Apartamento de Armando Mendoza
09:00 AM

Betty está sentada na bancada do banheiro vestindo o robe azul marinho de Armando, que fica grande demais pra ela. Armando, de calças do pijama, está entre as pernas dela. Betty faz a barba de Armando, concentrada. Armando a observa com um sorriso.

BETTY: - (ATENTA) Se você não parar de sorrir eu vou acabar te machucando...
ARMANDO: - (NUM SORRISO) Não consigo evitar, meu amor.
BETTY: - (ATENTA) E porque?
ARMANDO: - Porque estás toda séria...
BETTY: - E o que tem?
ARMANDO: - (RINDO) Nada.

Betty para o que está fazendo e olha para Armando. Ele fica sorrindo pra ela, apaixonado. Betty balança a cabeça, limpando o barbeador. Pega a espuma de barbear e coloca um pouco na mão. Coloca no rosto dele, desenhando uma barba branca. Começa a rir.

ARMANDO: - O que foi?
BETTY: - (RINDO) Acho que já consigo ter uma idéia de como você vai ficar quando estivermos velhinhos...
ARMANDO: - (SORRI) Você está se divertindo muito, não?

Betty morre de rir.

ARMANDO: - Beatriz, você não pode rir dos idosos… Nessa idade há de se tomar muito cuidado com o coração dos velhinhos.
BETTY: - Ai, meu Deus, que dramático esse meu doutorzinho…

Armando apoia as mãos na pia, a prendendo entre ele e a bancada.

BETTY: - Armando, o que está fazendo?
ARMANDO: - Nada.
BETTY: - Meu amor, precisamos terminar isso ou nunca vamos sair desse banheiro.
ARMANDO: - Não vejo necessidade de evacuar esse banheiro tão cedo.

Armando vai aproximando cada vez mais seu rosto do dela.

BETTY: - Ai, não doutor, você não vai me suj...

Armando beija Betty apaixonadamente, a sujando toda de creme de barbear. Betty tenta se desvencilhar dele. Armando se afasta, num sorriso maroto.

ARMANDO: - Acho que pra tirar todo esse creme só tomando um banho, não acha, mi vida?
BETTY: - (SORRI / BALANÇANDO A CABEÇA) Vou me casar com o homem mais mal-intencionado do mundo...

Armando se afasta dela, cabisbaixo. Senta-se no vaso, fazendo carinha de pidão.

ARMANDO: - Não, não, mi vida, não... Pode tomar banho… Pode ir primeiro que eu fico aqui sentadinho… Esperando...

Betty fica olhando pra ele. Armando sentado, todo sujo de creme de barbear, olhando para baixo, fingindo tristeza. Betty coloca as mãos na cintura, sem acreditar.

BETTY: - Meu amor, você não presta...

Armando dá um suspiro profundo, no mais puro fingimento.

BETTY: - Mas quem disse que eu presto?

Betty abre a porta do box, puxando Armando pra dentro.

[corte]

Betty sai do banheiro, passando as mãos nos cabelos. Armando está colocando a gravata, de frente para o espelho.

ARMANDO: - (SEGURANDO A GRAVATA) Ficou bem?
BETTY: - (OLHOS BRILHANDO) Lindo, como sempre.
ARMANDO: - Ahhh…

Armando se abraça nela, a beijando carinhosamente. Começa a passar a mão pelo corpo dela. Betty se afasta, rindo.

BETTY: - Armando, não podemos ficar pra sempre nesse quarto!
ARMANDO: - Porque não? Nunca gostei do lado de fora desse prédio mesmo.
BETTY: - (RI) Armando!

Betty se desvencilha dele e senta-se na cama, calçando os sapatos. Armando vai até o armário, pegando o casaco do paletó. Começa a vesti-lo.

ARMANDO: - Betty, precisamos descansar, sabia? Estamos nesse frenesi faz mais de um ano. Estou cansadíssimo.
BETTY: - Ai, meu amor, concordo plenamente. Estou tão cansada… Mas pelo visto só vamos conseguir descansar depois do casamento.
ARMANDO: - Nossa lua-de-mel vai ser eu colocando trancas nessa casa e cortando todos os fios de telefone.

Betty ri.

BETTY: - Vou ser sequestrada na lua-de-mel, é isso?

Armando vai até o banheiro, volta com o frasco de perfume na mão. Betty o observa, intrigada. Armando nem percebe.

ARMANDO: - Preciso ficar sozinho com você, Beatriz. Essas nossas últimas horas foram tão maravilhosas, me senti uma pessoa normal, com uma vida normal de homem comprometido.

Armando passa o perfume nas mãos e larga o frasco sobre o criado mudo. Betty continua observando os movimentos dele.

ARMANDO: - Mas sei que quando você sair por aquela porta o mundo vai cair sobre as nossas cabeças. Os telefones começarão a tocar, as contas vão chegar, os bancos vão cobrar os juros…

Armando esfrega as mãos uma na outra, passando em seguida pelo pescoço. Betty se levanta e se aproxima dele, o abraçando pela cintura.

ARMANDO: - Aí chegam os investidores, os acionistas… E sabem o que todos querem, Beatriz?
BEATRIZ: - O que?
ARMANDO: - (CIUMENTO) Você, é claro! Querem reuniões, querem almoços e jantares de negócios… E o que sobra pra mim, Beatriz? Me diz?

Betty interrompe o que Armando diz ao aproximar o nariz do pescoço dele, o cheirando. Ele se arrepia.

ARMANDO: - Betty, o que está fazendo?
BETTY: - Sentindo seu perfume.

Armando engole em seco.

ARMANDO: - Betty, não me faz isso...
BETTY: - Eu sempre quis sentir o seu perfume, Don Armando…

Betty fecha os olhos, roçando o nariz pelo pescoço de Armando.

BETTY: - (OLHOS FECHADOS) Você chegava na Ecomoda, passava por mim e eu pensava que o melhor lugar do mundo devia ser esse aqui...

Betty o beija no pescoço. Armando se arrepia e respira fundo.

ARMANDO: - (TENTANDO SE CONTROLAR) Betty…

Betty se afasta de Armando. O beija rapidamente nos lábios e sai do abraço dele.

BETTY: - Nos vemos na Ecomoda, meu amor.
ARMANDO: - (DESESPERADO) Betty, como assim…?
BETTY: - Eu preciso ir pra casa.

Betty vai saindo do quarto de Armando, pegando a bolsa.

ARMANDO: - (DESESPERADO) Betty, você não pode me fazer isso… e depois me deixar aqui assim!

Betty, já no corredor, vira-se para Armando e dá uma piscadinha antes de sumir do campo de visão dele.

ARMANDO: - Acho que nunca houve um homem nesse mundo quisesse tanto estar casado como eu. (SOFRENDO) Que cruz!