Central de Produção da Ecomoda
05:15 PM

Betty e Inesita continuam revisando as planilhas. A certa distância, Aura Maria masca chicletes e conversa com um dos empregados da Ecomoda.
Mariana chega apressada e puxa Aura Maria para um canto.

MARIANA: - (SUSSURRANDO) A Sandra acabou de me ligar dizendo que o doutor Armando pediu pra Betty subir!
AURA MARIA: - (EMPOLGADA / SUSSURRANDO) O que será que ele inventou, hein?
MARIANA: - (SUSSURRANDO) Eu não sei e pelo visto ele não disse pra ninguém!
AURA MARIA: - (EMPOLGADA) Ai, que emoção!

Betty ouve a voz de Aura Maria e se vira para olha-la. Inesita revira os olhos. Mariana disfarça e vem na direção de Betty.

MARIANA: - Betty, o doutor... Gutiérrez... está na presidência e disse que precisa falar com você urgentemente.
BETTY: - (ESTRANHANDO) O Gutiérrez?

Mariana olha para Aura Maria desesperada.

AURA MARIA: - Ai, Betty, é bom você ver logo o que ele quer.
BETTY: - Sim… Então já volto para terminarmos isso, Inesita.
INESITA: - Sim, filha.

Betty sai. Aura Maria, Mariana e Inesita a observam de longe, empolgadas.

Ecomoda
05:20 PM

Betty sai do elevador. Toda as mesas das meninas do Quartel estão vazias. Ela caminha até a porta da presidência, estranhando os corredores vazios.

Presidência da Ecomoda
05:21 PM

Betty abre a porta da Presidência, que está às escuras. Ela fica mais intrigada.

[Som de Volvi a Nacer - Carlos Vives]

Uma luz se acende na salinha que antes era de Betty ao mesmo tempo em que a música ressoa pela presidência.
Betty caminha vagarosamente até a porta da salinha, sem acreditar no que vê.
Luzinhas de Natal estão penduradas no teto da sala, sobre a mesa, cadeiras e estantes. Rosas de cor champagne e branca enfeitam todo ambiente.
Armando, vestido em seu traje de equitação, está sentado na cadeira que antes fora de Betty. Ele observa a reação dela, sem conseguir conter o sorriso.
Betty cobre o rosto com as mãos, encantada.

BETTY: - Doutor…

Armando se inclina para frente na mesa, indicando a cadeira para que Betty sente. Betty sorri, emocionada, e senta-se.

ARMANDO: - Sabe, Betty, há uns 300 anos atrás, havia um irlandês que se chamava Richard Joyce. E esse senhor morava numa aldeia de pescadores chamada Claddagh.

Armando estica as mãos sobre a mesa e segura as mãos de Betty nas suas.

ARMANDO: - Ele amava uma mulher e pretendia pedi-la em casamento logo que voltasse de sua última viagem, já que era tripulante de um navio pesqueiro. Mas o navio foi capturado por piratas e todos os tripulantes foram vendidos como escravos. O pobre Richard Joyce foi vendido para um homem no Marrocos. Esse homem, no entanto, era um ourives muito habilidoso e fez de Joyce o seu aprendiz.

Betty sorri, interessada. Armando se encosta na cadeira, continuando a história.

ARMANDO: - Mas como você deve imaginar, durante todo o tempo que passou cativo, ele nunca pôde esquecer o seu amor que ficou para trás na Irlanda. Escondido do ourives, ele criou um anel muito especial e jurou para si mesmo que pediria a mão da moça que tanto amava, assim que voltasse. Mas só quatorze anos depois o rei da Inglaterra conseguiu a libertação dos escravos. À essa altura, o pobre homem tinha poucas esperanças de que a sua amada ainda o estivesse esperando. Já o ourives, que havia se afeiçoado ao rapaz, ofereceu metade do seu negócio e a mão de sua filha em casamento para que ele ficasse. Embora a proposta do ourives fosse tentadora, Joyce a recusou e retornou à sua aldeia.

Armando levanta-se, dando a volta na mesa, se aproximando de Betty.

ARMANDO: - Quando ele chegou em Claddagh, mesmo sem esperanças, foi imediatamente atrás de sua amada e para sua surpresa, ela ainda o esperava. Ele então mostrou-lhe o anel que criara e guardara por tantos anos, que chamou de Claddagh ring, e pediu a mão dela em casamento.

Betty morde o lábio, ansiosa. Armando observa a sala.

ARMANDO: - Esse lugar, Beatriz... Esse "buraco" onde coloquei você, é talvez o único lugar que foi somente nosso. Foi aqui onde eu tive a sorte de você se apaixonar por mim... E foi aqui também onde percebi pela primeira vez que estava perdidamente apaixonado por você... Entre essas paredes mofadas surgiu um amor que eu nunca esperei que fosse possível. Por esse motivo, quero que esse espaço seja testemunha de uma coisa mais.

Armando se ajoelha em frente à Betty. Leva a mão ao bolso, tirando uma caixinha de veludo preto.

ARMANDO: - Quando te pedi em casamento, me faltou um detalhe.

Armando abre a caixinha, revelando um anel Claddagh: duas mãos que seguram um coração feito de esmeralda, com uma pequena coroa.
Betty fecha os olhos, tentando não chorar.

ARMANDO: - Você ainda quer se casar com esse seu Don Armando De La Vega*?

Betty acena afirmativamente com a cabeça, em lágrimas. Armando segura a mão esquerda dela, colocando o anel.

ARMANDO: - O coração simboliza o amor, as mãos simbolizam a amizade e a coroa simboliza a lealdade sem fim. Essas três coisas, Beatriz, você me deu antes que eu merecesse, antes mesmo de eu me tornar essa pessoa que sou hoje, por sua causa.

Betty observa o anel em seu dedo. Armando entrelaça sua mão na de Betty.

ARMANDO: - (SEGURANDO AS LÁGRIMAS) Minha melhor amiga, minha companheira… meu amor.

Betty abraça Armando, fortemente. Armando derruba lágrimas, escondendo o rosto no cabelo dela.
Betty se afasta, encostando a testa na de Armando. Ela limpa carinhosamente as lágrimas dele com a ponta dos dedos.

BETTY: - (SUSSURRANDO) Meu melhor amigo, meu companheiro, meu amor.


* Armando se auto-intitula "Don Armando De La Vega" em referência a forma como Betty o chamou no Capítulo 15, capítulo esse em que ele a pede em casamento. Betty o chama assim porque eles estão conversando sobre o Zorro, cujo o nome é Don Diego de La Vega.