N/A: Na jornada da reconciliação de Armando e Betty, alguns assuntos ainda precisam ser esclarecidos. Esse é um deles. Espero que gostem e comentem!


Apartamento de Armando
5:36 PM

Betty, vestindo somente uma camisa social azul de Armando, que lhe cobre quase até os joelhos, seca os cabelos molhados com uma toalha, enquanto olha pelas grandes janelas de vidro do apartamento.
Armando entra na sala, apenas com a calça do pijama e os pés descalços, trazendo duas canecas. Ele se encosta no batente da porta, observando Betty, num sorriso de felicidade completa.
Betty termina de secar o cabelo e dá um longo suspiro. Se vira e, ao ver Armando, leva um susto.

BETTY: - Ai, doctor, não percebi que estava aí...

Ele sorri, caminhando na direção dela.

ARMANDO: - E o que foi esse suspiro?
BETTY: - Que suspiro?
ARMANDO: - Esse que você deu, olhando pela janela.

Betty morde o lábio, abaixando a cabeça. Armando chega perto dela, entregando uma das canecas. Pega a toalha que ela segurava e joga sobre o sofá.

BETTY: - O que é isso?
ARMANDO: - Um chá de limão com mel. Não quero que minha doutora fique doente depois de tanta chuva.

Betty olha para Armando, admirada. Toma um gole do chá.

BETTY: - Hum, está uma delícia, meu amor.

Armando sorri, enquanto bebe de sua caneca.
Betty se vira novamente para a janela, observando a rua. Armando a enlaça pela cintura e ela aproveita para repousar a cabeça no ombro dele. Os dois observam a chuva por alguns minutos, bebendo o chá.
Betty fecha os olhos e suspira outra vez. Armando olha para ela, a admirando. Larga sua caneca em uma mesinha próxima.

ARMANDO: - (DELICADO) Betty?
BETTY: - (DE OLHOS FECHADOS) Hum?
ARMANDO: - (DELICADO) Está com frio?
BETTY: - (DE OLHOS FECHADOS) Um pouquinho...
ARMANDO: - Não se mova daqui. Eu já volto.

Armando sai da sala rapidamente. Betty abre os olhos e larga sua caneca ao lado da dele na mesinha. Vai até o sofá e senta-se. Armando volta com dois cobertores e um rolinho de lã vermelha, que não se pode identificar direito o que é. Senta-se ao lado de Betty no sofá.
Armando puxa os pés dela para cima do sofá, os colocando sobre seu colo. Toca os pés de Betty algumas vezes.

ARMANDO: - Gelados, como sempre.

Betty sorri. Armando desenrola o rolinho de lã, mostrando que na verdade são um par de meias vermelhas. Começa a vestir em Betty, que fica surpresa. Ele olha para ela, levantando os ombros.

ARMANDO: - Comprei em Londres pra você. Para esses seus pezinhos que não esquentam de jeito nenhum.

Armando termina de colocar as meias nela. Betty o admira. Ela passa a mão no cabelo dele, que ainda está molhando, o arrumando.

BETTY: - Gosto do seu cabelo assim.
ARMANDO: - Assim como?
BETTY: - Despenteado. Menos formal.

Armando passa a mão no cabelo e sorri, constrangido. Pega o cobertor, passando por sobre os ombros dela. Passa a mão pelos braços dela, por cima do cobertor, a aquecendo. Betty sorri pra ele.
Armando põe os pés sobre o sofá, ficando de frente pra ela e se enrola no cobertor também. Os dois ficam se olhando. Betty desvia o olhar de Armando. Ele percebe que algo a incomoda.
Armando tira uma mecha de cabelo da frente do rosto de Betty, delicadamente.

ARMANDO: - Beatriz, o que há, hum?
BETTY: - ...nada.
ARMANDO: - Sabe que pode me falar se algo está te aborrecendo. (RECEOSO) Você não está mais segura? Se arrependeu de ter aceitado o meu pedido? Eu posso esperar se você não se sente pronta pra dar esse passo e-

Betty enche os olhos de lágrimas.

ARMANDO: - (PREOCUPADO) Que passa, meu amor?
BETTY: - Eu sou uma boba, Don Armando... Você é tão perfeito que fico com essa sensação que a qualquer momento vou acordar, deitada na minha cama, na casa dos meus pais... (DESVIA O OLHAR) Ainda acho incrível que esse meu sonho esteja acontecendo...

Armando puxa Betty pelo cobertor e a abraça, carinhosamente. Ela repousa a cabeça no ombro dele. Armando a embala em seus braços.

ARMANDO: - Betty, e você acha que eu não tenho medo de ainda estar sentado na presidência da Ecomoda, sozinho, olhando para a porta da sua salinha vazia? (ANGUSTIADO) Sabe que todos os dias, quando eu acordo aqui nesse apartamento, tenho a impressão que nada disso aconteceu comigo e que eu ainda sou aquele menino mimado que ganhou uma empresa de presente do pai... E que não se importa com nada, a não ser consigo mesmo...

Armando se afasta para olhar Betty nos olhos.

ARMANDO: - Eu não quero voltar a ser aquele menino, Beatriz. E não é só porque eu quero ser um homem de verdade pra você. Mas por mim também. Porque eu quero ter orgulho de mim. Eu quero me olhar no espelho e me sentir um homem digno, merecedor do que conquistei, merecedor de confiança. (SORRI) Merecedor do seu amor, Beatriz.

Betty observa Armando. Sorri.

BETTY: - Você é, Armando. Você é merecedor de tudo. Mas sei que repetir isso não muda a forma como você se sente. E eu prometo que vou estar aqui sempre, te acompanhando enquanto você perdoa a si mesmo, por tudo o que se passou conosco.

Armando sorri, agradecido pela delicadeza com que Betty trata seus temores. Betty morde o lábio, indecisa sobre falar ou não sobre algo em que está pensando. Armando percebe a angústia dela.

ARMANDO: - Betty, não era só sobre isso que você queria falar, não é?
BETTY: - Não, não era... (CRIANDO CORAGEM) Armando, faz algum tempo que eu queria falar sobre aquele dia em que voltamos ao Mesón de San Diego e...
ARMANDO: - (INTERROMPENDO) Betty, nós não precisamos falar sobre isso.
BETTY: - Precisamos, Armando. Precisamos sim. Porque cada vez que não falamos, parece que isso aumenta e aumenta... e fica nos atormentando, como se fosse um fantasma.
ARMANDO: - (ABAIXA A CABEÇA) ...
BETTY: - Eu não vou força-lo a falar sobre isso se não quiser. Mas eu acho que se vamos nos casar, seria importante não carregarmos mais nenhum segredo ou deixarmos coisas por dizer.

Armando eleva o olhar, acenando a cabeça afirmativamente para Betty, como se desse permissão para que ela continue. Betty respira fundo, tomando coragem.

BETTY: - Eu sei que reagi mal, quando a dona Catalina me disse que tinha marcado o jantar no Mesón. E sei também que você entendeu porque me senti daquele jeito. (SUSPIRA) Eu ainda não superei tudo, Armando, eu ainda tenho meus momentos de fraqueza e insegurança... E pensei que me manter afastada das lembranças me faria curar minhas feridas mais rápido...
ARMANDO: - (CULPADO) ...
BETTY: - Mas você foi maravilhoso comigo e fez de tudo para que eu não me sentisse mal. (SORRI) Você me fez aquela declaração linda e sem nem perceber conseguiu me ensinar uma lição valiosa.

Armando olha para Betty sem entender.

BETTY: - Sim, meu amor. Você me ensinou que podemos criar novas lembranças para apagar as antigas. Quando eu penso no Mesón de San Diego agora eu não lembro mais de como eu estava ferida pelos seus enganos, de como me senti mal naquele ambiente.

Armando desvia o olhar, tomado por lembranças ruins.

BETTY: - Aquilo ficou pra trás e foi substituído pelo sentimento de um amor imenso, quando lembro de você falando na frente de todos que tinha se apaixonado mesmo por mim. Que eu era a única mulher no mundo pra você. E naquele momento, Armando, eu me senti única.
ARMANDO: - (CABISBAIXO) Você é única, Beatriz...
BETTY: - (SORRI) Vê só? Você fala comigo como se eu fosse a melhor pessoa que existe. Eu não tenho direito de me sentir mal, de me sentir insegura com você, quando tudo o que você faz é ser maravilhoso comigo. Só que ao mesmo tempo, Armando... Você me ensinou uma lição que ainda não aprendeu. Eu sei que você também estava se sentindo péssimo lá, como sei que se sente mal agora, só pela menção do assunto. A questão, Armando, é que vamos cruzar com pessoas e situações que vão nos lembrar do passado, e não quero construir com você uma vida que tenha como base a culpa e o remorso.

Armando continua em silêncio, sem olhar para Betty. Ela passa a mão no rosto dele, o fazendo olhar para ela. Quando ele ergue o rosto, Betty percebe que ele está chorando. O coração de Betty fica apertado e ela faz carinho no rosto dele.

BETTY: - Eu acredito que tudo acontece por um motivo, e se passamos por tudo isso, talvez tenha sido para que eu aprendesse a me valorizar como mulher, como indivíduo.
ARMANDO: - Mas Betty, eu...
BETTY: - Armando, antes de você eu achava que a beleza era uma coisa externa. Que acontecia para mulheres com sorte. E eu tinha sido a azarada. (LEMBRANDO) Quantas vezes eu não me peguei rezando à noite para acordar bonita no dia seguinte... porque aí sim eu tinha certeza que ia conquistar tudo o que eu queria.

Armando chora, calado.

BETTY: - Mas veja a ironia da vida... Eu conquistei tudo o que eu queria... sendo a feia.
ARMANDO: - ...
BETTY: - Conquistei o emprego que desejava. Fiz amigas maravilhosas, que nunca tive antes. E conquistei o homem dos meus sonhos, mesmo sem saber.
ARMANDO: - ...
BETTY: - E depois que fiz a tão almejada transformação externa, quando me olhei no espelho, eu ainda via a antiga Betty... Claro, ter mudado meu visual me ajudou muito a encontrar a nova Betty que eu tanto desejava ser. Mas você quer saber mesmo quando minha transformação se completou?

Armando acena afirmativamente com a cabeça.

BETTY: - Quando acreditei que você falava a verdade, ao dizer que tinha se apaixonado por mim.

Armando sorri.

BETTY: - Porque isso significava que você tinha se apaixonado pela Betty, a feia.

Betty enche os olhos de lágrimas.

BETTY: - Armando... você se apaixonou por mim. Por mim! (SORRI) Não pela franja, nem pelas roupas fora de moda. Nem pela mulher com poder que chegou mais tarde na Ecomoda. Mas por mim, por quem eu sou de verdade. E esse foi o ponto final de uma história triste que eu vinha escrevendo até então. Eu finalmente consegui fazer as pazes comigo mesma. Porque não importa se sou feia ou bonita. Isso é algo plástico, que fica do lado de fora, que se deteriora com o tempo. Mas o que eu sou, a Beatriz Pinzón Solano, é que é de verdade. De carne e osso. E alma.

Armando respira fundo, limpando as lágrimas.

ARMANDO: - Betty, mas isso não exime a minha culpa. Tudo isso que você me diz é lindo, é maravilhoso. Mas me faz sentir uma pessoa terrível, por não entender o que alguém como você está fazendo com um tipo como eu... Que fez o que eu fiz, que enganou, que mentiu, que...

BETTY: - (O INTERROMPENDO) Armando, não podemos apagar o que aconteceu. Realmente, talvez tudo isso não o isente de culpa. Mas faz a vida um pouco mais leve, não faz? Faz de mim uma pessoa que também errou, porque não valorizava a si mesma. Eu atraí, Armando, o que eu era. Eu não me via, não me amava. Como podia atrair alguém que me amasse por mim?
ARMANDO: - Mas eu te amei por você...
BETTY: - E você não acha que isso foi uma sorte? Que você conseguiu ver em mim algo que eu nunca tinha visto?
ARMANDO: - ...
BETTY: - Não é coincidência, Armando, que quando eu comecei minha transformação, você também começou a sua. Você mesmo disse, que deixou de ser um menino, para se tornar um homem. (SORRI) E é maravilhoso amar uma pessoa que tem objetivos próprios, que quer ser alguém de valor, que quer prosperar. É uma honra ser a companheira que você escolheu para sua jornada na vida, e me dá um orgulho imenso ser aquela que andará de mãos dadas com você enquanto faz isso.

Armando continua chorando. Betty se aproxima dele, beijando o rastro que as lágrimas dele deixaram em seu rosto, uma a uma, delicadamente. Armando, de olhos fechados, recebe o carinho, sentindo que se livra de todos os seus medos e tristezas.
Betty se afasta dele e o segura pelas mãos.

BETTY: - Meu amor, vem aqui...

Betty levanta do sofá e conduz Armando até o espelho que há numa das paredes da sala. Para em frente ao espelho, puxando os braços de Armando, para que ele a abrace por trás. Armando encosta o rosto no dela, de olhos fechados, totalmente entregue.

BETTY: - Acho que nós dois tivemos problemas com o espelho, Armando.

Armando roça levemente o nariz no pescoço de Betty. Abre os olhos.
Os dois ficam se olhando através do espelho.

BETTY: - Mas tudo o que aconteceu nos trouxe até aqui, até esse momento. Pode parecer estranho pra você, mas eu não mudaria nada. Porque somos pessoas melhores hoje do que jamais fomos.

Armando sorri para ela. Abaixa a cabeça, beijando o ombro de Betty. Ela fecha os olhos. Armando afunda o nariz nos cabelos dela e a abraça mais forte. Os dois se olham através do espelho, apaixonados.

ARMANDO: - O seu amor me protege, Beatriz. Até de mim mesmo. (FECHA OS OLHOS) Obrigado por ter me dado de presente a chance de ser uma pessoa melhor.

Betty sorri.

ARMANDO: - E me desculpe por ainda não ser capaz de superar tudo o que vivemos. Mas eu te prometo, Beatriz, que vou tentar. Eu prometo.

Betty vira o rosto e o beija na bochecha. Armando sorri, de olhos fechados, inebriado.

ARMANDO: - Ah, minha doutora... Não vejo a hora de estar casado com você.

Betty morde o lábio e suspira, ficando tensa de repente.
Armando, de olhos fechados, abraçado à ela, percebe a tensão.

ARMANDO: - Betty, que foi?
BETTY: - Armando...
ARMANDO: - Hum?
BETTY: - (SEM ACREDITAR) Você me pediu em casamento!
ARMANDO: - (SORRI) É...

Betty leva as mãos ao rosto, como se acabasse de perceber a seriedade da decisão.

BETTY: - (SEM ACREDITAR) E eu aceitei!

Armando abre os olhos, olhando pra ela e achando graça.

ARMANDO: - Pois é.

Betty se vira nos braços de Armando, ficando de frente pra ele.

BETTY: - Você não acha isso uma loucura?
ARMANDO: - Porque?
BETTY: - Como porque? Nós vamos nos casar!
ARMANDO: - (RI) ...
BETTY: - (NEURÓTICA) Armando, você vai casar comigo! Sabe? Com a Betty. Aquela que era a sua secretária, a que você chamava de Imperatriz!

Armando ri dela. A beija na testa.

ARMANDO: - Nossa, eu era terrível com você.
BETTY: - (NEURÓTICA) Meu deus, eu vou me casar...
ARMANDO: - Betty...
BETTY: - (O IGNORANDO / NEURÓTICA) E não só vou me casar, mas vou me casar com Armando Mendoza!
ARMANDO: - Beatriz...
BETTY: - (O IGNORANDO / NEURÓTICA) Meu Deus, imagina o que os meus pais vão dizer! E os seus pais, Armando!
ARMANDO: - Betty, calma, olha-
BETTY: - (O IGNORANDO / NEURÓTICA) E o Quartel das Feias?! Eu, Beatriz Pinzón Solano, casada e-

Armando a cala com um beijo. Quando se separam, Armando começa a rir.

ARMANDO: - (RINDO) Meu Deus, Beatriz, toda essa convivência comigo te deixou mais neurótica do que eu!
BETTY: - E como é que pode você estar calmo desse jeito? Você fugia do casamento como o diabo da cruz!
ARMANDO: - Pois é. Pra você ver o que você fez comigo, doutora Pinzón.
BETTY: - Armando, você tem certeza? Você nunca quis se casar na sua vida.
ARMANDO: - Bem, eu nunca quis um monte de coisas até você aparecer, Beatriz.

Betty balança a cabeça, como se tudo fosse inacreditável demais para ser possível. Armando sorri, adorando a reação dela. Betty ergue a cabeça, olhando para Armando, com um brilho no olhar.

BETTY: - (FELIZ) Nós vamos nos casar!
ARMANDO: - (APAIXONADO) Sim!

Betty tem um ataque de riso, sem conseguir se controlar. Armando a abraça e os dois ficam rindo juntos.