Apartamento de Armando
09:14 PM

Betty e Armando estão sentados no sofá, tapados com os cobertores. Betty está com os pés em cima do sofá e tem a cabeça recostada no ombro de Armando, que a envolve num abraço. Ele está com os pés esticados sobre um pufe.
Em frente a eles a árvore de Natal está totalmente decorada e iluminada pelas luzinhas. Aos pés da árvore, o presépio também está montado.

ARMANDO: - Ah, esqueci de dizer que meus pais mandaram um presente pra você.
BETTY: - (CURIOSA) Verdade? O que?
ARMANDO: - Eu não sei. Só posso te dar no Natal.
BETTY: - Que maldade, Armando. Como eu vou aguentar até lá?

Armando a beija na testa.

ARMANDO: - Curiosinho esse meu monstrinho...

Betty ri. Os dois continuam a observar a árvore.

BETTY: - Meu amor...
ARMANDO: - Hum?
BETTY: - Como eles estão reagindo?
ARMANDO: - Reagindo a que?
BETTY: - Bem, você sabe... a nós.

Armando pensa por algum tempo. Suspira.

ARMANDO: - Pra ser sincero com você, Beatriz, eu não sei... E pela primeira vez na vida acho que não me importo...

Betty olha pra ele, sem entender. Armando dá de ombros.

ARMANDO: - É verdade. Não me importo com o que eles possam pensar de nós dois, nem de como chegamos até aqui... A única pessoa que me importa é você.

Betty sorri, envergonhada.

BETTY: - E porque você diz que pela primeira vez na vida não se importa?

Armando fica desconfortável. Respira fundo.

ARMANDO: - É que antes, com a Marcela... Meus pais sabiam de tudo que se passava. A Marcela e a minha mãe sempre foram muito próximas, confidentes... e claro, eles acabavam sabendo de tudo, ou pelo menos a minha mãe sabia. (MORTIFICADO) Eu nem quero imaginar o que ela deve ter escutado sobre mim todos esses anos. Era como estar num relacionamento à quatro e não à dois.

Armando fica tenso. Betty percebe e passa as mãos pelos braços dele.

ARMANDO: - Desculpa, Beatriz, eu sei que você não quer ouvir as histórias da Marcela.
BETTY: - São as suas histórias também, meu amor. É o seu passado. Fico feliz que queira dividir isso comigo.
ARMANDO: - Mas não te incomoda?
BETTY: - Armando, não vê que estamos nos reconstruindo? Para reconstruir o futuro é preciso desconstruir o passado, não acha?
ARMANDO: - Eu sei, meu amor, mas não quero te machucar.
BETTY: - (SORRI) Você não vai me machucar. Você está aqui comigo e é nisso que eu acredito. O resto são lembranças. E é bom dividir, até mesmo as ruins, pois pesam menos.

Armando ouve Betty, orgulhoso da postura dela. A beija na testa, deixando os lábios ficarem um pouco mais de tempo em contato com a pele dela. Betty põe a mão sobre o peito dele.

BETTY: - (OLHOS FECHADOS) Fala, meu amor. Fala o que tem aqui dentro desse coração.

Armando sorri e se aconchega nela. Respira fundo, tomando coragem. Betty o observa, atenta.

ARMANDO: - Eu agi muito mal com a Marcela. E depois de refletir muito, tenho a impressão que a usei também como uma maneira de me rebelar contra os meus pais.
BETTY: - Como assim?
ARMANDO: - (SUSPIRA) Toda a minha vida eu sempre vi meus pais como pessoas corretas, justas, de caráter inabalável. E por causa disso, sempre me cobrei muito, sempre quis ser o melhor em tudo, para que eles tivessem orgulho de mim. Estudei o que minha família esperava que eu estudasse, me preparei para assumir a Ecomoda como os meus pais sempre sonharam... Mas... Hoje me pergunto se era isso mesmo que eu queria.

Armando fica em silêncio. Betty leva a mão para segurar a dele, dando força para que ele continue a falar.

ARMANDO: - Não me entenda mal, Beatriz. Eu adoro a Ecomoda, de verdade. Mas eu não nasci pra ser presidente. Eu não sirvo pra isso.
BETTY: - Claro que serve, meu amor. Você é um excelente executivo.
ARMANDO: - Não sei... A verdade é que eu gosto de ter ideias e aplica-las, como fiz com as franquias... Me encontrei profissionalmente quando tive essa ideia. Mas não sirvo pra tomar decisões que envolvam muita ponderação. Eu sou muito impulsivo. Esse tipo de trabalho é para pessoas mais calmas, que consideram as opções com cautela. (OLHA PRA ELA / CARINHOSO) Você é que nasceu pra ser presidente da Ecomoda.

Betty sorri, balançando a cabeça.

ARMANDO: - (ALIVIADO) E ainda bem que foi assim! Pobre da Ecomoda se ela não tivesse ninguém além de mim.

Armando suspira. O olhar dele fica longe. Betty espera que ele volte a falar, sabendo entender o tempo dele. Ele olha para um ponto indefinido, refletindo.

ARMANDO: - Você sabe que eu e a Marcela convivemos desde crianças... Nossos pais, além de sócios, eram melhores amigos. Eu era alguns anos mais velho do que ela e quando você se torna adolescente essa diferença é como um abismo... Quando eu tinha lá meus 15, 16 anos e a Marcela... devia ter o quê? Onze anos, no máximo. Tudo o que eu queria era conquistar as meninas da minha idade, me divertir com meus amigos... Mas a Marcela ficava atrás de mim, não me largava. Meus amigos diziam que ela era minha "namoradinha". Imagine isso, Beatriz! Eu queria morrer. Mas ao mesmo tempo, nunca a odiei, porque nos criamos juntos... a Marcela era como uma irmã caçula. A Camila, minha irmã mais velha, nessa época já tinha saído de casa há algum tempo e estava terminando o intercâmbio no exterior. Tinha um noivo com quem ia se casar e não pretendia voltar. Então com quem mais eu convivi foi com os irmãos Valência.
BETTY: - Com o Daniel também?
ARMANDO: - (ABORRECIDO) Mais do que eu gostaria, Betty. Embora nunca tivesse me dito, sei que o sonho do meu pai era que fôssemos melhores amigos, como ele e o Júlio Valência. E eu tentei, Betty. Juro que tentei. Mas o Daniel sempre foi insuportável. Sempre teve esse olhar de quem se sente superior a tudo, essa empáfia... E não sei porquê, mas sempre estávamos em situações em que terminávamos por competir. Sabia que até estudamos juntos?

Betty fica surpresa.

BETTY: - Não consigo imaginar isso.
ARMANDO: - Na mesma escola, na mesma sala de aula. Pertencíamos inclusive ao mesmo grupo de amigos, mas sempre havia uma disputa entre nós dois e qualquer coisa era motivo para discussão.

Armando se cala, de repente. Fica pensativo. Betty estranha, mas espera que ele continue.

ARMANDO: - Sabe que quando eu tinha uns 12 anos tive minha primeira namoradinha, Betty. (SORRI) Uma coisa boba, dessas de escola. Mas eu adorava aquela menina. Foi o meu primeiro amor.
BETTY: - Como ela se chamava?
ARMANDO: - (PENSANDO) ...sabe que eu não lembro? Acho que era... Paula? Laura? Não sei. Enfim, a gente namorava daquele jeito antigo... Pegava na mão, as vezes ela me deixava carregar os cadernos dela...

Betty sorri, imaginando a cena.

ARMANDO: - O Daniel nunca me disse, mas tenho certeza de que ele gostava dela e não suportava que a menina gostasse de mim. Um dia, na frente de todos os nossos amigos, disse que não acreditava que eu tinha namorada, e que se era verdade, tinha que provar dando um beijo na menina. Você sabe como moleques nessa idade são... Pensei que minha masculinidade estava em jogo.

Betty morde o lábio para não rir.

ARMANDO: - Não ria não, Beatriz, você não imagina o inferno que foi! A pressão foi tanta que eu propus isso a pobre coitada, no recreio da escola. Ela a princípio não queria, disse que não estava pronta. (RI) Mas a convenci não sei com que argumentos... E combinamos de nos beijar no dia seguinte num lugar meio escondido, no pátio do colégio. Imagine o meu nervosismo, Beatriz. Eu nunca tinha beijado nenhuma menina na vida. Bem, pra resumir, o Daniel contou pra todo mundo que eu ia beijar a menina, inclusive para uma professora, que apareceu na hora e nos pegou no flagra.

Armando fecha os olhos, martirizado. Betty sorri, se divertindo.

ARMANDO: - Mandaram chamar os meus pais e tive que ficar sentado lá, ouvindo dizerem pra eles que isso não era atitude de um menino de família, que era um absurdo, uma falta de respeito com a escola... Imagine a minha vergonha! Depois disso, te confesso, que meu relacionamento com o Daniel só piorou. As vezes nossas brigas eram tão extremas que rolávamos pelo chão a socos e pontapés.
BETTY: - Imagino.
ARMANDO: - Quantas vezes meu pai e o Júlio tinham que nos separar quando nos engalfinhávamos. Era terrível. Eu via nos olhos do meu pai o desapontado que ficava cada vez que isso acontecia. Mas eu não conseguia me controlar perto do Daniel.
BETTY: - Acho que agora entendo melhor suas atitudes com ele. E claro que isso se refletiu mais tarde na disputa pela presidência da Ecomoda.
ARMANDO: - Sim. Eu jamais ia permitir que ele assumisse a empresa. Não só pela nossa disputa pessoal, mas porque eu sei que ele nunca se importou com a Ecomoda. Ele queria ganhar dinheiro, era isso que sempre importou pra ele. E por isso criei toda aquela proposta absurda que você sabe bem qual foi o resultado.

Betty suspira. Armando a aperta mais contra si.

BETTY: - E a dona Marcela?
ARMANDO: - O que tem ela?
BETTY: - Não sei se você percebeu, Armando, mas você fica desviando o assunto... Não me falou ainda porque você tinha uma relação tão ruim com ela.

Armando fica pensativo.

ARMANDO: - Bem, alguns anos depois eu fui estudar no exterior e ficamos muito tempo sem nos ver. Ao voltar pra Bogotá fui trabalhar na Ecomoda imediatamente e a Marcela tinha acabado de se mudar pra França, pra estudar Design.
BETTY: - E você estudou onde?
ARMANDO: - Nos Estados Unidos.
BETTY: - E que argumentos usou pra beijar as americanas?

Armando ri.

ARMANDO: - Quisera eu ter estudado aqui e ter argumentado com a minha doutora...

Armando fica dando beijinhos no pescoço de Betty. Ela ri.

BETTY: - Bem, se você tivesse feito isso, teria que ir até a escola secundária de Chapinero*... Mas acho que esse tipo de argumentação ia ser pedofilia, Armando.

Armando ri, fazendo Betty sentir mais cócegas ainda.

BETTY: - E vocês se apaixonaram quando ela voltou da França?

Armando se afasta de Betty.

ARMANDO: - Foi uma coisa estranha. Quando a vi de novo, depois de todo aquele tempo, a vi pela primeira vez como uma mulher e não como aquela garotinha que me chateava. E claro que me interessei por ela. Ela voltou uma mulher moderna, viajada, linda... Aquilo me inquietou. Na época eu não queria compromisso com nada, estava me sentindo poderoso, com a perspectiva de em alguns anos presidir a Ecomoda... O Daniel tinha um apelido pra mim na época, que era "El Principito"**. Eu odiava, mas acho que mereci. E sempre que nos encontrávamos, a Marcela me olhava como se eu fosse único... Me envaideci com aquilo e a chamei pra sair.
BETTY: - E como foi?
ARMANDO: - Foi surpreendente. De repente me vi na companhia de uma pessoa que era, de fato, uma velha amiga. Tínhamos muitas experiências em comum e muito do que falar... Ficamos próximos e eu cogitei que aquilo pudesse dar em algo. Aquela proximidade e cumplicidade me fizeram pensar que aquilo era estar apaixonado... E foi nisso que eu acreditei por um tempo. Claro que nos meses que se seguiram a mãe dela e a minha ficaram sabendo, porque, enfim, a Marcela não sentia que tinha alguma coisa pra esconder. E os planos começaram. Quando estávamos juntos, sempre alguém queria opinar, dizer que era uma coisa maravilhosa para as duas famílias, que isso selava uma união de muitos anos entre os Mendoza e os Valência... Aquilo me deixava desesperado. Ao mesmo tempo que estar com a Marcela era prazeroso, estávamos descobrindo coisas novas, havia a pressão de que também carregávamos as duas famílias nas costas. E eu não tinha certeza de que queria casar com ela. Eu era muito jovem.
BETTY: - Imagino que para o Daniel também não tenha sido nada fácil.
ARMANDO: - Ele não sabia. Ele estava estudando fora também, fazendo uma pós-graduação. Mas isso era algo que igualmente me mantinha na relação, pois eu sabia que o Daniel odiaria aquilo. E era meu trunfo contra ele, claro. Quando ele voltou e descobriu, eu me senti vingado. Claro que brigamos. Mas na época os Valência ainda estavam vivos e nada foi muito além do que puro bate-boca. (RESPIRA FUNDO) Mas sabe que no fundo, Betty, eu sabia que não queria ir em frente com aquela relação. A Marcela, no entanto, vivia num mundo em que tínhamos sido feitos um para o outro. Aquilo foi me deixando louco. Eu não via saída para aquela pressão constante, das famílias, da Marcela, da sociedade... Foi aí que cometi mais um erro, Beatriz, e fiz o que qualquer playboy mimado faria: ao invés de terminar com ela, comecei a sair com outras mulheres. Era como se eu estivesse me rebelando. Foi isso que eu quis dizer antes. Eu estava punindo a minha família, através da Marcela. Era como se dissesse: "vocês acham que podem me controlar, decidir com quem eu me relaciono? mas vejam, eu sou livre, eu que escolho com quais mulheres vou sair". Nunca me preocupei em esconder as minhas escapadas porque o que eu queria era que a Marcela terminasse tudo comigo, para que eu não precisasse arcar com essa responsabilidade de ter dissolvido um sonho dos Valência e dos Mendoza.
BETTY: - E ela descobriu?
ARMANDO: - Não demorou muito. E você deve imaginar como ela reagiu. Meus pais me censuravam, diziam que eu deveria amadurecer e ter responsabilidade... Mas era pior, pois me sentia tão pressionado que sumia por finais de semana inteiros...
BETTY: - (INCOMODADA) Imagino que acompanhado do Mario Calderón?
ARMANDO: - Do Mário e de tantos outros. Eu era o futuro presidente de uma empresa de moda, Betty. Todas as mulheres bonitas de Bogotá queriam ficar perto de mim para terem uma chance no mercado da moda e todos os meus amigos queriam desfrutar dessas mulheres... Rapidamente eu me tornei o príncipe das noitadas. (BALANÇANDO A CABEÇA) Que estúpido.

Betty fica em silêncio, assimilando tudo o que Armando contou. Ele a observa por um instante. Percebe a seriedade dela.

ARMANDO: - Ainda bem que eu não te conheci naquela época.
BETTY: - Você nem teria me visto, Armando.
ARMANDO: - Não... Não por isso, Beatriz. Mas porque eu não estava pronto pra você.

Betty olha para Armando e sorri, ternamente.

BETTY: - Bem, então, o que mais fazia esse meu príncipe inacabado?
ARMANDO: - (SORRI) Ai, Betty, esse seu príncipe só se metia em enrascadas... Até que um dia meu pai me chamou pra conversar e disse que estava envergonhado de ter um filho que não sabia respeitar uma mulher. E foi um alívio, sabe? Era como se ele me desse uma permissão pra eu terminar tudo, porque o pior era perder o respeito dos meus pais. Eu então tomei coragem e fui conversar com a Marcela. Quando cheguei à mansão dos Valência, ela me recebeu chorando. Os pais dela tinham acabado de morrer naquele acidente horrível. Não tive coragem de tocar no assunto depois disso. Até hoje ela nunca soube que aquele dia eu estava indo terminar tudo o que tínhamos.
BETTY: - Isso é terrível, Armando.
ARMANDO: - Não tive coragem de deixa-la naquele momento. E o tempo passou. Por culpa, achava que devia isso a ela. E algumas vezes, quando tentava começar um assunto, dizer que estava me sentindo infeliz na relação, ela chorava, dizia que tinha medo de me perder, porque não tinha mais ninguém no mundo... Eu não sabia como reagir e acabava ficando. Claro que eu deveria ter sido mais enfático, isso teria nos poupado o sofrimento. Mas fui fraco. E sempre tive carinho por ela, a admirava. Então pensei que minha vida seria sempre isso, esse relacionamento obsessivo e vazio, feito de culpa, de remorso. Mas você sabe o que acontece quando a gente não ama verdadeiramente uma pessoa... E eu comecei a sair com outras mulheres novamente. Pensava que todo o homem era assim, casava com uma mulher boa, que o amava, correta, praticamente perfeita... E se divertia com as erradas. E hoje sei que tenho culpa pela pessoa ciumenta em que a Marcela se transformou. Eu a fiz ficar daquele jeito, me perseguindo, seguindo meus passos, desatinada. Era um jogo no qual eu controlava todas as peças. Quando ela ficava escandalosa, eu ameaçava ir embora. E ela se humilhava, me implorava pra não deixa-la.
BETTY: - E imagino ter sido nessa época a votação para a Presidência...
ARMANDO: - Precisamente. Estávamos próximos da votação e minha proposta era um absurdo. Todo mundo sabia. Até mesmo o meu pai. Pela contagem dos votos, a Marcela era que acabaria decidindo entre eu e o próprio irmão. Aquilo era desleal demais com ela e eu achava terrível. Mas o Mario...
BETTY: - Sempre o Mário...
ARMANDO: - Bem, ele e outros tantos amigos, me disseram que eu tinha que me aproveitar daquilo. Mas veja, Betty, não o culpo. Porque eu também concordei com ele, achava que já que eu estava preso a ela, acorrentado àquela relação, a Marcela me devia isso.

Armando balança a cabeça, culpado.

BETTY: - E como foi que você pediu a ela que votasse a favor de você?
ARMANDO: - Aí é que está. Nunca tive que pedir. Quando faltavam alguns dias para a votação da melhor proposta, ela tocou no assunto do casamento. Até então era uma coisa que nossas mães tinham discutido no passado, uma ideia muito vaga... Nós dois nunca havíamos falado abertamente sobre o assunto. Naquele momento pensei que a Marcela estava impondo uma regra, que ela me faria presidente caso eu aceitasse me casar. Mas obvio que não era isso, a Marcela não faria algo assim... Hoje penso que foi apenas uma coincidência, que na realidade ela precisava de alguma prova de que eu me importava com ela. Acabei respondendo que casar com ela estava nos meus planos. E em alguns dias, na reunião de diretoria, houve a votação.

Armando respira profundamente, como se tivesse soltado um peso que carregava há muitos anos. Se sente leve. Betty faz carinhos no rosto dele. Armando segura a mão dela sobre seu rosto, ternamente, e leva a mão dela até seu peito, repousando sobre seu coração. Ele sorri, feliz.

BETTY: - (SORRI) O que foi?
ARMANDO: - Não imaginei que falar sobre isso me faria tão bem, Beatriz. Sinto como se... Como se esse fosse o fechamento desses anos complicados.

Betty fica com os olhos marejados diante da sinceridade de Armando. Ele beija a mão de Betty.

ARMANDO: - Viu como tenho razão quando digo que me apaixonei por um anjo?

Betty ri e o beija ternamente. Os dois apoiam as testas e ficam em silêncio.

BETTY: - (HESITANTE) Armando...
ARMANDO: - (OLHOS FECHADOS / CURTINDO O MOMENTO) Sim?
BETTY: - (HESITANTE) Foi por isso que você me disse que nunca tinha pedido ninguém em casamento antes? Eu estranhei quando você disse isso, lá no Clube, por causa da dona Marcela...
ARMANDO: - Sim, Beatriz. Eu nunca pedi ninguém em casamento na minha vida. Com a Marcela, foi um acordo. Foi uma coisa racionalizada, por um interesse. Nunca houve o pedido. Combinamos de nos casar, como quem combina de viajar de férias. Mas com você...

Armando se afasta para olhar Betty nos olhos.

ARMANDO: - Com você foi impulsivo. Mas não um impulsivo do qual um se arrepende quando pensa melhor. Mas o impulsivo que é o resultado de um sentimento que não cabe mais dentro de alguém. Lá naquele estábulo eu me dei conta... (SE EMOCIONA) Eu me dei conta de que era você. (SORRI ENTRE LÁGRIMAS) Sempre foi você, Beatriz. Eu sabia que te amava, que queria ficar com você, desde muito tempo atrás, mas hoje... Hoje parece que a realização do que é isso tudo que vivemos caiu sobre mim, e tudo ficou simples, lógico e natural... (SORRI) Sabe, existe um filme*** em que o personagem se dá conta que gosta da moça e sai correndo pela rua até chegar até ela, que está numa festa. Ao encontra-la ele diz que quando uma pessoa se dá conta que quer passar o resto da vida com a outra, ela quer que esse resto da vida comece o mais rápido possível... Acho que é isso, Beatriz. Eu quero que o resto da minha vida com você comece o mais rápido possível. Porque eu te amo. (NUM SUSSURRO) Eu te amo. E isso não me aprisiona, não me deixa tenso, nem me pressiona. Muito pelo contrário. Amar você me liberta. Me deixa leve, como nunca antes. Eu cometi um monte de erros nessa minha vida, Betty. Mas não quero que um deles seja perder a chance de ter uma vida com você.

Betty fica emocionada. Seus olhos enchem-se de lágrimas.

BETTY: - Meu amor, você ganhou.
ARMANDO: - Ganhei? O que?
BETTY: - O direito de me beijar. Seus argumentos são muito válidos.

Armando sorri.

ARMANDO: - Ufa! Ainda bem! Olhe só o discurso que tive que fazer.

Betty cai na gargalhada.

ARMANDO: - Ai, essa risada... Como eu não morreria para ouvir essa risada todos os dias...
BETTY: - Armando, para de falar e me beija...
ARMANDO: - Seu pedido é uma ordem, doutora monstris...

Armando pula sobre ela, a beijando e a puxando para baixo dos cobertores.


* Chapinero é o bairro onde fica localizada a casa de Betty, em Bogotá. Fiz uma pesquisa onde ficaria a escola pública mais próxima da casa de Betty e o resultado foi esse: "Escola Secundária de Chapinero". Internet I Love You.

** "El Principito" se traduz como "o Principezinho", que combina muito com algo que o Daniel diria ironicamente sobre Armando. El Principito também é a forma como se chama o livro "O Pequeno Príncipe" em espanhol.

*** O filme em questão se chama "Harry & Sally" e recomendo para todos os corações sensíveis e necessitados de uma maravilhosa e engraçada história de amor.