobre o assunto?"
Richard assentiu. "Faz sentido. O timing está bom. Nós dois já terminamos a faculdade, temos bons empregos -"
"A prática tem indo bem," ela o interrompeu.
Sorrindo, Richard respondeu. "A prática tem ido muito bem. Acho que minha resposta é sim. Vamos começar a nossa família."
"Eu sabia que você diria sim!" Helen gritou de prazer e jogou os braços ao redor dele.
"Claro que você sabia." Richard riu baixinho e inclinou-se para beijar seu pescoço. "Bem, não há tempo como o presente."
Helen suspirou feliz, inclinando no toque dele. "Nós vamos perder a nossa reserva de jantar."
"A culpa é do livro."
Ali, na mesa de cabeceira, estava aberto o desgastado livro. No topo, escrito em letras desbotadas, lia-se "Conto do Inverno", e lá na página aberta havia uma passagem que havia sido lida por Helen Granger pelo menos mil vezes:
Sei que ainda cultuas a memória de Hermione. Oh, tivesse seguidos os teus conselhos! Ainda hoje contemplaria minha cara esposa e um tesouro colhera de seus lábios
oOoOoOo
23 de dezembro, 1978 - 11:03 PM
O flat vazio permaneceu em silêncio nas últimas horas da noite, seus residentes distantes em Godric's Hollow, aconchegados na sala de visitas no primeiro andar, adormecidos com os efeitos do Firewhisky, do trifle embebido em conhaque e da euforia de celebrar um novo noivado.
Nas profundezas do malão de Mia Potter, trancado em uma caixa de joias trouxa com um forte feitiço Não-Me-Note, estava um velho Vira-Tempo. A areia azul dentro de uma ampulheta cuidadosamente construída, envolta em um invólucro de prata com uma corrente fina pendurada como um colar. O fundo estava gravado com uma runa que significava predestinação. Todos os trezentos e oitenta e oito mil, setecentos e trinta e sete minúsculos grãos azuis de areia dentro do Vira-Tempo estavam congelados, exatamente como estiveram nos últimos sete anos, quatro meses, vinte e dois dias, uma hora, e quatro minutos.
Um pequeno grão azul de areia descongelou e caiu na outra ponta do Vira-Tempo.
Trezentos e oitenta e oito mil, setecentos e trinta e seis permaneceram.
