Presidência da Ecomoda
Dia Seguinte - Cinco dias para a Véspera de Natal
08:15 AM

Betty arruma alguns papéis dentro de uma pasta. Armando abre a porta da sala de reuniões, entrando na presidência.

ARMANDO: - Está pronta?
BETTY: - Estava só acabando de arrumar algumas coisinhas aqui…
ARMANDO: - Já preparou o discurso?
BETTY: - (AFLITA) Ai, Armando, porque eu? Você é tão mais tranquilo pra essas coisas de falar em público...
ARMANDO: - Porque eu não sou o presidente desta empresa, meu amor, e mesmo que fosse, você é o gênio por trás dessa idéia. Nada mais justo.
BETTY: - (AFLITA) Mas é que…
ARMANDO: - Nada de mas. Quem além de você teria essa idéia da campanha beneficente? Você merece ser a voz que nos põe um degrau acima na nova trajetória que a Ecomoda está por trilhar. E se você precisar, estarei ao seu lado, com a mão pronta para segurar a sua.

Betty sorri, pegando uma das pastas. Armando se aproxima da mesa e oferece a mão para que ela segure.

ARMANDO: - Vamos, senhora presidente?

Betty estica a mão para segurar a de Armando. O Claddagh ring brilha no dedo dela. Armando se detém por um instante, olhando para o anel. Olha para Betty e em seguida se inclina e beija o Claddagh ring. Os dois saem de mãos dadas da presidência.

Central de Produção da Ecomoda
08:30 AM

Betty e Armando estão em pé num pequeno palco improvisado no meio da central de produção. Gutiérrez está mais à frente no palco, falando ao microfone. Vários trabalhadores ocupam o lugar. O Quartel das Feias está ao fundo, observando.

GUTIERREZ: - A Ecomoda se prepara para cinco dias de trabalho intenso em prol de uma causa nobre: ajudar os nossos irmãos mais necessitados. Este ano, como agradecimento à todas as dádivas que essa empresa, seus acionistas e empregados têm recebido, criamos a primeira Campanha Beneficente da Ecomoda.

Todos aplaudem, empolgados. Betty e Armando aplaudem, enquanto observam os empregados.

GUTIERREZ: - Queremos dar as boas vindas aos 50 trabalhadores temporários que estamos recebendo hoje. (PUXANDO APLAUSOS) Eles vão encorpar nossa força de trabalho para que nestes 5 dias que antecedem os festejos natalinos possamos atingir a meta de confeccionar oito mil peças de vestuário que serão doadas à famílias necessitadas neste Natal.

Gutiérrez continua o discurso. Betty passa os olhos pelos empregados, sorrindo. Armando a observa, cheio de orgulho. Entrelaça a mão na dela. Betty vira o rosto para Armando, com os olhos brilhando.
Betty volta a olhar para os presentes e subitamente sua expressão muda. Ela aperta os olhos, percebendo alguém no grupo de trabalhadores temporários. O sorriso de Betty se desfaz e seus olhos se enchem de lágrimas.
Armando sente a mão de Betty suar contra a sua. Ele vira o rosto para olha-la, percebendo a tensão.

ARMANDO: - (SUSSURRANDO) Betty, o que houve?

Betty não responde. O corpo dela começar a tremer involuntariamente. Armando percebe o olhar fixo de Betty e tenta identificar o que ela vê na multidão, mas não consegue. Volta a olhar para Betty.

ARMANDO: - (SUSSURRANDO) Beatriz?

Betty tem a respiração entrecortada. Ela solta a mão de Armando.
O público começa a aplaudir o discurso de Gutiérrez totalmente alheio ao que acontece.
Armando se vira para Betty, a segurando pelos ombros.

ARMANDO: - Betty? Betty, fale comigo. O que houve?

Betty finalmente vira-se para Armando, mas seu olhar está transfigurado no mais absoluto pavor. Armando estranha a reação dela. Betty começa a tentar se desvencilhar dele. Armando tenta segura-la.

ARMANDO: - Betty, mi vida, o que está acontecendo?
BETTY: - Me solta!

Armando se assusta e a solta. Betty sai correndo, deixando Armando atordoado.

GUTIERREZ: - E com a palavra os presidentes da Ecomoda!

Gutiérrez aponta para onde segundos antes estava Beatriz. Armando olha para Gutiérrez, atônito, e acena negativamente com a cabeça. Gutiérrez, percebendo a situação, volta a falar no microfone, disfarçando. Armando sai apressadamente.

Corredores da Ecomoda
08:55 AM

Armando força a porta da Presidência, que está trancada à chave.

ARMANDO: - Betty! Betty, abra a porta, por favor!

As portas do elevador se abrem e as meninas do Quartel vem rapidamente na direção de Armando, preocupadas.

BERTHA: - Doutor Armando, o que houve com a Betty?
ARMANDO: - (NERVOSO) Eu não sei! (BATENDO À PORTA) Beatriz!
INESITA: - Doutor, o senhor já tentou a porta da sala de reuniões?
ARMANDO: - Já. Está trancada também.

Armando está num estado deplorável de nervos. Coloca as mãos sobre os olhos, desesperado. O Quartel se entreolha, sem saber o que fazer.

AURA MARIA: - Espera! A Betty me deu uma chave reserva dessa porta!
SOFIA: - E o que espera para buscar, Aura Maria?

Aura Maria sai correndo na direção de sua mesa. Armando encosta a cabeça na porta da presidência, em desalento.

INESITA: - Doutor, por favor, fique calmo. O que foi que aconteceu? Vocês brigaram?
ARMANDO: - (AFLITO) Não, Inesita. Ela viu alguma coisa… alguém. Não sei.

Aura Maria volta com algumas chaves e entrega para Armando. Ele testa algumas até que uma delas funciona e a porta abre.
Armando entra. A Presidência está deserta.
Armando vê a porta da antiga sala de Betty aberta. O Quartel avança para o interior da presidência, atrás de Armando.
Armando entra na salinha, percebendo-a vazia. Olha para todos os lados. Até que percebe um movimento perto de um dos arquivos de ferro no canto da sala. Armando faz sinal para que o Quartel saia e fecha a porta da salinha. Se aproxima com cuidado, tentando não assustar Betty.
Betty está sentada no chão da sala, encostada no arquivo. Os olhos vermelhos de chorar. Armando se ajoelha ao lado dela.

ARMANDO: - (SUSSURRANDO) Beatriz...

Betty não olha para ele. Armando põe a mão em seu ombro, delicadamente. Betty se vira bruscamente, sobressaltada. O olhar de pânico dá lugar ao alívio, como se finalmente o reconhecesse.

BETTY: - Armando…

Armando fecha os olhos e suspira fundo de alívio. Betty se joga nos braços de Armando o abraçando com força.

ARMANDO: - Que passa, mi vida?

Betty chora em soluços que sacodem tanto seu corpo que Armando precisa fazer força para não se separar dela. Ele faz carinhos nos cabelos dela, suavemente.

ARMANDO: - (PREOCUPADO) Quem… Quem você viu, Beatriz?

Betty esconde o rosto no ombro de Armando, molhando todo o terno dele. Chora, angustiada.

BETTY: - (VOZ ABAFADA) Miguel…

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