Câmera parada mostrando dois pés em pantufas rosa que sobem a escada. Entra no foco dois pés em sapatos sociais, também subindo a escada.
Focos nas mãos dadas de Betty e Armando.
Armando tropeça no degrau. Betty olha para ele e ri, tapando a boca com a mão.
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Betty e Armando andam pelo corredor. Passam pela porta do quarto de Don Hermes e Dona Julia, que está entreaberta. Don Hermes ronca. Armando dá um pulo de susto. Betty ri. Armando olha pra ela com os olhos arregalados. Ela o puxa para dentro do quarto.
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Betty fecha a porta do quarto, trancando à chave. Armando ainda olha para ela assustado.
BETTY: - Meu pai tem um ronco um pouco alto... (RI)
ARMANDO: - Um pouco?
Betty ri. Armando vai passando os olhos por todo o quarto, observando tudo. Betty começa a ficar nervosa. Armando sorri, virando-se para ela.
ARMANDO: - Sabe, Betty, sempre me perguntei como seria o seu quarto...
BETTY: - Sério?
ARMANDO: - É verdade. Ficava pensando em que tipo de coisas você guardava como relíquias, quais livros leria...
Armando continua a passear pelo quarto. Olha para a cama de Betty, percebendo o diário e a rosa. Pega a rosa e a cheira. Olha para Betty e sorri, timidamente. Betty o admira por cima da lente dos óculos, igualmente tímida. Armando recoloca a rosa no lugar e suas mãos acabam deslizando pelo diário. Ele respira fundo, fechando os olhos. Betty o observa, sem entender.
Armando abaixa a cabeça. Fica olhando para o chão, sem dizer nada. Betty fica apreensiva e se aproxima de Armando, deslizando sua mão pelo braço dele.
BETTY: - O que houve, doutor?
Armando olha para ela, a fisionomia cheia de culpa. Betty fica preocupada. Passa a mão no rosto dele.
BETTY: - O que aconteceu?
Armando abaixa a cabeça novamente. Senta-se na cama de Betty, pegando o bonequinho de pelúcia. Betty senta-se ao lado dele na cama.
BETTY: - Doutor, o senhor está bem?
ARMANDO: - (FECHANDO OS OLHOS) É... que... E-eu... eu queria saber uma coisa... (SUSPIRA) O que você disse esta tarde... sobre ter me perdoado...
BETTY: - ...
ARMANDO: - Veja, Betty, por mais que estejamos juntos agora, eu me sinto culpado. Eu ainda me sinto culpado. Eu sinto que não te mereço...
BETTY: - Não diga isso...
ARMANDO: - Não, meu amor, me deixe falar. Nós precisamos esclarecer as coisas, porque eu me sinto mal pelo que te fiz... (PASSA A MÃO NO ROSTO DELA) Eu não sei como fui capaz de fazer tudo aquilo pra você, e-eu... eu fui um desgraçado!
Armando passa as mãos pela cabeça, a culpa claramente estampada em seu rosto. Betty o observa em silêncio.
ARMANDO: - Eu sei que te devo explicações. Te devo várias explicações. Mas além disso tudo, te devo desculpas. E preciso, veja Betty, necessito saber se esse perdão que me deu foi de verdade. Não que eu desconfie de você, por Deus, não, meu amor, não desconfio. Mas não quero nunca mais lembrar do que aconteceu a não ser como uma idéia estranha que o destino teve para nos aproximar.
Betty suspira, e desvia o olhar dele, olhando para as próprias mãos. Armando fecha os olhos e balança a cabeça.
ARMANDO: - Meu coração só conseguirá viver em paz, só conseguirei olhar para você todos os dias sem me odiar se você me confirmar que me perdoou. Porque eu olho para você, meu amor, e só consigo sentir ódio de mim. Ódio por tudo o que fiz para uma pessoa que não merece absolutamente nada de mal...
BETTY: - Não, meu amor...
ARMANDO: - Eu sei o quanto te machuquei. Eu senti na pele seu sofrimento quando li o seu diário, Betty. Sei que fiz errado em lê-lo, que feri sua intimidade... mas foram as tuas palavras de dor que me salvaram. Porque eu descobri que todavia me amavas, que ainda sentia algo por mim. Mas ao mesmo tempo que quero estar ao teu lado, que quero passar o resto da minha vida contigo... (FECHA OS OLHOS) ...mesmo que eu já não possa viver sem você um minuto sequer, que eu não possa nem respirar sem que tu estejas ao meu lado... (OLHA PARA ELA) ...ainda assim, eu sinto... ou melhor, eu tenho certeza... que não a mereço.
BETTY: - ...
ARMANDO: - Não mereço esse amor que tu dedicas a mim. Não mereço estar em teus pensamentos. Não mereço tuas lágrimas, nem tua dor. Não mereço esse olhar doce. Tão pouco mereço estar aqui, a tua frente hoje.
Armando tenta segurar as lágrimas. Betty fica olhando para ele, os olhos marejados.
ARMANDO: - E sabes o que, Beatriz? Acho que se hoje estamos aqui é mais por um golpe de sorte do destino, que se apiedou de mim, do que por mérito.
Armando fecha os olhos e as lágrimas correm por seu rosto.
ARMANDO: - (DERRUBANDO LÁGRIMAS) Não sou digno de você, Beatriz. Não sou digno de você. E não vou te culpar se você nunca mais quiser me ver, se quiser que eu vá embora. (OLHA PARA ELA) Quer que eu vá embora, Betty?
