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Capítulo Cem
Vencemos
15 de Agosto, 1981
Querido Padfoot,
Obrigada, obrigada pelo presente de aniversário para Harry! Foi o favorito disparado. Um ano de idade e já está voando em uma vassoura de brinquedo, ele parecia tão orgulhoso, anexei uma foto para você ver.
Sirius sorriu para a foto de seu afilhado de um ano que ele não via há quase seis meses. Apesar de não ser mais um Auror, a Ordem da Fênix ainda fazia uso de Sirius, assim como fazia de todos os outros. Os Potters e os Longbottoms estavam escondidos há mais de um ano, enquanto o resto da Ordem foi enviado em várias missões: Peter para a Escócia para explorar possíveis casas seguras, Remus para o País de Gales para se infiltrar em matilhas de lobisomens - desta vez com um vínculo total de Matilha para protegê-lo.
Sirius, no entanto, foi enviado para a Bulgária, onde ele fez amizade com bruxos das trevas em pubs sombrios, que estavam muito cientes de seu sobrenome, mas desconheciam suas alianças e opiniões pessoais sobre o "problema dos sangues-ruins".
Cartas de seus amigos o mantinham firme em sua ética e valores, lembrando Sirius de quem ele era e o que ele representava para que ele não se perdesse em um oceano de escuridão semelhante a como ele cresceu. Fotos de Harry o lembravam pelo que ele estava lutando.
Você sabe que só levanta uns sessenta centímetros do chão, mas ele quase matou o gato e derrubou o vaso que Petunia me mandou de Natal (não estou reclamando)...
Sirius bufou. Porra de gato.
Claro, James achou engraçado, disse que ele vai ser um grande jogador de Quadribol.
Tomamos um chá de aniversário bem tranquilo, só nós e a velha Bathilda, que sempre foi doce conosco e que adora Harry. Sentimos muito por você não ter vindo, mas a Ordem tem que vir primeiro, e Harry não tem idade suficiente para saber que é seu aniversário de qualquer maneira!
Sirius suspirou ao se lembrar do incômodo que passou apenas para enviar aquela maldita vassoura para a Grã-Bretanha. Passou por três problemas alfandegários diferentes, e ainda teve que ser enviado para Dumbledore, que acabou entregando para James e Lily. Sirius nem sabia da localização deles, embora tivesse suas suspeitas. Era muito perigoso incluir qualquer informação de localização em uma carta. Com a menção de Lily de Bathilda Bagshot, ele assumiu que eles estavam de volta ao Chalé Potter em Godric's Hollow. Ele fez uma nota mental para responder sutilmente à carta e deixar Lily saber que ela precisava ser mais cuidadosa para o caso de sua coruja ser interceptada.
James está ficando um pouco frustrado quieto aqui, ele tenta não demonstrar, mas eu percebo – também, Dumbledore ainda está com sua Capa da Invisibilidade, então não há chance de pequenas excursões...
Sirius suspirou com a revelação de que Dumbledore estava com a capa. Ele quase podia sentir a frustração de seu melhor amigo a milhares de quilômetros de distância. James não era o tipo de homem que poderia simplesmente se deixar trancar e fora da luta. Sirius ficaria louco se eles tivessem sugerido uma coisa dessas para ele.
Se você pudesse visitá-lo, isso o animaria muito. Wormy esteve aqui no fim de semana passado, achei que ele parecia deprimido, mas provavelmente eram as notícias sobre os McKinnons; Chorei a noite toda quando soube...
Sirius pousou a carta brevemente e beliscou a ponta do nariz. Apesar de seu passado sórdido e do fato de que Mia odiava a garota, ele ficou triste com a notícia da morte de Marlene. É claro que, nos dias de hoje, cada nova carta que recebia relatava uma morte ou outra. As notícias sobre os irmãos Prewett o enviaram de volta aos pubs em busca de firewhisky, apenas para descobrir que desde o coma induzido pelo álcool um ano antes, ele havia desenvolvido quase que uma imunidade à bebida. Não sendo mais capaz de afogar suas mágoas na bebida, Sirius foi forçado a lidar sobriamente com seu tumulto interior. No entanto, isso não o impediu de beber; agora só tinha gosto de nostalgia... e dela.
Bathilda visita na maioria dos dias; ela é uma velha fascinante com as histórias mais incríveis sobre Dumbledore. Não tenho certeza se ele ficaria satisfeito se soubesse! Na verdade, não sei em que acreditar, porque parece incrível que Dumbledore...
Sirius abaixou a primeira página, pegando a segunda.
... pudesse ter sido amigo de Gellert Grindelwald. Eu acho que a mente dela está indo embora, pessoalmente!
Com muito amor,
Lily
Dumbledore e Grindelwald amigos? A velha Bathilda certamente estava enlouquecendo. Em seguida, ela estaria contando a todos que, antes do famoso duelo entre a dupla de bruxos, eles haviam sido amantes.
25 de Outubro, 1981
Levou mais de um mês para Sirius voltar para casa na Grã-Bretanha. Ele foi direto para Godric's Hollow depois de fazer seu relatório para Dumbledore e Moody que, apesar de ter o rosto demolido e perder metade de uma perna depois do que ele considerava uma "briga" com alguns Comensais da Morte, ainda insistiam em tentar ajudar a administrar a Ordem de sua cama de hospital em uma casa segura. St. Mungus era muito arriscado para manter membros da Ordem nos dias de hoje.
Sirius permaneceu dentro da pequena casa com os Potters enquanto eles permitissem. Ele não tinha vontade de voltar para seu apartamento - lembrando que a última vez que ele tinha visto o lugar, ele e Remus tinham brigado.
Sirius permitiu que Peter o levasse a confrontar Remus sobre preocupações que ele não sabia que tinha sobre Mia. Estava muito perto da lua cheia, e ambos falaram sem pensar nas consequências.
"Você está escondendo alguma coisa! Você nunca se surpreendeu que ela tivesse segredos! Ela compartilhou todos com você!" Sirius retrucou. "O que você não está me dizendo, Remus?!"
"Você está me acusando...? Você acha que eu..." Remus rosnou para ele.
"Não rosne para mim, Moony. Até onde eu sei, talvez Snivellus esteja certo e você seja a razão pela qual ela..."
Sirius nunca terminou a frase. A última coisa que ele se lembrava era de uma dor lancinante na lateral de sua bochecha esquerda seguida de Remus gritando.
"Você não é o único que a amava! Você não é o único que sente falta dela todos os dias, Padfoot! Eu não poderia machucá-la mais do que você. Prefiro morrer do que trair Mia... ou qualquer um de vocês, mesmo que você não tenha sido nada além de um pé no saco desde que ela partiu.
Eles não tinham se visto desde então.
"Só estou dizendo que acho que devemos tirar um minuto para repensar as coisas," Sirius disse a James. Ele balançou Harry em seus braços, ocasionalmente soprando na bagunça de cabelo preto da criança que periodicamente ameaçava escorregar pelo nariz de Sirius.
James estava se movendo de um quarto para outro, pegando brinquedos que estavam espalhados pelo chão antes que Lily pudesse entrar e dar um sermão sobre bagunça. "Não há nada para repensar, cara; você é o maldito Fiel do Segredo. Alvo já lançou o feitiço," James insistiu. "Lembra? Você estava lá."
Sirius suspirou em frustração, não se importando quando Harry ficou com seus punhos minúsculos emaranhados em seu cabelo comprido. O garoto estava sempre puxando o cabelo de alguém – Sirius suspeitava que o garoto provavelmente estava com ciúmes de todos que não pareciam ter sido atingidos por um dos Feitiços Estáticos de Lily. Ele sorriu brevemente ao pensar em como Mia deveria estar aqui para isso. As mãos de Harry teriam ficado permanentemente presas em sua juba selvagem.
Deixando de lado os pensamentos sobre a bruxa e a dor associada, Sirius voltou sua atenção para James, que parecia não estar com vontade de discutir. O Feitiço Fidelius foi lançado, mas Sirius estava apavorado que de alguma forma ele iria estragar tudo e colocar seus amigos em perigo. Sirius Black, o Fiel do Segredo dos Potters? Nada poderia ser mais óbvio.
"Então refaça. Lily poderia fazer isso facilmente," Sirius disse, gesticulando para ela enquanto ela entrava na sala.
"Bem, isso é verdade," Lily disse com um sorriso, observando com diversão James limpar o chão. "Mas eu não vejo o ponto."
Sirius fez uma careta para ela por traí-lo e ficar do lado de James. James era um idiota. Como ela não podia ver isso?
"Você ouviu Snivellus na última reunião, Lily!" Ele ignorou o jeito reprovador que ela olhou para ele por usar o apelido de Snape. "Eu sou um alvo. Eles estão vindo atrás de mim, e se eu estiver morto, o maldito feitiço acaba e vocês três serão os próximos!"
Lily apertou os lábios e estendeu as mãos. "Dê-me Harry. Se você vai começar a gritar como um louco, não pode segurar o bebê."
Sirius se afastou dela como uma criança que estava tendo seu brinquedo favorito tirado dele. "Não," disse ele com um beicinho. "Eu estou... eu estou bem. Ele está bem. Não está, filhote?"
"Filhote!" Harry gritou. "Bem!"
"Vê? Ele mesmo diz. Garoto esperto."
Lily revirou os olhos. "Ele está apenas repetindo tudo o que você diz. E isso me preocupa."
"Ah, fique calma, ele não repete tudo o que eu digo," Sirius insistiu. "Além disso, não é como eu tivesse dito foda-se."
"Fod-"
Com os olhos arregalados, Sirius rapidamente colocou a mão sobre a boca do garoto.
Muito tarde. Lily viu e ouviu. "Me dê o meu filho!"
Sirius fez beicinho mais uma vez, mas relutantemente entregou o menino para sua mãe, que imediatamente o levou. "Merlin, é impressão minha ou ela ficou muito mais mandona desde que teve filho?"
James balançou a cabeça incrédulo. "Cara, estamos presos em um esconderijo ou outro há um ano e meio. Estamos ambos um pouco nervosos."
"Percebi."
"Não começa," James retrucou antes de desabar no sofá, passando a mão pelo cabelo. "Pelo menos você, Remus e Peter podem fazer alguma coisa nessa porra de guerra. Frank e Alice sentem o mesmo. Estamos todos ficando loucos por não poder contribuir com nada."
Sirius sentou ao lado de seu melhor amigo e deu um tapinha em seu ombro. "Seu trabalho é manter aquele garoto a salvo, Prongs. Mesmo que mantê-lo a salvo signifique não fazer nada."
James chutou a mesa em frustração. "E quantas pessoas morrem enquanto eu fico sentado sem fazer nada? Fenwick, Dorcas, Dearborn, os Prewetts, Edgar Bones e toda a porra de sua família foram assassinados, o mesmo com os McKinnons! E agora você!"
"Eu não vou a lugar nenhum, companheiro. Pelo menos em termos de assassinato. Eu preciso dar o fora da Grã-Bretanha por um tempo, já que aparentemente estou sendo um alvo." Sirius suspirou, imaginando qual seria o plano. Ele sabia que era uma má ideia voltar, mas ele estava escondido com bruxos das trevas, leais a Voldemort e futuros Comensais da Morte por meses na Bulgária e precisava de uma fuga antes que ele perdesse completamente a cabeça.
"Vocês deveriam encontrar Moony. Cuidar um do outro," sugeriu James.
Sirius fez uma careta ao se lembrar de seu último encontro com o lobisomem. "Remus que se foda."
Os olhos castanhos de James se arregalaram, e ele olhou entre seu melhor amigo e a porta, pela qual Lily saiu, esperando por um momento como se ela voltasse correndo para azarar os dois por gritarem e xingarem dentro da audição de Harry. "Que diabos é isso? Vocês dois ainda estão sem se falar por causa daquela briga? Isso foi há quase um ano. E você sabe que os dois estavam errados. Você precisa superar isso."
Sirius suspirou consternado. "Só... não é nada. Estou paranoico," disse ele, esfregando as palmas das mãos no rosto. "Estou tendo alguns problemas de confiança com ele. Além disso, não é como se o maldito lobo me escrevesse."
"Ele não está infiltrado numa matilha?"
"Isso é o que Dumbledore diz."
James assentiu como se a palavra de Dumbledore fosse definitiva em todas as coisas. Apesar de sua própria admiração pelo homem, a antipatia de Mia por Dumbledore sempre fazia Sirius repensar sua lealdade. Bem, Mia teve problemas com muitas pessoas, e Dumbledore estava fazendo o seu melhor para manter James, Lily e Harry seguros.
"Se é o que Dumbledore diz, então é verdade," James insistiu. "Pads, eu nunca entendi o relacionamento que você tem com Moony, especialmente quando você joga minha irmã no meio disso. Mas ele é da família. Ele é Matilha. Inferno, ele é a razão pela qual somos uma Matilha. Eu confio nele da mesma forma como eu confio em você e em Wormtail. É desonroso desconfiar de seus amigos. Nós somos tudo que nos resta neste mundo."
Sirius olhou para James, que encarnava Charlus da mesma forma que Mia sempre encarnava sua mãe. Dorea e Mia eram amorosas, determinadas, astutas e um pouco assustadoras porque eram muito intimidantes; Charlus e James eram leais. Isso fazia Sirius se sentir inadequado na maioria dos dias.
"Eu sei. Me desculpe. Mas tem um traidor na Ordem. Eu sei que quando Snape falou sobre isso há um tempo atrás, eu inicialmente tentei afastar a ideia, mas até Dumbledore confirmou. Eu preciso deixar a Grã-Bretanha para me esconder e eu só... não posso deixar você, Lily e Harry desprotegidos. Se eles me pegarem..."
"O que você sugere então, parceiro?"
"Seja o próprio Fiel do Segredo?"
James balançou a cabeça. "Não posso. O feitiço não funciona assim, pelo menos não ainda. Eles supostamente estão trabalhando em uma modificação. Pena que Mia não está aqui para..."
"Sim, eu sei," Sirius interrompeu com um tom cortante. Ele deu a James um olhar de desculpas quando levantou uma sobrancelha para ele. "Eu sei. Ela era muito boa em modificações."
"Tem que ser Wormtail, então. Moony está muito envolvido na batalha e eu também," ele mentiu, sabendo que sua razão para manter Remus fora do Feitiço Fidelius era porque ele atualmente não confiava nele, não importa quais promessas ele tivesse feito para Mia antes de seu desaparecimento, não importa que ele tenha assegurado a James e Lily que ele iria se desculpar com Remus na próxima vez que eles se vissem. "É isso ou chamar Alice ou Frank, mas eles teriam que sair do esconderijo, e isso os coloca em perigo. Eu preferiria Wormtail, no entanto. Ele nunca entra na luta de verdade, não desde que Mary morreu. Ele está com muito medo."
James assentiu pensativo. "Faz sentido."
"Então traga o pequeno idiota aqui e não conte a mais ninguém. Quanto menos pessoas souberem, mais seguros vocês três estarão, e quanto mais seguros vocês três estiverem, menos pessoas eu terei que matar se algo ruim acontecer."
James franziu a testa. "Isso não é engraçado, Pads."
"Parece que estou rindo?" Sirius estreitou os olhos. Ele sabia, graças às cartas de Lily, que James estava preocupado com sua descida por um caminho mais sombrio como resultado do novo papel que ele tinha que desempenhar na Ordem, mas Sirius não podia negar o fato de que a vida de Harry sendo ameaçada o havia feito explorar um pouco de sua herança Black. James disse que estava chegando perto de cruzar uma linha, fazendo Sirius se lembrar das palavras de Mia:
"Esse é o seu problema, Sirius! Você ainda acha que existe uma linha!"
"Se algo acontecer com a gente, você tem que manter a cabeça no lugar," James exigiu, na verdade agarrando Sirius, com as mãos em cada lado da cabeça. "Você é o padrinho de Harry, e é seu trabalho mantê-lo seguro se eu não estiver por perto para fazer isso."
Sirius balançou a cabeça, não querendo nem pensar em tal cenário. "Vocês dois escreveram seus malditos testamentos, não é?"
"Claro que sim," James zombou, empurrando Sirius enquanto o soltava. "Seria estúpido se não o fizéssemos. Se algo acontecer conosco, Harry fica com tudo, obviamente; e você fica com Harry."
"E se eu morrer?"
"Remus."
"Não desde que ele acidentalmente deixou Harry cair quando ele tinha seis meses de idade," James disse e então riu. "Graças a Merlin que Lily estava lá com um feitiço de amortecimento. De qualquer forma, se algo acontecer com Remus, então Harry vai para Alice e Frank. O pior cenário é que Harry e Neville podem crescer como irmãos. Dumbledore conhece nossos desejos; ele vai aceitar cuidar de tudo. O importante é que Harry fique com a família."
"Contanto que não seja a família de Lily."
Os dois bruxos gargalharam.
"Nem brinque com isso," Lily disse com os olhos arregalados enquanto voltava para a sala, Harry posicionado em seu quadril. "Eu prefiro que ele seja criado por dragões. Não é mesmo?" Ela sorriu para o menino em seus braços, que riu alto, envolvendo os dedos em seus longos cabelos ruivos. "Você gostaria de ser criado por dragões?"
Ela enfiou a mão em uma pequena caixa no canto da sala, entregando à criança um rabo-córneo húngaro de pelúcia que ele agarrou avidamente, soltando seu cabelo em preferência pela pelúcia.
"Agora, se vocês dois terminaram de ser incrivelmente deprimentes", disse ela, olhando para os homens, "o jantar está pronto."
"Você cozinhou?" Sirius riu. "Onde está Tilly? Não como torta de melado há um ano."
"Nós a mandamos para a mansão para limpar," James respondeu. "Ela estava ficando louca aqui."
Sirius assentiu enquanto se levantava, pegando a criança e sorrindo quando Harry praticamente pulou em seus braços. "Vamos Harry. Deixe-me mostrar-lhe como transfigurar brócolis em bolo!"
"Está tudo bem?" Lily sussurrou, envolvendo os braços ao redor da cintura do marido.
"Não. Eu me preocupo com ele." James franziu a testa, sua voz tensa. "Perder Mia apenas... acabou com ele."
"Acabou com todos nós um pouco," Lily admitiu. "Você teve notícias de Remus ultimamente?"
James balançou a cabeça. "Sua última carta foi bastante vaga. Algo sobre uma matilha no norte. Disse que estaria em casa no Natal, no entanto. Queria saber se Pads estaria por perto nas férias. Eu gostaria de pensar que é porque ele sabe que eles precisam para consertar o que aconteceu, mas uma parte de mim acha que é para tentar evitá-lo."
"Devemos fazer algo legal para o Natal. Apenas a família. Algo precisa acontecer para resolver a situação desses dois. Mesmo que tenhamos que mentir para colocá-los na mesma sala. Eu amo e respeito Dumbledore e aprecio tudo o que ele fez por nós, mas eu não gosto muito dele por enviar Sirius e Remus em missões separadas. Eu sei que a Ordem precisa disso, e a Ordem vem em primeiro lugar, mas você e eu temos um ao outro, e sem Mia... Aqueles dois dependiam um do outro, e agora ambos estão tão sozinhos."
"No Natal, então," James decidiu. "Tomara que esta guerra tenha acabado, todos nós estaremos seguros, e podemos trazer Remus e Sirius para casa para consertar o que diabos deu errado com os dois."
Lily sorriu e se inclinou para beijar sua bochecha. "Bom, antes mesmo de pensarmos no Natal, o que você quer fazer no Halloween?"
31 de Outubro, 1981
Sirius soluçou contra o peito de Hagrid, braços grandes o envolvendo. Como ele tinha chegado aqui? Como tudo tinha dado tão errado? Ele olhou ao redor do chalé quebrada que tinha, até recentemente, sido sua casa. A casa de seus amigos.
E seus amigos estavam...
Sirius tinha ido checar Peter, que havia sido tornado o Fiel do Segredo dos Potters apenas alguns dias atrás. Apesar de confiar no julgamento de Peter, Sirius ainda se preocupava com ele, e com Lily e James agora seguros, ele sentiu que era seu trabalho cuidar de Peter – pelo menos até que Dumbledore os mudasse para esconderijos separados.
Quando Sirius chegou ao apartamento de Peter e descobriu que ele havia sumido, ele imediatamente entrou em pânico. Wormtail sabia que não deveria sair, o que significava que algo terrível devia ter acontecido.
Ele subiu em sua moto e voou para Godric's Hollow o mais rápido que pôde.
Não tinha sido rápido o suficiente.
Sirius forçou-se pelos escombros da casa sem se preocupar com sua própria segurança, seguindo o som dos gritos de Harry vindos do berçário no andar de cima. Ele dirigiu seu olhar para cima enquanto subia as escadas, propositalmente tentando não olhar para o chão, onde sua visão periférica lhe dizia que o corpo de James estava imóvel e frio. Ele deixou que a adrenalina o levasse para frente sabendo que seu coração iria quebrar mais tarde – mais tarde, quando ele soubesse que Harry estava seguro.
Quando ele chegou ao berçário, ele encontrou Hagrid segurando seu afilhado, grandes lágrimas escorrendo pelo seu rosto enquanto ele embalava Harry em seus braços enormes. Harry gritou no aperto suave de Hagrid, olhos verdes brilhando ao ver Sirius na porta, pequenas mãos estendendo-se para ele.
"Hagrid," Sirius engasgou, permitindo-se olhar para baixo na frente do berço de Harry onde uma bagunça de cabelo ruivo estava no chão atrás dos pés de Hagrid. Ele engoliu os soluços que ameaçavam sair de sua garganta. "Hagrid, me dê..." ele disse, estendendo a mão, "me dê meu... meu menino."
O meio-gigante hesitou por um momento antes de assentir e passar Harry, e Sirius agarrou o menino com força, agarrando-se a ele como uma tábua de salvação. Harry se acalmou, e Sirius foi capaz de examiná-lo, notando o ferimento em sua testa. Ele rosnou com a visão, as primeiras emoções de pura raiva se manifestando.
"Devolva-o agora", disse Hagrid entre seus próprios soluços. "Dumbledore disse que eu devo levá-lo."
"Peter... Peter estava aqui?" Sirius perguntou, sentindo o cheiro do cabelo de Harry.
Hagrid balançou a grande cabeça, estendendo a mão para Harry.
Sirius passou a criança hesitante. "Eu preciso encontrar Peter. Você vai manter Harry seguro? Leve-o direto para Dumbledore até descobrirmos o que aconteceu?"
Hagrid assentiu antes de pegar Harry em uma grande mão, envolvendo seu braço livre ao redor de Sirius. Com o toque físico, Sirius finalmente começou a soluçar, agarrando com força a grande capa de Hagrid para evitar desmaiar. "Dumbledore me deu ordens. Vou levá-lo direto para lá."
Sirius não perguntou onde era "lá", embora achasse que deveria ter perguntado. Tudo o que ele sabia agora era que Harry precisava ser mantido seguro,e Dumbledore saberia o que fazer. James disse que Dumbledore sabia o que ele e Lily queriam. Dumbledore cuidaria de tudo.
"Pegue minha moto. Eu sei que você não deveria usar magia," Sirius disse enquanto enxugava as lágrimas de seu rosto, forçando-se a evitar que seus olhos olhassem para o corpo de Lily. "Eu não quero que você arrisque aparatar enquanto carrega Harry, e a moto vai te levar onde você precisa ir com segurança e rapidez."
Hagrid assentiu e foi embora, mas Sirius segurou a mão do homem e se inclinou para frente, dando um beijo na testa de Harry antes de sussurrar: "Vai ficar tudo bem, Harry. Eu... vou cuidar das coisas e depois vir para você. Vejo você em breve."
Ele observou enquanto Hagrid saía de casa, Harry a reboque. Uma vez que eles estavam fora de sua vista, Sirius desabou no topo das escadas do chalé, enterrando a cabeça nas mãos e chorando alto quando a dor o dominou completamente.
Congelado no precipício da devastação total, tudo em que conseguia pensar era que Mia saberia o que fazer — como seguir em frente. Ela saberia o que fazer com James e Lily, ela saberia como entrar em contato com Remus ou se ele poderia ou não ser confiável. Ela saberia como encontrar Peter; ou o corpo de Peter, considerando que o homem devia estar morto. Então, ela provavelmente não gostaria. Mia nunca se deu bem com Peter.
"Eu só quis dizer... Peter e eu não somos próximos como eu sou de vocês dois."
Quando eles eram crianças, ela tinha direito às suas opiniões, é claro. Peter não era do tipo corajoso. Ele não entrou na luta como o resto dos Grifinórios. Era por isso que ele era perfeito para um Fiel do Segredo.
"O que Peter fez com você?"
"Ele fez alguma coisa com você? Disse alguma coisa?"
"Não. Ele só... eu não sei. Eu não confio nele."
Se Sirius pensasse direito sobre isso, Mia tinha razão. Peter tinha o hábito de falar sem pensar. Sua reação ao fato de Remus ser um lobisomem não foi tão aceita quanto o resto deles, e todos sabiam que Remus era um ponto sensível quando se tratava de Mia.
"Por que eles não deveriam deixá-lo entrar em Hogwarts, Peter? Eles deveriam tê-lo expulsado? Talvez até o trancado? Como um animal?! Quem seria o próximo, Peter? Juntar todos os nascidos trouxas?!"
Merlin, ela era dramática quando se tratava de proteger Remus, e ele não era tão perfeito quanto ela sempre achou que fosse.
"Sirius encontrou uma passagem secreta para Hogsmeade no ano passado. Ele quer que a gente procure por mais enquanto estivermos lá hoje."
"Ei! Isso era um segredo dos Marotos! Remus, você é o pior fiel de segredos de todos os tempos!"
"Ele não é!" Mia tinha gritado. "Na verdade, Remus deve sempre ser seu fiel do secreto."
Talvez James estivesse certo, Sirius se perguntou. Talvez Mia estivesse certa. Talvez Remus devesse ser o Guardião do Segredo. Claro, Mia não sabia disso na época. Ela não tinha ideia do que teria acontecido. Ou ela tinha? Eles sempre brincavam sobre ela ser uma Vidente. Ela sempre sabia das coisas antes que elas acontecessem.
"Deixe que Remus delate seus companheiros e conte todos os nossos segredos para sua maldita namorada."
"Remus não me disse nada; você deve sempre confiar em Remus, Sirius. Se seus segredos não estão sendo guardados adequadamente, talvez você tenha um rato no meio. Eu já disse várias vezes, Peter é um péssimo fiel dos segredos."
Sirius podia sentir quando a cor começou a sumir de seu rosto enquanto as memórias voltavam. Não... Não podia ser. Isso foi anos atrás, e ela... Ela só tinha rancor. Era isso. Tinha que ser. Mia tinha rancor de Peter. Com razão, claro. Ele tinha espionado ela fazendo sexo com Remus.
"Ele está espionando nossas conversas. Faz meses desde que eu dormi com qualquer um de vocês. Isso significa que ele teve essa informação por um tempo e ficou guardando ela até que se tornasse útil por algum motivo."
"Eu não acho que Pete iria propositalmen-"
"Para de confiar no Wormtail!"
Sirius sentiu seu peito apertar dolorosamente. "Não."
"Talvez você devesse falar com Dumbledore," Mia disse a Peter. "Ele pode ajudá-lo. Manter sua família segura."
"Você não entende, Mia."
"Peter, seus amigos vão protegê-lo! É para isso que eles estão lá. Eles morreriam por você, assim como você morreria por eles."
E Pedro tinha morrido por eles. Morreu tentando proteger o segredo de James e Lily. Não tinha? Claro que sim. De que outra forma o Feitiço Fidelius teria sido quebrado? De que outra forma Voldemort teria entrado? Peter era um membro da Ordem, um Maroto. Ele lutou tentando salvar a vida de Mary quando Wilkes os traiu. Regulus havia dito isso ele mesmo.
"Sirius, vocês estão sendo traídos!"
"Não brinca!"
Sirius estava lá; tinha visto com seus próprios olhos. Wilkes traiu todos eles e até tentou matar Peter enquanto ele estava de costas. Sirius matou o traidor tentando tirar Peter de lá – tentando salvar Mary que morreu em seus braços.
"Mary, oh Merlin, sinto muito."
"Siri... Sirius... Armadi-"
"Eu sei, eu sei. Wilkes nos traiu. Eu sinto muito. Mary, eu... eu não sei o que fazer."
"P-Peter... Peter..."
"Está tudo bem, Peter se safou. Só machucou o braço. Peter vai ficar bem."
"N-não. Peter... Armad-armadilha."
"Ah merda," Sirius murmurou quando uma dor o atravessou e o pânico se instalou.
"Como está o braço, Pete?"
"Melhor, obrigado. Os curandeiros disseram que pode demorar um pouco para curar. Talvez nunca cure. Disseram que deve ter sido uma maldição que me atingiu."
Seu antebraço. Ele havia sido atingido no antebraço. Eles o viram descoberto depois daquele dia? Eles já tinham visto a cicatriz deixada pela ferida? Não, não pode ser. Sirius tinha certeza. Remus era o espião. Ele esteve fora por tanto tempo e vivendo entre outros lobisomens, e até Snape disse que o espião tinha que ser Sirius ou Remus. Mas quando ele concordou com Snivellus?
"Porra!" Sirius gritou de frustração enquanto se levantava, andando pelas escadas, desejando como o inferno que Mia estivesse ali para passar os dedos pelo cabelo dele, para tornar o mundo certo novamente. Desejando poder voltar no tempo e salvar sua família e amigos. "O que eu deveria fazer?"
"Sirius?"
"Sim, gatinha?"
"Promete uma coisa?"
"Qualquer coisa, amor."
"Prometa que... que você seja vai confiar em Remus. Lembre-se sempre que ele nunca machucaria ninguém. E... e quando ele mais precisar de você, por favor tome conta dele por mim."
"O que eu fiz?" Sirius chorou, os joelhos cedendo, ele caiu no chão. "O que eu fiz?!"
"Sirius, não confie em W-W-W- Merda!"
"Wormtail," ele cuspiu, seus punhos apertados, as unhas cravadas com força suficiente em suas palmas para tirar sangue.
"O futuro não... o futuro não. Talvez o passado... Sirius, na Casa dos Gritos. Na primeira vez que fomos lá. Instintos. Confie nos seus instintos."
"Meus instintos estão falando que eu preciso de ar fresco."
"Não! Então confie nos meus instintos!"
Os instintos dela estavam sempre certos. Ela sabia de tudo o tempo todo, e eles sempre iam a ela em busca de conselhos, ajuda ou apenas uma para ter uma luz sobre um assunto. Os instintos dela estavam sempre certos. E naquela primeira noite na Casa dos Gritos, os instintos disseram para ela matar Wormtail.
Sua dor deu lugar a uma raiva ofuscante.
Sirius rosnou baixinho, enfiando a mão no bolso para seu último esforço. A arma de última hora que ele planejava usar na vã esperança de que o pior cenário provavelmente seria uma missão de resgate. Se Peter tivesse sido capturado e precisasse que Sirius viesse salvá-lo, ele seria capaz de usar a Tele-Portkey para rastrear a localização de seu amigo e esperançosamente aparatar os dois em segurança.
Esse não era mais o pior cenário – o que descobriu agora era; e não era uma missão de resgate.
Era uma de pura vingança.
Ele tirou a pequena moeda de seu bolso, aquela que ele havia enfeitiçado em uma Tele-Portkey. Sua gêmea havia sido colocada dentro das vestes de Wormtail dias antes, quando Sirius o vira pela última vez.
Ele agarrou a moeda com força em seu punho e rosnou o encantamento, "Portus!"
Peter Pettigrew corria rapidamente pelas ruas de Londres em uma área que fazia fronteira entre um distrito comercial trouxa e uma área residencial de bruxos, embora os trouxas não pudessem ver as casas dos bruxos, que haviam sido colocadas sob fortes feitiços repelentes de trouxas.
Apesar de ser próximo de sua própria espécie, Peter se sentia seguro entre a multidão de trouxas. Seguro por enquanto. Ele estaria protegido agora. Ele fez o que lhe foi pedido, não importa o custo. O Lorde das Trevas o manteria seguro, honrado e elevado no novo mundo, exatamente como havia prometido.
Algo balançou no bolso de suas vestes e ele olhou para baixo no momento em que uma luz azul brilhante irrompeu de sua capa, e algo pesado o lançou contra o concreto. Ele tropeçou enquanto tentava se levantar, notando a maneira como os trouxas ao redor estavam ofegando ruidosamente com a visão.
Peter se virou para olhar nos olhos cinzentos de Sirius Black, e toda a cor sumiu de seu rosto.
A linha de sanidade que Sirius montou, graças aos traços genéticos da família Black, estava ameaçando escolher um lado enquanto ele encarava os olhos pequenos e lacrimejantes do traidor à sua frente. O amigo que ele conhecia desde os onze anos de idade. O garotinho que foi perseguido por Lucius Malfoy. O jovem Maroto que pregou uma peça com ele, dividiu um dormitório com ele por sete anos, que lutou ao lado dele - ou assim ele pensou. Este bruxo na frente dele tinha sido um amigo, mas no final tirou de Sirius tudo de importante que ele já amou. James e Lily, sua família. Harry, a quem ele precisaria coletar uma vez que este assunto fosse resolvido. Remus, a quem Peter ajudou a colocá-lo contra. E Mia... Peter foi responsável por sua morte? Seu sequestro? Ela ter ido embora?
"Pettigrew!" Sirius gritou quando o Marot - não, o Comensal da Morte mais baixo tentou fugir. Ele estava correndo, o que Sirius esperava. Peter sempre correu.
Sirius levantou sua varinha, ignorando os olhares estranhos que a multidão reunida de trouxas estava dando a ele, ignorando o fato de que ele provavelmente parecia enlouquecido, olhos maníacos enquanto continha o desejo de mudar para a forma animaga e rasgar Peter com os dentes. Não, isso precisava ser feito de homem para homem. Ele o prenderia com uma varinha e depois quebraria todos os ossos de seu corpo com as próprias mãos.
Para sua surpresa, Peter se virou no mesmo instante e olhou para ele, a varinha na mão, mas atrás das costas.
"Como você pode!?" Peter gritou, e Sirius rosnou. "Lily e James. Como você pôde traí-los para o Lorde das Trevas?"
Os olhos de Sirius se arregalaram, percebendo o que estava acontecendo. Ele se moveu para atacar, mas, como antes, subestimou Wormtail, que foi, surpreendentemente, mais rápido no empate.
Sirius mal tinha visto a varinha, mal tinha visto o flash de luz e o breve vislumbre de sangue saindo da mão de Peter, mal notado a maldição que Peter falou. Havia fogo e sangue e pedaços de cascalho quebrados no ar, e Sirius foi jogado para trás em uma parede de tijolos, sem fôlego.
Seu olfato voltou primeiro, seguido pela visão. A explosão o ensurdeceu temporariamente, mas ele ainda podia ouvir gritos abafados enquanto avançava em direção a uma grande cratera no centro da rua, onde podia ver o contorno das vestes de Peter. Sirius ignorou os corpos dos trouxas espalhados, procurando apenas o prêmio de que precisava antes que escapasse de seu alcance. Ele agarrou as vestes encharcadas de sangue de Peter com força, notando o dedo decepado quando ele caiu no chão.
"Onde ele está?! Onde está aquele maldito rato!?"
Em fúria e tristeza, sua sanidade finalmente mudou para o outro lado da linha, e Sirius começou a rir loucamente ao entender o que havia acontecido. Ele havia sido enganado. Ele rasgou as vestes ensanguentadas em suas mãos, rugindo de raiva, mal percebendo que agora estava cercado por uma equipe de Aurores liderada por Bartemius Crouch e Cornelius Fudge.
Imagens dos corpos de Lily e James vieram à tona em sua mente enquanto o cheiro de sangue continuava a atacar seus sentidos. O riso deu lugar às lágrimas, e Sirius enterrou o rosto nas mãos, chorando tristemente, "É minha culpa. Eu os matei. Eu os matei."
3 de Novembro, 1981
Remus olhou para a grande lápide, lendo os nomes de seus amigos. Ele queria ficar com raiva. Queria sentir raiva e um sentimento de vingança do jeito que ele sabia que deveria, mas em vez disso ele se sentia vazio. Ele voltou para casa em Londres depois que a coruja de Dumbledore chegou à pequena vila onde ele e um bando de lobisomens desonestos estavam hospedados. Dentro do envelope lacrado havia um bilhete e uma chave de portal.
O bilhete simplesmente dizia: Venha para casa.
Ele passou meses na aldeia remota com os de sua própria espécie, fazendo o possível para ficar do lado deles e descobrir onde suas lealdades repousavam. A comida era escassa e uma boa noite de sono era ainda mais difícil de encontrar. O Dia das Bruxas foi passado jogando e virando a noite toda, segurando dolorosamente seu peito enquanto ele sentia algo frio e oco dentro dele onde algo quente e sólido costumava estar. Muito tempo longe de sua família, Remus raciocinou.
A carta de Dumbledore, embora vaga e preocupante, parecia quase um alívio. Permissão para voltar para casa, ser homem novamente e estar com seus entes queridos.
Remus começou a arrumar suas coisas para ir embora quando ouviu outros lobisomens falando do lado de fora de seu quarto.
"Acho que ele não vai precisar de nós depois de tudo. Foi e se matou. Um maldito bebê também, eles estão dizendo. Algum Lorde das Trevas."
"Quem foi morto?" Remus perguntou, espiando pela porta e captando os olhares do grupo de lobos que ele conheceu nos últimos meses.
"Você-sabe-quem. Fui para a cidade aqui perto hoje de manhã e os bruxos estavam atirando fogos de artifício e dançando nas malditas ruas, gritando o nome de algum garoto como se ele fosse Merlin de novo."
"Que garoto?"
"Um órfão. Harry Potter."
Remus segurou a chave de portal com força suficiente para fazer sua pele sangrar enquanto ela o levava para casa. Lar de um mundo destruído com seus amigos mortos ou presos, deixando-o sozinho, sem nenhum lugar para ir além de em frente – o que quer que isso significasse.
Desviando o olhar da lápide, incapaz de encará-la por mais um momento, Remus ficou tenso quando sentiu Dumbledore se aproximar dele por trás.
"É bom ver você, Remus," o bruxo mais velho disse, colocando uma mão reconfortante em seu ombro. "Fico feliz em saber que você saiu ileso do outro bando de lobisomens."
"Não adianta ficar lá agora, não é? A guerra acabou."
"Sim. E nós ganhamos."
Remus rosnou, sacudindo violentamente a mão do homem. "Dois de meus amigos estão enterrados sob nossos pés, outro foi eviscerado, mais dois foram levados para o St. Mungus, e o último..." Ele estremeceu só de pensar em Sirius. Eles brigaram na última vez que se falaram - ambos com raiva, amargos e estressados por causa de muitas coisas. Muitas perguntas sem resposta. Mia estava na vanguarda dos problemas de Sirius, é claro, e graças ao maldito Voto Perpétuo que Dumbledore o forçou a fazer, Remus não teve permissão para dizer nada a Sirius. Não por mais treze anos. Não que isso importasse agora, com Sirius em Azkaban, enviado para lá pelo resto da vida.
Remus ficou surpreso com a falta de um julgamento, mas sabia que não havia nada a ser feito sobre isso, nem se importaria em tentar. Sirius traiu Lily e James para Voldemort. Ele tentou sacrificar seu próprio afilhado, e Remus de repente ficou muito feliz por Mia não estar por perto para ver o resultado dessa guerra.
"Nenhum de nós poderia saber do que Sirius era capaz," Dumbledore ofereceu.
"Mia sabia." Ele estremeceu com o pensamento. Ela sabia que isso aconteceria? Ou as coisas mudaram? Ela não tinha como saber. Sabia que o amor de sua vida trairia seu irmão e sua cunhada, armaria para toda a família ser assassinada? Não. Mia não sabia. Ela nunca teria amado Sirius se soubesse, tendo Vínculo de Alma ou não.
Talvez. Precisou de um pouco... de negociação, mas consegui garantir as coisas de Sirius para você." Dumbledore entregou uma pequena caixa que claramente havia sido redimensionada.
Remus pegou a caixa e acenou com a varinha para aumentá-la antes de abri-la. Lá dentro, ele viu que continha um feitiço de extensão indetectável. Ele enfiou a mão e pôde sentir o couro da jaqueta de Sirius e uma pequena corrente de prata que Remus sabia ser a chave de portal de emergência secreta de Sirius para a Mansão Potter. No fundo, Remus pegou e removeu a longa varinha de castanheiro.
Ele rosnou, olhando para a varinha de Sirius em sua mão. "Por que eu iria querer isso?"
"Eu pensei que talvez os itens pudessem ter valor sentimental," Dumbledore sugeriu. "Eu sei que ele e a Srta. Potter compartilharam muitas coisas."
A raiva finalmente cresceu dentro de Remus, e ele largou a caixa antes de segurar a varinha em cada ponta, ansioso para quebrá-la ao meio. No entanto, no segundo em que pressionou a madeira, sentiu uma dor aguda na mão e largou a varinha completamente. Olhando com os olhos arregalados quando caiu na caixa aberta, ele suspirou de frustração.
"Interessante," Dumbledore disse pensativo. "Parece que o Voto Perpétuo ainda está funcionando."
Remus esfregou a mão ferida, amargurado com o aviso que o Voto lhe dera. "Eu jurei atender aos pedidos e julgamentos dela em todas as coisas relacionadas ao futuro. Eu prometi a ela que... Por alguma razão, eu ainda tenho que cuidar daquele bastardo traidor mantendo sua varinha intacta. Maldita seja. Malditos sejam os dois!"
Dumbledore suspirou. "Você carrega muitos fardos, Remus; por isso, eu sinto muito."
"Onde está Harry, Albus?"
"Com a família dele."
"Eu sou a família dele," Remus insistiu. "Eu sou a única família que resta."
"Não. Hagrid e eu o entregamos para Petunia e Vernon Dursley."
Remus sentiu seu estômago revirar em choque e indignação. "Você fez o quê? Você está louco? Você conheceu aqueles trouxas? Ele deveria estar sob meus cuidados! Você acha que eu não conhecia o testamento de Lily e James? É o meu trabalho cuidar do Harry. Meu trabalho manter Harry seguro!"
"Então me ajude a mantê-lo seguro, Remus. Aurores tomaram o apartamento de Sirius, então, pelo que sei, você não tem onde morar."
Remus respirou fundo quando a notícia atingiu seus ouvidos. Ele não tinha casa para ir. Ele havia perdido tudo: seus pais, sua melhor amiga, sua família e agora sua casa.
"Recente legislação anti-lobisomem foi aprovada, impedindo você de ser legalmente como guardião de Harry," Dumbledore continuou. "Se eu fosse entregá-lo a você, o Ministério simplesmente o levaria embora, e ele estaria nas mãos deles. O menino é especial. Importante. Ele, apenas uma criança, derrotou Voldemort. Deixado entre os trouxas, ele não irá ser estudado, usado ou atacado. Não gosto da discriminação que acompanha sua condição, meu rapaz, mas você aumentaria a atenção que Harry receberá ao compartilhar seu fardo com ele?"
Remus engoliu em seco. "Não. Claro que não."
Aparentemente, isso foi o suficiente para deixar Dumbledore acreditar que Remus não faria nada precipitado em relação à segurança de Harry. Ele continuou falando, mas Remus o desligou enquanto olhava para os túmulos de seus amigos recém-enterrados. Ele desejou que estivesse lá para protegê-los. Ele gostaria de poder visitar Frank e Alice, mas os lobisomens agora estavam proibidos de entrar no St. Mungus. Ele desejou que houvesse o suficiente de Peter deixado para trás para enterrar.
Ele torcia para que Sirius estivesse sofrendo em Azkaban.
"Remus, eu te amo." As últimas palavras de Mia para ele vieram à sua mente, envolvendo-o com uma culpa estranha e inquietante. "Você é meu melhor amigo, e eu te amo. Por favor, cuide dele. Lembre-se do que eu disse: confie em Sirius. Sempre Sirius."
"Eu prometo."
Por que ele havia prometido tal coisa a ela? Por que ele colocou aquele vira-tempo no pescoço dela? Isso mudou tudo. Estragou tudo.
Remus tinha certeza de que ao tentar salvá-la, ele havia arruinado o futuro de onde ela veio.
Fim do Livro Dois
