Residência dos Pinzón-Solano
10:31 AM

Betty, já vestida para trabalhar, se arruma em frente ao espelho. Batidas na porta.

BETTY: - Pode entrar.

Dona Júlia entra, trazendo um copo de suco.

JÚLIA: - Filha, você quer um suquinho? Não sei se tomou café ou não…
BETTY: - (SORRI) Ah, obrigada, mamãe.
JÚLIA: - Está com fome? Fiz umas arepitas que você vai adorar…
BETTY: - Mamãe, entre e feche a porta, sim? Preciso falar com a senhora.

Dona Júlia entra, receosa. Senta-se na cama de Betty, que senta ao lado dela. Betty respira fundo, tomando coragem para falar.

BETTY: - (SEM GRAÇA) Bem, eu acho que a senhora ouviu a minha conversa com o papai, lá embaixo…
JÚLIA: - Ai, minha filha, que pena, mas não pude deixar de ouvir…
BETTY: - E o que você acha?
JÚLIA: - Bem, eu… Eu acho que você está com a razão, meu amor. Você é uma moça direita, com princípios honrados. E o seu pai precisa entender que você cresceu, por mais que lhe doa.

Betty sorri, emocionada.

BETTY: - Obrigada, mamãe.

Dona Júlia segura as mãos da filha. Betty está hesitante e Dona Júlia percebe que ela ainda tem algo a dizer.

JÚLIA: - Era só isso que queria falar, filhinha?
BETTY: - (SORRI) Não... Tem uma outra coisa.
JÚLIA: - O que foi? Alguma coisa com o seu Armando? Ele está te tratando bem, meu amor?

Betty sorri e desvia o olhar. Respira fundo, tomando coragem.

BETTY: - O que eu queria contar é que ontem… O seu Armando…

Dona Júlia cobre o rosto com as mãos, já imaginando a notícia.

BETTY: - (FELIZ) Ele me pediu em casamento, mamãe!
JÚLIA: - Ai, Betty!

Dona Júlia abraça Betty, feliz. Betty chora de alegria.

JÚLIA: - Minha filha, que coisa maravilhosa!

As duas se separam.

JÚLIA: - E você aceitou, não aceitou, Betty?
BETTY: - Como eu poderia dizer não para o amor da minha vida?

Dona Júlia começa a chorar.

JÚLIA: - Ai, meu amor, vocês vão ser tão felizes! Tenho certeza disso!

As duas choram e riem ao mesmo tempo.

BETTY: - (SECANDO AS LÁGRIMAS) Mamãe, por favor não diga nada ao papai por enquanto, está bem? O Armando quer falar com ele pessoalmente.

Dona Júlia seca as lágrimas com o xale que usa.

JÚLIA: - Claro, minha filha. Não se preocupe. (EMPOLGADA) E como está o doutor? Está feliz?

Betty seca as lágrimas e levanta-se, andando pelo quarto.

BETTY: - (SORRI) Ai, mamãe… Ele é um príncipe. Estou conhecendo um outro Armando, que eu não imaginava que existia. Ele tem um cuidado, uma forma de olhar pra mim que eu nunca tinha experimentado antes… É inacreditável toda a atenção que ele me dedica, todo o carinho. Me sinto tão amada! Nunca pensei que isso fosse acontecer comigo.
JÚLIA: - Ai, mas como não, minha filha?! Você é uma mulher maravilhosa, merece ser amada por qualquer homem que tenha a sorte de conhecer você.

Betty olha para a mãe, emocionada.

BETTY: - Obrigada, mamãe. Obrigada por sempre acreditar em mim quando nem eu acreditava.
JÚLIA: - Então foi por isso que você decidiu… passar a noite com ele?

Betty senta-se na cadeira da escrivaninha. Morde o lábio, envergonhada. Olha para Dona Júlia.

BETTY: - Mamãe, você lembra que fui encontrá-lo no clube?
JÚLIA: - Sim. Você queria fazer uma surpresa pra ele, não era isso, minha filha?
BETTY: - Pois foi lá que o Armando fez o pedido, debaixo de uma chuva fortíssima que caía.

Dona Júlia sorri, empolgada.

JÚLIA: - Ai, que coisa romântica!
BETTY: - (ENVERGONHADA) Ficamos encharcados, naturalmente, então decidimos ir pro apartamento dele. Não queria vir pra casa e ter que explicar o que tinha acontecido… Além do mais, precisávamos ficar juntos, conversar sobre esse novo caminho que começamos a percorrer. A questão é que conversamos muito e Don Armando me confidenciou muitas coisas, fatos do seu passado, coisas que nunca tinha contado a ninguém… E o tempo foi passando sem que nos déssemos conta.

Betty ajeita os óculos, suspirando.

BETTY: - Sabe, mamãe, às vezes parece que uma reconciliação é um ponto final numa história triste, mas a verdade é que é só o início de um processo longo e difícil de perdão. Faltava a ele e a mim essa conversa, entender o que passou conosco, pra deixarmos tudo para trás e começar uma vida juntos. (SORRI) E depois de tudo isso, eu sentia que meu lugar era ali, ao lado dele. Eu não queria voltar pra casa porque precisávamos estar juntos, entende?
JÚLIA: - (CARINHOSA) Sim, mi hija.
BETTY: - (ENCHE OS OLHOS DE LÁGRIMAS) Cada vez é mais difícil me separar dele… Existe em mim um sentimento tão grande, tão imenso… Que a única coisa que diminui essa angústia é a presença dele.

Dona Júlia sorri, não cabendo em si de alegria pela felicidade da filha.

JÚLIA: - Meu amor, pode contar comigo, está bem? Vou ajudar com tudo o que for necessário para o casamento. E pode deixar que cuido do seu pai, ele não vai mais atrapalhar você e o seu Armando.

Betty se levanta e abraça a mãe.

BETTY: - Obrigada, mamãe. Muito obrigada!

Dona Júlia se afasta de Betty, a segurando pelo rosto.

JÚLIA: - Não acredito que a minha filhinha vai casar!

As duas riem.