Aeroporto Internacional Eldorado de Bogotá
1:29 PM

Betty observa, pelos grandes janelões de vidro do aeroporto, os voos que aterrissam e decolam. Olha no relógio. Passa as mãos pelo rosto, respirando fundo. Ela une as mãos, como se fosse rezar. Fecha os olhos.

BETTY: - (SUSSURRANDO) Que o Armando esteja bem, meu Deus... Por favor... Por favor...

Betty abre os olhos novamente, olhando para sua imagem refletida no vidro. Seu rosto demonstrando toda a preocupação que sente.
Ela percebe através do reflexo que alguém se aproxima dela. Uma mão delicadamente repousa em seu ombro.

ARMANDO: - Beatriz...

Betty se vira num susto. Armando, com a aparência cansada, está sem óculos, com a camisa um pouco aberta e o cabelo bagunçado.
Betty não cabe em si de alegria e o abraça fortemente. Armando retribui o abraço, quase a levantando do chão. Ele percebe que ela está tremendo e fecha os olhos, se sentindo culpado.
Betty começa a chorar, finalmente soltando toda a tensão que sentia. Ele a beija na testa.

ARMANDO: - O voo atrasou, mi vida, e ficamos dando voltas sobre Londres sem poder partir e nem aterrissar... Não havia como te avisar... Desculpe, meu amor.

Armando se afasta dela, para olha-la nos olhos. Limpa as lágrimas do rosto de Betty. Ela funga, tirando os óculos.

ARMANDO: - (SORRI) Nem preciso perguntar se você se preocupou, não é?
BETTY: - (EM LÁGRIMAS) Se tivesse acontecido algo com você, doutor... eu, eu...

Armando a abraça novamente. Suspira.

ARMANDO: - Não, Betty, não pense coisas ruins... por favor...
BETTY: - (EM LÁGRIMAS) Eu quase morri, Armando.
ARMANDO: - E eu que quase morri em Londres, sem você? Assim não dá, doutora. O que a gente vai fazer com esse amor, hein? Me diz?

Betty sorri e o beija, apaixonada. Armando começa a distribuir beijinhos por todo o rosto de Betty, até chegar ao pescoço dela. Ela começa a rir.

ARMANDO: - Que saudade dessa risada, meu amor. Que saudade do teu cheirinho... (SUSPIRA / CANSADO) Ai, me leva pra casa, Betty. Eu tô cansadíssimo e tudo o que eu quero é me agarrar em você e dormir por dias.

Betty ri dele. Passa as mãos nos cabelos de Armando, tentando arruma-los.

BETTY: - Mi amor, eu adoraria fazer isso, mas precisamos ir pra Ecomoda.

Armando revira os olhos.

ARMANDO: - Ah, não, Beatriz! Pra Ecomoda a essas horas? Recorde-se que quase morrermos e precisamos nos recompor dessa tragédia.
BETTY: - (RINDO) Armando, o doutor Santamaria está lá. Parece que tem boas notícias sobre o processo e precisa de nós.
ARMANDO: - Se tem novidades que conte pro Nicolás, afinal pra que aquele tonto serve? (BEIÇO) Não quero ir pra Ecomoda. Me salva, Betty.

Betty se afasta de Armando, o puxando pela mão.

BETTY: - Prometo que faremos tudo bem rápido e depois vamos pro seu apartamento.

Armando estranha.

ARMANDO: - Pro meu apartamento?
BETTY: - Sim, você não queria ir pra casa?
ARMANDO: - Sim, claro. Mas... Betty, quando você diz "vamos pro seu apartamento"... Você quer dizer o que eu estou pensando que você quer dizer?

Betty sorri, misteriosa.

ARMANDO: - (ESTRANHANDO) E o seu Hermes?
BETTY: - Eu cuido dele.

Armando dá um pulo de alegria. Betty ri.

ARMANDO: - Uhu! Vamos logo pra Ecomoda então. Rápido!

Armando pega Betty pela mão e sai quase a arrastando pelo aeroporto.

BETTY: - (RINDO) Calma, Armando!
ARMANDO: - Que calma! Vamos logo! Quanto antes chegarmos lá, antes vamos pro meu apartamento e...
BETTY: - Armando!

Armando para de andar abruptamente. Se aproxima de Betty, falando em tom muito sério.

ARMANDO: - Betty, por favor, me lembre de pegar mais voos que atrasam.

Betty ri e dá um tapinha no ombro dele, revirando os olhos.


Ecomoda
4:19 PM

Betty aperta a mão do doutor Santamaria, próximos ao elevador.

BETTY: - Muito obrigada por tudo, doutor.
SANTAMARIA: - Não se preocupe, doutora Pinzón. Agora falta muito pouco para que a Ecomoda fique livre de todos os inconvenientes.
BETTY: - Tenho certeza disso, doutor Santamaria. Obrigada.

O advogado entra no elevador. Betty se afasta, indo na direção da presidência. Aura Maria vem correndo para falar com ela.

AURA MARIA: - Ai, Betty, finalmente um sorriso nesse rosto. O que a falta do doutor Armando não faz, hein?
BETTY: - (SORRI) Pois é, Aura Maria.
AURA MARIA: - E onde ele está?
BETTY: - Ficou na presidência arquivando os processos da Ecomoda.
AURA MARIA: - E hoje vocês vão matar as saudades, Betty?
BETTY: - Ai, Aura Maria, pelo amor de Deus.

Betty entra na presidência. Aura Maria dá de ombros e volta para sua mesa.


Presidência da Ecomoda
4:22 PM

Betty entra na sala e vê Armando dormindo no sofá, de boca aberta, agarrado nas pastas. Betty balança a cabeça, rindo. Se aproxima dele, tentando tirar as pastas que ele segura. Ele se remexe, sem soltar os papéis.

ARMANDO: - (DORMINDO / RESMUNGA) Parammnnmmbbdaedg inhammnn...
BETTY: - (RI) O que foi, meu amor?

Armando resmunga novamente. Betty ri e consegue tirar as pastas, colocando sobre sua mesa.

BETTY: - Armando?
ARMANDO: - (DORMINDO / RESMUNGA) Mmmmmm...
BETTY: - Meu Deus, esse homem dorme em qualquer lugar...

Armando dorme profundamente. Betty senta-se ao lado dele, tocando-o no ombro para acordá-lo.

BETTY: - Armando... Armando.

Armando nem se move.
Betty o observa. Passa a mão pela camisa amassada dele. Abre mais um botão, tentando deixa-lo mais confortável. Leva a mão as cabelos dele, fazendo carinho.
Armando, sem acordar, passa o braço por cima de Betty, a puxando. Ela cai por cima dele no sofá, ficando presa no abraço de Armando.
Betty ri, afundando o rosto no terno dele.

BETTY: - Doutor, acorda. Eu prometi que ia te levar pra casa.
ARMANDO: - (DORMINDO) Pffmnndxxxsh...
BETTY: - O que?
ARMANDO: - (DORMINDO) Pffmmntriz...
BETTY: - (RI) Armando?
ARMANDO: - (DORMINDO) Pffmneatriz... Pmnetty...

Betty ri alto.

BETTY: - O que foi, meu amor?
ARMANDO: - (DORMINDO) Nnnnmmdvogadozz...
BETTY: - O advogado? (RI) Que tem ele, Armando?
ARMANDO: - (DORMINDO) Aquelmmm... advogadozzzzim... Ishtavammm te... olhandommm, Hmnetty...

Betty morre de rir, se divertindo com os resmungos de Armando.

BETTY: - Me olhando? Como assim?
ARMANDO: - (DORMINDO) Esseeee... nnnndvogadozzz éamm... ummm taradommm, Hmmetty...
BETTY: - Meu deus, até dormindo você é ciumento, meu amor!
ARMANDO: - (DORMINDO) Comnnnmmsha minhann Hmmetty nãomm... Minhann Fhmetty éamm zóooon minhann...

Betty sorri, enternecida. Apoia o queixo no ombro de Armando, olhando pra ele. Leva a mão até o rosto dele e vai passando os dedos delicadamente por todos os contornos da face de Armando, admirando-o. O nariz, as sobrancelhas, as bochechas, o queixo. Finalmente passa os dedos pelos lábios dele, delicadamente. Suspira, apaixonada.
Betty fecha os olhos e o beija suavemente nos lábios. Fica por alguns segundos somente sentindo o toque dos lábios dele nos seus. Se afasta alguns milímetros.

BETTY: - (SUSSURANDO CONTRA OS LÁBIOS DE ARMANDO) Sim, só sua.

Betty respira fundo, ainda de olhos fechados e sua boca toca os lábios de Armando, levemente.
Quando ela abre os olhos outra vez, Armando está acordado, olhando para ela, intensamente.
Armando se agarra em Betty, a beijando com fervor. Vai se deitando por cima dela no sofá, até os dois ficarem com os corpos colados. Armando começa a beijar Betty no pescoço, passando a mão pelo corpo dela. Betty não resiste e explora o corpo de Armando, colocando a mão por dentro da camisa dele.
Batidas na porta.
Betty e Armando dão um pulo de susto.
Ela se levanta rapidamente, passando a mão na roupa e nos cabelos.

BETTY: - (TREMENDO) Quem é?
NICOLÁS: - (OFF) Sou eu, Betty. O Nicolás. Posso entrar?
ARMANDO: - (SUSSURRANDO / DESESPERADO) Beatriz!

Betty olha para Armando, sentado no sofá, com as mãos sobre as calças.

BETTY: - (NERVOSA) Um momento!

Betty pega as pastas de cima da mesa e joga para Armando. Ele põe as pastas sobre o colo, tentando esconder a excitação.

HERMES: - (OFF) Betty, o que está fazendo?

Seu Hermes abre a porta num solavanco. Nicolás, atrás dele, olha para Betty, acenando que não pôde fazer nada. Seu Hermes olha de Betty para Armando e cruza os braços, desconfiado. Nicolás disfarça.

HERMES: - Que demora foi essa, Betty?
BETTY: - Nada papai, eu e o Armando estávamos discutindo umas coisas...

Seu Hermes olha para Armando, que segura as pastas no colo, totalmente nervoso.

HERMES: - O senhor não estava gritando de novo com a menina, estava?
ARMANDO: - Claro que não, seu Hermes. Como pode pensar isso, estávamos conversando.
HERMES: - Ah, é? Então porque o senhor está assim tão descomposto?

Armando quase deixa caírem as pastas de tão nervoso. Olha para Betty como se fosse ter um troço.

BETTY: - (NERVOSA) Ai, papai, é que o seu Armando viajou mais de 15 horas de Londres pra cá e está sem dormir.

ARMANDO: - (DISSIMULADO) Pois é, seu Hermes, Estou cansadíssimo... Cansadíssimo...
HERMES: - E porque não foi pra casa pra descansar então? Acaso está desconfiando do trabalho que fizemos na sua ausência, doutor?
ARMANDO: - Não, seu Hermes... É que-
HERMES: - (FALANDO SEM PARAR) Porque pode se assegurar pela alma do falecido Lázaro Pinzón que enquanto o senhor viajava aqui estávamos nós, cuidando de tudo com a mais absoluta clareza e honestidade-
BETTY: - (INTERROMPENDO) Não é nada disso, papai, nós tivemos que vir pra cá resolver umas questões com o doutor Santamaria. Mas já está tudo certo e vou levar o Armando pra casa agora mesmo.

Betty pega a bolsa.

HERMES: - Mas porque? O doutor tem carro, pode ir sozinho.
BETTY: - O carro do doutor Armando está na garagem do apartamento dele porque fui eu quem o levou para o aeroporto quando ele viajou.
HERMES: - Mas Betty, ele então que tome um táxi!
BETTY: - (PERDENDO A PACIÊNCIA) Ai, papai, eu não me demoro. Vamos, Armando.

Armando levanta rapidamente, segurando as pastas na frente das calças. Sai atrás de Betty pelo corredor. Quando estão quase entrando no elevador, Seu Hermes grita.

HERMES: - Doutor Mendoza!

Armando para de andar. Morde o lábio como se fosse chorar. Se vira com cara de sofrimento. Seu Hermes se aproxima.

ARMANDO: - (SOFRENDO) Sim, seu Hermes?
HERMES: - E essas pastas?
ARMANDO: - (SOFRENDO) Ah, são umas coisinhas que tenho que revisar, seu Hermes...
HERMES: - (DESCONFIADO) Revisar, é?
ARMANDO: - Nada demais, despesas da nova coleção.
HERMES: - Hum, está bem.

As portas do elevador se abrem. Betty entra e puxa Armando pelo paletó. Ele quase cai pra dentro do elevador, segurando as pastas desajeitadamente.

BETTY: - Até mais tarde, papai. Tchau, Nicolás.

Nicolás acena para os dois e as portas do elevador se fecham. Seu Hermes fica com cara de poucos amigos.

HERMES: - Esse namorado que a Betty foi arranjar...
NICOLÁS: - (RINDO) O seu Armando sempre foi meio louquinho, né seu Hermes?
HERMES: - E você não me faça esses comentários do doutor, seu parasita...

Seu Hermes sai, deixando Nicolás sem entender nada.