Residência dos Pinzón-Solano
06:43 PM
Betty dorme em sua cama.
Batidas na porta.
A porta do quarto se abre, revelando Dona Júlia. Ela segura o telefone em uma das mãos. Se aproxima da cama, onde Betty está dormindo. Dona Júlia encosta o dorso da mão na testa de Betty. Ela continua dormindo.
Dona Júlia respira fundo, preocupada. Sai do quarto, fechando a porta atrás de si.
No corredor ela leva o telefone ao ouvido.
JÚLIA: - Ela ainda está dormindo, doutor. Prefiro não acorda-la agora.
ARMANDO: - (OFF) Está bem, dona Júlia. E a senhora tem certeza de que a febre baixou?
JÚLIA: - Sim, filho. Faz uma hora, mais ou menos. Estamos controlando a temperatura dela, tente não se preocupar.
ARMANDO: - (OFF/TENSO) Não me peça isso, Dona Júlia.
JÚLIA: - Doutor, fique calmo. Ela só precisa descansar.
ARMANDO: - (OFF) Tem certeza de que não quer que eu vá até aí ficar com ela? Que eu a leve ao médico?
JÚLIA: - Não, não. Eu conheço a minha menina, ela só precisa descansar. Vamos esperar até amanhã.
Dona Júlia desliga o telefone, descendo as escadas. No andar de baixo, Seu Hermes anda de um lado para o outro.
JÚLIA: - Pobre homem...
HERMES: - Era o doutor Mendoza de novo?
JÚLIA: - Era, Hermes. Está que não se aguenta de preocupação.
HERMES: - E a menina? Acordou?
JÚLIA: - Não, ainda está dormindo. Mas a febre cedeu, graças a Deus.
Seu Hermes senta-se no sofá e cruza os braços.
HERMES: - Eu não estou entendendo, Júlia. O que aconteceu? Ela ficou doente?
JÚLIA: - Não sei, Hermes. Não sei.
Seu Hermes respira fundo, preocupado. Dona Júlia segura a mão dele, igualmente preocupada.
Residência dos Pinzón-Solano
Dia Seguinte - Quatro dias para a véspera de Natal
08:38 AM
Sentada em sua cama, Betty bebe uma xícara de chá. Dona Júlia está sentada ao lado dela, com o telefone no ouvido.
JÚLIA: - (AO TELEFONE) Sim, querida. Creio que amanhã ela já estará bem melhor para voltar ao trabalho. Repasse o recado a todos, sim?
Betty larga a xícara na mesa de cabeceira. Suspira, angustiada.
JÚLIA: - (AO TELEFONE) Obrigada, Aura Maria. Passe muito bem.
Dona Júlia desliga o telefone.
JÚLIA: - Pronto, filhinha. Estão todos avisados na Ecomoda.
BETTY: - (PENSAMENTO LONGE) Obrigada, mamãe.
JÚLIA: - (PREOCUPADA) Betty… Filha, você não vai me dizer o que está acontecendo?
Betty olhar para Dona Júlia com os olhos cheios de lágrimas.
JÚLIA: - Filha… Foi alguma coisa com o doutor Armando?
Betty começa a chorar convulsivamente, cobrindo o rosto com as mãos. Dona Júlia a abraça, sem saber o que fazer.
Ecomoda
Sala de Armando
08:42 AM
Aura Maria está em pé, nervosa.
AURA MARIA: - Foi o que a mãe da Betty disse, doutor…
Armando, com o queixo apoiado na mão, olha para o nada, preocupado.
AURA MARIA: - Doutor… O que está acontecendo?
Armando se levanta bruscamente, pegando o paletó do encosto da cadeira e vestindo.
ARMANDO: - Aura Maria, eu vou sair. Qualquer coisa urgente ligue para o meu celular.
Armando sai rapidamente da sala. Aura Maria fica apreensiva.
Residência dos Pinzón-Solano
09:37 AM
Armando e Dona Júlia conversam, perto da porta de entrada.
JÚLIA: - Eu já disse que a Bettynha está dormindo, doutor. Acho melhor o senhor voltar outra hora.
ARMANDO: - Dona Júlia, por favor! Eu não posso sair daqui sem saber o que ela tem, sem conversar com ela, sem vê-la!
JÚLIA: - Doutor Mendoza…
ARMANDO: - Ela contou alguma coisa pra senhora? Do que aconteceu?
Dona Júlia morde o lábio inferior, sem saber o que dizer. Armando passa as mãos pelos cabelos, aflito.
ARMANDO: - Dona Júlia, por favor, algo muito importante se passou conosco ontem. Eu não posso fingir que está tudo bem, eu preciso conversar com ela!
JÚLIA:- Mas doutor, eu já lhe disse que a menina está dormindo… Quando ela acordar eu peço pra ela lhe telefonar…
ARMANDO: - (AFLITO) Desculpe, mas eu não posso ir embora assim… eu… eu...
JÚLIA: - Doutor, o senhor precisa trabalhar, a Ecomoda não pode ficar sozinha sem vocês dois. Eu prometo que ligo pra informar como ela está.
ARMANDO: - (DESESPERADO) Eu não me importo com a Ecomoda, não agora. Eu preciso ficar ao lado da Beatriz… Não me tire isso.
Dona Júlia suspira.
JÚLIA: - Está bem, filho. Aproveite que o Hermes não está e suba. Mas peço que não a acorde, a menina teve uma noite difícil.
Armando assente e sobe as escadas de dois em dois degraus.
Quarto de Betty
09:42 AM
Armando abre vagarosamente a porta do quarto de Betty e entra. Betty dorme profundamente.
Armando se aproxima da cama, tentando não fazer barulho. Senta-se na cama, passando a mão pela testa de Betty. A observa, tenso.
Armando segura uma das mãos de Betty. Faz carinhos. De repente percebe que ela não está mais usando o claddagh ring. Armando procura a outra mão com o olhar, que também não tem nenhum anel. O olhar dele se detém na mesa de cabeceira onde o celular de Betty e o anel repousam lado a lado.
Armando fecha os olhos e a expressão dele fica pesada.
[corte]
Armando, sentado no chão ao lado da cama de Betty, cochila, encostado na parede.
Dona Júlia abre a porta, trazendo uma bandeja com um copo de suco e algumas bolachinhas. Ao olhar para Armando, ela se compadece.
Dona Júlia coloca a bandeja sobre a escrivaninha de Betty e se aproxima de Armando.
JÚLIA: - (SUSSURRANDO) Doutor Mendoza?
Armando continua dormindo. Dona Júlia o toca no ombro. Armando acorda num susto.
JÚLIA: - (SUSSURRANDO) Calma, filho. Vim aqui perguntar se você quer comer alguma coisa…
ARMANDO: - (SUSSURRANDO) Não, dona Júlia. Não se incomode.
JÚLIA: - (SUSSURRANDO) Bem, eu trouxe um suquinho e algo pra comer. Se quiser está ali em cima.
Dona Júlia aponta para a bandeja. Armando assente com a cabeça.
JÚLIA: - Não fique aí no chão mal-acomodado, seu Armando. Você pode ficar conosco lá na sala.
ARMANDO: - Prefiro ficar aqui... Quero estar ao lado dela quando acordar.
Dona Julia sorri para Armando, enternecida. Passa a mão nos cabelos dele, carinhosamente. Se vira e sai, sem fazer barulho.
Armando suspira, voltando seu olhar para Betty, que continua a dormir.
[corte]
Betty abre os olhos, piscando pesadamente. Se remexe na cama, tentando relaxar. Sente que algo a segura. Percebe que Armando dorme com a cabeça recostada no colchão e uma das mãos dele está entrelaçada na dela. Betty solta a mão dele e senta-se na cama.
Com o movimento de Betty, Armando acorda. Os dois trocam um olhar, mas Betty se esquiva, olhando para as próprias mãos. Armando dá um sorriso de alívio e levanta-se, sentando ao lado dela na cama.
ARMANDO: - Betty…
BETTY: - (SECA) O que você está fazendo aqui?
Armando se assusta com a reação dela.
ARMANDO: - (DESCONCERTADO) Beatriz, e-eu...
BETTY: - Porque você veio até aqui, Armando? Não deveria ter vindo.
ARMANDO: - Eu vim porque precisava saber como você estava, depois de tudo que…
BETTY: - Eu preciso ficar sozinha.
Betty levanta-se, andando na direção do armário. Pega um robe e o veste. Armando a observa.
ARMANDO: - Betty… por favor, vamos conversar. Eu estou morrendo com isso. O que passa?
Betty faz movimentos circulares nas têmporas, apertando os olhos.
BETTY: - (CANSADA) Armando, vá embora. Por tudo que é mais sagrado pra você, eu preciso ficar sozinha.
Armando se levanta e anda na direção de Betty. A segura pelos braços.
ARMANDO: - Você é o mais sagrado pra mim, Beatriz. Como é que pode me pedir que eu vá embora se eu não sei o que está acontecendo?
Betty suspira, incomodada.
ARMANDO: - Meu amor, se tem alguma coisa errada, que está te machucando, eu quero ajudar.
BETTY: - (PERDENDO A PACIÊNCIA) E o que você poderia fazer, Armando?
ARMANDO: - Como assim?
BETTY: - (IRRITADA) Quer me ajudar como? Você vai me consolar, é isso?
ARMANDO: - (SEM ENTENDER) Beatriz…
BETTY: - Você não entende que a sua presença está me causando dor? Não vê?
ARMANDO: - Mas como, mi vida?
Betty se desvencilha dele e anda pelo quarto.
BETTY: - (PERTURBADA) E-eu… eu preciso compreender o que está acontecendo comigo. Entende? E se você estiver aqui… Eu não vou conseguir.
Armando respira fundo.
ARMANDO: - Eu sei que ter visto o Miguel abalou você, e acho que precisamos falar sobre isso...
Betty ri com desprezo. Armando a observa, aturdido.
BETTY: - Você acha que isso tudo é pelo Miguel, Armando?
ARMANDO: - (ATÔNITO) Mas… você...
BETTY: - Ter visto o Miguel… foi terrível, me doeu profundamente... (FECHA OS OLHOS) Mas o que ele me trouxe não foi só uma lembrança ruim.
ARMANDO: - ...
BETTY: - Vê-lo novamente me fez recordar tudo o que você me fez. (SEGURANDO O CHORO) E eu não estou conseguindo lidar com isso...
Armando abre a boca para falar, mas não consegue dizer nada. Está paralisado. Betty começa a chorar.
BETTY: - (CHORANDO) Me deixa, Armando. Vai embora. Eu preciso entender isso antes de conseguir olhar pra você de novo.
Betty anda na direção de sua cama.
Armando abaixa a cabeça e sai do quarto, destroçado.
Betty deita-se em sua cama e abraça as pernas, chorando convulsivamente.
Estoque da Ecomoda
4:21 PM
Vários funcionários caminham pelo estoque da empresa, conferindo planilhas, transportando cabides com roupas, despachando mercadorias.
Miguel entra no estoque carregando alguns rolos de tecido. Ele se aproxima de uma prateleira, empilhando um dos rolos que trazia.
Armando entra no estoque a passos largos. Se aproxima rapidamente de Miguel e o puxa pela camisa, violentamente. Miguel deixa cair o resto dos tecidos que carregava.
ARMANDO: - (GRITANDO) Você é Miguel Herrera?
MIGUEL: - (ASSUSTADO) Sim…
Armando o agarra pela gola da camisa, o segurando muito perto do seu rosto.
ARMANDO: - (RAIVA) E você conheceu uma mulher chamada Beatriz Pinzón?
MIGUEL: - (ASSUSTADO) O quê? Do que está falando?
Armando o sacode com fúria.
ARMANDO: - (RAIVA) Por acaso você é surdo?!
Miguel começa a tremer de medo.
Os funcionários da Ecomoda ouvem a gritaria e se aproximam, sem entender o que está acontecendo.
ARMANDO: - (RAIVA / AOS GRITOS) Beatriz Pinzón Solano! Lembra dela? Aquela que você apostou!
MIGUEL: - (SEM ENTENDER) Betty? A feia?
Armando fica cego de raiva e o empurra contra uma prateleira.
ARMANDO: - (RAIVA) Lembrou então, Miguel? Lembrou de quem estou falando?
MIGUEL: - (ASSUSTADO) Calma, doutor, vamos conversar…
ARMANDO: - (GRITANDO) Ah, você quer conversar! Conversar de como foi um desgraçado que brincou com os sentimentos de uma mulher?!
MIGUEL: - (TREMENDO) Doutor, por favor, acalme-se…
ARMANDO: - (FORA DE SI) Está com medo? Está com medo, Miguel? Mas pra fazer o que fez não teve medo, seu filho de uma puta desgraçado!
Armando avança em Miguel, aos socos. Miguel revida e os dois se engalfinham.
Os funcionários da Ecomoda tentam separá-los. Um deles segura Armando, que faz força para se soltar.
ARMANDO: - (FÚRIA) Eu vou te matar, seu infeliz! (GRITA) Me soltem!
Miguel limpa o sangue que escorre do supercílio, encostado em uma prateleira.
Armando está totalmente descontrolado. Finalmente consegue se soltar e avança novamente em Miguel, o segurando pela garganta.
ARMANDO: - (GRITANDO) Você é um infeliz! Um desgraçado! É isso que você é! Você brincou com uma mulher que não merecia nada de mal!
Miguel tenta se soltar e Armando o joga no chão.
Os funcionários da Ecomoda gritam para que Armando pare.
Armando começa a chutar Miguel no estômago, possesso de raiva.
ARMANDO: - (GRITANDO) Miserável! Estúpido!
Armando se abaixa e levanta Miguel pela camisa. Miguel não consegue nem manter mais os olhos abertos.
ARMANDO: - (ALUCINADO) Você não vale nada! Nem você nem aquele infeliz do Mario Calderón! Nós dois brincamos com ela! Por causa de uma empresa, por causa de dinheiro!
MIGUEL: - (ZONZO) O que? Do que está falando...
Wilson e Freddy entram correndo e seguram Armando pelos braços fazendo com que ele solte Miguel. Miguel cai no chão.
ARMANDO: - (AOS GRITOS) Me soltem! Eu vou matar esse desgraçado!
Wilson e Freddy fazem força para conter Armando.
No chão, Miguel se contorce de dor.
WILSON: - (O SEGURANDO) Seu Armando, pelo amor de Deus, se acalme!
FREDDY: - Alguém leve esse homem daqui antes que o doutor o mate!
Alguns funcionários levantam Miguel e o carregam para fora do estoque.
ARMANDO: - (AOS GRITOS) Me larguem ou eu vou despedir vocês dois!
FREDDY: - Seu Armando, calma! Por favor!
Armando tenta se soltar outra vez, mas Wilson e Freddy o seguram firmemente.
WILSON: - Doutor, calma. O senhor está fora de si!
FREDDY: - Don Armando, por favor!
Armando respira fundo, tentando se acalmar. Finalmente Wilson e Freddy o soltam. Armando está com hematomas por todo o rosto e com o lábio cortado.
FREDDY: - (ASSUSTADO) Doutor, que passa? Quem é esse homem?
Armando passa a mão pelos cabelos, tentando conter toda a raiva e desespero que sente. Os funcionários o observam, aterrorizados.
Armando respira fundo e sai rapidamente.
Wilson e Freddy se entreolham.
Ecomoda
4:32 PM
Armando sai do elevador, totalmente desgrenhado. A roupa amarrotada, sangue pela camisa e paletó, o rosto ardendo em hematomas.
Sandra se levanta de sua cadeira, apavorada.
SANDRA: - Don Armando...
ARMANDO: - (GRITA) Maldita seja, agora não!
Armando entra em seu escritório e bate a porta. Sandra olha para Aura Maria, sem saber o que fazer.
Escritório de Armando
4:33 PM
Armando entra no escritório e larga o corpo sobre a cadeira. Põe as mãos na cabeça e fecha os olhos, em completo estado de desespero. As lágrimas correm por seu rosto.
ARMANDO: - (ANGUSTIADO) Não, não, não… Por favor, meu Deus, de novo não...
Armando chora, em desespero.
N/A: Obrigada pelos reviews até aqui, gents. Adoro saber o que estão achando. E continuem comentando. Muitas emoções ainda estão por vir.
